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( No Gerês)
Uma boa parte da tarde dedicada a identificar fotografias antigas, que tirei nos passeios que vou fazendo cá dentro, acatando o avisado critério de Almeida Garrett quando nos assevera que " com este clima, com este ar que Deus nos deu ( ...) o próprio Xavier de Maistre ao menos ia até ao quintal "... ; como quem arquiva as memórias em pequenas gavetas...E lembro um livro de António Manuel Couto Viana: < Coração Arquivista >.... Como escreveu Tomaz de Figueiredo: ' Ah! mundo esmagador das recordações, emendadas umas nas outras, aboiando como de mar sem fundo '... E digo-me: isto está tudo ligado...
* título roubado a saudoso confrade da blogosfera
Por formação e feitio, evito, sempre que posso, o seguidismo acéfalo das hordas pós-moderninhas, pois não tenho a menor paciência para tolerar, com uma resignação mui cristã, as toleimas dos muitos intelectualóides que desfilam, actualmente, a sua casmorrice em tudo o que é sítio. Vem isto a propósito do acontecimento que marcou o dia de ontem. A morte de Mandela é, como se tem visto, um acontecimento de proporções globais. Entende-se: o Madiba foi, com todas as suas contradições, um homem único. Se há feito que o distingue, no parco mundo, qualitativamente falando, dos homens políticos do último quartel do século XX, é o modo calmo e sereno como gizou a transição política do apartheid para o novel regime democrático sul-africano. Mandela merece, juntamente com De Klerk, os louros deste dificílimo processo político, pois sem ele as coisas teriam, forçosamente, tomado outro rumo. Dito isto, era expectável que a morte de Mandela fosse usada para fins muito dúbios. Em primeiro lugar, e aqui falo, sobretudo, para aqueles que se reclamam da mundividência conservadora, Mandela não foi um santo. Desde o guerrilheirismo da juventude até ao conúbio fraternal com as forças do totalitarismo estalinista, Mandela teve as suas pechas. É por isso que, nos exercícios memorialísticos realizados e por realizar, a rememoração destes factos adquire alguma relevância, até porque fazer de Mandela um guru pós-moderninho das desgraças alheias não tem, em bom rigor, qualquer fundamento. Em segundo lugar, nas bandas da esquerdalhada infantil, como é, aliás, tradição useira, a morte de Mandela já foi apropriada para ataques pessoais, nos quais, em rigor, é difícil distinguir a pilhéria e o chiste do argumento sério e ponderado. A esquerda vive da proscrição do outro, e, nesse sentido, a morte de um político venerando é, quase sempre, uma oportunidade única para o exercício desapiedado da verdasca caluniadora. Não obstante a irrupção destes fenómenos de ignorância mal amanhada, Mandela deve ser recordado como aquilo que foi durante toda a sua vida: um tipo diferente dos demais, com enormes qualidades, e, também, com alguns defeitos, um político que soube estar à altura das circunstâncias, no momento em que os seus condidãos mais demandavam o bom senso dos seus dirigentes políticos. Mandela foi, genericamente, a súmula destes pequenos e significativos predicados, sabendo, como poucos, unir amistosamente o desavindo. Mas não foi o santo "new age" que as famélias redes sociais fazem dele. Também errou, e é, justamente, por isso que foi um homem grande, porque soube aprender com os desacertos, corrigindo o pecado e a ilusão. A verdade costuma estar, muitas vezes, nos interstícios dos aranzéis mais indecifráveis, e com Mandela não é, e jamais será, diferente.
Quero um cavalo de várias cores, Quero-o depressa, que vou partir. Esperam-me prados com tantas flores, Que só cavalos de várias cores Podem servir. Quero uma sela feita de restos Dalguma nuvem que ande no céu. Quero-a evasiva - nimbos e cerros - Sobre os valados, sobre os aterros, Que o mundo é meu. Quero que as rédeas façam prodígios: Voa, cavalo, galopa mais, Trepa às camadas do céu sem fundo, Rumo àquele ponto, exterior ao mundo, Para onde tendem as catedrais. Deixem que eu parta, agora, já, Antes que murchem todas as flores. Tenho a loucura, sei o caminho, Mas como posso partir sozinho Sem um cavalo de várias cores? . |
Desde que me lembro de ser pessoa que me recordo desta fonte, encimada pela esfera armilar, no jardim de Ferreira do Zêzere. Existem até fotografias de momentos que aqui passei de que nem sequer me recordo. Até há alguns anos, sempre que atravessava o jardim em tempo de férias de Verão, nunca o fazia sem colocar os dedos de uma mão dentro da fonte, dar uma volta à mesma e depois sacudir a água antes de seguir o meu caminho. Não me lembro quando deixei de o fazer. Talvez tenha sido quando me tornei "crescido". Mas esta fonte que marca as minhas memórias de infância mais remotas, relembra-me sempre certas coisas que se solidificaram e vão solidificando na minha mente, umas mais concretas e permanentes que outras. Sempre que venho a Ferreira, há algo novo na vila, algo que mudou, algo que foi relegado para a categoria das coisas efémeras, temporárias, como quase tudo o que se vive na sociedade contemporânea. A fonte está sempre na mesma. Dá-me uma sensação de permanência, até de eternidade e de mortalidade, porquanto aquelas memórias parecem ter acontecido ontem, mas afinal algumas até ocorreram há mais de 20 anos, e a fonte aqui continua. Só através das coisas permanentes é que a vida pode ganhar sentido. No próximo Verão, quando a fonte estiver a correr, vou voltar a colocar os dedos dentro desta, dar uma volta e sacudir a água. Depois, como hoje, como ontem, como sempre, enquanto possa, vou caminhar por aí com o meu avô, vou-lhe contar os disparates que tenho feito e ele vai-me dar mais umas ideias e lições de vida. Fica sempre por saber se as aprendo ou não.
