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Será que não aprendem? A Caixa Geral de Depósitos (CGD) estragou-se toda com aquelas más companhias. Foram certos indivíduos de moral duvidosa e competências questionáveis que escangalharam aquele prédio. Ao longo de décadas tiveram a lata de colocar banqueiros à frente dos destinos daquela instituição financeira. Foram esses mesmos que arruinaram a jóia da coroa dos depósitos. A dada altura a CGD era conhecida como aquela máquina. Era o banco com depósitos mais avultados da EFTA ou do Mercado Comum (uma destas entidades com um rótulo todo pimpão), mas depois as coisas começaram a patinar. Ora entrava dinheiro fresco, ora saía um financiamento para um projecto comunitário com forte expressão de amizade socialista. Pois é. É esta análise de consciência de valores monetários que não está a ser realizada. Este governo (e os remanescentes) acreditam no poder de uma alma magna. Como se um Domingues ou uma domícilia fossem os deuses da banca pública capazes de agitar uma varinha. Mas eu tenho uma visão radicalmente diversa. Não existe homem ou mulher à face da terra mais kryptonado do que os mercados em si. São algoritmos contemporâneos que ditam falências ou mais-valias. Não são caixas de óculos vindos do passado, armados com MBAs da Católica ou Harvard que vão equilibrar os pratos da balança. O barómetro de que se servem já não cumpre a missão. Esse instrumento não consegue ler os perigos, mas acima de tudo, não integra a variável mais perniciosa de todas - o factor político que não se rege por modelos racionais, mas sim por inclinações afectivas. Cá por mim nomeava um computador-geral para conduzir os destinos da CGD. Existem processadores acima da mediania daqueles que ocupam os crânios de gestores bancários, as tais cabecinhas pensadoras. E esses aparelhos não reclamam. Sabemos o que trazem no miolo. Conhecemos a riqueza dos seus circuitos integrados. E desligam-se sem grandes sobressaltos. Mas não são demitíveis.
E se Marcelo Rebelo de Sousa fosse primeiro-ministro por um dia? O exercício é interessante. Nessas 24 horas teríamos de encontrar uma actividade de tempos livres para António Costa. Adiante. O que o Presidente da República afirma deve ser levado à letra. Fala de Sócrates e desse ano fatídico de 2011, do microfone na lapela, e o "estou bem assim? ou assim, mais para a esquerda?" - resgate à vista. Marcelo, que está uns furos intelectuais acima de Costa ou Mortágua, não está a ver as coisas de uma torre de marfim. Ele sabe que um país não pode desenrascar-se à pala do turismo. A cerimónia ejaculatória sobre o crescimento do sector assenta nalgumas contradições monetário-ideológicas. Se esses estrangeiros que andam a estragar a calçada portuguesa não tivessem acumulado riqueza não estariam aqui a gastar as suas poupanças. Se esses bifes ou boches tivessem vergonha na cara deixavam-se ficar por Bradford ou Dusseldorf. Mas esse estado de arte de passeio dos alegres pode acabar bruscamente. Basta uma crise Deutsche Bank, bastam sanções a Portugal, basta um ataque terrorista. E de repente teremos uma mercado de tuk-tuks usados interessante. Marcelo sabe, talvez melhor do que os associados em governo, que as vistas não podem ser sazonais. Parece ser um facto histórico inegável desde o tempo dos Descobrimentos existir uma certa predisposição comportamental. A riqueza nacional afinal não é nacional. Não tem cidadania. É refugiada. Vem de fora. Ora são especiarias, ora é o ouro. E mudam-se os tempos, mas o "chip" parece ser semelhante. A ver se cai algo lá de fora. Chamam-lhe turismo.
