Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Todos os dias deito os olhos aos jornais online não procurando necessariamente escorregadelas ou entaladelas do Partido Socialista (PS). Digamos que, genericamente, um opinion maker não pode ser um opinion faker. As colunas de opinião ou posts resultam dos factos que são apresentados. Sim, é importante confirmar se os factos são credíveis e dignos de nota. O PS, que é uma espécie de amnistia política dos pecados dos outros, acaba por ser vítima do seu sucesso moralista, da sua alegada superioridade ideológica - da tal Esquerda que dizem lhes pertencer. Esta história dos sapos à porta da sede do PS é mais um desses casos sórdidos de "somos ecuménicos, mas não exagerem". Bem me parecia que a representatividade da comunidade cigana era escassa. Portugal tem apenas um presidente de câmara de etnia cigana - de Torres Vedras, se não me engano. As 200 pessoas de etnia cigana, que estão à espera para ver se são aceites como militantes do PS, pelos vistos estão a ser barradas na secretaria. É curioso que quando a música lhes convém, o PS escancara as portas do Largo do Rato, prescindindo de elementos de identificação a independentes, banhando-os com toda a espécie de privilégios e mordomias de partido democrático e multi-cultural. Os socialistas não usam a expressão "arrastão" para retratar o pedido de adesão "dessa" gente, mas usam alguns mecanismos burocráticos para controlar as fronteiras do seu partido. Não sei se existe uma Comissão para a Igualdade do Género Político, mas estamos diante de um caso de discriminação, camuflado por formulários e preceitos. O PS tem medo que de repente "alguns" camaradas seus assentem arraial, vestidos de preto da cabeça aos pés e com a barba rija para dar luta nas diversas comissões políticas do partido. No entanto, a nota oficial do PS é esta: "Sempre que acontecem estas situações de entrada de fichas em massa, os serviços do partido têm de averiguar moradas, identidades e outros aspetos de legalidade. Esta é uma prática habitual e nada tem a ver com qualquer questão étnica relativa aos requerentes". Sem comentários.
Foto: jornal Público
Roger Scruton, How to Be a Conservative (London: Bloomsbury Publishing Plc, 2014), 90-92:
Once we distinguish race and culture, the way is open to acknowledge that not all cultures are equally admirable, and that not all cultures can exist comfortably side by side. To deny this is to forgo the very possibility of moral judgement, and therefore to deny the fundamental experience of community. It is precisely this that has caused the multiculturalists to hesitate. It is culture, not nature, that tells a family that their daughter who has fallen in love outside the permitted circle must be killed, that girls must undergo genital mutilation if they are to be respectable, that the infidel must be destroyed when Allah commands it. You can read about those things and think they belong to the pre-history of our world. But when suddenly they are happening in your midst, you are apt to wake up to the truth about the culture that advocates them. You are apt to say, that is not our culture, and it has no business here. And you will probably be tempted to go one stage further, the stage that the Enlightenment naturally invites, and to say that it has no business anywhere.
For what is brought home to us, through painful experiences that we might have avoided had it been permitted before now to say the truth, is that we, like everyone else, depend upon a shared culture for our security, our prosperity and our freedom to be. We don’t require everyone to have the same faith, to lead the same kind of family life or to participate in the same festivals. But we have a shared civic culture, a shared language and a shared public sphere. Our societies are built upon the Judaeo-Christian ideal of neighbour-love, according to which strangers and intimates deserve equal concern. They require each of us to respect the freedom and sovereignty of every person, and to acknowledge the threshold of privacy beyond which it is a trespass to go unless invited. Our societies depend upon law-abidingness and open contracts, and they reinforce these things through the educational traditions that have shaped our common curriculum. It is not an arbitrary cultural imperialism that leads us to value Greek philosophy and literature, the Hebrew Bible, Roman law, and the medieval epics and romances and to teach these things in our schools. They are ours in just the way that the legal order and the political institutions are ours: they form part of what made us, and convey the message that it is right to be what we are. And reason endorses these things, and tells us that our civic culture is not just a parochial possession of inward-looking communities, but a justified way of life.
