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Sonho com o dia em que a diferença salarial média entre homens e mulheres se inverta em favor das mulheres e o número de mulheres em cargos políticos e públicos e de direcção no sector privado seja superior ao dos homens. Primeiro, porque, embora se trate de uma realidade em que gostaria de viver, especialmente considerando que durante a esmagadora maioria da história da humanidade as mulheres foram e continuam a ser discriminadas de formas abjectas, repulsivas e sem qualquer justificação, perceberíamos todos que nem assim se conseguiria ultrapassar falhas características da cultura de cada corpo político. Segundo, e mais importante, porque deixaríamos de assistir ao chinfrim que os guerreiros pela igualdade de género a todo o custo teimam em produzir vociferando os seus preconceitos ideológicos assentes numa concepção profundamente errada da condição humana e numa compreensão débil dos fenómenos sociais, decorrentes do racionalismo construtivista. O que não quer dizer que, entretanto, não encontrem outras causas a que possam dedicar os seus esforços. Afinal, o racionalismo construtivista talvez nunca tenha tido um solo tão fértil como as hodiernas sociedades demo-liberais onde, infelizmente, a política da cartilha ideológica se sobrepôe à política enquanto conversação e acomodação de diferentes perspectivas. Como canta Samuel Úria numa belíssima crítica à primeira, Repressão!/ Repressão!/ Grita-se à toa/ Qualquer causa é boa num refrão.
Roger Scruton, Modern Manhood:
«But just as surely are the feminists wrong to believe that we are completely liberated from our biological natures and that the traditional sex roles emerged only from a social power struggle in which men were victorious and women enslaved. The traditional roles existed in order to humanize our genes and also to control them. The masculine and feminine were ideals, through which the animal was transfigured into the personal. Sexual morality was an attempt to transform a genetic need into a personal relation. It existed precisely to stop men from scattering their seed through the tribe, and to prevent women from accepting wealth and power, rather than love, as the signal for reproduction. It was the cooperative answer to a deep-seated desire, in both man and woman, for the "helpmeet" who will make life meaningful.
In other words, men and women are not merely biological organisms. They are also moral beings. Biology sets limits to our behavior but does not dictate it. The arena formed by our instincts merely defines the possibilities among which we must choose if we are to gain the respect, acceptance, and love of one another. Men and women have shaped themselves not merely for the purpose of reproduction but in order to bring dignity and kindness to the relations between them. To this end, they have been in the business of creating and re-creating the masculine and the feminine ever since they realized that the relations between the sexes must be established by negotiation and consent, rather than by force. The difference between traditional morality and modern feminism is that the first wishes to enhance and to humanize the difference between the sexes, while the second wishes to discount or even annihilate it. In that sense, feminism really is against nature.»
Se o conteúdo desta notícia é verdadeiro, e faço fé de que não seja, não haverá a menor dúvida quanto ao facto de estarmos a ser pastoreados por um bando de canalhas. Saber que o dinheiro dos nossos impostos é distribuído para instituições que se dedicam a ordenar abortos é, vá, e estou a ser eufemístico, um embaraço que qualquer pessoa versada na ciência da administração tentaria por todos os meios evitar. Reparem, nem sequer estou a discutir a legalização do aborto - medida pseudo-progressista contra a qual sempre me posicionei, mas que, por respeito da mecânica democrática, aceito. O que está aqui em causa é somente as putativas pressões que a Segurança Social faz a determinadas mulheres, de molde a que as mesmas abortem. Se for verdade, no mínimo, os responsáveis por esses actos deveriam demitir-se imediatamente. Repito, no mínimo. Espero que esta questão seja esclarecida o mais rapidamente possível para bem da sanidade mental do país.
Vêem-se mais mulheres bonitas em dois dias em Lisboa que em dois meses em Inglaterra.
(imagem do ionline)
Elevando o senso comum à condição de ciência: «Em tempo de crise, as mulheres investem mais na beleza para caçar homens ricos, garante estudo norte-americano.»
