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A ficção da Razão

por Nuno Resende, em 21.12.20

 

«Creio que o rigor de Descartes é aparente ou fictício. E isso nota-se no facto de que ele parte de um pensamento rigoroso e, no final, chega a algo tão extraordinário como a fé católica. Parte do rigor e chega ...ao Vaticano».

Jorge Luís Borges

 

No início da pandemia foi-nos dito que deveríamos ficar em casa para aplanar a curva. Este aplanar a curva era tão só impedir que o SNS – Serviço Nacional de Saúde não colapsasse com a afluência de doentes. Já se conhecia o vírus e as mortes que ele provocava, mas o aviso era que as pessoas não se contagiassem nem contagiassem o outro e assim não terem que ser assistidas nos Hospitais.
Desde o início que a Ciência não soube comunicar e, se o soube, permitiu-se ser substituída pelos Políticos e pela Comunicação Social. Desautorizando-se, perdeu credibilidade. Pior: deixou que se relativizasse a vida em detrimento de mortes estatísticas todos os dias contabilizadas pelos media como «recordes» (termo odioso quando aplicado ao número de seres humanos falecidos), e tudo alimentando um crescendo de temor que levou a extremismos e a extremistas. Por um lado, os frágeis e amedrontados, para quem a vida é uma questão de sobrevivência, por outros os autodestrutivos e incautos, facilmente manipuláveis por teorias conspiracionistas. Este perigoso diálogo entre gente ignorante ou convencida da sua razão tem sido prejudicial ao controle da pandemia. Não podemos acreditar que, nem os mais hipocondríacos tomem todas as medidas para protegerem os outros, nem os incautos se preocupem, sequer, com eles próprios.
Eventualmente pagaremos este descontrolo, o desnorte na comunicação da Ciência e o cansaço que meses de uma intensiva campanha de medo difundiram. Provavelmente já o estaremos a pagar. Alguns cientistas, ao demonizarem quem os não compreende ou se lhes opõe, enveredaram por um caminho semelhante ao da Religião que, alguns séculos atrás, com base numa figura maior, invisível e omnisciente, anametizavam quem se lhes opusesse. Naquele tempo eram os seus, hoje a Saúde Pública.
Estranhamente as religiões foram as primeiras a venerar este novo deus da Razão. A Igreja Católica apressou-se a cancelar celebrações e actos litúrgicos, a afastar os seus sacerdotes da população e até, pasme-se, a eliminar o uso de água benta nas pias das igrejas ou em casos mais extravagantes a desinfectá-la. Um Igreja fundada na ideia de sacrifício, espiritual e corporal, abandonar-se assim à assepsia e à higienização do indivíduo, aceitando e promovendo a sua despersonalização e «segregação», parece agora, finalmente, destituída de qualquer fundamento
Por outro lado, o carácter necrófago da comunicação social aproveitou-se como pode da oportunidade para explorar a dor, o sofrimento e a morte. Tem-no feito e continuará a fazê-lo, segundo alguns, para satisfazer a curiosidade humana. Mas pode haver outra explicação: em constante desagregação pela transformação da notícia jornalística em boato digital, os media cavalgaram como puderam este rastilho, aproveitando a sua mudança para o mundo cibernético e potenciando os cliques nas suas páginas de publicidade. Uma comunicação social cada vez mais constituída por, ou precários, ou mercenários, só podia resultar nesta lógica de ataque em matilha.
Estranha-se, porém, que os media cedessem à elaboração de uma campanha sentimental, como nunca vista anteriormente, desenvolvendo o slogan: «vai ficar tudo bem». Tal ausência de imparcialidade, integridade ética marcada por umm desbragado moralismo, só pode compreender-se no que se seguiu: uma paulatina reflexão permitiu-nos constatar que tudo não ficou nem vai ficar bem. E nesse sentido, depois de uma eufórica campanha de falsa esperança a Comunicação Social atirou-se aos ossos, como uma hiena esfomeada.
Mau será se os interlocutores da Ciência, os Homens da Igreja e os arautos da Informação não saiam profundamente feridos desta pandemia, quando e como ela acabar. Contribuíram para, partindo da Razão, criar uma aparente ficção.
Talvez estejamos perante uma oportunidade da História, como as que o Homem conheceu pelos séculos XIV e XVIII e que alteraram substancialmente os paradigmas anteriores, provocando Revoluções quanto ao modo de sentir, pensar e agir no resto do presente século XXI.

 

publicado às 15:02

O Futebol e o Estado das Nações.

por Nuno Resende, em 08.05.18

 

No século XIX Antero de Quental propôs três razões para o estado do País de então:

 

A Reforma Católica e a acção dos Jesuítas;

O centralismo do país como resultado da Monarquia Absoluta

Uma economia debilitada pela Expansão Portuguesa.

