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A Capela de D. Maria Pia

por Nuno Castelo-Branco, em 21.04.14

No nosso país, existe uma certa tendência para as re-inaugurações. Desde o Museu dos Coches em caricata espera de "inauguração" por um ministro D. Amélia de fatinho cinzento e gravata às riscas, até à "inauguração" do "novo Terreiro do Paço", já nos habituámos à moda.

 

A reabertura da Capela da Rainha D. Maria Pia, talvez possa ser considerada como o primeiro marco da passagem de José Alberto Ribeiro pela direcção do Palácio da Ajuda. O local de culto consiste num espaço austero e  íntimo, tendo optado o arquitecto Ventura Terra por uma decoração sóbria e coincidente com as indicações dadas pela monarca. Belas pinturas - onde pontifica o El Greco que até à data poucos portugueses sabiam existir -, bons móveis, ricos objectos de culto e uma iluminação adequada. Sob os auspícios do mecenato do Millenium BCP, o restauro foi bem executado e o único aspecto a merecer uma reconsideração, será a sinalética de difícil leitura. 

 

Os discursos foram proferidos na chamada "Sala D. Carlos", um espaço também desconhecido pela imensa maioria dos visitantes. O Palácio da Ajuda é em termos europeus uma construção modesta, embora a atracção que exerce se deva à colecção que é um testemunho do gosto de quem o decorou e naquele espaço viveu durante mais de quatro décadas. Pela sua dimensão, o Palácio da Ajuda é a par de S. Bento, o maior edifício da capital portuguesa, merecendo uma especial atenção quanto à sua valorização. Uma infindável série de salas fechadas, colecções que não são mostradas ao público, a fachada poente ignominiosamente arruinada e uma caótica envolvente urbana, eis alguns aspectos que urge atender. A articulação da Ajuda com outros núcleos museológicos da zona de Belém, não poderá deixar de ser considerada como a única opção para a necessária pedagogia da história do poder. Baixelas, as sobreviventes jóias da coroa, pinturas, trajes, carruagens, fotografias e livros, a necessária coordenação com as visitas às galeotas do Museu de Marinha, consistem naquele todo que possibilita uma imagem mais nítida daquilo que foram os dois últimos séculos de existência da Monarquia Portuguesa. Há uns anos, a exposição cedida pelo Hermitage pareceu prometer-nos a recuperação de um espaço há muito negligenciado pelo Estado, mas aos russos decerto se colocou a desagradável situação da inadequação deste edifício semi-arruinado, aos propósitos de divulgação das colecções vindas de S. Petersburgo. Não poderíamos esperar algo de diferente, pois são conhecidos  os constantes trabalhos de restauro e constante manutenção dos antigos palácios imperiais, caso que é extensível ao resto da Europa. Portugal parece ser a excepção.

Conhecemos a vastidão de Versalhes - e a generosidade dos seus benfeitores internacionais -, a imponência de Schönbrunn, a elegância de Potsdam e a grandeza dos palácios russos, ingleses, italianos e franceses, não nos esquecendo do impecável estado do Palácio do Oriente, em Madrid. O Palácio da Ajuda precisa de uma urgente intervenção que não se limite à preservação das suas colecções e dos espaços interiores, urgindo encarar a obra como algo de essencial essencial à promoção de Lisboa 

Apesar de todas as dificuldades e entraves fáceis de adivinharmos, oxalá José Alberto Ribeiro consiga paulatinamente recuperar o mais importante edifício da capital portuguesa, dando-nos a conhecer salas há muito ocultas, finalmente conseguindo o interesse do Estado e mercê de um ainda bastante incipiente mecenato nacional, devolver a dignidade à construção que  foi sede de poder e ainda serve para as grandes recepções aos visitantes estrangeiros.

