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Socialistas, unam-se ou calem-se!

por João Pinto Bastos, em 25.01.14

Penso sempre, em todas as circunstâncias possíveis e imaginárias, na urgência de as elites portuguesas acometerem um exercício político assente no pactismo. Mas, passado algum tempo, a razão, essa eterna inimiga da falácia desbragada, obriga-me, quase que por inerência, a repensar o meu antigo zelo compromissório em face do que os responsáveis máximos do Partido Socialista proclamam aqui ou alhures. Não é que, perdoem-me a franqueza, as palavras de Seguro e companhia galambeana tenham, em rigor, a menor relevância prática e política para quem investe e dá o pastel ao Estado português, porque do parlapié ao fazer, isto é, do dichote ao meter as mãos na massa da governação vai, inegavelmente, uma grande distância. Contudo, é por de mais cansativo ter, diariamente, de observar as piruetas demagógicas do maior partido da oposição. No fundo, é esta a consequência maior de termos, enquanto país, guinado intelectualmente em direcção a um irracionalismo surrealizado, em que a verdade é um conceito, frequentemente, amoldado pelo "legislador" tribunício de ocasião. Com um pouco mais de empirismo na análise, talvez não se verificassem algumas destas penosas atoardas. Por enquanto, resta-nos a nós, portugueses da não-esquerda, observar e lamentar. Com algum riso à mistura.

publicado às 13:41

Portugal e o referendo da mentira

por John Wolf, em 18.01.14

O Parlamento, ou o Governo, podem, para todos os efeitos, inventar os referendos que entenderem. E os portugueses podem morder o anzol ou não da distracção política para se deixarem levar na conversa. O espectáculo absurdo a que foram submetidos os portugueses parece ter um propósito claro - distrair da questão essencial. A situação dramática em que se encontra Portugal. Por mais esforços que façam para omitir a verdade, os factos económicos, financeiros e sociais demonstram o contrário. Demonstram que a retoma não passa de um mito e o dobrar da esquina uma ilusão cozinhada ao sabor de números truncados, especialmente convenientes para governos de coligação. A única pergunta que deveria ser colocada aos portugueses em forma de tudo ou nada,  de sim ou não, já foi colocada pelos próprios. E a resposta também foi fornecida sem hesitações. O país exige algo maior do que passes de mágica parlamentar, chumbos ou aprovações de tribunais constitucionais. O país exige a solução maior e parece não haver homens de verdade para avançar com um Governo de Salvação Nacional. Quer o Presidente da República, quer o António José Seguro, não estão para aí virados. Aliás ninguém quer prescindir da sua agenda em nome do interesse nacional. No fim quem pagará a factura serão os portugueses. A saída limpa da Troika não passa de "optimismo ébrio", um acto de fé e mais nada. O país já é orfão de um Governo incapaz de oferecer a segurança de um lar aos portugueses. Os portugueses são filhos de uma terrível madrasta, vergastados sem piedade pela chibata de convicções erradas - foram co-adoptados pelo governo de coligação e a Troika. Entramos, deste modo, na fase de total disfunção política dos orgãos de soberania. Na loucura total de argumentos e pretextos, a voz do povo foi trazida à baila para entrar no esquema de decepção, para sacudir as águas do capote que vão aparecendo, granizo. Mas não devemos esquecer quem colocou no semi-círculo parlamentar os miúdos e graúdos. Não devemos omitir quem escolheu os líderes dos partidos políticos em Portugal. Não devemos esquecer quem elegeu o Presidente da República. Todos eles, sem excepção, emanam da matriz cultural e ideológica de Portugal, da vontade de cada um expressa na sua forma democrática e constitucionalmente consagrada. Portugal é filho de muitos progenitores, resulta de uma interminável orgia política iniciada há décadas. O que irá acontecer a Portugal nos próximos tempos não servirá para esclarecer seja o que for. Dia 17 de Maio e a saída da Troika não significa rigorosamente nada. Nessa data auspiciosa, Portugal não se divorciará do seu drama, do seu flagelo. Na melhor das hipóteses estará sozinha para conduzir os seus destinos - o seu fado.

publicado às 18:42

Um frio inconveniente

por João Quaresma, em 17.12.13

Em Setembro, fotografias de satélite da NASA mostraram um crescimento da camada de gelo do Ártico de 60% em relação à mesma altura do ano passado. Nos últimos invernos, em ambos os hemisférios, registaram-se recordes de baixas temperaturas e, na semana passada, foi anunciado - note-se: com três anos de atraso! - que em Agosto de 2010 foi registado um novo record da temperatura mínima global, na Antártida. E entretanto, no Egipto nevou pela primeira vez em mais de um século. 