 

Ora, hoje a Igreja não tem qualquer poder na sociedade portuguesa, não existe Monarquia (muito menos absoluta) e da Expansão Portuguesa resta pouco mais do que dois arquipélagos e a ilhota das Berlengas.

Se Antero voltasse, quais seriam, pois, as suas explicações para a recente quase bancarrota da República, o tempo de austeridade e o subsequente período de euforia?

Talvez o grande intelectual açoriano olhasse para as questões macroeconómicas, para os laços que hoje nos ligam à Europa e não aos territórios ultramarinos que tanta discussão geravam no seu tempo. Talvez questionasse a própria República, a partidocracia e os seus índices de corrupção. Talvez não se revisse no Socialismo tal qual ele é arvorado hoje em dia como garante de um escol de líderes e não como socorro dos mais necessitados.

Mas vendo a perda de influência da Igreja Católica, hoje reduzida a um lugar quase pitoresco, talvez Antero se voltasse para um fenómeno que parece ter ocupado o seu lugar: o Futebol. É curioso e ao mesmo tempo macabro e irónico que o «foot-ball» tenha chegado a Portugal pela mão da nossa «Aliada» Inglaterra, na mesma altura que esta nação «Amiga» nos impôs um Ultimatum (1890) e a cujo acto devemos uma das maiores crises da nossa História. Crise que, aliás, contribuiu para o suicídio de Antero em 1891.

Ora, nunca, como hoje, se impõe voltar a procurar as Causas para a Decadência dos Povos Peninsulares. Portugal e Espanha vivem reféns do futebol: ele determina a ascensão e queda dos políticos e até de nações (veja-se o caso da Catalunha), contribuiu para o adormecimento da opinião pública e do eleitorado e é utilizado como forma de propaganda para exacerbar identidades locais, regionais ou nacionais.

Para que servem os símbolos das nações de hoje que não seja para abrir, assistir ou justificar jogos de futebol?

Todo o ócio e toda a vida desportiva (e cultural) das massas gira em volta desse desporto. E os seus intervenientes tornaram-se semideuses, para os quais se voltam milhares de fãs e adeptos, procurando modelos e conforto para as suas vidas - de resto muito distantes das deles, ricos e poderosos.

Dificilmente em algum tempo algo foi tão consensual como o futebol. Na nossa política caseira, por exemplo, o futebol é algo que une a Esquerda à Direita, o Rico e o Pobre: é tema intocável, indiscutível e inalienável.

Ainda hoje se critica a Igreja Católica, outras igrejas e seitas religiosas e até alguns regimes ditatoriais pela facilidade com que operam mudanças e lavagens nas mentes dos indivíduos, mas desconfio que se o Cristiano Ronaldo ou outro qualquer jogador-ídolo sugerisse aos adeptos que o veneram como modelo heterossexual, de homem rico, bonito e mulherengo para baixarem as calças, poucos seriam os machos lusitanos que resistiriam ao apelo.

E nisto se resume o Estado da Nação.

 

publicado às 10:41

António Costa empossou os Media

por John Wolf, em 16.03.18

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António Costa empossou os Media. Os meios de comunicação social são agora membros oficiais do governo. E falharam - não preveniram a prevenção - nem avisaram que os incêndios estavam ao virar da esquina. Sérgio Figueiredo da TVI aproveitou a deixa para escrever mais umas frases do guião da ficção nacional. Aquela estação, segundo o próprio, não se retrata nas palavras do primeiro-ministro. A TVI fez todas as campanhas de redenção que pôde - como se não pertencesse à grande casa ibérica socialista dos media. Mas já que estamos numa de verdade e consequência, e depois de avistar o Mário Nogueira, o Arménio Carlos e a coqueluxo Ana Avoila, diria que estamos em franca época de greves. Ou seja, não há nada a reportar, muito menos a prevenir. A função pública está na rua em protesto porque está intensamente satisfeita com as promessas governativas do seu governo de Esquerda. Da minha parte, e no que toca a bloguismos e silogismos, avisarei a tempo e horas a população das trapalhices e falcatruas do governo. Essas são fáceis de estimar. Se eu fosse medium ou vidente, propunha uma greve dos Media, para ver como o governo deixaria de funcionar.

