Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ainda me lembro e bem, de certa e determinada escola privada em Lisboa nos anos 80 e 90, de ensino secundário "à medida", que face à burrice crónica de alguns alunos, e para desespero dos seus pais, servia de alavanca para o menino e para a menina pelo menos terminarem o liceu, ou até poderem ingressar no ensino superior num curso adequado às ambições limitadas dos discentes. A tal escola não era propriamente barata, mas alegadamente facilitava a coisa a troco de um módico. Vem isto a propósito de rankings de escolas melhores e piores, tabelas de honra e Portugal. Como em tudo, mas sobretudo em distintos domínios de gestão, nomeadamente Parques Públicos Escolares e o catano, onde já houve deslizes políticos e borradas intencionais, convinha que estas LigaNos das escolas fossem sujeitas a escrutínio apertado. Gostava de saber, em abstracto e em concreto, quais as ligações políticas dos agrupamentos, das escolas públicas e privadas a decisores que atribuem meios financeiros e de outra ordem (as legislativas estão à porta). Por outras palavras, seria bom saber por onde escorre o giz do negócio e da putativa vantagem. Associado a este paradigma, existe um conjunto de nuances parasitárias que vive à custa do coiro escolar. A saber; editoras de manuais, empresas de fornecimento de equipamento para as salas de aulas, empresas de transporte de crianças. Enfim, se tudo fosse analisado e processado com a objectividade e o rigor exigidos, provavelmente saltar-nos-iam à vista dislates de ordem diversa. Estes rankings caem assim de repente no nosso colo, mas não sabíamos de nada. Nunca soubemos. E provavelmente não fará diferença alguma. A melhor escola nunca constará da lista, da classificação.
A geringonça está totalmente certa no juízo que faz e na decisão que toma. Para quê investir mais na educação se a moda é falsear currículos? Um corte de 169.5 milhões de euros na Educação é o que está em causa. Não vemos o chefe da FENPROF há séculos, mas agora teria uma boa oportunidade para aparecer de um modo indignado. O que se passa em Portugal? É impressão minha ou a Esquerda já não é o que era? O silêncio do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português merecem preocupações da nossa parte. Afinal não é apenas a Austeridade que está a ser branqueada. Os partidos da libertação do jugo opressor de Bruxelas parecem ter respondido ao chamamento de uma qualquer igreja, de um outro quadrante ideológico. Já viram o que aconteceu no Brasil? O Marcelo Crivella pegou na fivela e deu umas cinturadas na Esquerda brasileira. Devemos temer o efeito de chicote. Quando o povão percebe que não estão a chamar as coisas pelos nomes, rapidamente vira o prego e torce por outra equipa. A Esquerda portuguesa arrisca perder a soma das partes que hoje a define, se continuar a falsear as promessas que faz. E essa noção é básica e transversal a qualquer campo ideológico. É a Democracia, estúpido - aqui, acolá ou nos Estados Unidos. O dito por não dito não resulta. Tem a ver com a licença concedida a um governo para avançar causas que afirmava lhe serem queridas, mas que aparentemente não são. Se eu fosse educador respondia à letra. Contudo, as águas estão paradas. Não sei com que divisa se compra a vacuidade.
Se eu fosse o primeiro-ministro acabava de uma vez por todas com as escolas privadas. Os colégios são sorvedores do Estado. Gastam milhões de euros dos contribuintes. Servem as elites e promovem a ideia de uma sociedade intensamente estratificada, dividida entre pobres e ricos. As escolas privadas nada acrescentam ao parque escolar e nem sequer servem para comparar o desempenho dos estudantes em relação à oferta do Estado. Nas escolas privadas os papás e as mamãs compram o sucesso dos seus filhos que são maioritariamente burros. A escola pública não faz distinções. Nivela o corpo discente de acordo com o mesmo quadro de oportunidades. Valoriza o mérito, a iniciativa e o empreendedorismo dos alunos. Os professores do ensino público são os únicos com algo válido a transmitir aos alunos. E adoram ser professores. O ministério da educação é a melhor entidade para gerar uma comunidade de intelectuais, de inventores e indivíduos capazes de pensar fora da caixa. A direcção central dos serviços de educação representa a mais pura expressão de democracia. Está na vanguarda da transformação do nosso mundo. Quem precisa de uma rede de escolas privadas? Francamente. A quarta classe deveria chegar para encher a cabeça dos eleitores. O governo tem razão. Não vale a pena esbanjar dinheiro em vão.
Crato perdeu a pouca confiança política de que ainda era tributário, não obstante os disparates já cometidos. Não há ses nem mas, isto é uma autêntica vergonha. Ponto final.
Um ministério de Educação que pensa deste modo, não está a pensar. Está a proceder em sentido inverso, a contribuir para estupidificação do país. Desde quando é que a quantidade deve ser um critério para decidir a continuidade ou não de um curso superior? A regra - por razão da maioria-, não pode servir de fundamento para o fecho de estabelecimentos de ensino superior. Passo a citar: "Despacho enviado aos reitores proíbe abertura de novas vagas em cursos com menos de dez alunos inscritos. Há 171 nesta situação, a grande maioria nos politécnicos." Ou seja, os génios que nascem em Portugal serão esterilizados porque serão um fardo para a sociedade. Meus senhores, isto é gravíssimo. De um modo sub-reptício, é um modo de encarneirar as mentes pensantes, colocá-las num mesmo rebanho de mediania, mais fácil de controlar, quando deveriam ser elevadas ao seu mais alto grau de potência. Esta decisão expulsa do nosso espectro emocional e intelectual, génios como Einstein, Feynman ou Egas Moniz. O governo, e o seu apêndice, responsável pelos destinos da Educação neste país, procedem a um intervenção cirúrgica. Uma lobotomia administrativa que irá comprometer a capacidade presente e futura de Portugal. O país compromete a sua capacidade de pautar a sua condição pela excepcionalidade, pela excelência. Esta declaração anti-académica constitui uma agressão que está em sintonia com o magnífico conceito de despejo nacional, a emigração económica do país, mas isto vai mais longe. Esta barbaridade envia para o desterro aqueles que sonham em marcar a diferença pela invulgaridade da sua área de estudo - de pesquisa ao serviço de todos nós, menos inteligentes e menos dotados. O renascimento de Portugal, como de qualquer outro país, passa pela salvaguarda do seu manancial académico e cultural. Os ciclos de expansão económica são sempre precedidos pela ruptura tecnológica, e essa alteração do quadro operativo depende da capacidade criativa de indivíduos que ocupam espaços de pensamento que os outros não são capazes de identificar. Ainda por cima, têm o desplante de chamar a esta operação de; racionalização da oferta no ensino superior. Quando é tudo menos isso.