Over time, immigrants can come to share these things with us: the experience of America bears ample witness to this. And they more easily do so when they recognize that, in any meaningful sense of the word, our culture is also a multi-culture, incorporating elements absorbed in ancient times from all around the Mediterranean basin and in modern times from the adventures of European traders and explorers across the world. But this kaleidoscopic culture is still one thing, with a set of inviolable principles at its core; and it is the source of social cohesion across Europe and America. Our culture allows for a great range of ways of life; it enables people to privatize their religion and their family customs, while still belonging to the public realm of open dealings and shared allegiance. For it defines that public realm in legal and territorial terms, and not in terms of creed or kinship.
So what happens when people whose identity is fixed by creed or kinship immigrate into places settled by Western culture? The activists say that we must make room for them, and that we do this by relinquishing the space in which their culture can flourish. Our political class has at last recognized that this is a recipe for disaster, and that we can welcome immigrants only if we welcome them into our culture, and not beside or against it. But that means telling them to accept rules, customs and procedures that may be alien to their old way of life. Is this an injustice? I do not think that it is. If immigrants come it is because they gain by doing so. It is therefore reasonable to remind them that there is also a cost. Only now, however, is our political class prepared to say so, and to insist that cost be paid.
Algumas das candidatas a Miss Universo 2012:
Sara Nicole Andersen
Miss Noruega
Laura Beyne
Miss Bélgica
Sara Yasmina Chafak
Miss Finlândia
Adwoa Yamoah
Miss Canadá
(Sugestão musical para acompanhar a leitura deste texto)
Inspirado pelo meu post, o Filipe Faria escreveu um excelente texto, cuja leitura é indispensável, em que ele, como bom português à solta, observando directamente a realidade britânica contemporânea, onde o multiculturalismo coloca em risco as tradições culturais e políticas da Inglaterra, nos revela, entre várias ideias, esta: "Conhecendo bem a realidade de ambos os países, neste momento arrisco dizer que Portugal usufrui de uma maior liberdade de expressão."
Neste texto, o Filipe coloca em causa a defesa da democracia por Hayek, que se insere na tradição anglo-saxónica do liberalismo clássico, como forma de limitar o governo, consubstanciada na observação que faz do que se passa no Reino Unido. Mas Hayek estava alerta para os perigos advindos da miragem da justiça social (e do alargamento dos poderes do estado ao abrigo deste, como fiz notar no ponto 4 do meu post "Equívocos a respeito do liberalismo"), das coligações de interesses organizados que negoceiam com e sustentam os partidos políticos, e do positivismo legalista - que confunde a lei (Direito Natural) com legislação, em detrimento da primeira -, cujos efeitos combinados denomina por perversão democrática.
Assim como estão vários autores britânicos, como John Gray e Roger Scruton, que entre o liberalismo e o conservadorismo, com destaque para a inspiração em Hayek e Oakeshott, alertam para os perigos destas acepções modernas. Permitindo-me fazer corresponder a ordem espontânea de Hayek à civil association de Oakeshott, e a ordem de organização à enterprise association, e sabendo que os elementos dos dois tipos de ordem ou de associação se misturam na prática, podendo ser encontrados em vários estados, torna-se útil salientar que para Oakeshott a civil association não necessita de ser culturalmente homogénea mas apenas respeitar a lei acima da identidade cultural, ou seja, a comunidade deverá fundamentar-se no respeito a princípios abstractos e formais. Acontece que, segundo Gray, esta acepção kantiana é profundamente questionável e um calcanhar de Aquiles para o liberalismo e para o conservadorismo. A História recente mostra como é difícil que o estado sustente a sua autoridade apenas sob concepções de lei formais, abstractas e processuais, que assim se torna fragmentada e fraca. Esta ideia surgiu numa altura em que a identidade cultural era dada como