publicado às 20:23

A geringonça e as barrigas privadas

por John Wolf, em 08.08.17

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Tudo se compra, tudo se vende. Sim, tudo se transforma. Não sei qual a tabela praticada, mas as peças saem por encomenda. Eu aprecio estas reportagens de jornal que sabem inclinar o campo de jogo, que contam metade da história e que se esqueçem de alguns detalhes. A geringonça está por detrás disto, como está em cima dos acontecimentos. O aumento recorde, Guinness dirão alguns, do número de contratos públicos e respectivos valores é realmente uma coisa formidável. Gostava apenas de saber se é com o dinheiro das cativações, com o aumento de receitas fiscais ou com o aumento da dívida pública que fazem a festa? A quem ficam a dever? Simples. A resposta é simples. Serão os portugueses que pagarão a dívida a si mesmos. Costa bem pode agradecer o agachamento de juros e o beneplácito do Banco Central Europeu que continua a molhar a sua mão visível no alguidar de poncha financeira. Sou fã ferveroso dos ajustes directos. Essa modalidade prescinde de tangas, de aquecimento, de preliminares. É sexo duro, contra a parede, com pés de barro que fazem estremecer, vibrar. O ajuste directo é uma espécie de assédio glandular de grande angular. É a expressão mamária em todo o seu esplendor. É dar a chupar àqueles que mamam, mas que quando passarem a fase do desleite, ingressarão logo na falange de apoiantes do regime, à espera de mais. O grande problema de toda esta excitação tem a ver com um pequeno apêndice. Esta fartura de contratos públicos tem um efeito limitado na dinamização da economia. Por outras palavras, embora os queiram alugar como indicadores de vigor económico, a verdade é que os contratos públicos revelam mais sobre a disfunção da economia do que a plenitude da sua virilidade. Mas nada disto tem importância. O dinheiro não é deles. É dos portugueses. A geringonça fornece apenas a barriga.

publicado às 14:05

Marques Mendes, de fonte segura

por John Wolf, em 12.06.17

 

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A figura de Marques Mendes nem sequer é controversa - é patética. Mas é a SIC que faz aquele boneco funcionar. O traficante de informação lá aparece semanalmente com postas frescas obtidas no mercado secundário da política. O homem vai à lota e não regateia as encomendas. Como aquilo que vende não é considerado fake news, ninguém o chateia muito. O porta-voz de tudo e todos pega no telemóvel logo pela manhã e colecciona temas e dilemas existenciais de partidos e políticos. A desregulação do mercado da informação e a ausência de regras de lobbying permite que um agente deste calibre possa veícular matéria de debate para encher a grelha do jornal e vender publicidade à antena de televisão. Ninguém pergunta nada, mas ele responde a tudo. É uma espécie de sucedâneo de si mesmo. Uma réplica crónica da sua mediania. Ou seja, na sua segunda vida de comentador de serviço, não consegue apagar a mediocridade da sua passagem política. O detective Mendes tem poderes especiais. Obtém dicas e rumores antes dos boatos. Avança com conjecturas depois do sucedido. Em suma, é um homem analógico. Chegamos a acreditar que os outros lhe concedem o beneplácito da confissão, da sinceridade. Se ele parece saber os factos antes dos eventos sucederem, penso que ele deve ser tido em conta na quota-parte da responsabilidade que decorre do conhecimento de causa. Num país de ligações especiais, canais de comunicação privilegiados, Marques Mendes é o mexilhão que rapa o tacho antes do jantar estar pronto. Por acaso gostava de saber quais são os seus fornecedores regulares, os traidores de cada agremiação partidária, provavelmente outros tristes caídos em desuso nas respectivas estruturas e direcções. Ou seja, a não ser que seja o próprio Presidente da República a preparar-lhe a ementa de considerações, serão outras figurinhas de segunda a fazer o take-away. O Mendes apenas tem de reaquecer os guisados, mas não sei se isso acrescenta grande coisa aos debates, à Democracia e à vida dos portugueses. O seu contributo é inócuo e serve de mea culpa colectiva. Depois podem todos seguir alegres e contentes, com a cartilha limpa pela explicação.

publicado às 17:52

O Truque das Massas.