 

Estádios, centros comerciais, Mercedes, Audi e BMW de pouco nos servem. Façam esta obra, nem que seja para salvaguardarem as aparências.

publicado às 08:56

Ainda bem que és tu a dizê-lo!

por Nuno Castelo-Branco, em 07.10.13

"Portugal foi fundado em 5 de Outubro de 1143. Sim, não me enganei no dia. Portugal foi fundado num 5 de Outubro, o mesmo 5 de Outubro do golpe de estado que implementou um regime anti-democrático e violento vulgarmente conhecido pelo eufemismo I RepúblicaPor outras palavras, a glorificação dos revolucionários de 1910 esconde a fundação do país. Portugal fez 870 anos no sábado, mas a elite comemorou 103 anos de um golpe de estado que uma minoria impôs ao país.

 

O país é anterior às ideologias. O país precede os regimes. Os regimes e as ideologias existem para servirem o país, e não o contrário. Ao celebrar 1910 em vez de 1143, a III República está a dizer que Portugal existe para servir a ideologia da esquerda jacobina."


publicado às 23:27

Estará Luís Amado enganado?

por Nuno Castelo-Branco, em 10.03.11

Uma campanha na Cirenaica (1941-42)

 

Sob o ponto de vista diplomático, Luís Amado pode dizer o que quiser e de facto, parece ter a razão do seu lado. O ex-amigo do governo português - e de muitos outros, nomeadamente dos EUA - colocou-se numa posição politicamente insustentável. No entanto, se atendermos apenas ao aspecto militar da questão, o caso é bem diferente.

 

Se excluirmos as imagens onde os quad anti-aéreos são presença constante e ícones da revolta, o que temos verificado? Bastantes AK-47, alguns RPG que são disparados para o infinito vazio do deserto e uns esporádicos disparos de órgãos de Estaline. Nada mais. Pelo que se mostra e apesar da captura de alguns importantes depósitos de armas, nada de muito substancial parece estar nas mãos dos insurrectos. Vimos alguns transportes blindados de tropas e alguns tanques russos T-55 (?), estes últimos parados e exibidos como testemunhos mudos de uma vitória pela omissão da resistência. O exército líbio acantonado no leste do país, apresenta à primeira vista, um aspecto deficientíssimo, tanto em termos de instalações, como de equipamentos de toda a ordem. 

 

Se Kadhafi realmente conseguiu aniquilar a rectaguarda - Zauía -, poderá então calmamente voltar-se para leste e utilizar unidades pesadas contra os grupos heterogéneos de opositores mal armados e sem um enquadramento coerente. A dificuldade da logística é o ponto essencial a considerar, mas nada nos garante que não esteja a ser tratado já há bastantes dias. Por outro lado, a demora na imposição da zona interdita a voos, funciona como um factor de encorajamento do regime, dado serem evidentes as divergências na aliança ocidental e a clara oposição dos outros parceiros internacionais - a Rússia e a China - que na ONU muito têm feito para dificultar qualquer acção concreta. Entre a adopção de sanções que valem zero e as medidas operacionais efectivas, correrá o tempo necessário para que a revolta seja militarmente esmagada. Qualquer "estratega de café ou jogo de computador" - condição que reivindicamos sem qualquer outra pretensão - percebe esta evidência.

 

Neste preciso momento, o mundo poderá ser surpreendido por um golpe de mão desferido por algumas unidades motorizadas de Kadhafi, criteriosamente escolhidas e convenientemente equipadas. Nem sequer necessitará de aviões ou de helicópteros, estando Bengazi desprovida do grosso de homens em armas, mas sem mísseis portáteis anti-aéreos, peças anti-tanque ou blindados com um real valor militar. Como dizem os jornalistas no terreno, nota-se que os insurrectos se têm concentrado em grupos mais ou menos numerosos, nas imediações da Via Balbia e sempre perto da faixa costeira, desde esta manhã sob bombardeamento naval, aéreo e terrestre. Mas o que dizer acerca da possibilidade de um inesperado ataque directo a Bengazi, por parte de unidades surgidas do nada, isto é, do deserto? Tal já aconteceu e surpreendeu unidades regulares e bem equipadas de uma grande potência. 

 

Se Kadhafi já perdeu a Líbia no plano político, parece ainda longe de ter dito a derradeira palavra no campo das operações bélicas. Basta-lhe abrir um livro de história do Afrika Korps e copiar, com muitas vantagens, Rommel. Terá a presença de espírito para o que é óbvio?

