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Miguel Morgado é um caso raro de honestidade intelectual. Dotado de uma capacidade analítica excepcional — é a nossa botija de oxigénio nestes tempos sombrios de distorção de narrativas residentes — de chavões defensivos, intensamente ideológicos e negacionistas das evidências. Tomem nota de que não referi uma vez sequer a esquerda ou a direita, este ou aquele partido, para, num espírito de reserva mental, respeitar o que Miguel Morgado tenta fazer por entre a bruma do fogo-cruzado de arrelias e teimas que não passam de razões sem fundamento. Morgado discorre sobre os factos e as palavras que não correspondem aos mesmos, ou, o seu contrário, as ações que não promovem a construção do interesse nacional. As lamentações de Morgado dizem respeito a quebras de princípios, à corrupção de promessas governativas, às intenções e às decepções — as expectativas geradas com leviandade e defraudadas com peso assinalável, para desfalque de Portugal, do desígnio colectivo que ainda não conseguimos vislumbrar volvidos cinquenta anos de masturbação política-partidária. Morgado é uma ilha no comentariado nacional — a tasca brejeira e reles onde tantos se dispõem à injúria e a jogadas baixas: onde nunca há vencedores e apenas o país sai a perder. Sentimos a genuína independência de Miguel Morgado e não vislumbramos uma sua agenda pessoal com a vista posta em ganhos, aqueles extraídos à custa de outrém. (Ele) já o disse várias vezes — não tem vocação para a política. E como o entendo. Se passasse para o lado de lá, celeremente cairia na lama onde chafurdam tantos em quintais de reputação questionável. Ainda bem que assim é. Tomo Miguel Morgado como um genuíno estadista, furos acima do patamar onde se digladiam os eticamente fracos, que apenas se socorrem da força bruta das frases feitas para tentar arrasar a elevação intelectual de quem têm pela frente. Nesses momentos de desespero como interlocutor, enquanto escuta os uivos e o chiar desvairado, Morgado nada pode fazer. A sua fácies diz tudo. Pensa alto, pensa sozinho. Presta um enorme serviço a Portugal e àquilo que ainda resta da sua sanidade política.
créditos fotográficos: OBSERVADOR
Nesta altura do campeonato, inclino-me para votar na Aliança de Santana Lopes. Mas se o Miguel Morgado se tornar líder do PSD, o que seria óptimo para o partido e para o país, ficarei perante um enorme dilema. De resto, provoca-me bocejos ouvir tantos putativos virgens impolutos (Rio segue destacado na liderança) que se escandalizam com agitações e alegadas tentativas de golpes palacianos porque, pasme-se, os agitadores só estão preocupados com lugares, como se, em democracia, a política intra-partidária fosse outra coisa que não isto e como se não andassem eles próprios nestas lides há décadas. Ide ler Maquiavel e relembrar que a política, num sentido restrito, é a conquista, manutenção, exercício e expansão do poder político. Se são inábeis nas últimas duas (como Rio demonstrou à saciedade durante o último ano), sofrem as consequências. É a vida, ou como diria Paulo Portas, "as coisas são o que são."
Hoje, Daniel Oliveira acusa Bruno Maçães e Miguel Morgado de fanatismo ideológico. Quanto ao primeiro, nada posso dizer. Mas quanto ao segundo, talvez fosse boa ideia Daniel Oliveira olhar-se ao espelho antes de dar largas à ignorância atrevida, e, já agora, ler qualquer coisa do que Miguel Morgado tem escrito, especialmente em sede académica, como por exemplo a introdução da sua lavra a Do Espírito das Leis, obra de Montesquieu traduzida também pelo Miguel Morgado e editada pelas Edições 70, que termina assim:
"O «Estado-Providência» carrega consigo a missão global de integrar num mundo comum os que tendem a ficar nas suas margens, de salvar a sociedade comerciante da revolta daqueles que nela só conseguem ver uma batalha eternamente perdida, e, finalmente, cumprir os dois primeiros propósitos sem destruir o espírito que a anima."
Quem diria que isto foi escrito por um fanático ideólogo neoliberal. Enfim, Daniel Oliveira é só um dos muitos espécimes representativos da esquerda muito democrática e civilizada que temos - a mesma que, quando a direita riposta, logo replica que esta é trauliteira -, que ao mesmo tempo que acusa os outros de fanatismo ideológico, continua a abusar da reserva mental que tão bem a caracteriza. Ou será que alguém duvida do que Daniel Oliveira e os seus compagnons de route gostariam de fazer ao país? Isso já não é fanatismo ideológico, pois não?
A Real Associação de Lisboa promove no próximo dia 2 de Março pelas 20,00hs o 1º Jantar debate “Conversas Reais” subordinado ao tema “Semi-presidencialismo à Portuguesa: funciona ou não?” que contará com a presença dos convidados especiais Pedro Lomba, docente universitário e colunista do ”Público” e Miguel Morgado, professor de Ciência Política na Universidade Católica de Lisboa.
O Jantar decorrerá em Lisboa no Restaurante Maritaca na Av. 24 de Julho, 68F (ao lado da discoteca Kapital).Para mais informações contacte a Real Associação de Lisboa para o telefone 213 428 115 ou reserve desde já o seu lugar comodamente na loja on-line. Aberto a não sócios.