por Nuno Resende, em 19.04.17

O projecto chamado Truques da Imprensa Portuguesa é um caso curioso de Sockpuppets cujo objetivo é o de, entre outras coisa, desmascarar outros Sockpuppets. Estranho? Nem por isso. A príncipio tudo parece um caso de voluntariado: um grupo de amigos (e amigas?) junta-se para denunciar o que consideram ser os abusos da comunicação em Portugal: pretensas notícias falsas, artigos manipuladores, clickbaits, violação da vida privada, combate político «descarado», etc etc. A cada instante, através do Facebook, os anónimos autores do Truques elaborada cuidadosamente textos que recortam, analisam e condenam notícias, jornalistas e jornais. Mas não estamos a falar de frases soltas, ataques imediatos, daqueles com os leitores bombardeiam as caixas de comentários dos periódicos. Não. Estamos a falar de artigos complexos onde a informação não só é escalpelizada, mas relacionada com outros casos, alguns anteriores ao próprios «Truques». Por aqui se vê que, quer pela constância na publicação dos textos, quer pelo manancial de informação que veiculam, não estamos a falar de um grupo de amigos que se reune numa garagem para beber uns copos, comer uns percebes e mandar uns bitaites.
A regularidade e a mecanicidade com que varrem o panorama informativo, identificam alvos e os abatem é de um nível cirúrgico incontestável. Sobretudo se pensarmos que aqueles carolas estão ali por desporto, que têm os seus trabalhos, a sua vida pessoal e que o Truques é apenas uma espécie de destino robin hoodesco para salvar a pátria da nesfasta má comunicação social.
Na esfera daquele produto circulam perfis abertos e fechados. Os abertos são claramente leitores de boa vontade que fazem comentários sinceros e até inocentes sobre os casos que ali se apresentam. Todavia há um conjunto de perfis claramente falsos que, por exemplo, quando alguém ataca directamente as opiniões veiculadas pelos administradores anónimos aparece rapidamente, como um enxame, para rodear a presa e desfazê-la com argumentos, uns válidos, outros nem por isso - um exército de pequenos sock puppets.
Quando ali uma vez discordei e fiz valer o meu argumento, e visto que o meu perfil de facebook não tem uma foto de grande qualidade, rapidamente apareceu o autor de um dos perfis fechados a divulgar aspectos da minha vida profissional.
Não quero pensar que há partidos, empresas, lóbis o que quer que seja, por trás deste grupo de «amigos». De resto esta prática de controlo opinativo com contornos políticos teve larga difusão no Portugal comentadeiro - veja-se o caso dos Abrantes.
Mas espanta-me a facilidade como um perfil do Facebook ex nihilo gerido por anónimos, adquire uma tal credibilidade que facilmente transforma massas pretensamente críticas, em conjuntos de indivíduos inertes e seguidores.

publicado às 19:28

Sobre os media nos EUA

por Samuel de Paiva Pires, em 17.02.17

James Bowman, "Cessation of the Oracles", The New Criterion 35, no. 6 (February 2017): 67:

 

 (também publicado aqui.)

publicado às 15:11

Trump, Pilger and Meet the Press

por John Wolf, em 23.01.17

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As CNN e New York Times deste mundo já não ocupam o palco central das conferências de imprensa organizadas pela presidência Trump. Os últimos da fila com a senha na mão passaram a liderar o processo jornalístico. A Fox News e  o The New York Post são agora as estrelas da companhia. Os lugares cativos de certos opinion makers estão a ser redistribuídos. Hoje o Expresso e o Diário de Notícias, amanhã as Linhas da Beira ou as Notícias da Terra. Temos assitido ao pasmo e ao queixo caído de muito jornalista internacional, ou desta aldeia, que ainda não perceberam a revolução sistémica em curso. O excêntrico Donald, há poucas semanas não fazia parte do clube, mas agora ele é o country club - tem os tacos na mão. Os comentadores, aqui e acolá, ainda acreditam no regresso à convenção, à normalidade. Mas estão enganados. As regras do jogo são outras. No entanto, e em abono do karma jornalístico, foram décadas de preferências e versões coloridas que nos conduziram a este estado de arte, a esta vendetta. Foram muito poucos aqueles que ousaram partir a loiça. Retenho alguns na memória e poucos no presente. Penso no jornalista e investigador John Pilger, e na reedição da sua obra  - The New Rulers of the World -, que pensava eu, por ter Chomsky na badana, ser um hino às virtudes de um campo ideológico em detrimento de outro, mas estava enganado. O homem distribui chapada a torto e a direito, à esquerda, em cima e em baixo. São relatores deste calibre os únicos com argumentos para confrontar Trump, ou seja quem for, em nome do processo democrático. Em vez disso, vemos microfones vendidos a simular entrevistas a presidentes da república, colunistas ao melhor preço de mercado, e a verdade dos factos a escoar por um cano de minudências e chatices. Ainda não entenderam que a tendência da política é hardcore, XXX? Enquanto os jornalistas andam aos papéis para ver se saem bem na fotografia e eternizam os favores, os danos são prolongados. E muito por sua culpa. Trump está a fazer tremer mais do que mera gelatina de cobertura mediática. O epicentro pode ter sido lá, do outro lado do Atlântico, mas aqui, seja qual for a jornada parlamentar, cheira mal e há tempo demais. As conivências políticas e os encostos de ombro de determinados jornalistas são flagrantes - as primeiras páginas parecem ser agora as derradeiras. Vai rolar muita tinta e algo mais.