Sendo, entre outras coisas, conhecido pela crítica que faz às noções de beleza vigentes nos mais variados domínios, em Beauty Roger Scruton sistematiza magistralmente a sua abordagem kantiana ao conceito de beleza. Rejeitando o relativismo da apreciação estética, considerando que a beleza é um valor universal ancorado na racionalidade humana, Scruton crê que é possível educar o gosto de forma a poder apreciar a beleza e fundamentar esta apreciação na razão. À primeira vista, esta posição pode parecer cair num racionalismo exagerado, mas quem conhece o trabalho de Scruton sabe que não é de todo o caso. A verdade é que, embora a contemporânea corrupção das artes nos leve a celebrar o que é feio, como Scruton não se cansa de assinalar, e esta crise fomentada pelo relativismo intelectual e moral se verifique essencialmente nas Ciências Sociais e Humanas, desde Platão que a beleza se encontra na companhia da verdade e do bem, sendo estes valores o trio que se constitui como centro das preocupações da Filosofia. Partindo desta concepção, o que Scruton faz é recuperar duas ideias de Kant: sendo a apreciação estética individual e, portanto, subjectiva, não deixa de ser passível de ser debatida com terceiros – e daí a possibilidade de se educar o gosto –; e a verdadeira apreciação da beleza é aquela que tem uma perspectiva de interesse desinteressado, sendo um fim em si mesma.
É nesta segunda ideia que me quero focar. Scruton afirma que não «avaliamos a beleza de algo apenas pela sua utilidade, mas também pelo que as coisas são em si próprias – ou mais plausivelmente, pela forma como aparecem em si próprias. (…) Quando o nosso interesse é inteiramente tomado por uma coisa, como ela aparece na nossa percepção, e independentemente de qualquer uso que se lhe possa dar, então podemos começar a falar da sua beleza.»1 Desta forma, «consideramos algo belo quando obtemos prazer em contemplá-lo como um objecto individual, por si próprio, e na sua forma apresentada. (…) Estar interessado na beleza é colocar todos os interesses de lado, de modo a atender à coisa em si própria.»2 É isto que é um interesse desinteressado, contrário à abordagem interessada que pressupõe tratar algo ou alguém como um meio para satisfazer os nossos interesses.
Feitos os considerandos anteriores, permitam-me procurar aplicá-los a duas situações: a música e a beleza feminina.
Não me recordo onde foi que li ou ouvi que a diferença entre estar apaixonado e não estar é que quando se está a música faz sentido. A ideia parece estar correcta, à primeira vista. Não é preciso realizar um apurado estudo estatístico para chegarmos à noção de que a esmagadora maioria das músicas trata da temática do amor. O que acontece quando estamos apaixonados e ouvimos determinadas músicas é que estas ficam associadas a certos momentos e à pessoa a quem o nosso amor se dirige. Quer o sentimento seja correspondido ou não, quer as músicas nos apareçam por acaso ou sejamos nós a procurar ouvi-las deliberadamente, as composições e as letras parecem feitas de propósito para nós. Quer seja a alegria ou a tristeza que nos invada, parecem realmente fazer sentido. Mas este sentido não decorre da apreciação da música como fim em si mesma. Decorre da condição do sujeito que realiza a apreciação, o que significa que esta tem um contexto do qual o sujeito não se consegue desligar e que não serve o propósito de efectuar uma mais correcta apreciação do valor estético do objecto visado. Por outro lado, quando não estamos apaixonados, por estranho que isto possa parecer a muitos indivíduos, estamos em condições de poder apreciar de forma mais verdadeira – porque inteiramente desprovida de interesse – a beleza de uma música. Não há, contudo, como escapar à temática do amor. Se o tentássemos fazer, provavelmente acabávamos a ouvir uma diminuta porção de toda a música jamais realizada. Mas mesmo que pudéssemos escapar a esta temática, por que o haveríamos de fazer? Juntamente com a verdade, o bem e a beleza, o amor também se constituiu desde a Antiguidade Clássica como temática de eleição dos filósofos, dado que se encontra inscrito na natureza humana e é provavelmente o sentimento mais poderoso que qualquer ser humano pode sentir. Mesmo quando não estamos apaixonados, ou sonhamos em estar ou queremos não cair nesta condição. O amor define-nos, e define em parte a forma como vemos e estamos no mundo.