garantida, quer por Kant quer pelos Founding Fathers americanos, sendo a identidade em causa a da Cristandade Europeia. Com o Iluminismo francês, a Revolução Francesa e a fragmentação desta identidade, tornou-se mais fraca a autoridade do estado com base em concepções abstractas (veja-se precisamente o caso do Reino Unido, com comunidades muçulmanas que desafiam constantemente o estado e rejeitam as normas tácitas de tolerância características dos britânicos, ou ainda o caso dos EUA, em que uma horda de minorias vai progressivamente tornando o estado cativo, tendo apenas o legalismo a uni-las)[1]. Roger Scruton assinala esta fraqueza e os seus reflexos práticos sob a denominação de falácia da agregação, em que dando o exemplo do Reino Unido evidencia como o multiculturalismo e o Estado Social se combinam de uma forma que é potencialmente destrutiva para a comunidade[2]. E também Hayek faz notar que a modernidade produziu um enquadramento que é altamente destrutivo das tradições intelectuais e morais europeias, que através do racionalismo construtivista e do relativismo produz morais inviáveis, ou seja, sistemas de pensamento moral incapazes de sustentar qualquer ordem social estável, que através de teorizações sociológicas contemporâneas e da corrupção da arquitectura e das artes (como Scruton e Gray demonstram) criam um clima cultural que é profundamente hostil à tradição e também à sua própria existência. Confrontamo-nos, assim, com uma cultura que tem ódio à sua própria identidade, tornando-se, em larga medida, efémera e provisória.[3]
Inspirados pelo Projecto Iluminista, os autores modernos e pós-modernos desenvolveram um caos moral, em que o abuso da razão, o objectivismo e o relativismo criaram um ambiente cultural, social e intelectual que é inimigo da tradição. Ao proporem ancorar a moralidade no racionalismo, o positivismo, o cientismo, o historicismo e o cepticismo conduziram naturalmente ao niilismo, construtivismo e planeamento social, e, consequentemente, ao utilitarismo e emotivismo. A rejeição de qualquer tipo de instituição ou código de comportamento que não seja racionalmente justificado parece ser uma característica distintiva da modernidade[4], o que talvez possa ajudar a explicar o que se passa no Reino Unido, já que os costumes britânicos são completamente postos em causa por este quadro.
Por outro lado, esta discussão relembrou-me um texto que escrevi por altura dos motins em Inglaterra em Agosto de 2011, e de várias discussões que surgiram na blogosfera sobre estes, em que às tantas o Bruno Garschagen colocou uma hipótese que me parece particularmente útil recuperar, e que vai no sentido do pensamento de Scruton a que aludi acima: Os criminosos de Londres são filhos do Welfare State e do multiculturalismo? Não se encontrará aqui também parte da explicação para o que se passa em Inglaterra? E mais, daqui lanço o repto ao caríssimo Filipe, caso ache(s) por bem, de elaborar(es) sobre algo que conhece(s) muito bem (ao contrário de mim), a Escola de Frankfurt, que em larga medida se faz sentir na academia britânica, e de nos ajudar(es) a perceber se e de que forma as ideias desta não são também em grande parte responsáveis por este ambiente.
Só para finalizar, quanto a Hayek, este propôs uma reforma das instituições democráticas em Law, Legislation and Liberty. Para além de demonstrar a vacuidade do conceito de justiça social, para tentar recuperar e/ou evitar a confusão entre lei e legislação e os efeitos nefastos do positivismo legalista, propõe que os parlamentos sejam compostos por duas câmaras, em que uma trataria da lei (as regras de justa conduta da ordem espontânea, descobertas e em linha com a opinião pública), e outra da legislação (correspondente aos comandos específicos da ordem de organização, ou seja, à noção de vontade), o que seria complementado por um Tribunal Constitucional que teria como missão evitar a confusão entre lei e legislação, para que as duas assembleias não entrem em conflito relativamente às suas respectivas competências. Até que ponto isto será praticável, não sei. Mas fica a sugestão.
[1] John Gray, “Oakeshott as a liberal”, in John Gray, Gray’s Anatomy, Londres, Penguin Books, 2009, pp. 83-84.
[2] Roger Scruton, As Vantagens do Pessismismo, Lisboa, Quetzal, 2011, pp. 151-163.