 

Nota: como ontem fazia notar o nosso leitor GP, notemos que estes combatentes de ambos os lados, não podem ser considerados como aquilo que se designa de "amigos do ocidente". O conceito de "democracia" é lato e conhece-se a forma depreciativa com que somos tidos naquela parte do mundo, ou melhor, entre aqueles que professam a religião de Maomé. Agora, compare-se o nosso escandaloso descalabro na preparação militar de duas gerações de jovens portugueses e a ausência no Ocidente, de qualquer tipo de ânimo que possibilite uma resistência efectiva. A queda do bloco de leste levou à apressada redução dos efectivos militares em toda a Europa, adoptando-se também o controverso modelo do exército profissional. Hoje em dia salta à vista, a consequência imediata deste desastre: a total ausência dos conhecimentos mínimos acerca da defesa e manuseamento de equipamentos. Aqui está um aspecto a considerar pelos agentes políticos. Sem qualquer noção de pátria, nação, fidelidade a uma causa - monárquica ou republicana - e com Deus morto e bem enterrado, uma boa parte da Europa encontra-se praticamente indefesa. A Grã-Bretanha poderá ser a excepção, pois "morrer pela Rainha", transcende em muito as palavras, dando alguma consistência a um todo nacional.

 

Muitos poderão contestar, referindo a fragilidade das convicções religiosas de quem hoje berra Alá-u-Akbar! a plenos pulmões. Pois bem, mas gritam por algo que não podem definir, mas que inegavelmente os galvaniza, mostrando o peito às balas. As medonhas imagens de Zauía destroçada e com as ruas juncadas de quads anti-aéreos abandonados, são sempre enquadradas por cânticos religiosos difundidos em alta gritaria pelos altifalantes. Imaginam isto na Europa?

 

publicado às 14:18

Um cinco de Outubro em Guimarães

por João Pedro, em 11.10.10

A proclamação de lealdade a D. Duarte, em Guimarães, no dia em que se (deveria) comemora(r) o Tratado de Zamora, em em que as entidades oficiais, mais do que o povo, celebra o "5 de Outubro" de 1910, foi talvez o acto mais marcante dos movimentos monárquicos desde a homenagem às vítimas do Regicídio, em 2008.

 

 Fiquei um pouco temeroso à chegada ao Paço dos Duques de Bragança, porque quase só via turistas, até encontrar os primeiros traços do evento e perceber que estavam todos no pátio e salas daquele edifício construído pelo filho de D. João I e fundador da Casa que viria a reinar em Portugal. Não consegui quase ouvir as palavras de D. Duarte, com toda aquela gente, mas acompanhei a marcha que precedeu o momento mais solene. Nela seguia um pouco de tudo: pessoas mais vestidas a rigor, com os seus melhores trajes (alguns com o habitual "bigode retorcido" à finais de oitocentos), outros com um estilo mais fashion, outros ainda de t-shirt com as armas reais; a bandeira azul e branca do liberalismo e as da Restauração; anciãos, jovens, crianças, gente com ar mais institucional ou mais "activista": em suma, para ouvir as palavras do Duque de Bragança estavam pessoas de todo o tipo e de várias zonas do país.

 

 

(Fotos recolhidas da Guimarães TV)

 

 

Há já vários anos que não ia a Guimarães (coisa indesculpável para quem vive a apenas cinquenta quilómetros), mas tencionava lá ir antes de 2012, quando a Cidade-Berço for Capital Europeia da Cultura. Surgiu a oportunidade no melhor dia possível. E reconheça-se que é a urbe ideal para uma manifestação monárquica. Todo o enquadramento do centro histórico ajuda, com as suas apertadas ruelas de traço medieval, as casas brasonadas, o granito a espreitar sempre. Os nomes e decoração de alguns bares e restaurantes também ("El-Rei", "Cara e Coroa", etc). Mas a quantidade de bandeiras de D. Afonso Henriques em janelas e varandas espanta; nalguns casos, via-se a bandeira com a cruz de Santiago. As tabuletas com os nomes de alguns estabelecimentos comerciais pareciam estar ali de propósito, com inúmeras alusões aos reis, às armas, etc. E ao espanto inicial dos transeuntes que vinham à janela ver que marcha era aquela começaram a chegar as primeiras palmas e "vivas".

