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A União Europeia (UE) não é uma união, mas a Europa é uma democracia. Os Estados-membro de uma e de outra exprimem a sua vontade política de um modo assimétrico. Julgavam todos que a Áustria iria pender para um lado, mas inclinou-se para outro. Matteo Renzi, porventura inspirado por David Cameron, apostou o tudo ou nada no referendo e o resultado está à vista. A Itália e o Reino Unido, um continental e o outro nem por isso, rasgam o manto do projecto europeu, colocando à vista de todos as frágeis costuras de uma construção cada vez mais duvidosa. Estamos cada vez mais à mercê de um fenómeno imprevisível de desmontagem de um sistema político. Se existia uma alma mater na génese da Comunidade Económica do Carvão e Aço, ou espiritualidade nas propostas de Schuman e Monnet, as mesmas são agora meros fantasmas. Resta saber se não terá chegado o momento da UE pensar uma saída limpa. Uma saída da sua própria condição. Enquanto decorrem processos eleitorais parcelares no espaço intra-comunitário, as instituições da UE tardam em pensar uma iniciativa estruturante, um modo de calibrar o pensamento dos europeus em relação ao seu futuro. Por outro lado, a Itália pode bem ser o melhor exemplo da patologia crónica que assola a Europa - para quê mudar? O grande deficit a que assistimos nos processos eleitorais já decorridos e naqueles que se avizinham, tem a ver, na minha opinião, na não inclusão de um clausulado de responsabilidade no que diz respeito à integração europeia. Ou seja, cada qual lida com a sua casa do modo que melhor entende, mas o edifício, o condomínio de interesses comuns da União Europeia, fica para depois. Ou seja, a cada expressão de individualidade democrática dos Estados-membro da UE, a mesma enfraquece. É esta contradição que faz a UE enfermar de problemas genéticos enquanto exulta continuamente as virtudes da liberdade política e reclama a alegada superioridade moral da Europa. No entanto, a sua tradição política é precisamente essa. Assenta na ideia de movimento epicêntrico, baseia-se na ideia de que as fissuras nunca abalarão os princípios subjacentes. A UE também sofre de um problema de linguagem. Estes fenómenos não são excêntricos nem atípicos. Passam-se dentro de portas. E os personagens que fazem os enredos não são de todo estranhos. São produtos internos. Brutos ou nem por isso.
A Europa de hoje está dominada por "líderes" sem coluna vertebral. Pior do que isso, sem memória do passado. Vergados ao políticamente correcto. Com medo da própria sombra. Esta atitude, protagonizada pelo Primeiro - Ministro de Itália é indigna de um europeu (quanto mais de alguém que dirige o governo de um país). Ao ter ver vergonha da sua própria história e da cultura viva de uma antiga civilização, ela representa o retrato fiel do estado decadente a que chegámos no Velho Continente. Nada disto tem a ver com pseudo respeito por outras terras e outras gentes, como um bando de patetas, que nestes momentos sempre surge, se aprestará de imediato a sugerir. Tem, apenas e tão só, a ver com a falta de espinha e de massa cinzenta de uns tantos a quem a democracia permite ascenderem, por via do voto, às mais altas magistraturas das nações.
Vergados aos ditames imorais e antipatrióticos desta gente, a Europa caminha rapidamente para o seu fim. Há momentos em que devemos ter vergonha de quem nos dirige. Este é um deles. A capitulação chegou...