Dedicado ao Lycée Français Charles Lepierre, o liceu francês de Lisboa, que ontem celebrou sessenta anos de existência. Bon Anniversaire, mon vieux!
Disse já que os verdadeiros anos dourados foram os da infância, mas uma conversa no Facebook com uma amiga do Liceu fez-me lembrar que houve um período na adolescência que também foi dourado.
Era um contentamento quando os meus pais me deixavam lá passar a tarde com ela, onde vinham, um após o outro, todos os nossos amigos.
Foi o tempo de ouvir « Angie » dos Rolling Stones, mas também « Sorry Seems to Be the Hardest Word ». de Elton John; como lhe acabo de dizer, gastámos o seu Long Play.
" As nossas músicas ", como ela diz: eternas!
Este o livro que comprei no Verão do ano passado numa feira em Faro: por ele tinham estudado os meus irmãos, e no ano em que entrei para a escola houve uma reforma - não gostei, e este continuou a ser o livro que lia, depois de ter feito pelo outro as cópias que me tinham sido marcadas.
Gostava dos textos ligeiros, dos desenhos, das quadras e dos poemas de Afonso Lopes Vieira.
Este, por exemplo, deliciava-me; e numa altura em que os passarinhos estão por toda a parte, lembrei-me de o ir buscar à estante onde o abandonara no passado Agosto
comprei um livro sobre Olivença, devo, ontem, ter olhado com uma pontinha de inveja o senhor que, quando me preparava para pegar no livro « A Lâmpada que não se apaga », de Adolfo Simões Müller, sobre Florence Nightingale, a enfermeira da Guerra da Crimeia, se me antecipou e arrematou o único exemplar.
Mote para lembrar todos os outros livros juvenis que li do escritor: « As Aventuras do Trinca Fortes », sobre Camões, « O Capitão da Morte » sobre o explorador inglês Walter Scott, « O mercador da Aventura », sobre Marco Polo, o livro sobre Madame Curie, cujo título não recordo, e alguns mais, que a memória não reteve...
Cresci ouvindo o meu pai e o " meu irmão mais velho "- o filho da D. Augusta- a cantarem " Que Sera, Sera ". Não sabia onde tinham eles aprendido aquela canção, que se tornou quase um hino familiar, se assim posso dizer.
Só há relativamente pouco tempo encontrei no hipermercado do costume o DVD do filme de Hitchcock, «O Homem que Sabia Demais », e soube que tinha sido nele que Doris Day cantou essa canção, que parece ter marcado uma geração de cinéfilos.
Foi esse o filme que agora revi na televisão, com o mesmo prazer que teria se nunca o tivesse visto.
Quando se diz que há filmes que se revêem como se se vissem pela primeira vez, é mesmo verdade.
este artigo, sobre as antigas universidades de espírito medieval
A primeira dessas viagens leva-me de volta aos meus dezasseis anos, quando, em Valença do Minho, não perdi, no mês de Agosto, um episódio de uma série que todas as tardes passava na TVE, retratando a vida de um grupo de estudantes de Direito numa dessas Universidades americanas que menciona, não lembro já se Harvard ou Yale: era tudo tão empolgante que, quando dois anos mais tarde fui para a Clássica de Lisboa, a decepção não poderia ser maior.
A segunda, até Cambridge, já depois de ter visto « Momentos de Glória », quando uma libra me deu direito a visita guiada a alguns dos colégios da Universidade, em tempo de férias escolares. Ver Trinity, e o grande pátio, que Harold Abraham percorre, antes que o relógio da torre dê as doze badaladas, começando aí o sonho da aventura Olimpíada, nos Jogos de 1924.
Os tempos eram outros - quando cá em casa havia capoeira para criar frangos, pocilga para os porcos, e uma casinha, quase de bonecas, com telhado por onde se espraiavam os ramos de videiras, que servia de coelheira: aí, atrás da rede, seguíamos o crescimento daqueles animaizinhos, envoltos em nuvens de pêlo, que quase nos impediam de ver os seus olhos pretos.