 

 

 

 

 

O cortejo continuou até ao largo da Oliveira, onde se ergue o Padrão do Salado, mandado construir por D. Afonso IV para recordar a vitória que lhe deu o cognome de O Bravo, e a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, obra do tempo de D. João I, em agradecimento à vitória de Aljubarrota. Mas naquele espaço, dos mais característicos da cidade, também existe, numa das esquinas o edifício dos antigos paços do concelho, e sob a suas arcadas, que dão para a Praça de Santiago, havia uma mini-exposição da república organizada pelo PCP local. Como os bolcheviques normalmente só apreciam "monarquias" do jaez da Coreia do Norte, uma meia dúzia de camaradas desatou aos berros, dando vivas à república ou contra as "provocações". A marcha acabou aí, com uma evocação à Senhora da Oliveira, e talvez tenha sido a altura ideal, por causa de algumas discussões que se levantaram entre os "provocadores" e os "provocados". Naquele momento, mais uma vez se revelava a tolerância tão democrática dos defensores de 1910, e mais ainda, dos vencidos de 1975. Uma tresloucada fazia exclamações vitoriosas sobre o Regicídio, e um indivíduo com ar de quem trabalha em duvidosas actividades nocturnas inquiria sobre a "legalidade" da manifestação; claro que quando lhe perguntaram onde estava a legalidade das alterações ocorridas em 1910, respondeu com tíbias referências ao "povo".

 

Acabada a marcha e as histerias que nem por isso a estragaram, andei um pouco por aquela cidade que tanto diz a Portugal. A região tem sido das mais afectadas pelo declínio da indústria portuguesa, há já largos anos, mas conserva a altivez das suas pedras e é prodigioso observar como está arranjada. Do Toural ao Castelo, passando pela alameda de S. Gualter, tudo está limpo e organizado, e por toda a parte se encontram plantas do centro histórico e informações sobre os monumentos relevantes. Antes de partir, ainda vi um traço da cerimónia protagonizada por D. Duarte: uma coroa de flores aos pés da estátua de D. Afonso Henriques. Para muitos vimaranenses, soube-o nesse dia, a nacionalidade nasceu com a batalha de S. Mamede, ali ao lado. Mas a verdade é que se não houvesse o reconhecimento por parte de Castela em Zamora, o país provavelmente não teria passado daí. Deve-o a esse tratado, firmado num longínquo 5 de Outubro.

publicado às 02:26

 

A questão da legitimade dos duques de Bragança é mais complicada do que muitos monárquicos crêem. De facto, há uma série de factores de questão legal que é necessário rever.

 

Para começar, o sério estudo da legítima sucessão dos herdeiros de Dom Manuel II deve ser retirado da Carta Constitucional, nos artigos 87º e seguintes. A Carta, documento constitucional à data da queda do Reino, bem como a antiga Lei Fundamental, de carácter histórico e fonte de inspiração dos preceitos legais das constituições oitocentistas, são as principais fontes do direito de SAR D. Duarte de Bragança. Como direito subsidiário há que ter em conta o direito civil da época, nomeadamente o direito sucessório, visto que os princípios que regem as Casas Reais diferem dos Comuns, pelo próprio carácter histórico da Instituição.

 

O senhor Podimaidi reclama terem-lhe sido atribuidos os seus direitos à casa de Bragança através da abdicação na sua pessoa de uma descendente directa do Rei Dom Carlos, uma suposta filha bastarda, de nome Ilda Toledano, que se intitulava "D. Maria Pia de Bragança." O reconhecimento por parte do Rei Mártir a esta filha ainda hoje é muito discutido entre os historiadores, não havendo consenso entre a doutrina. A própria veracidade do caso, como se pode ver no sítio do senhor Podimaidi, é algo tenebrosa. Mas consideremos, para o caso, que tal aconteceu.

 

Os argumentos de Podimaidi

O senhor Podimaidi e os seus conselheiros jurídicos, caso os tenha havido, centram-se numa questão imaginativa e muito criativa para centrar os princípios gerais da legitimidade deste ao título de duque de Bragança.

