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Passámos um dia inteiro a falar de Medina Carreira para no final ficarmos a saber que o seu nome terá sido utilizado como nome de código. Entretanto, no meio da voragem mediática, a sua reputação, como a de tantos outros antes dele, foi manchada por meia dúzia de abutres impantes. É sempre a mesma estória. Não há meio de sairmos desta mediocridade afectada.
Não sei se Medina Carreira está ou não envolvido no caso "Monte Branco". Na verdade isso é o que menos importa, ainda que, doravante, os caçadores da infâmia possam aproveitar este pseudo-caso para atirarem-se, como feras sedentas, às fauces de Medina. O que me preocupa é a facilidade ominosa com que, em Portugal, se destrói a reputação de uma personalidade pública. Este país tornou-se num paraíso dos destruidores do nome e bem alheios. Petrónio dizia, não sem alguma ironia, no tão celebrado Satyricon, que a justiça é um mercado público onde a honra é lançada ao acaso. Eu acrescentaria que, além de mercado, é um poço sem fundo onde a iniquidade brota constantemente.
Na TVI24 Silva Lopes e Medina Carreira tratam-se por "ó sôtor" de 5 em 5 segundos. Que parolice.
É ler na íntegra a entrevista de Medina Carreira no Correio da Manhã:
(...)
LC – Temos o PS com maioria absoluta. Há o grande risco de sair uma maioria relativa das legislativas. É uma questão que o preocupa?
- É o senhor que diz que há um risco. Eu acho é que se sair uma maioria absoluta é que é arriscadíssimo. Eu não quero mais maiorias absolutas de um partido. Porque se o PS levar por diante estas obras resulta do facto de ter maioria absoluta.
LC – Mas com maioria relativa vai cair muito provavelmente um ou dois anos depois.
- Pois, temos que arranjar maneira de viver. Maioria absoluta com gente deste estilo nunca mais. Para mim nunca mais. Estas asneiras teimosas, absolutamente fora de senso comum, só são possíveis porque há maioria absoluta de um partido.
LC – Que solução é que imagina num cenário de maioria relativa? O regresso do Bloco Central?
- Eu como acho que os partidos que existem não estão em condições neste momento de resolver os problemas tanto faz. É uma caldeirada relativamente irrelevante. Os partidos têm de ter qualidade, têm de estudar, têm de ter pessoas que estudem.
(...)
E ainda o artigo de António Barreto no Público:
Trinta e cinco anos depois de Abril, a democracia continua a viver à custa de Salazar e da sua queda. Parece que o regime democrático e a liberdade nada têm a oferecer ao povo para além do derrube do ditador. Que, aliás, não foi do próprio mas do sucessor. Aqueles partidos e aquela instituição vivem obcecados. Sentir-se-ão culpados? De quê? De não terem sabido governar o país com mais êxito e menos demagogia? De perceberem que a população está cada vez mais cansada da política e indiferente aos políticos?
1. [...] A primeira morte é económica. O modelo socialista/social-democrata/democrata-cr
Medina Carreira nada de novo vem anunciar. José António Saraiva explicou esta evolução de forma lapidar, comparando Portugal e Espanha. O artigo intitulava-se - se bem me lembro -, "O Fim do Regime". No Expresso, onde era director. No entanto e tal como Medina Carreira, não conseguiu escrever e elucidar-nos quanto à conclusão lógica para a saída deste beco em que Portugal se encontra. Sabemos qual é a solução. Eles também sabem mas não têm a necessária coragem para publicamente o afirmar. Este blog - entre muitos outros - tem-na, tal como o Combustões ou o Centenário da República, por exemplo.
A entrevista de Medina Carreira no telejornal da SIC fica marcada por um alegado pessimismo, como lhe chamou o jornalista que ia conduzindo a mesma (não me recordo do nome), a que eu prefiro chamar de realismo. Quanto ao essencial a reter fica a afirmação de que andamos num circo e que isto é tudo uma palhaçada. Não poderia estar mais de acordo, parecendo até que me estava a ouvir a mim próprio a falar com familiares e amigos nos últimos tempos, quando na falta de melhores palavras recorro frequentemente à classificação de "palhaçada".