Nos anos 70 e 80, a previsão catastrofista em voga era de que se estava a caminho de uma nova era glaciar. No princípio dos anos 90, foi a vez do buraco na camada de ozono que, dizia-se, crescia descontroladamente, que era consequência da industrialização e que atiraria o Mundo para um inferno de temperaturas altas, raios ultra-violeta e cancros de pele. Depois de anos de alarmismo, provou-se que esse buraco sempre existiu sobre o Pólo Sul, que é normal que exista e que não é consequência da acção humana. Mal a mentira sobre o buraco da camada de ozono foi desmentida, surgiu a do aquecimento global, provocado (de novo culpando a industrialização) pelas emissões de dióxido de carbono (CO2).

Só que desta vez o mito criado assumiu proporções de autêntica ideologia, quase totalitária: recorrendo à manipulação de factos científicos, ao medo e à invenção de uma ameaça à sobrevivência da Humanidade, ao sentimento de culpa, ao terrorismo informativo protagonizado por oportunistas como Al Gore - vale a pena rever o trailer do seu filme - e ao silenciamento das opiniões contrárias. E, sendo uma ideologia, instalou-se nos poderes políticos condicionando não apenas as opções de governação como também a simples legitimidade politica. Questionar a ideologia verde passou a valer a marginalização política aos "hereges". E gerou um sistema politico-económico que obrigou os países desenvolvidos (e "culpados") a despenderem uma parte importante da sua riqueza para financiarem as soluções alegadamente inadiáveis para este suposto problema. Surgiram as ecotaxas, os aumentos dos impostos para penalizar as emissões de carbono, o Protocolo de Kyoto, as suas quotas de emissões de CO2 (e multas avultadas para os infractores) e o mercado do carbono. Surgiu a pressão para substituir prematuramente equipamentos existentes e perfeitamente funcionais por outros novos pelo facto de emitirem menos dióxido de carbono, ou diminuir o consumo de electricidade numa proporção muitas vezes insignificante. Surgiu a desculpa para perseguir o automóvel particular, limitando a liberdade individual na mobilidade («usem transportes públicos ou andem de bicicleta»). E surgiu também o pretexto para fazer disparar os preços da electricidade e dos combustíveis. Duas das fontes de energia eléctrica mais caras e ineficientes, a eólica e a solar - tecnologias perfeitamente dominadas desde os anos 80 e que desde essa altura se sabe serem comercialmente inviáveis por si próprias - tornaram-se obrigatórias, sendo pagas pelos consumidores e contribuintes através de um autêntico sistema feudal justificado com os pressupostos e os mitos da ideologia verde. E já se avança para soluções ainda mais caras e ineficientes como a energia das ondas, ou a eólica em alto-mar, enquanto nem sequer se menciona a energia geotérmica, uma fonte renovável e infinitamente mais barata. A mito do aquecimento global também movimenta muito dinheiro público despendido por organismos estatais, grupos ditos ecologistas, investigação científica (2 mil milhões de dólares por ano só nos EUA) e o sector dos media, comprando lealdades e opiniões.

O documentário abaixo, realizado em 2007 pelo canal britânico Channel Four, dá uma ampla visão sobre todo este fenómeno.

publicado às 13:31

Greve? Repito, greve? Onde?

por João Pinto Bastos, em 28.06.13

Um bom epítome da greve geral do dia transacto é a percentagem de trabalhadores grevistas avançada pelo mercurial Carlos Silva. Segundo o chefe da UGT, 50% dos trabalhadores no activo fizeram greve. Repito, 50%. Dá que pensar, não dá? Dá, sobretudo, que pensar o facto de não termos jornalistas que questionem frontalmente Carlos Silva sobre o modo como atingiu o número supra mencionado. Juntar a mentira sindical à mentira jornalistiqueira dá, de facto, péssimo resultado. E assim se vai descumprindo este doce Portugal.