Usa o senhor Podimaidi de um rebuscado Direito Nobiliárquico Internacional. À luz de um laico observador, haverá até alguma consistência nos argumentos do senhor Rosario. O problema é que a Lei Portuguesa de Sucessão é de direito interno, e não há qualquer referência, na legislação consagrada ao assunto, discutida em Cortes e nos Parlamentos, do uso do Direito Internacional para decidir quem deverá ser Rei.

O senhor Rosario Podimaidi está, assim, a gastar bom latim quando aplica o Direito Internacional ao Direito Sucessório Português. Neste caso peculiar, a Casa de Bragança vê os seus direitos assegurados pela Lei Constitucional Portuguesa (da Carta, visto que os futuros documentos constitucionais não tratam do assunto) e pelo seu Direito Civil.

 

Os argumentos que Podimaidi faz da lealdade de Carlota Joaquina, e da veracidade dos pactos de Dover são irrelevantes. Primeiro, aos portugueses, aos monárquicos e ao Direito Português não interessa para nada as coscuvilhices da Corte exilada no Reino do Brasil.

Segundo, o Pacto de Dover marca, apenas, a conciliação entre o ramo constitucional e legitimista da Casa de Bragança. Os direitos brigantinos não se formaram nesse tempo.

 

A segunda grande refutação à teoria de Podimaidi é a questão dos direitos de Maria Pia. A infanta era, pela Lei Civil da época, o Código de Seabra, fruto de uma relação ilegítima. Era, assim, bastarda. A Lei a seguir, mais uma vez, será a da época. Por muito que a legislação civil dos nossos dias tenha terminado com a distinção entre filhos legítimos e ilegítimos, a única fonte viável e positivada para tratar deste assunto particular é a Carta e o Código de Seabra. Para haver legitimidade na sucessão, é necessário um grau de parentesco. O grau de parentesco, pela Lei da época, envolve uma união legítima. Resumindo e concluindo, os direitos de Maria Pia não existem. Por muito que a infanta tenha sido reconhecida, mesmo possuíndo o estatuto de membro da Casa Real, os direitos sucessórios da Casa Real não funcionam como Direitos Reais. Ela não os podia doar, e não podia doar um direito que não era o dela.

 

Acabando esta parte, bato mais uma vez na mesma tecla. O senhor Podimaidi insiste, no seu sítio na Internet, em usar de fontes de direito estranhas ao Direito português. No caso da Sucessão ao Trono Português há uma clara prevalência do Direito interno.face ao Direito Internacional. Mesmo que haja uma certa simpatia por parte do Vaticano para com a causa de Podimaidi, a Lei a aplicar é a Lei Portuguesa.

Essa Lei, incluída na acta das Cortes de Lamego,  na Lei Fundamental do Reino ao longo de oitocentos anos de história, na Carta Constitucional de 1826, com as suas consequentes revisões e Actos Adicionais, apontam para um factor determinante.

O Rei nunca deverá ser estrangeiro e, de acordo com o jus sanguini presente na Carta, nem sequer naturalizado Português.

Os descendentes de Dom Miguel, uma vez no exílio, gozaram de um estatuto de extra territorialidade concedido pelo imperador da Áustria, logo, nunca foram estrangeiros. O senhor Podimaidi tem nacionalidade italiana.

 

A filha adulterina e ilegítima de Dom Carlos está, assim, excluída da sucessão ao trono.

Desaparecida a Linha de Dona Maria II, como diz a Carta Constitucional, deve-se passar à linha Colateral.

A Linha Colateral mais próxima é a linha dos Braganças do Brasil, os Braganças-Orléans. No entanto, estes estavam todos naturalizados brasileiros. Pela lei positivada e acordada em assembleia nacional, a linha colateral seguinte será o ramo legitimista dos Braganças, descendente de Dom Miguel.

A união entre o ramo exilado e a família Orleáns e Bragança dá-se em 1942, no feliz consórcio entre Dom Duarte Nuno e Dona Maria Francisca de Orléans e Bragança. Como escreve Luís Aguiar Santos, "o grande significado histórico de o descendente directo do Infante D. Miguel casar com uma descendente directa de Pedro IV", teve o beneplácito da Rainha D. Amélia, viúva de Dom Carlos I e mãe do último Rei.