publicado às 20:19

Os media fascistas

por John Wolf, em 10.11.16

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Não irei poupar-me a termos e qualificativos de grande repúdio dos Media. E incluo na admoestação os meios de comunicação social locais, as antenas cá do burgo, as redacções europeias, os jornalistas-estrela e as suas empresas de inquérito de opinião. Como é que se puderam enganar de um modo tão flagrante em relação ao desfecho das eleições presidenciais nos Estados Unidos? A resposta: não se enganaram. Não foi um erro. O que aconteceu foi algo mais cínico. A comunicação não é livre, se é que alguma vez foi. Os canais de televisão pertencem ao aparelho. As networks pertencem ao establishment. É sobretudo a Esquerda que apregoa a liberdade de expressão, mas não a vejo indignada com os sucessivos enganos. E sabem porquê? Porque todos, sem excepção, alimentam a mentira. Todos sem excepção estão nas mãos de conglomerados de comunicação que os próprios criaram. O que aconteceu deveria implicar a criação de comissões para investigar as práticas convencionadas pelas empresas que realizam os inquéritos de opinião. Numa escala mais pequena, mas igualmente preocupante, também em Portugal os Media se encontram na dependência de poderes instalados. A eleição de Trump, se é para partir a loiça toda, e realizar um reset, não deve excluir uma abordagem transversal à questão. Quanto custa a mentira? Quem dá a ordem para a decepção? Se não obtivermos a resposta, apenas existe um termo a aplicar aos Media: fascistas.

publicado às 10:50

Pensar dentro do rectângulo

por Nuno Resende, em 30.05.16

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De vez em quando vêm à baila jornalística uns não-assuntos que as redes sociais transformaram em causas. Há alguns meses atrás o caso Henrique Raposo vs. «alentejanos» completamente pífio (basta ler o livro atacado) e agora o súbito ataque ao cantor José Cid a propósito de um comentário por ele formulado num programa de televisão há 5 anos.
Não vamos sequer escalpelizar a indignação suspensa durante cinco anos, nem o teor das declarações que ouvidas no contexto são naturalmente infelizes mas de modo algum deselegantes dentro da conversa e no contexto do próprio programa. Não vale a pena, os comentadores encarregam-se disso. Mas o humor em Portugal sempre foi cru, cruel e crucificador, sem que alguém alguma vez se tenha realmente importado com isso.
O humor vulgar, aquele de barbearia, de táxi ou de café é mesquinho, implacável e francamente amoral. Desce aos lugares mais sórdidos da existência humana e quase nunca poupa quem quer que seja, reduzindo grandes e pequenos, honrados e menos honrados a matéria de cloaca.
Durante anos a fio tenho ouvido anedotas sobre alentejanos, impropérios sobre portuenses e lisboetas, observações lúbricas e pouco lisonjeadoras sobre tipos sociais, profissões e ofícios. E se recuarmos na genealogia da graçola xenófoba e chauvinista o país inteiro revolve-se em riso entre si e contra si.
Não é por nada que o Zé Povinho, indivíduo boçal e risonho que encena um gesto de insulto, se tornou o símbolo colectivo de Portugal.
Mas nesta história toda o mais absurdo não é indignarem-se com comentários imbecis - afinal as redes sociais são ao mesmo tempo palco e plateia. O mais absurdo é a forma como ainda se pensa o país segundo a bitola salazarista dos transmontanos, dos beirões, dos alentejanos, etcª.
Aquele mapa colorido das províncias que engalanava muitas salas de escola primária ainda faz as delícias desta gente.
Ao menos no Estado Novo ainda se cuidava de saber onde começavam e acabavam as províncias. Desconfio que hoje muitos transmontanos só o são por contágio. Nunca leram Torga, não sabem elencar os rios da região e estão a marimbar-se para a etnografia e a cultura popular que, aliás, foi sempre pouco gentil para os tipos de homens e mulheres que estavam para lá do Marão...