Já acumulei horas e mais horas de voo com o incorrecto axioma monetário de Mariana Mortágua. Já pedalei muito. A detentora da pasta das finanças do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista não está a prestar atenção às grandes correntes e tendências de moda do Banco Central Europeu (BCE). A troupe de Mario Draghi não menciona a função fiscal dos governos de países em apuros na última tirada vinda a público. Refere sim a importância de genuínas reformas estruturais conducentes ao crescimento das economias dos países da Zona Euro. Refere o lado da oferta agregada e não destaca o papel da procura - ou seja, de nada serve o pobretanas receber umas notas sacadas ao vilão que acumulou fortuna. Aliás, podemos e devemos ir mais longe. O capital avultado, "concentrado", se desejarem, se for sujeito a uma "reforma agrária-fiscal" de transformação em "minifúndio", perde a sua força transformadora. Por outras palavras, tirar a quem acumula para dar a quem não é empreendedor, mas mero consumidor, retira virilidade à realidade macro-económica. O que pensa a Mariana Mortágua sobre o que tem feito o BCE nos últimos tempos? Tem feito a sua vontade. Não tem deixado acumular grande coisa nos cofres desse banco e tem distribuído mundos e fundos pelos Estados em apuros. A compra de títulos de dívida pelo BCE corresponde, em certa medida, ao idioma recente da declamante bloquista. Mas o problema de fundamentalistas amblíopes é terem vistas curtas, umbilicais. O problema, vasto e complexo, não se encaixa no radicalismo que o BE procura encarnar. No entanto, existe uma outra leitura exclusivamente política. O BE pode estar a preparar o próximo ciclo de poder. Saber onde encaixa levanta algumas dúvidas existenciais. Cinicamente, mesmo que não o saibam, a iminência de mais umas ajudas de custo em forma de novo resgate, não se pode excluir. Um descalabro do governo de geringonça obriga o BE (e o PCP, embora menos) a pensar a travessia do deserto. Por isso a doutrina Mortágua de reinvenção do capitalismo foi agora lançada. Funciona como uma apólice de seguro para desastres políticos naturais - aqueles que sabemos que estão para acontecer mais dia menos dia.
Esta amostra de governo de Portugal quer destruir o país. Se achavam que 28% de imposto sobre mais-valias de títulos financeiros já era a doer, preparem-se para a estocada final. A iniciativa da geringonça, inspirada nos cânticos do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda, visa agravar ainda mais a tributação de bens mobiliários. Estes aprendizes de mercadores não entendem como funciona uma economia, nem para que servem acções transaccionadas em bolsa. Quando compramos títulos financeiros, estamos a conceder um empréstimo a uma ou mais empresas, estamos a tornar-nos co-proprietários de uma operação, estamos a contribuir para a geração de emprego e, naturalmente, em consequência desse estado de arte, os lucros aparecem e são repartidos por aqueles que depositaram meios financeiros, correram riscos, mas também alimentaram expectativas positivas em relação ao desempenho das empresas em causa. Ou seja, esta dinâmica permite suster a economia de um país, tornando-o menos dependente das subvenções do Estado. Ao castrar os agentes económicos activos e passivos, o governo contribui a longo prazo para a insustentabilidade do sector privado. O fundamentalismo económico dos partidos do governo irá tornar Portugal um país cada vez menos atractivo na óptica de investimento. Os aforristas nacionais ou os grupos de investimentos internacionais passarão cada vez mais a percepcionar Portugal como um destino pouco simpático para investir. Por outro lado a evasão financeira será estimulada. Os potenciais investidores de nacionalidade portuguesa procurarão encontrar ambientes tributários mais amenos. A geringonça está a emitir a sua própria modalidade de Austeridade. A marca branca que estão a desenvolver assenta na premissa primária de que a riqueza é um alvo a abater, mas também corta as pernas às aspirações financeiras e económicas dos pequenos cidadãos que sonham com poupanças, um modesto investimento e um pé-de-meia de retorno que uma reforma está longe de poder oferecer. A Catarina Martins e as irmãs Mortágua, co-adjuvadas pelo dependente António Costa e o parceiro Jerónimo de Sousa, afirmam que visam poupar a classe média e atacar a alta. Qualquer dia por este andar não existirá nada para atacar. Nada.