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Como devemos chamar Portugal?

por John Wolf, em 16.12.13

Não me chamem o que quiserem como diz o outro. Não me chamem de pessimista nem de optimista. Não me chamem de todo (tolo), mas chamem os nomes que entenderem àqueles que afirmam que dobramos a esquina, que a recessão acabou e que a festa está prestes a começar. Não é preciso ser um génio para perceber que estamos longe dos tempos de prosperidade e bem-estar. De nada serve o entusiasmo ejaculatório das comunicações governamentais e das estatísticas que proclamam o fim da recessão, quando quem manda ainda não está satisfeito com o esforço nacional e o nível de desemprego em que nos encontramos. E para além disso, não está satisfeito porquê? Porque a Reforma do Estado ainda não aconteceu nos termos em que deveria acontecer. Porque um entendimento entre as diferentes forças políticas não passa de uma utopia. Porque existe uma Constituição da República que ainda não foi revista. Porque existe um Tribunal Constitucional que decide de acordo com a mesmíssima Constituição. Porque existe em Portugal uma alegada Esquerda que assenta a sua luta na dictomia entre capitalismo e função social. Porque existe uma suposta Direita que fundamenta o seu esforço na preservação de certas vantagens corporativas ou empresariais. Porque vivemos num país onde as palavras entendimento, consenso e acordo de nada valem. Porque Portugal é um país que não consegue produzir alternativas políticas que sejam provenientes da sociedade civil. Porque existe nesta nação uma alegada elite intelectual e cultural que prefere garantir a sua sobrevivência em vez de demitir as premissas que sustentam os seus privilégios. Porque todos estes vícios já estão enraízados em Portugal há décadas, senão séculos. Porque Portugal ainda acredita que existem atalhos para evitar medidas cautelares ou um 2º resgate. Porque Portugal prefere atribuir a responsabilidade do seu destino a terceiros. E sabem que mais? É precisamente isso que está a acontecer. Portugal está a entregar de mão beijada as decisões sobre o seu futuro a terceiros. O atavismo nacional que resulta do corpo e anti-corpo político, da zanga de comadres, e da eternização de compadrios é o que está mal. Por outras palavras, está tudo mal. Enquanto esta tragédia decorre, a Alemanha prepara a sua equipa para a gestão dos assuntos político-económicos dos outros países-membros da União Europeia e os EUA salvam propostas de governação através de compromissos entre Democratas e Republicanos. A Europa está encalhada. E no meio de tudo isto não sei onde colocar Portugal. Mas que está metido em sarilhos, está.

publicado às 18:27






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