Os descendentes desta união, a actual Família Real, tem o total Direito de Título, e guardam nas suas pessoas o símbolo de reconciliação entre dois Portugal divididos há mais de dois séculos, o Portugal Constitucional e o Legitimista.

publicado às 11:40

 

O Estado Sentido não é um blogue monárquico, mas a abertura com que se debatem assuntos ligados à Causa Real, como lhe chamam alguns, torna-o um espaço priveligiado para a discussão destas ideias.

Portugal Monárquico é um Portugal rico em doutrina e ideologia, em opiniões e certezas. Não existe uma unidade monárquica por motivos intrínsecos e extrínsecos. De facto, todos os monárquicos são indivíduos, moldados pelos seu meio social e pelas suas aptidões, e de facto, defender um regime que desapareceu há 100 anos traz dúvidas doutrinais que se tornam urgentes de resolver. O ideal do Reino cairá por Terra caso os portugueses não saibam quem são os monárquicos, e que os monárquicos não saibam quem são.

 

A substância da Monarquia passa por um Homem. Esse Homem não é o Logos, a razão a seguir, mas sim o objecto de personificação da Coroa, a quem efectivamente cabe Reinar.

 

Ao Reinar, o Rei não desempenha uma simples tarefa simbólica ou nostálgica/nacionalista - Reinar é incorporar a realidade colectiva que é conhecida pelo Reino, é um acto de representação nacional que vai além dos vínculos que tem a soberania popular para com o poder político.

 

Para aceitar estes pressupostos, é preciso aceitar, de uma vez por todas, a morte do Integralismo Lusitano e toda a sua filosofia nacionalista/messiânica. Fazer da Monarquia uma Religião foi um erro.

 

Procurando assim, de acordo com as instituições constitucionais da época monárquica e o Direito Sucessório vigente à época ( tanto o comum como o real), os monárquicos bem informados devem procurar as razões de être do Sucessor da Linhagem de Bragança.

 

E afirmo isto pela simples razão de, actualmente, se apresentarem pretendentes à Coroa de Portugal que estão a conspurcar o nome da instituição apolítica mais louvável da nossa História nacional!

 

Negar os Direitos de SAR ao ducado de Bragança é uma obersavção de completo desconhecimento jurídico-constitucional.

Não é à luz do Pacto de Dover que se devem estudar, unicamente, as pretensões do Duque, ou as dos Câmaras, ou a deste senhor italiano, de obscura credibilidade.

Não é à base de doações de títulos e posteriores reclamações que se conhece o herdeiro legítimo da Coroa.  O senhor Podimaidi, além de patrocinar um site que faz caluniosas afirmações contra Dom Duarte, acima de tudo, um cidadão português e uma figura pública cujo direito ao bom nome é tão valioso como o próprio direito do Sr. Rosário, desrespeita todo um conjunto de gerações de juristas, politólogos e investigadores amadores que se empenharam a fundo no estudo da Casa de Bragança.

 

Não pode passar claro todo este assunto. Toda esta questão deve ser interpretada e reinterpretada pela Carta Constitucional, o documento vigente à época. A Lei de Sucessão, de acordo com o Direito Civil da época.

Acima de tudo, o Direito a quem de Direito.

 

(continua...)

publicado às 15:03

 

 

Nos últimos dias, recebi alguns e-mail "circular", onde é solicitada a minha adesão a um abaixo-assinado contra a edificação de um novo Museu dos Coches. Como obrigatória regra inerente à participação cívica - um dever entre nós bastante desprezado -, contribuo modestamente para protestar contra aleivosias e atropelos vários, onde a gestão danosa do património o conduz a um fim inglório e desnecessário. No entanto, desta vez não o farei.