Isto significa também que o amor está ligado à apreciação da beleza. Dado que o amor se revela na concretização do desejo sexual erótico individualizado, tendo precisamente a ver com a intencionalidade da emoção sexual dirigida a um sujeito corporizado e não apenas a um corpo, importa salientar que, citando novamente Scruton, “De acordo com Platão, o desejo sexual, na sua forma comum, envolve um desejo de possuir o que é mortal e transitório, e uma consequente escravização ao aspecto menor da alma, o aspecto que está imerso no imediatismo sensual e nas coisas deste mundo. O amor pela beleza é realmente um sinal para nos libertarmos deste apego sensorial, e de começarmos a ascensão da alma em direcção ao mundo das ideias, para aí participarmos na versão divina da reprodução, que é a compreensão e a transmissão de verdades eternas.»3 Quando os nossos sentidos estão despertos, quando procuramos a beleza como fim em si mesma, por vezes, embora raramente, deparamo-nos com uma mulher que nos deixa com uma sensação de verdadeira admiração por si, sem que tal envolva necessariamente um interesse sexual. Nestes momentos, percebemos realmente o dilema entre os nossos desejos e instintos primários e o nosso eu mais racional. Prevalecendo o segundo, abre-se a porta a todo um novo tipo de sensações. Chega a tratar-se, quando muito, caso conheçamos a pessoa e, portanto, esta não seja meramente uma estranha que se nos atravessa na rua, de um amor platónico – a sublimação do amor erótico, dirigido a algo mais elevado que é o prazer da contemplação de algo belo. Não contém, nem poderia, o desejo sexual, porque tal seria conspurcar um objecto que para nós se torna sagrado.
Quando existe desejo sexual, quando se trata da mais comum forma de amor, abre-se a porta à eventualidade de sermos invadidos por sensações bem menos tranquilizantes que as referidas no parágrafo anterior. Fernando Pessoa escreveu que todas as cartas de amor são ridículas. E são-no porque ainda antes de serem escritas têm um propósito definido – conquistar a outra pessoa – que advém de algo tão forte que chega a escravizar quem escreve a carta. Quando o eu irracional, primário e movido pelo desejo, se sobrepõe ao eu racional, o resultado é quase sempre desastroso, ridículo e piroso. Numa carta de amor, é-o necessariamente porque a carta é um mero instrumento que visa a conquista do outro, que é objectificado com vista a satisfazer as necessidades emocionais e sexuais de quem escreve. Amar é um egoísmo totalitário e avassalador. Quando não se está inebriado por este tipo de sentimentos, apreciar a beleza de alguém como fim em si mesmo reveste-se de uma natureza completamente diferente. E se por acaso o nosso espírito o decidir declarar à visada, a sensação de o fazer e após o fazer é completamente diferente. É algo verdadeiramente genuíno e que conforta a alma daqueles que estão despertos para a beleza que se encontra neste mundo. Afinal, o que poderá ser mais poético do que a beleza pela beleza?
Como escreveu Oscar Wilde, “Aqueles que encontram belas significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança. São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.”
1 - Roger Scruton, Beauty, Oxford,Oxford University Press, 2009, p. 17.
2 - Ibid., p. 26.
3 - Ibid., p. 41.
Bertrand Russell, "Ideas that have harmed mankind": «Male domination has had some very unfortunate effects. It made the most intimate of human relations, that of marriage, one of master and slave, instead of one between equal partners. It made it unnecessary for a man to please a woman in order to acquire her as his wife, and thus confined the arts of courtship to irregular relations. By the seclusion which it forced upon respectable women it made them dull and uninteresting; the only women who could be interesting and adventurous were social outcasts. Owing to the dullness of respectable women, the most civilized men in the most civilized countries often became homosexual. Owing to the fact that there was no equality in marriage men became confirmed in domineering habits. All this has now more or less ended in civilized countries, but it will be a long time before either men or women learn to adapt their behaviour completely to the new state of affairs. Emancipation always has at first certain bad effects; it leaves former superiors sore and former inferiors self-assertive. But it is to be hoped that time will bring adjustment in this matter as in others.»
Para além dos efeitos nefastos do feminismo de pendor neo-marxista – o que mais visibilidade e expressão tem –, um dos grandes problemas das relações humanas na contemporaneidade é o facto de muitas mulheres pensarem que são a Samantha de "O Sexo e a Cidade", e de muitos homens serem realmente idiotas como alguns dos que aparecem na série. A natural dinâmica de grupo que leva à imitação, propagação e aceitação social destes tipos de comportamentos acaba por originar um certo vazio de individualidade, dissolvendo-se esta no grupo, acabando muitas pessoas por se tornarem fotocópias umas das outras e, portanto, realmente entediantes e desinteressantes como as mulheres respeitáveis de que Bertrand Russell falava. É a vitória da matéria sobre o espírito, e do efémero sobre o eterno.
