Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A figura de Marques Mendes nem sequer é controversa - é patética. Mas é a SIC que faz aquele boneco funcionar. O traficante de informação lá aparece semanalmente com postas frescas obtidas no mercado secundário da política. O homem vai à lota e não regateia as encomendas. Como aquilo que vende não é considerado fake news, ninguém o chateia muito. O porta-voz de tudo e todos pega no telemóvel logo pela manhã e colecciona temas e dilemas existenciais de partidos e políticos. A desregulação do mercado da informação e a ausência de regras de lobbying permite que um agente deste calibre possa veícular matéria de debate para encher a grelha do jornal e vender publicidade à antena de televisão. Ninguém pergunta nada, mas ele responde a tudo. É uma espécie de sucedâneo de si mesmo. Uma réplica crónica da sua mediania. Ou seja, na sua segunda vida de comentador de serviço, não consegue apagar a mediocridade da sua passagem política. O detective Mendes tem poderes especiais. Obtém dicas e rumores antes dos boatos. Avança com conjecturas depois do sucedido. Em suma, é um homem analógico. Chegamos a acreditar que os outros lhe concedem o beneplácito da confissão, da sinceridade. Se ele parece saber os factos antes dos eventos sucederem, penso que ele deve ser tido em conta na quota-parte da responsabilidade que decorre do conhecimento de causa. Num país de ligações especiais, canais de comunicação privilegiados, Marques Mendes é o mexilhão que rapa o tacho antes do jantar estar pronto. Por acaso gostava de saber quais são os seus fornecedores regulares, os traidores de cada agremiação partidária, provavelmente outros tristes caídos em desuso nas respectivas estruturas e direcções. Ou seja, a não ser que seja o próprio Presidente da República a preparar-lhe a ementa de considerações, serão outras figurinhas de segunda a fazer o take-away. O Mendes apenas tem de reaquecer os guisados, mas não sei se isso acrescenta grande coisa aos debates, à Democracia e à vida dos portugueses. O seu contributo é inócuo e serve de mea culpa colectiva. Depois podem todos seguir alegres e contentes, com a cartilha limpa pela explicação.
Seja lá quem for Manuel Maria Tolentino, o seu muy útil e divertido livrinho bem que poderia ser complementado com este belíssimo aforismo de Marques Mendes (via Portugal dos Pequeninos): "não existem lealdades passadas, só há lealdades para o futuro."
Afinal o que é Marques Mendes? Marques Mendes Bom ou Marques Mendes Mau? O que julga este porta-voz do Banco Espírito Santo (BES)? Que assim, sem mais nem menos, se agita uma varinha Moulinex e o BES fica um mimo? Frase ganhadora do prémio silly season: "Tudo o que é lixo estará de fora bem como todos os esqueletos" - sem comentários.
Estou aqui a ouvir Marques Mendes a criticar António José Seguro por se rodear de gente muito jovem, que é, segundo o comentador, imatura. E não é raro ouvir-se o mesmo a outros comentadores para criticar o actual governo. Entretanto estava aqui a pensar no que deu sermos governados por gente madura e crescida e recordei-me que fomos à falência 3 vezes em 30 anos (uma delas espoletou a actual intervenção da troika, para os que não se recordam).
O Sindicato de Comentadores de Portugal (SCP...não confundir com o SCP) avançou, em nota de imprensa, que irá realizar uma marcha de protesto em Lisboa no próximo dia 25 de Abril. Os profissionais do sector reclamam melhores condições laborais, no contexto do incremento desmesurado da carga de trabalho. Segundo declarações do representante dos trabalhadores da classe profissional, a quantidade e a urgência dos temas políticos a tratar, tem resultado em grande desgaste dos operários, quer nas estações de televisão, na rádio ou na imprensa escrita. Os camaradas exigem um estatuto laboral que confira pensões vitalícias, regalias adicionais (ticket restaurante) e imunidade jurídica caso venham a ser alvo de acusações de difamação. De acordo com a mesma fonte, os profissionais do sector, encontram-se em fase de pré-ruptura, pelo que o primeiro protesto, marcado para o aniversário da Revolução dos Cravos, assumirá outros contornos se não houver uma resposta adequada aos apelos que têm feito. Ameaçam, entre outras coisas, realizar uma greve de fala, em directo e em estúdio (nota: não se revêem na atitude do camarada Dias Loureiro, que abandonou os trabalhos por não gostar do papel de parede do estúdio)
Marcelo Rebelo de Sousa não engana. É um comunicador por excelência e um razoável nadador. Semanalmente lê centenas de livros na diagonal. Corrigo-me, na vertical. Para além dessas recensões televisivas, comenta qualquer matéria que se lhe apresente. É um take-away da televisão. Chega ao balcão e dispõe as afirmações que alguém há de engolir, tal o entusiasmo do vendedor. Para além disso, não conheço tema que tenha rejeitado por se sentir incapacitado. É membro do conselho de Estado e funciona como preparador de atletas políticos caídos em desuso, mas que no seu entender devem regressar às equipas principais com uma nova posição em campo, um novo entusiasmo. No fundo, o Marcelo é como um olheiro que fala ao mesmo tempo. Quando disse que era conselheiro de Estado esqueci-me de acrescentar que também é conselheiro de Governo. Contudo, após largos anos de apreciação da realidade política e alegadamente da matriz cultural do país, acaba por cometer erros e repetí-los com a mesma naturalidade. A haver uma remodelação governamental, porque razão os Portugueses desejariam aqueles velhos conhecidos que nada acrescentam às funções que se lhes possam atribuir. Marques Mendes não está interessado, e porque razão Morais Sarmento é o homem certo? As opções sao escassas - afirma Marcelo. São escassas porquê? Não se encontram na sociedade civil indivíduos com sentido de Estado, com competência e independência? Não entendo esta insistência na consanguinidade política, na aplicação da máxima que parece algo mínimo - a prata da casa que nem sempre serve. A situação parece ser tão dramática por terem de recorrer a jogadores, que embora não tinha sido suspensos por actividade danosa, nada podem oferecer para alterar seja o que fôr. Se é isto que Marcelo Rebelo de Sousa apresenta como melhor proposta, aqui há gato. À primeira vista poderia dar ares de uma remodelação certeira, consensual dentro e fora do partido, por serem dois meninos políticos inofensivos. Mas não acredito. Julgo que esta ideia sem sal não acontece de um modo ingénuo. Como se o Marcelo estivesse distraído a olhar para o relógio ou a rabiscar uma nota televisiva. Podemos interpretar isto de outro modo. Ao se substituir uma peça deficiente por outra inútil, o jogo prossegue no mesmo tabuleiro e chega-se ao mesmo destino de descalabro como se nada fosse. Se um génio fosse integrado no plantel iria começar a ter as suas próprias ideias e isso seria um perigo para o governo de Passos Coelho. A remodelação leva em conta um certo perfil. Tem de ser um bicho mansinho, um político perfeitamente domesticado que não morda a mão do dono.