 

O Museu dos Coches consiste na principal jóia museológica nacional, dada a espantosa quantidade e qualidade de viaturas ali expostas. Miraculosamente sobreviveram a um terramoto, invasões, várias revoluções e principalmente, à atávica indiferença que as entidades oficiais sempre manifestam quanto à preservação de um passado muitas vezes extravagante, mas nem por isso menos demonstrativo daquilo que fomos. Ao contrário das destruições e queimadas que reduziram a carvão as carruagens das cortes de Versalhes ou de S. Petersburgo, Portugal contabiliza uma colecção absolutamente extraordinária e sem par. Viaturas que percorrem três séculos de evolução técnica e artística, sendo de salientar o facto de muitas terem participado em importantes acontecimentos da nossa história, ainda se encontram em razoável estado de conservação, para deleite dos visitantes que ao Museu acorrem. 

 

Fundado mercê da teimosa insistência da benemérita rainha D. Amélia, a própria inauguração do Museu dos Coches consistiu num verdadeiro acontecimento sem precedentes em Portugal, dada a sempre avara renitência das autoridades políticas, a profundamente imbecil indiferença da inteligentsia da época e a dificuldade na concepção do próprio espaço de exibição permanente da enorme colecção disponível. D. Amélia porfiou e conseguiu realizar o projecto e apesar de algumas pequenas modificações, o Museu é sensivelmente semelhante àquele que abriu portas em 1905.

 

O maior serviço prestado pela sua existência oficial, consiste sobretudo, nesse mesmo acumular e conservação das carruagens que de outra forma há muito teriam desaparecido,tal como aconteceu a tantas outras colecções portuguesas. 

 

O actual Picadeiro Real transformado em armazém de um precioso espólio de talha dourada, é apenas isto e pouco mais. Diria mesmo tratar-se de uma simples "garagem" de viaturas fora de uso, praticamente empilhadas num cenário deveras encantador, mas totalmente contrário ao destaque que a maior parte das peças merece.  É quase impossível proceder a uma visita de forma criteriosa, pois os estilos e modelos que evoluíram ao longo dos tempos  surgem de forma heteróclita, num reduzidíssimo espaço, deficiente iluminação e patética organização que apenas imita de forma bastante ténue, aquilo que deverá ser um verdadeiro Museu. A solução encontrada pela soberana fundadora consistiu antes de tudo, no profundo desejo em conservar, não desprezando intuitos pedagógicos e coincidentes com a sua multifacetada personalidade, sempre disposta a trazer para Portugal, as "novidades" de uma época moderna que teimava em não chegar.

 

Hoje temos o dever de prosseguir o caminho em boa hora encetado pela rainha. É indispensável uma criteriosa catalogação de todas as viaturas - incluindo as de Vila Viçosa, cuja ausência mutila gravemente o todo - e a organização do espaço de exposição, que julgo dever ser repensado na forma de um projecto mais vasto e didáctico, com o regresso de aspectos complementares à vida das próprias carruagens, como o vestuário de época, os ofícios relativos à construção daquelas, pequenos espectáculos multimédia e porque não?, a extensão da colecção a algumas das viaturas motorizadas utilizadas pela Corte e que ainda existem algures em Portugal. Este é um maravilhoso museu do bom gosto da monarquia portuguesa, cujas preferências estéticas foram evoluindo ao longo do tempo, adequando-se à moda e à inovação técnica.

Tão relevante para a compreensão da história é a carruagem de Filipe II, como as espectaculares viaturas de aparato de D. João V e de D. José. Se  os coches de passeio, belos e de uma discreta riqueza, evocam a vida quotidiana da família real, temos por exemplo, o modesto landau do Regicídio que por sinal, é sem dúvida e a par da chamada Carruagem da Coroa, o veículo politicamente mais importante da nossa história. Se existir vontade das autoridades na persuasão do mecenato, poder-se-ão até incluir elementos  - boas cópias - dos adereços presentes na Aclamação dos monarcas, como bandeiras, o trono, o manto, os símbolos da realeza e uniformes que serviram nas cerimónias oficiais do Estado. O Museu deverá  ser visto como um todo explicativo das várias épocas que a colecção integra.

 

Os coches merecem bem um novo espaço, melhor organizado e exclusivamente concebido para uma grandiosa exposição, única no mundo. Será igualmente desejável que a absurda regra imposta pela tutela quanto à recolha e gestão do dinheiro dos ingressos seja revista, de modo a que uma política de rigoroso restauro tenha início. Desejo até que a maioria das viaturas possa um dia encontrar-se numa situação de operacionalidade. As razões para tal são óbvias.

