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O Futebol e o Estado das Nações.

por Nuno Resende, em 08.05.18

 

No século XIX Antero de Quental propôs três razões para o estado do País de então:

 

A Reforma Católica e a acção dos Jesuítas;

O centralismo do país como resultado da Monarquia Absoluta

Uma economia debilitada pela Expansão Portuguesa.

 

Ora, hoje a Igreja não tem qualquer poder na sociedade portuguesa, não existe Monarquia (muito menos absoluta) e da Expansão Portuguesa resta pouco mais do que dois arquipélagos e a ilhota das Berlengas.

Se Antero voltasse, quais seriam, pois, as suas explicações para a recente quase bancarrota da República, o tempo de austeridade e o subsequente período de euforia?

Talvez o grande intelectual açoriano olhasse para as questões macroeconómicas, para os laços que hoje nos ligam à Europa e não aos territórios ultramarinos que tanta discussão geravam no seu tempo. Talvez questionasse a própria República, a partidocracia e os seus índices de corrupção. Talvez não se revisse no Socialismo tal qual ele é arvorado hoje em dia como garante de um escol de líderes e não como socorro dos mais necessitados.

Mas vendo a perda de influência da Igreja Católica, hoje reduzida a um lugar quase pitoresco, talvez Antero se voltasse para um fenómeno que parece ter ocupado o seu lugar: o Futebol. É curioso e ao mesmo tempo macabro e irónico que o «foot-ball» tenha chegado a Portugal pela mão da nossa «Aliada» Inglaterra, na mesma altura que esta nação «Amiga» nos impôs um Ultimatum (1890) e a cujo acto devemos uma das maiores crises da nossa História. Crise que, aliás, contribuiu para o suicídio de Antero em 1891.

Ora, nunca, como hoje, se impõe voltar a procurar as Causas para a Decadência dos Povos Peninsulares. Portugal e Espanha vivem reféns do futebol: ele determina a ascensão e queda dos políticos e até de nações (veja-se o caso da Catalunha), contribuiu para o adormecimento da opinião pública e do eleitorado e é utilizado como forma de propaganda para exacerbar identidades locais, regionais ou nacionais.

Para que servem os símbolos das nações de hoje que não seja para abrir, assistir ou justificar jogos de futebol?

Todo o ócio e toda a vida desportiva (e cultural) das massas gira em volta desse desporto. E os seus intervenientes tornaram-se semideuses, para os quais se voltam milhares de fãs e adeptos, procurando modelos e conforto para as suas vidas - de resto muito distantes das deles, ricos e poderosos.

Dificilmente em algum tempo algo foi tão consensual como o futebol. Na nossa política caseira, por exemplo, o futebol é algo que une a Esquerda à Direita, o Rico e o Pobre: é tema intocável, indiscutível e inalienável.

Ainda hoje se critica a Igreja Católica, outras igrejas e seitas religiosas e até alguns regimes ditatoriais pela facilidade com que operam mudanças e lavagens nas mentes dos indivíduos, mas desconfio que se o Cristiano Ronaldo ou outro qualquer jogador-ídolo sugerisse aos adeptos que o veneram como modelo heterossexual, de homem rico, bonito e mulherengo para baixarem as calças, poucos seriam os machos lusitanos que resistiriam ao apelo.

E nisto se resume o Estado da Nação.

 

publicado às 10:41

Mensagem de Paris

por John Wolf, em 12.01.15

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O mundo ocidental vive obcecado com a ideia do superlativo, da grandeza incomparável. A manifestação de ontem foi vendida como sendo a maior na história da humanidade desde que se conhece o terrorismo. A vigília de ontem, de acordo com jornalistas que não dormiam há mais 72 horas, serviria para acabar de vez com a profunda fractura que define a sociedade francesa. E vimos a proa do cordão político da Europa dar esse espectáculo - nada devemos, nada tememos. O problema que se apresenta aos orquestradores da ordem unionista europeia prende-se com a ideia de escala. A homenagem de ontem, apresentada como cartucho maior, será certamente relativizada nos tempos que correm. O problema que essencialmente enfrentamos relaciona-se com as mensagens que se pretendem transmitir, sem que se faça a devida pausa para interpretar os seus conteúdos, assim como o seu alcance. Não sabemos ao certo quem atirou a primeira caneta ou disparou o primeiro tiro. O que sabemos é que a comunicação será sempre assimétrica. Ou seja, teremos a impressão de que a última palavra será a nossa, quando de facto a mesma se encontra em parte incerta, nas trincheiras do inimigo, porventura. Mas insistimos. Antecipamos os movimentos dos outros por descrença nas nossas palavras e nas nossas acções. E é este o mundo dialético, imprevisível, em que vivemos. Quatro milhões de pessoas quiseram enviar um recado que corre o risco de não chegar ao destinatário em conformidade com a sua intenção. Da próxima vez que algo inédito acontecer que resposta será dada? Que mega-manifestação irá superar a anterior?

publicado às 13:11

Brincando às revoluções

por João Quaresma, em 21.06.13

«Disse Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas:
"Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto."

