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É impressão minha ou será que António Costa apenas ganha coragem para afrontar os funcionários públicos quando está fora de Portugal? Desta vez fala a verdade em directo de Tunes. I tunes, ele tunes, nós tunisinos...
A agitação em torno da ficção dos cartazes do Partido Socialista faz parte da matriz política - deplorável. A comunicação ideológica em Portugal assenta em diversos pilares iconográficos rudimentares, e não se restringe àquele partido em particular. O futebol é um deles, mas não é o único. Se António Costa pudesse acumular ambições, e fosse simultaneamente presidente da Câmara Municipal de Lisboa e candidato a primeiro-ministro, poderia se servir da linguagem de alcatrão e mandava arranjar umas ruas de Lisboa - os fregueses amam os seus carros. Mas esses tempos já lá vão. Na bola as perspectivas também não são as melhores. As taças de Portugal erguidas nos Paços do Concelho são meros postais de um passado avistado com laivos de nostalgia. E a igreja católica também já não pode dar uma mãozinha: António Costa não pode seguir o caminho de apelo à fé do eleitor. Não jogaria com o seu DNA ecuménico, universal, espelhado na inclinação de um Martim Moniz admitido para mitigar diferenças. Não esqueçamos que a própria instituição religiosa tem os seus próprios casos de falência ética. Por isso, e à falta de argumentos prospectivos assentes na construção política positiva, os socialistas escolhem o instinto primário enquanto veículo principal. Nomearam o medo enquanto mediador de vontades. Servem-se da imagem de caos laboral para semear pânico. Usam o desemprego para afugentar peregrinos, mas tropeçam nos raciocínios feitos à pressa, enganam-se na matemática. O papão já não mete medo, e, à medida que os índices de desespero aumentam, e a retoma económica se consolida, os socialistas procurarão sacar uma qualquer vantagem e embarcar num tuk-tuk político - algo pensado por outros, mas convenientemente aproveitado pelos marketeers do Largo do Rato. Um país político dependente de cartazes e outdoors não augura um futuro promissor. No fundo quem controla os conteúdos e as mensagens da oposição política em Portugal é a soma das partes - a coligação PSD-CDS. O governo de Portugal conseguiu pôr os partidos concorrentes a responder à letra. Levou os pensadores da alternativa e da confiança a morder o isco. Os socialistas, vendedores de utopias e detractores da realidade, ficaram cegos. Não são capazes de imaginar. Não são capazes de vislumbrar um país para além de uma coligação. Sinceramente esperava mais. Tinha expectativas que fossem capazes de saltar fora do seu rancor ideológico e abraçar a sociedade civil. Mas não. Em vez disso, fecham-se em copas. E esmagam-se em cartazes com gente que não existe - mal empregada.
A Helena Sacadura Cabral recorda aqui um pormenor importantíssimo, que, pelos vistos, foi totalmente riscado do mapa por alguns dos protagonistas séniores da governação. De facto, eu, à semelhança da Helena, julgava que um ministro tem como função precípua definir políticas e acções na área de que foi investido das maiores e mais pesadas responsabilidades. Enganei-me. Nuno Crato, a título meramente exemplificativo, tem-se esforçado de todas as formas e feitios por demonstrar cabalmente aos portugueses que esta conceptualização do papel do ministro é um tremendo desatino. Crato, devido, talvez, à sua formação maoísta, entende o magistério governativo como uma negociação permanente sobre regalias e privilégios, em que o ministro faz a figura de urso, e os sindicatos colhem o aplauso dos prebostes corporativos. A coisa tem, em rigor, a sua lógica. No fundo, o que está em causa é apenas e tão-só o medo de governar, o receio incomensurável de arrostar os que mais podem. Num governante, como todos sabem, o medo é o início da derrocada, e Crato já teria, há muito, retornado às bancas da Universidade, se o primeiro-ministro fosse um político experimentado e prudente. O problema é que, nos dias que correm, Portugal é liderado por gente com medo, por políticos desaustinados e receosos, e, last but not the least por um partido cujo único sobressalto cívico foi o facto de um secretário de Estado ter sido apodado de alemão pelos periódicos gregos. É bom de ver que assim não iremos a lado algum. Porém, e como não há impossíveis, vamos esperar que o bom senso regresse ao cérebro dos estrategas passistas. Nunca é tarde para debelar o medo, Roosevelt que o diga.
O relativismo moral e cultural da Modernidade inculcou nas mentes ocidentais o medo da crítica. Evita-se o confronto pois não há estofo para aguentar o conflito. Faltam líderes no Ocidente. E os grandes líderes, dos quais reza a História, nunca foram medricas. "A coragem é a primeira qualidade humana, pois garante todas as outras", já ensinava Aristóteles.