publicado às 02:01

Ontem como hoje

por Samuel de Paiva Pires, em 20.04.13

 

António de Aragão Paiva, Terras do Nú e do Batuque (1933):

 

«E se para lamentar é o facto de haver ainda no País quem contraponha à justiça e à verdade a mentira e a aleivosia sempre nefastas, triste se torna à nossa consciência e ao nosso raciocínio analisar a procedência de falsos conceitos e comentários idiotas, quando eles partem de cérebros cujo grau de civilização e intelectualidade nos deixam confusos e perplexos.»

publicado às 19:44

É preciso mentir para ganhar eleições

por Samuel de Paiva Pires, em 13.03.13

O Primeiro-Ministro acaba de afirmar na Assembleia da República, em resposta a uma interpelação de Jerónimo de Sousa, que não conhece, e este último também não conhecerá, qualquer governo, de esquerda ou de direita, que se proponha ter como programa político uma política de recessão e destruição da economia. Isto significa, logicamente, que Passos Coelho fez uma campanha eleitoral em que deliberadamente prometeu fazer tudo o contrário do que já sabia que iria fazer, o que por sua vez quer dizer que não foi apanhado desprevenido pelas circunstâncias que encontrou quando o Governo tomou posse, e que estas não servem de desculpa para a inversão total da política prosseguida pelo governo em relação ao prometido em campanha eleitoral. Significa, portanto, que Passos Coelho é partidário de um certo maquiavelismo que nos diz que é preciso mentir para ganhar eleições. É pena. Agradecemos o esclarecimento, senhor Primeiro-Ministro, embora o lamentemos.

publicado às 15:53

Hotel Ruanda

por Fernando Melro dos Santos, em 20.02.13

Boa noite.

 

Uma definição de insanidade é fazer infinitas vezes a mesma coisa esperando obter resultados diferentes. Eu concordo com esta formulação. 

 

Descontemos o facto, certo e sabido, de haver uma sólida fatia de votantes que o são em causa própria, directamente, por mercê de benefícios que esperam obter através do concubinato com os partidos políticos. Estes estão quase arrumados, por haver cada vez menos dinheiro a cair do céu. Resta-lhes o nosso, que nos é subtraído por via da taxação - uma forma de roubo - mas também esse se esvai.

 

Há outros que ainda votam por ingenuidade, e uns quantos, maioritários, que se recusam a participar na farsa.

 

Aos últimos dirijo este post. 

 

Durante quantos anos será preciso ver telejornais que abrem com manchetes similares a

 

- afinal não é este ano que a recessão acaba


- estado cobrou mais impostos, mas gastou mais dinheiro


- PS diz que sim, PSD diz que não, o Sporting empatou, Kapinha foi agredido


- gestor vindo da empresa XX, militante no partido yy, contratado por dez mil euros


- suicídios aumentam, abortos aumentam, emigração aumenta, casal idoso assaltado e espancado com barra de ferro


- alunos do nono ano não sabem ler


- nova telenovela estreia amanhã, episódio triplo, não perca


- 90% dos deputados têm outros rendimentos e raramente comparecem na AR


- há um milhão de desempregados, "mas podíamos estar pior"


- há fome e pavor, "mas dantes era pior"

 

Podia prosseguir, mas não consigo.

 

Falta-me uma peça crucial à continuidade deste exercício: não sei se sois cobardes ou simplesmente incapazes de compreender o inferno que criastes.

publicado às 20:51

O jornalismo escarninho

por João Pinto Bastos, em 03.01.13

O jornalismo hodierno tem um grave problema com o rigor informativo. Não se estuda, repelem-se as inteligências e o saber diligente, expelem-se meia dúzia de boutades, não sindicadas por quem de direito, e, no fim, o cidadão, desinformado e abusado, come e cala. Qualquer jurista - nem chamo à colação a minha condição de jurista, porque, muito sinceramente, não vale a pena - sabe ou tem a obrigação de saber que o trambolho constitucional português, vigente desde os idos de 1976, estabelece que no caso da fiscalização sucessiva não há a possibilidade de requerer a tão adulada urgência na análise das normas controvertidas. Se um jurista tem a obrigação de saber isto, um jornalista que escreve sobre política tem, igualmente, o dever de conferir um cuidado especial às informações que veicula sob pena de criar ilusões erróneas na mente dos poucos capachos que ainda vão tendo paciência para ler tanta sabujice escrita pelos punhos de um bando de indigentes pertencentes à geração mais qualificada de sempre. A crise da democracia começa também aqui, na ignorância e na politização ignara dos jornalistas de vão de escada que enxameiam as redacções.