Soren Kierkegaard passa 90% de In Vino Veritas em pleno orgasmo intelectual misógino, para no fim reconhecer a realidade, que por força das evidências sou obrigado a subscrever. Quer-me parecer que a misoginia de Kierkegaard, Wilde ou qualquer outro, diz mais da muito imperfeita natureza masculina do que da feminina:
«No princípio havia só um sexo; dizem os gregos que era o sexo masculino. Dotado de faculdades magníficas, era uma criatura admirável em que se reviam os deuses; os dons eram tão grandes que aconteceu aos deuses o mesmo que por vezes acontece aos poetas que gastaram todas as forças na criação de uma obra: tiveram inveja do homem. O pior é que tiveram receio dele; temeram que ele não estivesse disposto a aceitar de bom grado o jugo divino; tiveram medo., embora sem razão para isso, que o homem chegasse a abalar o céu. Haviam feito surgir uma força nova que lhes parecia estar a ser indomável. A inquietação e a perplexidade dominavam então no concílio dos deuses. Mostraram-se primeiro de uma generosidade pródiga ao criarem o homem; mas agora tinham de recorrer aos meios mais violentos para legítima defesa. Os deuses pensavam que o seu poderio estava em perigo, e que não podiam voltar atrás, como um poeta que renegue a sua obra. O homem já não podia ser dominado pela força, porque se o pudesse ser, os deuses teriam resolvido facilmente o problema; e era isso precisamente o que lhes causava desespero. Era preciso cativá-lo pela fraqueza, por um poder mais fraco e mais forte do que ele, capaz de o subjugar. Que poder espantoso e que poder contraditório não havia de ser! A necessidade também ensina os deuses a transcenderem os limites do engenho. Pensaram, meditaram, encontraram. A nova potência foi a mulher, maravilha da criação; e os deuses, ingénuos e contentes, mutuamente se felicitaram pela nova invenção. Que mais poderei eu dizer em louvor da mulher? A mulher foi tida por capaz de fazer o que parecia impossível aos deuses; além disso, a verdade é que desempenhou admiravelmente o seu papel; que maravilha não deve ser a mulher para conseguir os seus fins! Tal foi a astúcia dos deuses. A encantadora foi formada e dotada de uma natureza enganadora; mal encantou o homem, logo se transformou, enleando-o entre todas as dificuldades do mundo finito; era isso mesmo o que os deuses queriam. Que seria possível imaginar de mais fino, de mais atraente, de mais arrebatante, do que este subterfúgio dos deuses que querem salvaguardar um império, do que este processo para seduzir o homem? Tal é a realidade; a mulher é a sedução mais poderosa do céu e da terra. Comparado com ela, o homem é um ente muito imperfeito.»
