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Encontramo-nos em plena época de verão e já faltou mais para a rentrée, sem que venha a haver um intervalo político, um inter de melão, fresquinho, em que não se pensa em coisa alguma. As presidenciais assim o dita — até lá é um tirinho, vai passar a correr. O mercado de transferências para Belém parece estar quase fechado, mas ainda há espaço para manobras presidenciais, surpresas de vão de escada. Reza a tradição portuguesa que as eleições para chefe de Estado são, de um modo geral, um evento benigno, sem castanhadas ou insultos — com aquelas mazelas e indisposições, típicas das legislativas ou das autárquicas. Mas a coisa pode mudar de figura num ápice. Desta vez os candidatos são mais do que as mães. Não sei se a lista inscrita no Wikipédia corresponde na íntegra à lista oficial de pretendentes ao cargo. No entanto, a mesma é digna de nota: a quantidade de aspirantes é assinalável. Veremos se ventos de desinformação, usados em campanhas eleitorais alheias, chegam ao país com a mesma força de distorção preocupante com que assolaram desfechos no estrangeiro. Deambulando pelas redes sociais encontramos os apêndices ideológicos do costume, os proto-comentadores de serviço ou os fazedores de likes, mas ainda não vislumbramos algo que se possa equiparar a manipulação intensa da opinião pública. Digo isto com sentido de Estado, com respeito por Portugal que ainda mantém a intenção política num nível de civilidade que deve ser reconhecido, apreciado. Mas desenganem-se. Nada tem a ver com a bondade e a empatia. Este estado de alma tem a ver com o modelo de negócio presidencial — a dimensão do país, mas sobretudo o retorno económico sobre o investimento em Belém. Ao contrário das legislativas, e por extensão das autárquicas, das presidenciais não resulta grande distribuição de dinheiros ou favores (vamos omitir as gémeas, por breves instantes, está bem?). Onde pretendo chegar com isto tem a ver com o sagrado presidencial, o tabu de Belém. Se Portugal fosse dotado de um sistema presidencialista seria um caso sério de preocupação. Mas não. Os primeiros constituintes pensaram e pensaram bem: a natureza política do povo português compadecer-se-á de um modo mais adequado com um sistema semipresidencialista. E assim sucedeu. O próximo presidente da república será igual aos demais, aos precedentes. Não destoará do padrão dos presidentes portugueses. Deixará a coisa andar, puxando o tapete ao executivo apenas se o mesmo estiver deitado no chão contorcido ou a pedir de joelhos. Ou seja, a ideia da extremização ou radicalização presidencial é algo mais do que improvável em Portugal, diria mesmo impossível. E isso é uma garantia para o pleno funcionamento do país, a sua virtude democrática.