publicado às 17:55

2013, annus horribilis

por João Pinto Bastos, em 01.01.13

Sente-se no ar o princípio do fim de qualquer coisa. Tudo encareceu, desde as amizades até ao amor. A ruína e a desgraça tomam conta de muitas famílias. Muitos lares passarão, neste ano que hoje começa, dificuldades ingentes, sofrimentos múltiplos e desesperos vários. O medo está bem presente nas nossas vidas. O medo de que tudo se perca, o emprego, a família, o bem-estar duramente almejado durante anos de porfia. Entrementes, o Leviatã continua gordo, poderoso e activo, afogando tudo e todos com a impostocracia do Estado todo-poderoso. Nada muda, nem mesmo os rostos da ruína. Não sei o que este ano reservará a muitos de nós, não sei sequer se chegaremos todos vivos ao final do presente ano para contar a estória das nossas vidas, o que sei, e já é muito, é que o país está gasto. Cansado e exausto. Prestes a rebentar de ódio e revolta. 2013 será um ano perigoso, um ano em que o regime, a partidocracia, a oligarquia da finança e os prebostes da mesmice serão colocados permanentemente em causa. Nada será como dantes. As imposturas serão desnudadas e as mentiras verberadas. Espero que o torniquete fiscal seja combatido com fé e zelo por todos aqueles que não se revêem no esbulho do nosso futuro. Espero mesmo que algo mude para que tudo não fique na mesma. 

publicado às 16:52

 

Devo confessar que simpatizei com o actor que representou o papel de especialista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O artista Artur Baptista da Silva convenceu a crítica com o seu desempenho. As várias nuances gravosas com que expressou os seus diálogos, o refinamento dos gestos que acompanháram os momentos de maior tensão dramática. Sim senhor. Isto é bom. Há anos que a SIC produz ficção em televisão, mas nunca havia atingido este grau de credibilidade. E isto é bom teatro, é quase sétima arte. O papel desempenhado foi maior que o homem - serviu o interesse nacional, por demonstrar que até os burlões estão seriamente preocupados com o estado da nação. E a SIC e o Expresso sentem-se ofendidos e querem vingar o desfalque. Porquê? Não concedem (todos os dias ou semanalmente) tempo de antena e páginas inteiras a mentirosos compulsivos, a farsantes profissionais? Nem vou responder. Só sei o seguinte; o Sr. Artur Baptista da Silva mostrou como se faz. Não apresentou uma amostra de diploma da Universidade Lusófona, não fez algumas cadeiras e não lhe ofereceram outras. Não senhor. O homem fez a coisa com estilo, com o grau de exigência de quem consome apenas o melhor. Um alto cargo na ONU, um mandato no Banco Mundial, um duplo doutoramento em Harvard, conferências internacionais. Enfim, a crème de la crème que não chega a ser crime, na minha humilde opinião. Pergunto, o que preferem: um dignatário credenciado que mente todos os dias ou um condenado a chamar as coisas pelos nomes? Qual dos dois oferece mais garantias neste mundo de poses e cartões de visita. O homem-embuste não disse nenhuma mentira, o seu nariz não cresceu nem decresceu. É patético que a SIC ou o jornal Expresso queiram processar o homem que lhes passou a perna. Fica demonstrado como funcionam as coisas nos meios de comunicação social. Em condições normais, a haver cabeças a rolar, nunca seria a do Baptista. Se desejam apurar responsabilidades e aplicar processos disciplinares, será na estação de televisão SIC ou no Expresso que isso tem de acontecer. Seria o expectável. Despedimento com justa causa por incompetência flagrante. O método investigativo desses meios de comunicação social revela o seu modus operandi. De nada serve o Nicolau Santos retirar o laço e aparecer de camisa de ganga, num registo de hippie enganado, e apregoar que em décadas de carreira nada disto lhe havia acontecido. Não senhor. Assim não vão lá. Agora vão ser obrigados a confirmar a identidade de todos que se apresentam ao serviço ou aqueles que se fazem de convidados. Será que sou quem sou? Ou será que isto não passa de uma invenção da minha cabeça equivocada pela quadra natalícia? São muitas perguntas deixadas no ar pelo pai Natal.