Soren Kierkegaard, O Banquete ou In Vino Veritas:
«Confesso a verdade quando digo que a minha alma está isenta de inveja e cheia de gratidão para com Deus; antes quero ser homem pobre de qualidades, mas homem, do que mulher - grandeza imensurável, que encontra a sua felicidade na ilusão. Vale mais ser uma realidade, que ao menos possui uma significação precisa, do que ser uma abstracção precisa, do que ser uma abstracção susceptível de todas as interpretações. É, pois, bem verdade: graças à mulher é que a idealidade aparece na vida; que seria do homem, sem ela? Muitos chegaram a ser génios, heróis, e outros santos, graças às mulheres que amaram; mas nenhum homem chegou a ser génio por graça da mulher com quem casou; por essa, quando muito, consegue o marido ser conselheiro de Estado; nenhum homem chegou a ser herói pela mulher que conquistou, porque essa apenas conseguiu que ele chegasse a general; nenhum homem chegou a ser poeta inspirado pela companheira de seus dias, porque essa apenas conseguiu que ele fosse pai; nenhum homem chegou a ser santo pela mulher que lhe foi destinada, porque esse viveu e morreu celibatário. Os homens que chegaram a ser génios, heróis, poetas e santos cumpriram a sua missão inspirados pelas mulheres que nunca chegaram a ser deles. Se a idealidade da mulher fosse positivamente, e não negativamente, um factor de entusiasmo, inspiratriz seria a mulher à qual o homem, casando, se unisse para toda a vida. A realidade fala-nos, porém, outra linguagem. Quero dizer que a mulher desperta, sim, o homem para a idealidade, mas só o torna criador na relação negativa que mantém com ele. Compreendidas assim as coisas, poderá efectivamente dizer-se que a mulher é inspiradora, mas a afirmação directa não passa de um paralogismo em que só a mulher casada pode acreditar. Quem ouviu alguma vez dizer que uma mulher casada tivesse conseguido fazer do marido um poeta? A mulher inspira o homem, sim, mas durante o tempo em que for vivendo até a possuir. Tal é a verdade que está escondida na ilusão da poesia e da mulher. Que o homem não possua a mulher, isso é o que pode ser entendido de várias maneiras. Ou está ainda na luta para a conquista, e assim se disse que a donzela entusiasmou o amante a ponto de fazer dele um cavaleiro, mas nunca se ouviu dizer que um homem se tornasse valente por influência da mulher com quem casou. Ou está convencido de que nunca lhe será possível casar com ela, e assim se diz que a donzela entusiasmou e despertou a idealidade do amante que se manifestou capaz de cultivar os dons espirituais de que porventura era portador. Mas uma esposa, uma dona de casa, tem tantas coisas prosaicas com que se preocupar, que nunca desperta no marido a idealidade. Há ainda outro caso, em que o homem não possui a mulher porque persegue um ideal. Assim vai ele passando de amor para amor, o que é uma espécie de ser infeliz no amor; a idealidade da alma do amante está então no ardor da procura e da perseguição, e não nos amores fragmentários que não valem a soma das aventuras particulares.»
Um dia vou-me sentar à mesa a falar com a miúda que há meses troca olhares comigo na pastelaria onde tomo o café de manhã. Amanhã ainda não é o dia. Nem sei se ele virá, que o melhor é mantê-la na sua função simbólica de me colocar bem disposto logo pela manhã, sem que sequer troquemos uma palavra. Porque citando Kierkegaard, "Que a mulher seja capaz de falar, quero dizer verba facere, todos nós sabemos, e não precisamos de prova. Infelizmente, ela não goza de reflexão suficiente que a ponha ao abrigo da contradição que surge a curto prazo, digamos quando muito, ao fim de oito dias, pelo que o homem tem de intervir para lhe prestar auxílio lógico, para a restabelecer na ordem do pensamento, pelo que o homem tem de a contradizer. Acontece, pouco depois, que a confusão bate em cheio."
Soren Kierkegaard, O Banquete ou In Vino Veritas:
«Estais agora a ver, meus caros amigos as razões por que renunciei ao amor. As minhas razões são tudo para mim; o meu pensamento é tudo para mim. Se o amor é o mais delicioso de todos os prazeres, recuso-o; recuso-o sem pretender com isso ofender ou desdenhar alguém. Se o amor é a condição do maior benefício, perco a oportunidade de bem fazer, mas salvaguardo o meu pensamento. Não é que eu esteja cego para a beleza, não é que eu esteja surdo para as harmonias e as melodias. Não. O meu coração não é insensível ao cantar dos poetas que gosto de ler, a minha alma não é destituída de melancolia e não deixa de sonhar com as belas imagens do amor. A verdade é que não quero ser infiel ao meu pensamento, pois, se o fosse, o que lucraria com isso? Quanto a mim, não sinto felicidade quando não sinto o meu pensamento livre; nem quando tivesse de interromper os meus pensamentos para me ligar a uma mulher, para gozar as maiores