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Vendo-os assim tão pertinho / a Galiza mail’ o Minho / são como dois namorados / que o rio traz separados / quasi desde o nascimento.// Deixal-os, pois, namorar / já que os paes para casar / lhes não dão consentimento ( João Verde ).
( O rio Minho em Valença - Illustração Portugueza - )
" Em João Verde é nos ' Ares da Raya ' que o seu espírito regional se demonstra mais evidentemente. ( ... ) Os seus versos são todos de lisonja sincera para as belezas rústicas da sua terra. No agrado com que canta os pinheirais, o toque das trindades, o rio Minho, o campo-santo, as raparigas minhotas, a viola e a flor-de-linho, vê-se a doce e alegre paisagem do nosso Minho, a Galiza vizinha, namorados eternos que o rio constantemente separa, segundo ele... ( ... ) Só João Verde, à semelhança dos cantares de Rosalia de Castro, nos deixou a alma raiana, às escâncaras, no seu pitoresco impressionante. ( ... ) Joao Verde, pelo perfume nacional e regional que deixou nas suas poesias pela facilidade da sua inspiração fecunda, pelos seus próprios considerandos líricos, ficará na nossa literatura como um dos maiores, senão o maior, dos líricos regionais. Porque o regionalismo em poesia é mais uma prova da natureza lírica, superiormente lírica, dos seus cultivadores " . Manuel Anselmo in Arquivo de Viana do Castelo
" Tenho uma imagem do Câvado guardada para sempre no olhar, que não se cansa de recordá-la. Agosto no fim, já não era dia e ainda não chegara a noite. Vínhamos de Braga, era tarde. (...) Entrava já na estreita ponte sobre o rio e logo o espectáculo me obrigou a esquecer qualquer veleidade de pressa e a deixar o carro adormecer suavemente, aos poucos, até parar entre os muros roídos do tempo e dos abalos. O verde da outra margem diluía-se nas águas azuis sobre as quais o sol despedia uma luminosidade fugitiva "
Luís Forjaz Trigueiros, in « Paisagens Portuguesas- Uma Viagem Literária »
E no fim da ponte, velhinha no seu granito por onde o verde das ervas espreita, encontrou o escritor, quero imaginar, na manhã seguinte, se aí pernoitou, uma simpática Vila de Prado, de onde saíam em alegre algaraviada, coloridos ranchos de lavadeiras, com trouxas de roupa à cabeça, em direcção ao rio.
A minha avó ainda me falou delas, e a ponte está lá, testemunha desta azáfama toda. As águas é que serão outras...
num gesto de agradecimento, e, egoisticamente, de preservação do bem estar que nela encontramos, mas se, para despertar consciências, foi necessário decretar o dia de hoje como o da sua Conservação, bom é que nele se fale; há sempre aquele a quem tem de se dizer para não deitar um papel ao chão: a lógica de pensamento é a mesma.
A propósito, li há tempos sobre a importância de promover a florestação autóctone de cada região, atendendo a que se uma espécie vegetal nasceu num território determinado, tal se deveu à sua melhor adaptação às condições climáticas desse mesmo território. É assim que o carvalho surge ( com o castanheiro e o sobreiro ) como a árvore predominante nesta zona, e, ainda que encontremos grandes extensões de carvalhal, como a Serra do Carvalho, que se estende de Braga à Póvoa de Lanhoso, ao lado de pedaços onde cresceu livremente, como no Bom Jesus e na Falperra, muitos foram os sacrificados, em prol dessa outra espécie que, num abrir e fechar de olhos, se transformou em praga, combustível privilegiado dos incêndios, que deixam, na melhor das hipóteses, um lamentável rasto de terra queimada.
Foi, assim, com orgulho que vi os meus pais desbastarem muitos desses " secantes-de-tudo-em-volta ", para, no lugar deles, plantarem carvalhos e castanheiros; o resultado é deleitarmos a vista com essas árvores tão da nossa terra.
Como em todas as tradições em que S. Jorge mata o dragão, o combate entre o Bem e o Mal dá-se entre um cavaleiro e um gigantone com rodas, empurrado por vários homens, cobertos com a "carapaça" da coca, em forma de dragão malévolo, com um pescoço que se move. Tem lugar no centro da vila, na praça DeulaDeu, que relembra a grande heroína de Monção. O cavaleiro tem de cortar a orelha à Coca e só desta forma é considerado vencedor. O problema é por vezes o próprio cavalo, que foge com medo da figura, provocando o riso geral e impossibilitando a façanha a "S. Jorge". Esta é a tal festa que perdi e que o meu pai chegou a assistir noutros tempos da sua infância, que passou por aquela vila debruçada sobre o Minho.
A representação da Coca lembra-me a Tarasque, o monstro lendário, de enormes dentes, forte carapaça e cauda de escorpião que atormentava a Provença, e que segundo a lenda, terá sido amansado por Santa Marta, que ali andava em evangelização. A cidade de Tarascon (também conhecida pelo célebre Tartarin de Tarascon, das novelas de aventuras de Alphonse Daudet) deveria o seu nome à Tarasque. Alguma ligação haverá entre esta tenebrosa criatura e a Coca, já que em algumas cidades de Espanha, nas procissões do Corpo de Deus, surgem figuras simbolizando a Tarasca. Mais ainda: Monção está geminada com Tarascon-sur-Ariége, que fica já perto dos Pirinéus mas cujo nome não deverá ser alheio à origem do da Tarascon da Provença. Mais indícios que indicam que entre a Tarasque e a Coca haverá um qualquer parentesco. E que há sempre um santo por perto capaz de os dominar.
lavrado, gradado, e com as sementes do milho na terra já - ao lado, os lavradores foram mais expeditos, e já se vêem as plantas verdes, numa corrida desenfreada, para que nelas surja e cresça a espiga que o sol há-de dourar -, mais uma vez o lamento de quem vê, quase de ano para ano, esta paisagem tão nossa a ficar aceleradamente com menor espaço, e a ser substituída pela aridez do betão, que, até há não muito tempo, lhe era estranha. E a minha irmã, que ouve este queixume, lembra o tempo, não distante, em que estes pedaços eram continuados, em extensões de terra cultivada, onde os olhos descansavam, naquele que era o resultado de um trabalho gostoso - via-se no olhar dos camponeses, adivinhava-se nas suas palavras felizes - .
Pedaços que persistem, apesar dos pesares, por teimosia de alguns que lutam para que este Minho não desapareça na uniformidade a que muitos querem ver Portugal reduzido...
com um livro, junto daquele ribeiro- do Carvalhal, disseram-; olhava à minha volta e via campos verdes, prontos para receberem as sementeiras que se aproximam, as vinhas recém enxertadas, os carvalhos que começam, muito lentamente, a adquirir nova folhagem, para substituir a que o Outono lhes levou, e toda esta frescura de paisagem, a fazer lembrar as gravuras antigas de um Minho Pitoresco, contrastando com o caos de construções que assola uma aldeia, que ainda lembro de ver sem as marcas da malfazeja intervenção humana, que parece só ficar satisfeita quando tudo estraga; mais crescia a revolta...