 

Creio que o maior óbice quanto ao novo edifício a construir, consiste no aspecto arquitectónico do mesmo, que inevitavelmente terá de ser contemporâneo. Embora não me manifeste como grande entusiasta  dos figurinos plasmados no CCB, Torre do Tombo ou Expo, há que reconhecer que este novo Museu, consiste numa boa oportunidade para  criar um marco visível e prestigiante para Portugal. 

 

A escassos meses da comemoração da golpada subversiva que roubou Portugal a um destino sem dúvida mais progressivo e conforme a sua História, a edificação de um novo Museu dos Coches é a maior homenagem que o povo português pode prestar à rainha D. Amélia. Arrisco mesmo em afirmar que para a maioria silenciosa, tratar-se-á de um necessário exorcismo ao 5 de Outubro de 1910.  Aproveitemos a momento em que no desespero de causa, a própria república é pelos seus comemorada, recorrendo aos símbolos da monarquia portuguesa.

 

 

publicado às 19:08

A diferença de ser rainha

por Nuno Castelo-Branco, em 17.03.09

 

 

Anda o país inteiro embasbacado com a rainha Rania da Jordânia. A sua beleza e à vontade perante qualquer situação em que seja chamada ao contacto directo com o público, atraem os olhares e sobretudo, a curiosidade pelo trabalho que tem desenvolvido no âmbito social. Não se trata de alguém apenas preocupada com questões de imagem, onde a marca e o lançamento de novas tendências para penteados lhe seriam por si, garantia de visibilidade. Não é uma Carla Bruni ou uma aspirante a manequim de lusa identidade, nem sequer uma ambiciosa do poder pelo poder, como algumas que almejam em suceder aos próprios maridos no exercício de funções oficiais.

 

A rainha é muito mais que um simples fait-divers social. Esquecida ou atenuada a memória da nossa nação, relativamente ao importantíssimo papel reservado às soberanas consortes que ao longo de séculos reinaram em Portugal, todos concluem agora a importância que o ostentar de uma coroa significa para o derrubar de preconceitos, alertar consciências e formação das mentalidades. O exemplo ainda recente da rainha D. Amélia, consistiu naquele derradeiro exemplo que no nosso país, serviu como verdadeiro substituto de funções hoje obrigatórias para os departamentos do Estado. Combate contra a pobreza e exclusão, apoio à infância, instalação dos grandes institutos científicos que modernizaram a sociedade, a protecção ao património cultural e não menos importante, a maior visibilidade do papel desempenhado pelas mulheres no todo nacional, eis o secular programa daquelas que um dia se sentaram no trono português. De Isabel de Aragão a Amélia de Orleães, muitas foram as mulheres que contribuíram decisivamente para o progresso. É de elementar verdade histórica sublinhar o decisivo contributo prestado à própria causa da independência nacional, administrando a regência com sageza e total probidade, fazendo exercer sempre que necessária, a régia autoridade que manteve a hierarquia, disciplina e vontade mobilizadora da população. O sentido do dever para com os seus - o povo que somos -, é parte inseparável da condição da soberana. Muitas vezes discretas ou praticamente incógnitas, acorreram aos necessitados, demoveram as reticências de políticos, arrecadaram fundos, galvanizaram as consciências, tornaram Portugal um país mais visível e respeitado na Europa. Tal como Rania, cumpriram escrupulosamente os trabalhos que a sua condição lhes impunha. De forma natural, sem alarde ou vertigens de protagonismo serôdio. Arrisco mesmo a afirmar que existe hoje em Portugal, quem continue de forma quase invisível mas decisiva, a tarefa de sempre e assim aproveito para aqui manifestar o respeito pelo precioso trabalho social hoje incansavelmente desenvolvido pela Duquesa de Bragança. Não sendo nada susceptível a mesuras cortesãs, creio ser esta pequena lembrança, uma questão de justiça.

 

Portugal perdeu a memória. Rania está entre nós e por uns momentos, a sua visibilidade fez toda a diferença.

publicado às 12:50






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