delícias; porque a ideia é para mim o meu ser eterno, e, por isso, mais preciosa ainda do que um pai ou de que uma mãe, mais preciosa ainda do que uma esposa. Bem vejo que se algo deve ser sagrado, é o amor; que se a infidelidade é algures infame é no amor; que se alguma traição é ignóbil, é no amor; mas a minha alma é pura, nunca olhei mulher alguma que a cobiçasse; nunca andei como borboleta em inconstantes voos até que, cego ou empurrado pela vertigem, fosse cair na mais decisiva das situações. Se eu soubesse em que é que consiste o amável, saberia também com exactidão se estarei ou não isento de culpa por ter induzido alguém em tentação; mas como ignoro o que é o amável, posso apenas ter a convicção de que conscientemente, nunca tal fiz nem quis fazer. Suponde agora que eu tivesse capitulado, que me tivesse resolvido a rir ou que sucumbisse de medo, o que talvez fosse possível. Sim, eu não sou capaz de encontrar a via estreita pela qual os amantes tão facilmente seguem como se fosse larga, imperturbáveis em todas as vicissitudes como se tivessem estudado e aprofundado, no nosso tempo que examinou já, sem dúvida, todos estes problemas, e, portanto, compreende também este meu pensamento: não tem sentido agir segundo o imediato, para ter sentido é indispensável passar pela meditação, por conseguinte é preciso esgotar todos os modos possíveis de pensamento antes de passar aos actos. Mas, que dizia eu? Suponde que eu tivesse sucumbido. Não teria eu então, irremediavelmente, ofendido a minha bem amada com o meu riso, ou não teria eu, pela minha retirada, causado para sempre o desespero dela? Quanto à mulher, vejo bem que ela não pode chegar a tão alto grau de reflexão; aquela que julgasse cómico o amor (usurpando assim o privilégio dos deuses e dos homens; porque é ela, mulher, por natureza a tentação que os incita a tornarem-se ridículos) trairia por isso inquietadores conhecimentos prévios, e seria portanto a pessoa menos apta para me compreender; aquela que concebesse o meu receio teria por isso perdido a amabilidade que era o seu encanto, sem que por isso ficasse apta para compreender; de um ou de outro modo, a mulher seria aniquilada, o que eu não sou nem serei enquanto tiver o meu pensamento para a minha salvação.»
Se há coisa que pode ser gabada a Silvio Berlusconi é o facto de não esconder que gosta de mulheres. Antes que apareçam por aí os falsos moralistas do costume, importa sublinhar que este subtil olhar que deitou à PM dinamarquesa é algo que todos os homens fazem todos os dias, dezenas de vezes por dia. É da natureza masculina, vem inscrito no nosso código genético, não há nada a fazer. Inveja terá Merkel por ele não lhe deitar olhares semelhantes.
Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser:
«Os homens que têm a mania das mulheres dividem-se facilmente em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres a ideia que eles próprios têm da mulher tal como ela lhes aparece em sonhos, o que é algo de subjectivo e sempre igual. Aos outros, move-os o desejo de se apoderarem da infinita diversidade do mundo feminino objectivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os fez andas de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma espécie de desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a sua perseverante poligamia.
A outra obsessão é uma obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjectivo, tudo tem interesse e nada pode desiludi-lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela ilusão).»
A Isabel Moreira escreveu um post tão curto quanto assertivo:
Quando os homens de direita odeiam as mulheres de esquerda, essas ateias histéricas, malucas, amigas dos paneleiros, odeiam mesmo essas mulheres ou o desejo doentio que têm por elas?
É um post que é todo ele um estereótipo, é verdade. É uma generalização ambiciosa e arriscada, também é verdade. Mas lá que tem um fundo de verdade, também me parece ser razoável. Digo-o por experiência pessoal. De resto, na mesma linha de generalização, podem-se fazer variações do mesmo:
Os homens de esquerda, jacobinos cheios de idealismos bacocos e amanhãs que cantam, odeiam as mulheres de direita, betinhas ou beatas devotas ou o desejo doentio que têm por elas, ou seja, por lhes estragar a pose toda e os valores que eles detestam?
As mulheres de esquerda, ateias ou não, feministas ou não, histéricas ou não, amigas dos gays ou não, seja lá o que for, odeiam mesmo os homens de direita ou o desejo doentio que têm por eles, ou seja, por dominá-los e subjugar os seus valores que elas vêem como conservadores, machistas e/ou patriarcais?
E por último, a minha variação favorita, as mulheres de direita odeiam mesmo os homens de esquerda ou o desejo doentio que têm de lhes dar um banho, cortar-lhes o cabelo, fazer-lhes a barba e vesti-los decentemente?