Era esse telhado, relativamente baixo, e para onde subíamos escalando um pequeno muro, um dos locais preferidos para brincarmos, as irmãs e duas primas, às casinhas, mas também para lermos os livros do Noddy que requisitávamos na biblioteca ambulante da Gulbenkian.
Na época em que os cachos de uvas estavam ali mesmo ao nosso alcance, as saudosas e doces uvas americanas, não foram poucas as vezes que nos queixámos de dores na barriga. Ao ver os lábios roxos, era certo o ralhete materno; mas , mesmo assim, o máximo que podia acontecer era estarmos um ou dois dias sem as comermos, para depois tudo voltar ao normal.
visões rápidas e difusas, desgarradas, sem sequência lógica.
Pouco faltava para fazer três anos, e porque a minha mãe fora por essa altura sujeita a uma intervenção cirúrgica, que a reteve uns tempos no hospital, os seis irmãos, que éramos então, fomos acolhidos por várias pessoas da família.
Eu fiquei com uma tia da minha mãe, e de entre os pedaços que retenho dessa época, que todos os primos, muitos também, se esforçaram fosse feliz, está a recordação de um vestido de veludo azul escuro com aplicações de renda.
Dormia com a filha mais velha dessa tia avó, que era costureira, pelo que durante o dia aviava as encomendas das clientes, mas à noite, já na cama, dedicava um bocadinho antes de adormecer à confecção desse vestido, que ocuparia sempre um lugar central nas recordações de infância, talvez,, também, porque tinha uma ligação muito especial com essa prima.
Há tempos, quando a encontrei disse-me que ainda me iria fazer um vestido. Outro, claro, mas feito pela Teresa.
foi, sem dúvida, o que de mau fizeram à vila onde nasci; tanto, que agora só lá vou de passagem, a caminho da cidade. Pois na minha adolescência era um destino de eleição, e tarde em que não chovesse, lá estava eu, com amigos, a caminho do parque, descendo a avenida que levava ao parque banhado pelo Rio Ave.
Linda que ela era - de um lado o parque de campismo, tão aprazível, que estava sempre cheio, de portugueses e estrangeiros, do outro a piscina pública, aonde acorríamos mal o tempo permitisse. Local privilegiado para o encontro de todos nós que fazíamos daquele um verdadeiro " passeio alegre ".
Continua a haver um parque de campismo e uma piscina, mas o encanto que ainda conheci, esse foi-se, sem retorno: com a febre das construções, estragaram a nossa avenida. Prédios cor-de-rosa, a conspurcar aquela beleza natural. Criminosos, quem o permitiu...
levavam-se merendas e confratenizava-se com outros vizinhos de veraneio", diz, na caixa de comentários, João Amorim. Era assim a minha praia.
A criançada divertia-se a valer; além do baloiço e do prego, lembrado pela Patti, estou a lembrar-me do esconde-esconde, pelo meio das barracas, e do arranca cebolinha, em que acabávamos sempre caídos na areia, mas sempre, sempre, muito felizes.
Se continua a haver baloiços na praia de Póvoa de Varzim, pergunta JAA. Quando para lá ia a banhos, cada sector de barracas tinha dois; agora, que há muito tempo não veraneio por essas bandas, esperei que uma sobrinha, que vai em Julho para a praia, contígua, de A-Ver-O-Mar, cá viesse para lho perguntar: que sim, e que continua a ter muita procura. Não conhece já é o jogo do prego nem o da arranca cebolinha, mas numa época em que os jogos electrónicos dominam, perdura ainda alguma coisa do que vivemos na nossa infância.
que não fui buscar ao meu baú, antes vi num blogue amigo.
Baloiços na praia, eram, para a criança que fui, um dos grandes atractivos da Póvoa de Varzim durante o mês de Setembro; não que não o tivesse em casa, porque tinha, mas a alegria dos altos voos era nessa altura partilhada com muitas mais crianças, que esperavam, sentadas na areia, a sua vez. Então, ao contrário do que transparece na fotografia de JAA, a praia ficava cheia de vozes infantis, tagarelas mesmo.
No resto do ano, o baloiço estava lá em casa, no cabanal, ao lado da " casa da lenha ", onde se guardavam as canhotas que alimentavam o fogão da cozinha, e, no Inverno, a lareira, e não muito longe da pocilga onde grunhiam e rebolavam os porcos. Em frente do baloiço, que dividia apenas com as irmãs - os irmãos eram já muito crescidos para esse tipo de brincadeiras - , junto do beiral, havia um pombal, que era a nossa meta: chegarmos lá com os pés exigia um balanço e peras...; Era a altura de mostrarmos a nossa perícia no canto, e desfiarmos todo o reportório; das canções do « Música no Coração », aldrabadas, claro, ao « Alecrim » ou « Vou Comprar um Chevrolet ».