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Teoria Geral do Fogo

por John Wolf, em 09.08.16

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Todos os anos é a mesma coisa - fogo. Desde que me lembro, e já tenho memória lusa há mais de duas décadas - os incêndios fazem parte da paisagem suicidária de Portugal. E a cada ano que passa, grandes teorias de explicação e fundamentação são avançadas quer pelo governo, quer por especialistas académicos ou quer pela população. Ora são as matas por desbravar, ora foi o desordenamento do território, ora é a falta de meios-aéreos, ora são os bombeiros que não dispõem de mangueiras, ora são os agricultores que não trataram dos seus campos, ora foram os governos anteriores...Enfim, um conjunto de desculpas que não se podem tolerar. O problema tem sido atacado de um modo incorrecto. O problema dos incêndios tem sido diagnosticado de uma maneira errada. É a matriz cultural do país a responsável pelo flagelo dos fogos. São os cidadãos que não nutrem um carinho especial pela sua base geográfica. São os papás e as mamãs que deitam o cigarro pela janela do carro. São as avozinhas e as enteadas que abandonam o churrasco proibído na clareira da reserva natural. São os especuladores imobiliários que precisam de desbastar uns entraves políticos. São os organizadores de festivais que não pensaram o estacionamento em condições. E o problema é transversal a tantas dimensões da realidade nacional - a ideia de que uma entidade abstracta é a responsável. O alibi perfeito de que não existe explicação para os falsos mistérios. Um bode expiatório que está sempre a monte. Mas essencialmente, falta aos portugueses amor à camisola. Falta aos portugueses de Esquerda ou de Direita um instinto de protecção da sua base geográfica, do seu território. Os portugueses parece que não amam o seu país. Falta aos portugueses a coragem para mudar comportamentos. Conheço pessoalmente académicos versados na arte do fogo. Um deles confidenciou-me há dias que tem vontade de abandonar Portugal. E deixá-lo a arder.

publicado às 11:23

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O pai que bateu no filho que foi morto pelo cão que não era polícia. As comadres que defenderam o cão e acorreram para defender os agressores da escola. A Inquisição que ateou o fogo que arde e cem a ver. O ácido muriático que desfigura canos e faces. O transsexual do bungee jumping sem retorno na clareira da construção pouco civil. O rapaz que vestia os ténis de marca à hora errada. O vizinho do lado que não gostou que lhe mexessem nos marcos do terreno foi à caça e teve um dia em cheio, e não ficou para contar a história aos netos cujo tio afagou. O aficionado que levou a derradeira estocada de uma outra modalidade. O missil lançado no estádio nacional que se desviou da sua rota. Os meninos da casa pilha que lhes roubou a dignidade. Os sociólogos de escaparate que nos agridem com a explicação do vil, a partir da sua torre de vigia de superioridade moral, académica. Este país nunca foi de brandos costumes. Baltimore fica ao virar da esquina. São todos  iguais. Os de cá, os de lá. Os fardados, os destrajados, os que ostentam cachecóis ou usam as próprias mãos para esganar no trânsito. Este é o Portugal moderno, sonhado por revolucionários que prometeram libertar sem limites. E foram bem sucedidos. Democracia, Direitos e Deveres, Liberdades e Garantias, Constituições da República  - intocável. Agora escolha. Prefere o livre arbítrio da desordem reinante? E por quem vai chamar quando for consigo? Os defensores dos direitos dos animais? Não existem nichos. Não existem Musgueiras. Não são estratos económicos e sociais. Não são níveis académicos. É algo mais profundo que assola o país. Faz parte da matriz e de nada servem os paninhos quentes. De nada serve tomar uma posição firme. Estão todos errados.

publicado às 08:43






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