publicado às 20:33

Um problema chamado Vaz

por João Pinto Bastos, em 30.12.13

As notícias que têm vindo a lume a respeito da crise congeminada pelo senhor Fernando Vaz (estou a ser muito benévolo no tratamento dado a este gentleman), permitem extrair uma conclusão pouco abonatória no que tange à influência política e diplomática exercida pela CPLP. O Paulo Gorjão e o Francisco Seixas da Costa já se referiram ao assunto aqui e aqui, salientando, justamente, esse ponto. De mais a mais, as últimas ocorrências deste affaire não são, propriamente, muito surpreendentes. A CPLP, enquanto organização política, tem primado pela mais absoluta irrelevância - veja-se o supino caso do acordo ortográfico -, algo a que não é alheio o facto de tanto o Brasil como os PALOP, sem esquecer, evidentemente, Portugal, terem votado esta instituição a um agradável ostracismo, no qual os assuntos mais candentes se resumem à mercearia involucrada numa hipotética adesão do regime de Obiang Nguema Mbasogo à organização. Para bom entendedor, meia palavra basta. Ademais, é facílimo de entender a preferência do Estado português pela abordagem multilateral dos problemas políticos emergentes na Guiné-Bissau: em primeiro lugar, a reduzidíssima efectividade política e diplomática da CPLP assim o obriga, em segundo lugar, como o próprio Francisco Seixas da Costa ressaltou, o acto ocorrido em Bissau foi, clara e inequivocamente, um acto de pirataria, pelo que a abordagem a seguir deverá ser, obviamente, multilateral. Em guisa de conclusão, mais uma vez, a CPLP provou que, política e diplomaticamente, não existe fora do quintal das Necessidades, o que, em boa medida, só leva a concluir que, nestes moldes, a instituição em questão é absolutamente inútil. Por fim, gostaria, igualmente, de lamentar o total despudor exibido pelos media portugueses ao amaciarem as posições da Guiné-Bissau, com entrevistas e peças jornalísticas a destempo. Assim, com estes gramofones comentadeiros de péssima qualidade, é, de facto, muito difícil ter uma diplomacia que funcione e prossiga os interesses nacionais.

publicado às 20:00

Serviço público

por Fernando Melro dos Santos, em 11.12.13

O novo portal de informação, Avental. Perto de si e dos seus.

publicado às 14:51

Judite e a imparcialidade de Seara

por John Wolf, em 24.01.13

 

Não sei se está escrito no manual de instruções da TVI. Não sei se está escrito na clausula contratual sobre conflitos de interesse. Mas não tenhamos dúvidas que a questão deontológica será colocada, se não preventivamente, certamente na sequência da cobertura da candidatura de Fernando Seara pela TVI e, designadamente, pela jornalista Judite de Sousa. São estas ligações político-mediáticas (não ponho o Futebol ao barulho) que suscitam ainda mais dúvidas no espírito do cidadão, toldado por pecadilhos atrás de pecadilhos do firmamento político nacional. Quando o Jornal Nacional abrir às 20 horas será que a Judite se vai referir ao candidato como "o meu Nando" ou "o candidato Fernando Seara"? Mesmo que não abra a boca, mas apareça em estúdio na TVI com um laço engraçado ao pescoço, a sugestão será imediata. A insinuação será instantânea. Que um dos jogadores foi ajudado pelo árbitro. Não há nada a fazer. Faz parte da natureza humana, seja boa ou má. O grau de parentesco ofuscará as mais brilhantes noções imparciais que a Judite de Sousa venha a proferir. A direcção de informação da TVI tem, a meu ver, que realizar uma reunião de emergência para aferir as várias dimensões desta relação de parentesco. Num quadro de normalidade ética, o adequado seria haver uma forma selectiva de nojo que determinaria a abstinência da Judite de Sousa sempre que o seu marido viesse à baila televisamente. Uma separação temporária e não um divórcio. Não me parece que seja esse o caminho que irão tomar. O tele-espectador sentir-se-ia respeitado e a TVI abriria porventura um precendente no que diz respeito ao comportamento dos media no capítulo das ligações perigosas. Se algum dos visados tiver um mínimo de decência, saberá recuar e prestará um serviço à já fragilizada Democracia Portuguesa. Esperemos para ver. Ou melhor, esperemos que não tenhamos de ver um triste filme que envolve vários corpos de influência. Ás oito, pontualmente na TVI.

publicado às 17:02

Government censorship in Portugal

por John Wolf, em 15.01.13

 

What´s going on in Portugal must be shared in plain english with the rest of the world. Austerity - a fiscal and economic recipe cooked up by a number of European governments to boost their failing economies is not working at all. The approach is flawed and the improvement the authorities promised is nowhere in sight. However, government officials have used the economic excuse to reshape the concept and structure of the Welfare State at the expense of its citizens. The National Health Service is only one of many examples of public services that have been maimed and the population is bearing the brunt. I´m not even going to mention the outrageous tax hikes that are torturing the workers that are lucky enough to still have a job and a lousy salary. Yet another phenomena is slowly but surely becoming pathological. The degree of control the Government is trying to exercise over the media and public opinion is worrisome. Messages of protest are now controlled as if Portugal were under a totalitarian regime. Some citizens I have spoken to, now regard the former dictator Salazar, as a bland authoritarian figure, when compared to the endeavors taken forth by the Passos Coelho and his center/center right coalition government. Part of the press and some tv channels are alligned with the government and there seems to be no limit regarding the fences that are being mounted. As I write this article, a conference on the Reform of the Portuguese State is taking place with a panel of well known experts, politicians and former leaders, but the Press has not been granted authorization to tape or record the event. The welcome address presented by former Social-Democrat Party director Sofia Galvão, made it clear that coverage of the event will not be tolerated, and only with permission may speakers messages be conveyed. We all know Portugal is a young Democracy that came to being with the Carnation Revolution of April 25th, 1974. But what´s going on seems like a clear reversal of the ideals embodied almost 40 years ago. Are we in Europe and are these the values and principles defended by the European Union? Let´s ask Portugal.