(...)
O PT tem alimentado há décadas um racha na sociedade brasileira. Desde os tempos de oposição, e depois enquanto governo (mas sempre no palanque dos demagogos e agitadores das massas), a esquerda soube apenas espalhar ódio entre diferentes grupos, segregar indivíduos com base em abstrações coletivistas, jogar uns contra os outros. Temos agora uma sociedade indignada, mas sem saber direito para onde apontar suas armas. Cansada da política, dos partidos, do Congresso, dos abusos do poder, as pessoas saem às ruas com a sensação de que é preciso “fazer algo”, mas não sabe ao certo o que ou como fazer.
E isso porque o cenário econômico começou a piorar. Imagina quando a bolha de crédito fomentada pelo governo estourar, ou se a China embicar de vez. Imagina se nossa taxa de desemprego começar a subir aceleradamente. É um cenário assustador. Alguns pensam que nada pode ser pior do que o PT, e eu quase concordo. Mas pode sim! Pode ter um PSOL messiânico, um personalismo de algum salvador da Pátria, uma junta militar tendo que reagir e assumir o poder para controlar a situação. Não desejamos nada disso! Temos que retirar o PT do poder pelas vias legais, pelas urnas, respeitando-se a ordem social e o estado de direito.
O desafio homérico de todos que não deixaram as emoções tomarem conta da razão é justamente canalizar essa revolta para algo construtivo. Mas como? Como dialogar com argumentos quando cem mil tomam as ruas e sofrem o contágio da psicologia das massas? Alguém já tentou conversar com uma torcida revoltada em um estádio de futebol? Boa sorte!
Por ser cético quanto a essa possibilidade, eu tenho mantido minha cautela e afastamento dessas manifestações. Muita gente acha que o Brasil, terra do pacato cidadão que só quer saber de carnaval, novela e futebol, precisa até mesmo de uma guerra civil para acordar. Temo que não gostem nada do gigante que vai despertar. Ele pode fazer com que essa gente morra de saudades do "homem cordial". Não se brinca impunemente de revolução. Pensem nisso, enquanto há tempo.»
Rodrigo Constantino em Brincando de Revolução

publicado às 00:10

Há dias enganei-me no caminho e fui parar aos Dias da Música em Belém. Foi no último Sábado, creio. Estava à pinha, o estádio do CCB. Havia gente a perder de vista. No pátio exterior (aquele que se encontra lá em cima, diante das garrafas vazias de tinto ou branco, sem casta, da tal Vasconcelos...) um palco deu as boas vindas a um "Ensemble de Trompetes" pouco passava das 15h. Salvo erro, eram oito marmanjos gaiteiros e uma garina com a boca no trombone e a mini-saia pelo umbigo. Tinha pernas jeitosas, sim senhor, mas não irei enveredar pelo cliché sexista, nem saxofonista. Limito-me a devolver em surdina o que pude avaliar dadas as minhas limitações culturais. Não sei o suficiente sobre música e gostaria que assim não fosse. E que, dada a pompa dos dias da música, os pudesse aproveitar para somar notas musicais, aprender algo. Devo dizer que fico sempre chocado com eventos realizados às três pancadas, que primam pela ausência de um conceito, um sentido de missão pensado por uma equipa competente de servidores públicos. Como podem ler no artigo celebratório do jornal Público, o que interessa são os números. A quantidade infernal de ingressos, um sem número de utentes que lá foi entreter-se, mas que porventura pouco mais leva para casa. E porque faço estas afirmações. Porque já vi como se faz. Em Graz, Áustria (que tem a única Universidade de Jazz do mundo) ou em Filadélfia, nos EUA (que tem um Mann Center). Porque razão o referido ensemble de trompetes não brindou o público com um apresentador que enquadrasse os temas musicais na sua paisagem? E que explicasse ao público a natureza de instrumentos de sopro? Porque razão o bando de sopradores não elegeu um líder? Um guia para orientar as dinâmicas das pautas? Andaram perdidos, desafinaram e não chegam aos calcanhares de trompetistas de um qualquer licéu da República Checa. A loira? Bem sei que a rapariga com o saiote pelos cotovelos distrai, mas regressámos sempre ao mesmo quando se trata de cultura em Portugal. Um fosso que separa aqueles que poderiam dizer algo, daqueles que nem sequer sabem escutar. Não quero estar a induzir-vos em erro, mas o primeiro tema que apresentaram, julgo ter sido uma composição de John Williams. Sim, o mesmo que compôs a banda sonora do filme o Parque Jurássico. Mas não interessa. O tema até poderia ser da idade da pedra, da idade do mármore picado de Belém.

publicado às 09:56

A ignorância das massas

por João Pinto Bastos, em 01.01.13

O melhor retrato de uma pátria em ruína moral é aquele em que os crédulos dão a audiência máxima a um programa em que a venda da dignidade é negociada a um preço módico. Quanto mais o tempo passa, mais saudoso fico das aristocracias meritocráticas.

publicado às 15:03



Pasolini e o hedonismo de massas.

publicado às 13:32






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