[3] John Gray, “Hayek as a Conservative”, in John Gray, Gray’s Anatomy, op. cit., p. 131.
[4] Edward Feser, “Hayek on Tradition”, in Journal of Libertarian Studies, Vol. 17, No. 1, 2003, p. 17.
Um excelente artigo de Rui Moreira, "A atracção fatal", de que aqui deixo alguns parágrafos:
«A tentativa, por parte dos defensores do multiculturalismo, de acusar os conservadores de cumplicidade na tragédia de Oslo, não é de todo justificada, e ignora os ventos que se fazem sentir pela Europa. Em Inglaterra, onde está em curso uma campanha para transformar várias cidades em estados islâmicos independentes em que a única lei que vigorará será a Sharia, começa a haver uma forte reacção à islamização descontrolada dos costumes.
Ora, se a Europa não tiver a coragem de exigir que as suas leis sejam acatadas por todos, se não exigir que a sua identidade cultural seja respeitada, se permitir que a sua tolerância seja abusada, o recrudescimento do nacionalismo será inevitável. E a partir desse momento será cada vez maior o perigo de se ultrapassarem as barreiras que separam sentimento nobres e elevados, como os de pertença a um país e a uma cultura, e de virem a revelar formas bem pouco dignas de xenofobia e de racismo facilmente conducentes a revoltas e a mais actos de terrorismo.»
Via O Insurgente, um excelente artigo de Gary North, de que destaco o seguinte:
Understand what has happened in 2011 in Great Britain. This is not social revolution. There is no list of grievances. There are no spokesmen. This is well-organized banditry. This is the most dangerous of all mobs: one without a leader to negotiate with or arrest.
Why the riots? The Left's party line never changes: not enough jobs, not enough state welfare. You can read it here. The article says the riots may be coming to the United States. I thoroughly agree.
I have a different analysis regarding the causes. First, there is state-funded education, k-12 (or dropping out). Second, there are minimum wage laws, which hit black teenage males most of all. Third, there is a complete breakdown of families, subsidized by state welfare. Fourth, there is envy. Fifth, there is jealousy. Sixth, the cost of organizing violence is falling steadily. The fun and excitement of violence are tempting to young men with no roots and no fathers at home. When you have a falling price for a forbidden fruit, you get riots. Combine it with racial hatred and a life of envy, and you get riots.
The jealous steal. The envious burn. They're already in a city near you.
There will be an incident. There always is.
There may be a riot. If there is, governments will react. Freedoms will be removed. Voters will cheer.
Violence feeds on itself.
(Fotografia do Telegraph)
É curioso assistir ao debate ideológico quanto aos distúrbios em Londres. A maior parte dos analistas não vai além da superfície nem se apercebe que o seu quadro explicativo está pelo menos ultrapassado, se não mesmo errado, distorcendo a realidade para que esta se possa encaixar nas suas lentes redutoras e interpretações guiadas por motivos de carácter pessoal e agendas políticas pouco escondidas, para que se possam justificar as teorias baseadas no mito do bom selvagem e na falácia do nascido livre.
Ler John Gray (“Gray’s Anatomy”, que referi, por exemplo, aqui) e Roger Scruton (“As Vantagens do Pessimismo”) ajuda a perceber o que se está a passar, especialmente este último, que no capítulo intitulado precisamente “A falácia do nascido livre” evidencia a degenerescência do sistema educacional britânico, fruto da sujeição às progressistas teorias do eduquês, onde o professor não é professor, não lhe competindo transmitir conhecimento e muito menos valores éticos, mas simplesmente ser amigo e compreensivo para com as expressões individuais dos alunos, como se estes não tivessem que ser enquadrados pela sociedade, devendo ser esta a curvar-se perante os seus caprichos.
