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Barbas por fazer, depilações íntimas ou pêlos no peito inscrevem-se todos no mesmo programa de maquilhagem política da Europa. Mas, de um modo conveniente, as ilações surgem sempre depois do caldo ter sido entornado. Não me parece que tenha havido um esquema gizado por "liberalistas" para levar por diante os ideais ecuménicos de uma União Europeia multi-color, tutti-frutti, aberta ao movimento de bens, serviços, capitais e travestis. Seja qual fôr o âmago da questão, a verdade é que um freak-show também serve para atrair públicos, quiçá investidores. E é isso que está em causa. Para o ano que vem mais uns quantos milhões de espectadores irão sintonizar a antena da Eurovisão, na expectativa de serem surpreendidos com uma proposta ainda mais híbrida, ousada. Em época de descrédito da Europa, de crises sucessivas e fracturas que dividem o Norte e o Sul, a barba "Wurst" de pouco servirá para tapar buracos e pontos negros, mas uma lição pode ser extraída. O público aprecia bizarrias e invulgaridades, e a excentricidade rouba as atenções todas, distrai da falta de qualidade de outras promessas, musicais ou não. Cada reino tem os seus bobos da corte e, se não os tem, deveria pensar nos benefícios que estes podem trazer. Sabemos que no dia 24 de Maio a final da Champions League irá gerar dinâmicas e audiências televisivas assinaláveis, e que imagens de Lisboa irão correr por esse mundo fora. E onde e como é que se pode encaixar uma oferta especial para temperar a ocasião? Não se arranja nada à altura de uma Conchita? Uma figura bordalo-pinheiresca que faça a bola descer à terra? Oh Turismo de Portugal e agências de marketing - toca a mexer, mãos ao trabalho. Vejam lá o que arranjam, mas não nos metam em sarilhos. Portugal deve saber aproveitar todas as oportunidades para extrair valor e dar a volta por cima. Sexo vende, mesmo que não se saiba o que o homem traz por debaixo das sete saias.
Ainda estou a pensar nesta jogada marketeira de Passos Coelho apresentar novas medidas de austeridade meia-hora antes do jogo da selecção nacional. Está cada vez mais parecido com Sócrates, nos métodos e na substância.
* título adaptado a partir de uma célebre interrogação de Salazar sobre os diplomatas e o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O Euro 2012 acabou, a época de incêndios ainda não pegou e ainda é cedo para o arranque oficial da silly season. Mas a distracção tem de continuar e, mal se ouviu o apito final de Pedro Proença em Kiev, logo estreou uma nova novela protagonizada pelo mal-amado Miguel Relvas, hoje reforçada com o folhetim do bem-amado Macário Correia. O povo quer ver ficção ciêntífica com políticos na cadeia, mas se o reality show os mostrar a fingir que estão a ter problemas com a "Justiça" ou em maus lençóis já é bom. Até ao fim do mês, altura em que as forças vivas da República se exilam no reino dos Allgarves (onde os espera um espectáculo automobilístico memorável na EN 125), poderemos esperar mais alguns casos obviamente escandalizantes, gritantes e fascinantes que irão encher os noticiários e debates televisivos, os jornais e a blogosfera. Aquilo de que estamos a ser distraídos virá visitar-nos mais tarde.
O marketing comanda a vida e sempre que o homem marketeia o mundo pula e avança. Façam o favor de ser felizes.