 

(CC International Media)

publicado às 15:51

Realpolitik oblige

por João Pinto Bastos, em 12.11.12

A visita da chanceler Merkel teve o singelo mérito de exibir à saciedade o eterno provincianismo deste país. Horas e horas de directos, sem qualquer sumo jornalístico digno desse nome.  Não se pergunta, não se questiona, não se informa. Desinforma-se e oculta-se. Na rua, manifestam-se os janotas do costume, soltandos os chavões bandoleiros de sempre. Ao que parece, e avaliando pela amostra transmitida pelas televisões, a bicefalia bloquista teve aqui a sua primeira prova de fogo: os urros e clamores sectários cumpriram à risca as prescrições dogmáticas da nova liderança. Entrementes, Merkel fez a sua visita, efectuou a habitual diplomacia do croquete e assegurou, por mais algum tempo, a obediência atinada do bom aluno Passos Coelho. No fundo, Merkel fez aquilo que qualquer líder político, devidamente ciente das suas prerrogativas, faria no seu lugar: a defesa intransigente dos interesses do seu país. Mas, e agora questiono e questiono-me, haverá alguém, minimamente lúcido, que acredite que os Estados nacionais não vejam na defesa dos seus interesses o principal vector das suas políticas externas? A julgar pelas manifestações do dia de hoje, parece que sim. O que o Embaixador Francisco Seixas da Costa disse aqui é por de mais evidente, posto que os governos são eleitos para defender, em primeira mão, os interesses nacionais. Não nos iludamos, por favor. As relações entre Estados, por mais romantizadas que possam ser, e são-no, traduzem-se mormente naquilo a que Bismarck (aqui citado pelo Rui Crull Tabosa) qualificava como egoísmo político. E Merkel esteve aqui, sobretudo, para isso: para defender o egoísmo germânico da apoplexia financeira portuguesa. Nada mais.

publicado às 18:55

A "langue de bois" dos eunucos regimentais

por João Pinto Bastos, em 13.09.12
 John Martin, The Great Day of His Wrath, 1851-1853

 

 A fronda que tem vindo a formar-se nos últimos dias, nos media e na chamada "vox populi", vive, em grande medida, das perorações tacanhas de meia dúzia de prebostes encartados que fizeram o grosso das suas carreiras à sombra do estadão. A burguesiazinha lisboeta que vive acomodada no recosto confortável do Estado começa, por fim, a sentir os efeitos de uma crise originada pela sua cupidez endémica. O mais curioso no meio disto tudo - ou não - é constatar que o nefelibatismo das elites políticas e económicas é partilhado pelo povoléu que, entre ameaças de manifestações e proclamações altissonantes orquestradas pelos bandos políticos do costume - sem esquecer, outrossim, a grande maioria silenciosa que viveu empestada no crédito e na supina crença de que o bem-estar carreado pelos dinheiros europeus seria eterno -, continua a viver na ilusão de que o ciclo pretérito, encerrado com a gestão ruinosa de Sócrates, revivificar-se-á num futuro não muito longínquo. De facto, os portugueses têm uma tendência incurável para o cultivo de apetites auto-destrutivos. As nossas maleitas colectivas são, mais do que um reflexo piedoso da nossa má organização congénita, a prova mais evidente da nossa irreformabilidade. John Martin revelou-se bastante profético na inspiração que o guindou a pintar o seu famoso "The Great Day of His Wrath": na verdade, o crescimento desmesurado das sociedades humanas, sem que haja o devido acompanhamento por uma sólida base de sustentação, termina sempre num declínio retumbante de proporções bíblicas. Portugal é a prova cabal desse facto.

publicado às 15:12

Os três Fs: Futebol, Futebol e mais Futebol

por João Quaresma, em 04.06.12
Um pequeno passo para vinte e dois homens, um passo gigantesco para a mediocridade.

Todas as televisões a transmitirem em directo o momento histórico (e supostamente histérico) da descolagem do Airbus da TAP que leva a Selecção de Futebol para a Polónia. Os média já tinham registado o momento da entrada dos jogadores na aeronave, onde foram cumprimentados pelos membros da tripulação. Horas antes, o presidente que não se pronuncia sobre nada, que nunca compareceu às cerimónias nem disse uma palavra que fosse sobre a extinção do feriado da Restauração da Independência, recebeu a Selecção de Futebol e fez um autêntico discurso de estado, sobre como os jogadores têm grandes responsabilidades sobre os seus ombros, inclusive no exemplo que dão às gerações mais jovens.