Obviamente que, juntando a isto a guetização social promovida pela social-democracia, esta é a receita perfeita para criar indivíduos que vivem mentalmente à margem da sociedade, não acolhendo os valores desta e desrespeitando-a sem qualquer pudor. Não deixa de ser paradoxal, como Scruton assinala, que os valores liberais fossem responsáveis por um sistema de educação que promovia verdadeiramente a tão propalada igualdade de oportunidades – ele próprio exemplo disso, sendo de origens humildes, tendo frequentado um liceu público e conseguido entrar na Universidade de Cambridge –, ao passo que as modernas teorias progressistas, quando acolhidas no sistema educacional britânico, foram a pedra de toque para a degenerescência deste, que fica bem patente naquele que é o melhor texto que li até ao momento sobre o assunto.
Entre a violência inerente ao Homem em que os pessimistas antropológicos crêem, o hobbesiano estado de natureza onde a violência e o desrespeito pela propriedade privada e alheia são a regra, e a teorização de Le Bon e Freud sobre as multidões, talvez a explicação para o que se passa em Londres seja mais simples do que crêem as esquerdistas teorias sociológicas de literatura de justificação, que nem chegam a ser de explicação mas apenas de desculpabilização – as mesmas que são responsáveis pela já referida degenerescência do sistema educacional, pelo relativismo moral, fragmentação ética e desrespeito pela autoridade.
Recordo as aulas do meu primeiro ano de licenciatura, quando aprendi que Le Bon e Freud explicaram que nas multidões acontece uma perda de discernimento e da vontade própria individual, dissolvendo-se os indivíduos numa massa, acabando estes por regredir até um estado mental primitivo onde predomina o inconsciente, que permite aceitar sem entraves as ideias que passam dos líderes para a massa. Freud explica este processo pela regressão da libido, em que cada indivíduo acaba por estar relacionado com os outros através de laços libidinais. A massa adquire desta forma um sentimento de invencibilidade, precisamente pela regressão mental que ocorre, sendo extremamente sugestionável, pelo que tão facilmente pode ser heróica quanto criminosa.
As teorias esquerdistas que pretendem explicar fenómenos como os de Londres centram-se em generalizações assentes no descontentamento social gerado pela exploração do indivíduo pela sociedade capitalista, como se cada indivíduo pudesse ser reduzido a um perfil assente em meia dúzia de traços de carácter e introduzido num grupo composto por outros indivíduos com experiências pessoais idênticas, perfis similares e, derivado disto, propósitos comuns e bem definidos, ou seja, uma ordem de organização. Mas aquilo a que assistimos é a uma ordem espontânea de violência e pilhagem, onde há perfis individuais muito diversos e onde não há uma causa, um propósito comum bem definido para o qual todos os elementos da ordem trabalham, mas apenas um objectivo abstracto que pode nem se encontrar articulado e explícito na mente de muitos dos indivíduos que compõem a massa: desafiar a autoridade do Estado. O que se observa são indivíduos que se consideram na liberdade de fazer tudo (a falácia do nascido livre), destruindo e pilhando propriedade alheia, acabando esta ordem espontânea por reconciliar os propósitos isolados de cada um deles. Uns roubam produtos electrónicos, outros roubam cosméticos, outros obrigam quem se lhes atravesse no caminho a despir-se e roubam as roupas. Outros há que preferem descarregar a sua fúria nos agentes policiais, nos carros que encontram e nas montras, partindo tudo. No meio disto, a desculpa de que a violência foi gerada pela morte de um criminoso às mãos da polícia, apresenta-se como muito fraca e mesmo inválida se pensarmos que Londres é uma cidade com um elevado grau de criminalidade, onde diariamente ocorrem homicídios.
Por outro lado, muitos, em especial à direita, preferem apontar o multiculturalismo como estando na origem deste fenómeno, proclamando o seu fim. Na minha modesta opinião, parece-me precisamente o contrário e que, aliás, estamos perante um triunfo do multiculturalismo. É curioso que observemos jovens brancos e pretos juntos nestes distúrbios a destruírem indiferenciadamente as montras que lhes aparecem pela frente, de onde não escapam, por exemplo, as lojas de indianos. Por outro lado, vemos também indivíduos das mais diversas etnias juntos em operações de limpeza da cidade. Julgo, por isso, que o multiculturalismo não é tido nem achado neste fenómeno, a não ser para evidenciar o seu triunfo. Neste caso, o multiculturalismo não explica as clivagens e a violência, que também apenas em parte podem ser explicadas em virtude das condições sociais e falta de perspectivas de emprego. Se é certo que alguns destes jovens terão razões para tal, também é certo que adolescentes de 13 ou 14 anos não têm qualquer consciência sobre isto, assim como muitos dos participantes que já foram detidos são estudantes universitários ou até já têm emprego.