publicado às 09:38

Ironia, uma definição diferente

por João Pinto Bastos, em 23.12.12

Uma bela definição de ironia é aquela em que um impostor ludibria os representantes mais luzidios da impostura generalizada.

publicado às 23:28

A sociedade do embuste

por João Pinto Bastos, em 23.12.12

Chego a casa, leio as notícias, e vejo que, ao que parece, os media portugueses caíram no engodo de um embusteiro. Conclusão, qualquer dia aparecerá alguém que dirá ser a reencarnação do Elvis e a imprensa coonestará imediamente a versão desse indivíduo. Não há autoridade jornalística, por mais bem-intencionada que possa ser, que resista a tanta incúria e negligência. Chegámos à era da sociedade do embuste televisionado.

publicado às 23:27

O jornalismo controleiro

por João Pinto Bastos, em 09.12.12

Helena Sacadura Cabral tem razão: ser, hoje, jornalista é a via mais rápida para o desprestígio pessoal e profissional. O jornalista é, nos dias que correm, um autêntico pinóquio falante, com a agravante de induzir em erro a opinião pública. É por isso que o jornalismo contemporâneo é, na sua versão mainstreamizada, o expoente máximo da mentira organizada. Em nome do Poder.

publicado às 12:25

Um Cavaco napoleanizado

por João Pinto Bastos, em 21.11.12

Jacques-Louis David, O Imperador Napoleão 

 

De tudo o que Napoleão disse há uma frase que cai que nem uma luva ao nosso empertigado Presidente da República. Dizia o "Usurpador" que a História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo. Cavaco levou muito a peito esta máxima, pois só assim se compreende o porquê de o faustoso Presidente ter afirmado que é necessário ultrapassar o estigma que nos afastou do mar, da agricultura e da indústria. De certo modo, Cavaco entende que o povo português encara como um fait accompli a tese de que os seus zelosos Governos não tiveram rigorosamente nada a ver com o declínio da economia produtiva produzido no rescaldo da adesão à então CEE. Por outras palavras, Cavaco julga-nos a todos - sim, todos nós - uma cambada de tolos apoucados. Já sabíamos que Cavaco não tem, propriamente, uma propensão particular pela verdade factual, na verdade foi sempre apanágio do actual Presidente desta República bananeira a admiração, desusada e incomum, pela torção dos factos. O que não sabíamos, nem era sequer do domínio público, e aqui confesso a minha honesta surpresa, é que o mandarim de Boliqueime tem uma veia napoleónica. A sua vida política, trivialmente "napoleanizada", é uma ampla colecção de tesourinhos deprimentes, tristemente desdobrados num torpe abanico de mentiras e omissões. Mas já que o nosso Presidente gosta de seguir as máximas do "Corso", talvez não lhe fizesse nada mal copiar o melhor de Napoleão, designadamente, a audácia e a coragem políticas do grande chefe francês. Mas isto já é pedir muito, não é?

 

publicado às 16:27

Retido no fim de semana sem net, acompanhei ao de leve as comemorações da implantação da república, desta vez sem presidente. Parece todavia que as comemorações monárquicas tiveram mais impacto e maior adesão. Houve variadas formas de manifestações, à cabeça das quais o desfraldar da bandeira azul e branca na sede da Causa Real, ao Chiado. Desde Janeiro que não era ali hasteada (já tinha reparado nisso, e até pensei que tivessem mudado de instalações). Segundo as balbuciantes justificações da CML, um qualquer regulamento municipal proibia-o, embora até hoje, e durante sessenta anos, nunca tivesse havido a menor proibição por parte da edilidade lisboeta.
 
