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Não devia e não pode. A ministra das finanças não pode revelar que não consegue poupar. Mesmo que seja verdade - a cara-metade do dinheiro em Portugal - não pode vir à praça pública dar um péssimo exemplo, falar das suas faltas pessoais, das suas mágoas financeiras. Se não conseguiu poupar, o problema é dela e não do resto dos portugueses. Maria Luís Albuquerque ocupa alegadamente uma posição de grande responsabilidade nos destinos da nação e, por essa simples razão, todas as afirmações que profere serão lidas à luz da realidade económica e social do país. Ao assumir o seu falhanço doméstico de um modo tão desavergonhado, mina ainda mais a parca confiança que os portugueses depositam no orçamento de Estado que lhes está a ser vendido. Como é que alguém, que pelos vistos não conseguiu criar uma almofada de segurança para os seus três filhos pequenos, pode dar esperança em relação à segurança financeira de uma nação inteira? Para além disso, se pretende colocar-se ao mesmo nível do cidadão comum, não me parece que este seja o caminho correcto - quando a esmola é grande o desempregado desconfia. A titularidade de um cargo público, deve pautar-se, na minha modesta opinião, pela excepcionalidade do discurso - pelo cuidado da afinação do guião. E há outra questão que deve ser colocada e que se relaciona com a definição do conceito de poupança. Qual a percentagem do rendimento que deve ser colocada em "reserva estratégica"? E qual a parte que deve ser atribuída a veículos de dinamização económica e não ficar parada num reles plano poupança-reforma? Uma simples frase, aparentemente inócua, deve ser escrutinada à luz das ideias decorrentes da mesma. Uma justificação pessoal não serve o país, decididamente. E há mais. Qual o número de filhos aceitável por forma a que a poupança possa ocorrer? 1, 2 ou 3? Num país falido de juventude, a ministra das finanças não ajuda a causa da natalidade. Mais uma vez (e não será a última) somos contemplados com baboseiras ditas sem que os seus autores tivéssem reflectido um pouco sobre as implicações das mesmas (são asneiradas por essa razão). Não sei qual foi o cantautor político que abriu a comporta pela primeira vez para que tudo pudesse ser dito segundo a mesma bitola de inconsequência e irresponsabilidade (não me refiro a Soares que é lider do ranking). Para além dos actos políticos, temos de sentir o peso ou a ligeireza das palavras proferidas. O país, já de si ferido pelos cortes infligidos, ainda tem de ouvir certas barbaridades. Se a ministra das finanças também está a sofrer com as medidas que afectam o nível de rendimento na função pública, deve morder a língua e aguentar a bronca como o resto dos compatriotas. Mas não é isso que acontece - fala da boca para fora. Não poupa as palavras.
Os intérpretes da nação, os jornalistas e comentadores estão concentrados na tabela classificativa. Se Paulo Portas subiu do terceiro posto para o segundo. Se Maria Luís Albuquerque, que jogava na divisão das secretarias de Estado, tem legimitidade e competência para disputar a primeira liga. E andamos nisto. De Constança Cunha e Sá a Peres Metelo, estão todos preocupados com os aspectos formais, obviando o mais importante, a matéria substantiva que define a crise política, económica e social. Discutem se os actores tinham conhecimento prévio ou não dos Swaps. Se fulano e sicrano tinham falado sobre esta ou aquela operação, sob os auspícios de Sócrates ou sob a batuta de Passos Coelho. E depois temos Seguro, que pediu uma audiência para fazer queixinhas ao presidente da República. Um militante, o outro dilitante. Estas picardias, estas miudezas são exactamente o oposto do que se exige. A nomeação de Maria Luis Albuquerque faz parte de uma lógica de governação perdida, de um método que enuncia que já não há nada a ganhar. O dedo já está na ferida há muito tempo, e do ponto de vista da governação, é carregar no acelerador até ao estoiro final. Mas imaginemos um cenário utópico de brandura e simpatia. Aquilo que Seguro anda a apregoar na missa. A nomeação de um embaixador das balelas socialistas. A ilusão que é possível crescer sem reformar. A ideia que o Estado pode continuar a ser obeso e que o contribuinte pode ser poupado. Infelizmente, já não há volta a dar. Seguro, se subir no ranking, por demérito dos outros, pode até ter a ficha limpa, mas no primeiro dia de trabalho contradizer-se-á ao pretender desfazer o que os outros fizeram. Será confrontado com o mesmo dilema que triturou Gaspar e que irá moer Albuquerque. Que não restem dúvidas. Nada se altera com a entrada de uns e a saída de outros. O pelotão que comanda os destinos da nação é igual ao país; está metido em sarilhos. No entanto, observo que uns sabem escapar às labaredas com mais arte do que outros. Paulo Portas tem sido hábil na gestão da cozinha governamental. Destaca-se enquanto provador das receitas, distancia-se do chef quando há conflito no que diz respeito aos ingredientes, mas nunca diz que gostaria de ter o seu próprio restaurante. No remendar do pano roto oferece a linha e a agulha, mas ainda não tem uma manta suficientemente ampla para granjear o aplauso de todo o espectro político - uma maioria governativa. O PSD e o PS estão a abrir alas para algo distinto. O primeiro por exagero na função e o segundo por inexistência. Se eu fizesse parte desta matilha e fosse estratega, começava a procurar salvar o coiro. Gaspar não se demitiu. Gaspar rendeu-se às evidências de algo que transcende o rancho político nacional. A falta de coesão de que se queixava também se aplica à Europa no seu todo. No "todo" da União Política e na parte respeitante à moeda. A profissão de ministro das finanças há muito que tem vindo a ser posta em causa pela eminência cada vez menos parda dos banqueiros centrais. São esses presidentes de banco "that are calling the shots". Não me admiraria muito, se, no contexto da arquitectura económica e financeira da União Europeia, os ministros das finanças da periferia vierem a ser dispensados, subsituídos por outro género de colaborador. Se Maria Luís Albuquerque aguentar ainda mais pressão do que Gaspar, então a decisão tomada pela Alemanha foi acertada. Wolfi acaba de ver inscrita na sua escola uma aluna mais fraquita. E os mais fracos querem sempre agradar aos professores. Querem fazer-lhes as vontades, porque as ideias que têm não chegam a sê-las. As futuras nomeações políticas que venham a acontecer irão também obedecer a esse princípio de olho de furacão. Encontra-se o candidato já intensamente calejado por swaps ou coisa que o valha e desse modo as expectativas morrem à partida. Apenas tenho uma coisa a dizer: o nível é tão baixo que nem aparece na tabela de classificação. Aparece noutra escala.