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Sabemos todos muito bem que o político vive do dito por não dito, da euforia das promessas eleitorais, e no lance seguinte, da alteração do curso de acção. Faz parte engalanar o discurso a caminho do promontório, e, uma vez lá chegados, parece que afinal as convicções eram outras, as prioridades distintas. Acontece a todos os candidatos (e repetentes), invariavelmente, e independente do partido de origem, a ideologia de fundo. Os eleitores, hipnotizados pela oratória mais ou menos elaborada dos proponentes, caem que nem patinhos na conversa, no conto do vigário - vezes sem conta. Porém, não são os únicos. Os comentadores e analistas também padecem da mesma condição de volatilidade. Não há nada de artificial nesse comportamento. A natureza humana é feita desse deslizar na régua da opinião. Acontece-me a mim, como a tantos outros. Pouco honesto seria se não admitisse a minha incoerência. O tempo, por onde se estende a agenda dos juízos, acaba por servir para definir a amplitude da mudança, repentina ou não. Ao longo destes últimos anos, e à luz da crise que atormenta vidas desconhecidas ou não, sei que sofro de vulnerabilidade. Sei que o meu espírito foi admoestado pelo sentimento negativo, pelas evidências do descalabro, mas ao mesmo tempo, como se fosse um instinto de sobrevivência, esgotámos a neura e procuramos ver a luz, um lampejo de esperança. Dito isto - de um modo puramente sensorial -, mal de nós seria se nos deixássemos derrotar. Os governos, incumbentes ou aspirantes, lidam e não lidam com o espectro dessa fragilidade de sentimentos, ligam e ignoram a importância dessa força, a substância que funciona como anti-corpo para a sua deficiência congénita. Os governos, são, essencialmente, deficitários. Nunca correspondem aos anseios - comprometem os sonhos. Vivem numa superfície relativista, explicável, mas não necessariamente justificável. Na mudança de turno, despoletada por processos eleitorais, os fundamentos da acção não se alteram - confundem-se. E é precisamente diante dessa panóplia de falsas opções que nos encontramos. O actual governo ainda pode fazer mais, mas não fará menos do que aquele que se segue. Confesso que seria conveniente agarrar-me à instransigência, ao dogma que não concede um palmo à noção de alteração, ao engano. No entanto, se realizasse o exercício confessionário, confirmaria a contradição. O dia que não se segue à aurora - aquilo que fui ontem e que deixei de ser hoje. Nessa modulação de onda onde me encontro (onde nos desencontramos) aceito as minhas insuficiências e respeito as animosidades que provoco nos outros - estou vivo. Faz parte da condição humana estar vivo (muito melhor do que falecer). Trata-se de reflectir de um modo incompleto sobre o modo como vertemos a nossa eterna volatilidade. Se os parodiantes servem o interesse nacional ou afagam o umbigo não me interessa nada. Há coisas mais importantes. Quanto aos governos, não sei o que dizer. Sei o que não devo dizer. E não preciso de ligar a televisão para confrontar fantasmas que afinal não o são. São pálidas sombras da mesma árvore, ressequida - tombada.