Confesso que por estes dias pouco me dedico a ler blogs. Quer seja porque não tenho paciência para os infidáveis chorrilhos de lugares comuns tão característicos dos períodos eleitorais, quer porque tenho mesmo demasiadas ocupações por agora. Mas se há blog que faz as minhas delícias e sem o qual não passo é mesmo o Mátria Minha, ora vejam:
Eugénia de Vasconcellos, who else?
(foto roubada à Eugénia a quem prometo responder brevemente apesar de não ter uma única peça de vestuário rosa)
Bravíssimo caro confrade João Marchante:
UMA QUESTÃO DE CLASSE
Há mulheres arrogantes. Mas só as senhoras são altivas. E a distância que vai entre umas e outras é todo um mundo.
... eu vou ali lançar-me da Ponte 25 de Abril, porque realmente eu não consigo compreender as mulheres:
Isto não pode ser verdade, só eu sozinho seria capaz de escrever um compêndio ou uma enciclopédia sobre como praticar o que a Sofia refere. E das vezes que o fiz nunca deu resultado. Se há algo que aprendi, é que as mulheres preferem os que não o fazem. E já agora, a quem achar piada, leiam sobre a Teoria da Escada. É algo muito realista, porventura algo machista, mas que tem muito fundo de verdade. Oh se tem...
Tendo estudado muito brevemente a aplicação de alguns modelos da teoria dos jogos à política e relações internacionais, fiquei agora a conhecer esta aplicação realmente inovadora (nota: paquera significa cortejo):
Teoria dos jogos explica por que paqueras são demoradas
Fêmeas usam o tempo para isolar os machos 'ruins', já que os 'bons' se dispõem a esperar, diz estudo
(imagem picada daqui)
SÃO PAULO - Cientistas criaram um modelo matemático do jogo de acasalamento que ajuda a explicar por que o cortejo é, frequentemente, um processo demorado. O estudo, de pesquisadores do University College London (UCL), Universidade de Warwick e da London School of Economics and Political Science (LSE) mostra que uma paquera prolongada permite que o macho mostre sua adequação à fêmea, que a fêmea discrimine os machos inadequados.
Química do amor logo não terá mais segredos, diz cientista
Gene condiciona comportamento social em macacos e humanos
A pesquisa, publicada na revista especializada Journal of Theoretical Biology, usa teoria dos jogos para analisar como machos e fêmeas se comportam estrategicamente no jogo do acasalamento. O modelo matemático considera um macho e uma fêmea em um encontro de cortejo, e o jogo termina quando um dos dois desiste ou a fêmea aceita acasalar. O modelo pressupõe que o macho é "bom" ou "ruim", do ponto de vista da fêmea, e que ela está interessada em aceitar o "bom" e rejeitar o "ruim". Já o macho ganha pontos se conseguir acasalar com qualquer fêmea, mas recebe mais se for "bom".
O estudo buscou comportamentos de equilíbrio estável, no qual as fêmeas se o melhor possível contra o comportamento masculino e os machos, o melhor possível contra o comportamento feminino. Ele mostrou que uma paquera demorada pode acontecer, com um macho "bom" dispondo-se a fazer a corte por um período mais prolongado que um macho "ruim", e com a fêmea adiando o acasalamento.
Desse modo, a duração da paquera dá à fêmea informação sobre a qualidade do macho e, ao adiar o acasalamento, ela ganha a oportunidade de obter e usar essa informação.
O matemático Robert Seymour, do UCL, diz que "ao adiar o acasalamento, a fêmea é capaz de reduzir o risco de ficar com um macho ruim". Ela lembra que, na espécie humana, o cortejo pode envolver um grande número de jantares, ida a espetáculos e outros programas, que pode durar meses ou anos.
"Um dos parceiros, frequentemente o macho, arca com a maior parte do custo financeiro, mas ambos pagam um custo em tempo, que poderia estar sendo usado de forma mais produtiva", explica. Por que as pessoas, e outros animais, não aceleram as coisas? A resposta parece ser o fato de que o cortejo longo ajuda a fêmea a obter informação sobre o macho".
O professor Peter Sozou, outro participante do estudo, diz que a solução encontrada pela fêmea é um "ajuste" entre o risco de acasalar com um macho "ruim" e o custo do tempo perdido durante o cortejo. "O problema estratégico da fêmea é como discriminar e isolar os machos ruins", afirma.