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Muito a propósito do último post do Samuel, chega a notícia da visita de Medvedev a Caracas. Coincide com a realização de manobras conjuntas entre russos e venezuelanos, numa aparente demonstração de um "render da guarda" da hegemonia no Caribe.
Sendo a Rússia uma potência absolutamente distinta da defunta URSS, iniciativas deste tipo apenas poderão ter como explicação, um bastante tímido levantar da voz, nitidamente dirigido à próxima administração norte-americana. O espaço vital outrora ocupado pelos soviéticos, deixou de existir e desde Pedro o Grande, a Rússia jamais conhecera um período de um tal recuo das suas fronteiras, mesmo aquelas onde apenas exercia uma forte influência política.
Toda a Europa central e oriental integrou a UE e a totalidade dos antigos Estados satélites, participam na OTAN, sendo precisamente aqueles que manifestam maior identidade com as posições da política externa norte-americana. Na Ásia central, a Rússia perdeu o contacto directo com todos os países banhados pelas quentes águas do Índico, região onde uma vez mais, o antigo super-rival se instalou com bases militares, penetrando também no sector económico. A recente confirmação do secretário de Estado da defesa dos EUA - que transita da administração Bush para a de Obama -, é um claro indício, de que apesar de uma certa dose de reformulação, a política global promovida por Washington, não sofrerá radical alteração. Acima de tudo, estão os interesses da superpotência económica.
A Venezuela e Cuba, tornam-se assim, meras curiosidades que confirmam a marginalidade de uma política destinada apenas a pressionar quem verdadeiramente interessa, até porque no caso de Caracas, a economia depende fortemente da exportação de produtos petrolíferos para os EUA. O aumento das importações noutros pontos do globo, seguido de uma brusca redução na compra de crude, deixaria o regime de Chávez numa situação periclitante , senão insolúvel. Sob o ponto de vista militar, a máquina de guerra russa não pode competir directamente com a sua congénere americana e isto, em todos os sectores, desde as forças terrestres, à aviação e principalmente, à marinha. O factor territorial, hoje com linhas muito mais recuadas que aquelas obtidas em 1945, consiste num aspecto essencial a que a estratégia do Kremlin se conforma.
Tal como há um século, a Rússia dos nossos dias, é um gigante a quem alguém aperta fortemente as narinas, não o deixando respirar. Uma simples consulta ao mapa, confirma a suposição ou a caricatura.