 


 

A ausência de Cavaco Silva dos habituais discursos em frente à câmara de Lisboa revelam bem a menor importância atribuída ao "5 de Outubro". A razão oficial foi a aproximação das eleições autárquicas. O quer só reforça a ideia da importância menor destas comemorações para mais presididas pela presidente da AML): em 2001, em pleno dia de reflexão das presidenciais, Jorge Sampaio e todos os outros candidatos - à excepção de Ferreira do Amaral, por casmurrice - estiveram presentes na cerimónia de abertura do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura. Tendo em conta um e outro acto eleitoral e o impacto de cada um dos eventos, forçosamente se conclui que a relevância do "5 de Outubro" roça a nulidade.

 
Mas as movimentações monárquicas fazem-se notar. Francisco Louçã passou a semana a disparar contra tudo e contra todos, depois do tão anunciado terceiro lugar se converter numa miragem. O alvo era agora Paulo Portas, que ouviu tudo, desde a acusação de ser de "extrema-direita", de ter "destruído o país", e de "remar contra a maioria da população portuguesa no referendo à IVG". Muito interessante, vindo do "coordenador" de um movimento com laivos de extrema-esquerda, cujos componentes ajudaram à destruição da economia do país em 1975, e que tanto gostam de se anunciar como grupo de protesto, "contra-corrente", "ovelha negra", etc. Todas as dúvidas sobre a honestidade intelectual e o fanatismo ideológico do representante da Quarta Internacional em Portugal ficaram definitivamente dissipadas.


 

Mas como a querer afirmar isso de forma ainda mais acentuada, Louçã veio agora chamar aos monárquicos "um pequeno grupo de patuscos atrás de um milionário banqueiro que conduziu um dos maiores escândalos da criminalidade económica em Portugal," que "lá apareceu pelo Tejo a gritar as saudades da monarquia", que são todos de "direita reaccionária" que "reclama o regresso ao passado, o regresso ao atraso, à monarquia e à diferença”. A coisa resvalou para o insultozinho piadético sem piada nenhuma, a guetização ideológica, o lugar-comum marxista e a pura calúnia. Onde é que as acções Teixeira Pinto levaram à "criminalidade económica"? Tem Louçã provas do que diz ou é mais uma das suas atoardas justiceiristas, querendo-se mostrar como o homem probo (talvez um sub-gênero do "homem novo") no meio do "pântano da corrupção"? E porque razão quiseram as cúpulas do BCP afastar Teixeira Pinto quando este tinha um processo de renovação do banco, não se recordará o deputado trotsquista?


 

Quanto à confinação dos monárquicos na "direita reaccionária" só mostra o sectarismo e até a ignorância de quem desconhece (?) que há monárquicos de diversos quadrantes políticos, à esquerda e à direita, em todos os estratos sociais e em todas as instituições. Muitos mais do que na sua miscelânea de esquerda radical e tocadores de djambé que atrai pontualmente alguns descontentes com o PS. Para Louçã, todo aquele que não faça parte do seu círculo ideológico próximo é imediatamente rotulado de "direita", e se for monárquico, torna-se um "reaccionário" (só falta mesmo "fascista"). Acresce que só o poder moderador cabe ao Rei, que reina mas não governa, que a vassalagem já não existe, excepto nominalmente a nível de protectorados que nada têm a ver com a monarquia, e que qualquer súbdito de um reino ou principado europeu tem tanta ou mais liberdade e direitos que qualquer república. Sobre o regresso ao atraso, calculo que deva haver aí certa confusão entre a liberdade que a monarquia sempre trouxe, fossem em 1385, 1640 ou 1834 (perdoem-me os tradicionalistas) e o PREC, do qual deve sentir muitas saudades. Tudo coisas que Francisco Louçã deveria saber, com toda a importância que se atribui. Mas mesmo que lho provassem na cara, a sua desonestidade intelectual e o seu radicalismo, que o impede de compreender ideias alheias, tornariam qualquer argumentação sólida num imenso desperdício de tempo.
 

publicado às 17:21

 

John Gray (A Morte da Utopia, Guerra e Paz, 2008, p. 143):

 

Durante a década de Blair em funções, o governo britânico mudou de carácter. Todas as administrações visam apresentar uma imagem positiva de si mesmas e algumas, pelo caminho, afastaram-se da verdade. No que Blair  foi único foi em considerar a manipulação da opinião pública um propósito prioritário do governo. O resultado foi que, enquanto no passado eram uma característica intermitente do governo, sob a sua liderança as mentiras se tornaram parte integrante do funcionamento deste.

publicado às 14:47






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