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Em Moura encontrámos, na freguesia de S. João Baptista, a mais antiga mouraria da península ibérica: três ruas, de acentuado declive, com casas todas elas caiadas, todas elas com a mesma traça, e todas elas da mesma altura, ricamente floridas.
Ali perto, no cimo de uma colina, o castelo. Não admira, pois, que, nas imediações deste, várias equipas de arqueólogos tenham descoberto extenso campo de ruínas maioritariamente árabes, tendo no entanto reconhecido alguns vestígios romanos e ainda, posteriores no tempo, indícios de ocupação paleocristã, como o de uma igreja de Santiago.
Uma beleza, Moura; o Alentejo! E maiores os lamentos ao lembrarmos o trabalho - pleno de êxito esse trabalho! - de descaracterização do que já foi considerado o maior dos jardins de Portugal - o Minho. O Minho devastado pela infernal proliferação de casas " tipo maison ". Sem que possamos acometer o maior quinhão de culpa aos que nelas vivem. Os culpados maiores estão há muito identificados: os arquitectos camarários, e demais responsáveis, pois claro.
E com esta terra " que Deus nos deu "!...; pérolas a porcos!
foi, sem dúvida, o que de mau fizeram à vila onde nasci; tanto, que agora só lá vou de passagem, a caminho da cidade. Pois na minha adolescência era um destino de eleição, e tarde em que não chovesse, lá estava eu, com amigos, a caminho do parque, descendo a avenida que levava ao parque banhado pelo Rio Ave.
Linda que ela era - de um lado o parque de campismo, tão aprazível, que estava sempre cheio, de portugueses e estrangeiros, do outro a piscina pública, aonde acorríamos mal o tempo permitisse. Local privilegiado para o encontro de todos nós que fazíamos daquele um verdadeiro " passeio alegre ".
Continua a haver um parque de campismo e uma piscina, mas o encanto que ainda conheci, esse foi-se, sem retorno: com a febre das construções, estragaram a nossa avenida. Prédios cor-de-rosa, a conspurcar aquela beleza natural. Criminosos, quem o permitiu...
lavrado, gradado, e com as sementes do milho na terra já - ao lado, os lavradores foram mais expeditos, e já se vêem as plantas verdes, numa corrida desenfreada, para que nelas surja e cresça a espiga que o sol há-de dourar -, mais uma vez o lamento de quem vê, quase de ano para ano, esta paisagem tão nossa a ficar aceleradamente com menor espaço, e a ser substituída pela aridez do betão, que, até há não muito tempo, lhe era estranha. E a minha irmã, que ouve este queixume, lembra o tempo, não distante, em que estes pedaços eram continuados, em extensões de terra cultivada, onde os olhos descansavam, naquele que era o resultado de um trabalho gostoso - via-se no olhar dos camponeses, adivinhava-se nas suas palavras felizes - .
Pedaços que persistem, apesar dos pesares, por teimosia de alguns que lutam para que este Minho não desapareça na uniformidade a que muitos querem ver Portugal reduzido...
quando, quase todos os Domingos, subia, com irmãos e amigos, o monte do Sameiro.
Há alguns anos " plantaram ", num atentado sem nome, fora de todos os cânones estéticos, agredindo o que de pitoresco ele guardava, uma casa sem o mínimo das características que foram as nossas, e que -Haja Deus! -aqui e ali se vão recuperando. E pintaram-na de uma cor que parecia improvável.
E nem os muitos malmequeres, jarros ou lírios escondem o mal que ali fizeram nascer.
com um livro, junto daquele ribeiro- do Carvalhal, disseram-; olhava à minha volta e via campos verdes, prontos para receberem as sementeiras que se aproximam, as vinhas recém enxertadas, os carvalhos que começam, muito lentamente, a adquirir nova folhagem, para substituir a que o Outono lhes levou, e toda esta frescura de paisagem, a fazer lembrar as gravuras antigas de um Minho Pitoresco, contrastando com o caos de construções que assola uma aldeia, que ainda lembro de ver sem as marcas da malfazeja intervenção humana, que parece só ficar satisfeita quando tudo estraga; mais crescia a revolta...