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A propósitos das esquisitas e complicadas eleições americanas, aqui deixei há quatro anos uns tantos posts, não me arrependendo hoje do que então disse. Pouco ou nada mudou e naquilo que respeita aos delírios messiânicos da "nossa gente", então atingiu-se o pleno.
Que as campanhas americanas são muitíssimo pirosas e cheias de parvoíces como as manientas e obâmicas evocações do "pensamento e achares" da cada vez mais willendorfiana Sra. Michelle, lá isso são. Que estão recheadas de ditos espirituosos quanto à ventilação de jactos supersónicos, também isso já ninguém estranha. Por estes dias, poucos darão qualquer importância à total ignorância presidencial - no posto ou pretendente ao mesmo - quanto às questões da geografia planetária, nada interessando se o sr. Obama declare peremptoriamente que na Áustria fala-se a língua austríaca, por exemplo. Pois se até o seu precursor Roosevelt não fazia a mínima ideia acerca da localização da Silésia e da Prússia Oriental que decidira entregar à esfera de interesses soviéticos, porque razão terá o risonho ídolo de Mário Soares de se preocupar com minudências?
Se Obama voltar a vencer, decerto manterá o guião de Hollywood, o tom dos discursos dos "grandes desígnios" ao estilo dos filmes de cow-boys, em cenários com cactos e e entardeceres no deserto. Tranquilizados, continuaremos a ler lefties e extasiados artigos acerca do rabo da sua esposa, a mulher mais elegante do planeta, uma justíssima candidata a um próximo Nobel. Descansem, a sua administração continuará a satisfazer as higiénicas necessidades de evacuação das Fortalezas Voadoras que patrulham os céus da Terra.
Se Romney miraculosamente chegar à Casa Branca, logo na primeira viagem conhecerá os benefícios da pressurização a bordo do Air Force One e infalivelmente será persuadido a guardar num relicário decorado com antúrios de plástico, as suas estultas e nada convincentes crenças mormónicas. A macaca Lucy nada tem a ver com o sujeito.
Pois sim, infelizmente Lord Cornwallis fez falhar em Saratoga a História que a todos interessava e como europeus, declaramos espanhóis e franceses como culpados, até porque na tal guerra da independência, Portugal esteve como sempre do lado certo.
Falando de madamismo presidencial e muito mais importante que tudo o que se passa além-Atlântico, ficámos a saber que a sra. de Cavaco Silva já tem um logo próprio. É quase a evocação de um cristão coração que sangra. O pior é que também parece pingar qualquer outra coisa, provavelmente um subsídio a acrescentar aos 17 milhões presidenciais. Ora aqui está um bom exemplo do que seria a heráldica cavaquista. Ou trata-se apenas um escandaloso plágio do emblema dos gelados Olá? Pois é, há que reconhecer que uma Monarquia sempre é uma Monarquia.
Haverá alguma alma caridosa que me explique o porquê da possível - e desejável a meu ver - eleição de Mitt Romney representar, segundo as rabugentas palavras de Miguel Sousa Tavares, um "retrocesso terrível"? A ideia peregrina, que perpassa alguns estamentos da intelectualidade que tem poiso habitual nos media, de que Romney é um perigo político que deve ser travado a todo o custo, é um daqueles arroubos pueris que amiúde atingem gente muito bem formada. Obama foi uma decepção em toda a linha que, curiosamente, tem vendado as vistas de uma esquerda sem programa nem espírito. O Henrique Raposo, com alguma ironia - e mestria, diga-se de passagem -, descreveu Obama como o pretinho salazarista, em virtude do debate eleitoral estadunidense estar arrimado em bases bem diferentes das que presidem ao debate político europeu. É certo que nos EUA não se verificam os arrebatamentos, tão próprios de uma Europa em crise, em torno do agonizante Estado Social, contudo, Obama e a sua entourage, por mais que se negue o contrário, ajudaram, com a sua inépcia sufocante, a protelar a resolução da crise económica americana. A candidatura republicana é passível de muitas críticas, resultado, sobretudo, das suas insuficiências programáticas, porém, criticar Romney por, supostamente, ter como substrato ideológico um distributivismo pró-ricos, revela um primarismo político que, infelizmente, domina muita opinião dita e publicada. Romney pode perder, e é bem provável que perca, mas Obama, vencendo ou não, não terá a sua aura messiânica rejuvenescida.