Não fosse esta equipa a selecção nacional e eu já estaria mas era a torcer para que fossem eliminados quanto antes para acabar este espectáculo vergonhoso.

publicado às 18:35

Não aprendem, estes parvos

por Nuno Castelo-Branco, em 06.08.11

Habituados às questiúnculas de fila na padaria, os jornalistas tudo tentam para o descobrir de temas que possam derrubar o que está, seja este "estar" da direita ou da esquerda parlamentar. Num ambiente já insuportável pelo sopro da miséria que há muito nos bafeja a nuca, procuram piorar as coisas. Agora, vislumbram "profundas clivagens" no governo, fazendo a contabilidade de ódios no ábaco em que se tornaram os teclados dos computadores portáteis do jornalismo que não sendo sensacional, é no mínimo, incómodo. Incómodo porque inútil, quase parvo.

 

Estamos perante acontecimentos que em muito nos ultrapassam e esta gente ainda não percebeu que poderemos estar perante a derradeira hipótese de sobrevivência do regime. O que deste sair, levará estes pressurosos escribas a darem tratos de polé à incógnita imaginação, fazendo cumprir o papel a que destinaram as suas vidas: informar. Tenham mais comedimento e não inventem, pois a proeza sair-lhes-á bem cara. 

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publicado às 10:37

Murdoch, esse sacripanta

por Nuno Castelo-Branco, em 02.08.11

O seu "grupo" mandou apagar centenas de milhar de e-mails e outros dados constantes nos computadores. O velho método estalinista do arrancar de páginas dos volumes de "A Grande Guerra Patriótica", fez escola. E perderam os ingleses uma excelente ocasião para obrigar Murdoch a ficar no R.U?!

 

Lembram-se do caso Pinochet? Pois a grande diferença entre o general chileno - um assunto estranho às Ilhas Britânicas - e o magnata da imprensa conspirativa, é que este último procurou subverter o Estado britânico e derrubar as instituições na Austrália, um membro da Commonwealth. Umas longas férias forçadas em local vigiado, seriam mais que aconselháveis como exemplo para memória futura.

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publicado às 10:35

Murdoch: aperta-se o cerco ao bandido

por Nuno Castelo-Branco, em 15.07.11

Já não parece tão intocável como foi. O Sr. Murdoch e o respectivo rebento James, estão a ser pressionados para comparecerem no Parlamento britânico, com o fim de se esclarecerem factos acerca do escandaloso processo das escutas. O problema é sem dúvida muito mais profundo que aquilo que possa transparecer das notícias publicadas nos últimos dias. Além da ilegalidade dessas escutas que devassaram a privacidade de um sem número de pessoas, existem fortes indícios de coacção moral exemplificada pela clara chantagem e campanhas de ódio que a imprensa de sarjeta exaustivamente promoveu. Pior ainda, não é de excluir uma clara ingerência nos assuntos do Estado, procurando destruir reputações e minar as instituições. Todos decerto recordarão a frenética campanha em torno de Diana Spencer, um "cavalo de batalha" ideal - a personagem que normalmente se designa como uma "idiota útil" - que quase arruinou a estrutura do poder na Grã-Bretanha e aquilo que conhecemos por Commonwealth. Murdoch é claramente responsável, pois tentou precisamente o mesmo na Austrália, promovendo o referendo onde felizmente foi um dos principais derrotados pela população.

 

O bandiditismo mediático alastrou a todo o mundo anglo-saxónico e perante as evidências que agora estouram nos Estados Unidos, Murdoch encontra-se numa situação periclitante, embora as cumplicidades que foi semeando sejam de tal modo influentes que todo este assunto poderá vir a ser convenientemente mitigado. Entretanto, seria interessante sabermos mais acerca das investidas do escroque global no nosso país, pois o i aponta reuniões havidas com o então Chefe do Estado  e “um grupo de amigos íntimos e apoiantes do Presidente Soares”. Com Berlusconis, Melancias e quejandos à mistura, como convém. 

 

O magnata da falsa informação, coacção moral, chantagem, extorsão e difamação, deve ser colocado perante um outro tipo de assembleia que não o Parlamento do Reino Unido. Uma assembleia mais restrita e quase exclusiva, aquela que é conhecida pelo nome de Tribunal e se em boa justiça se provarem os crimes, o charlatão poderá ser colocado atrás das grades. Sem direito a fiança.

 

Murdoch está em território britânico. Não o deixem sair.

publicado às 10:08






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