Resumindo e finalizando, talvez as teorias explicativas clássicas, à esquerda à direita, com as suas generalizações não aplicáveis neste caso, estejam desactualizadas e não nos permitam explicar e compreender de forma significativa o fenómeno dos tumultos em Inglaterra. Trata-se apenas de uma amálgama de jovens que se sentem invencíveis e cheios de adrenalina ao desafiar a autoridade do Estado e violar e pilhar a propriedade privada e pública, o que é um sub-produto do relativismo moral que se apoderou do sistema educacional, da demissão dos pais do processo de inculcamento dos valores da sociedade nos filhos e da guetização. David Cameron tem uma excelente oportunidade para mostrar do que é feito e enviar uma forte mensagem a todo o Ocidente. Aguardemos para ver as cenas dos próximos capítulos.
John Gray, "A Conservative Disposition", in Gray's Anatomy, pp. 149-151:
Whereas opinions may legitimately differ as to the best mode of provision, the duty of government to set and inspect national standards in schooling is beyond reasonable doubt. It may be true that, when British culture was far more homogeneous in its traditions and ways of life, curricular choice could be safely left to the tacit understandings of headteachers and staff. With the advent of mass immigration and other species of cultural diversity, a national curriculum, or something like it, is a manifest necessity. Current proposals are far from being the best that can be conceived in that, as Sheila Lawlor has shown, they give insufficient priority to a core curriculum comprising English, mathematics and science. It is the inculcation of such skills of numeracy, literacy (in the English language), and scientific thinking that is the proper aim of any national curriculum.
There are clear implications for the issue of multiculturalism in this conclusion. Cultural minorities, such as the British Muslims, have an undeniable entitlement to government funding for their schools, if only on grounds of equity given the current practice in regard to Catholics and Jews. Along with every other school ought to receive such subsidy only if it conforms to a streamlined national curriculum by teaching the basic skills to all of its pupils, both male and female. In Britain, it is taken for granted (even if the realities often fail to match this expectation) that opportunities for men and women, whether as children at school or later in life, be the same. The form of life that is inherited today, with all of its many variations, confers upon men and women the same responsibilities and opportunities. With regard to schooling, it follows from this that conservative governments cannot endorse, by subsidy or otherwise, schools that deny this equality of opportunity to the sexes. This is but one of the important limits on cultural diversity that any government which is committed to the protection of civil society is bound to impose.
It expresses a deeper and less fashionable truth. Cultural minorities, whether indigenous or immigrant in origin, cannot expect public subsidy for aspects of their ways of life which flout the central norms of liberal civil society. They are entitled to protection from forms of discrimination which deny them full participation in the common life. They cannot justifyably claim privileges or immunities of the sort enshrined in policies of affirmative action and of group rights, which effectively shield them from the healthy pressures of the larger society. Although it is to be hoped that cultural minorities in Britain will retain many aspects of their traditions, including traditions of hard work and family stability in which many recent immigrants excel over the indigenous population, civil peace in the kingdom depends on their integration into the civil society that enables them to live in freedom. The lessons of states which have allowed unrestricted immigration of incompatible minorities or which have inherited profound ethnic divisions, are sobering and indeed ominous for liberals who indulge the dangerous fantasy that civil peace can be maintained solely by obedience to common rules. History and the news of the day suggest otherwise: that pluralism must be bound by the norms and the common culture of civil society. Pluralism must have such limits, or else Beirut will be the likely fate.
The American experience, in which the courts (now virtually the only effective agents of policy-making in America) have been hijacked by ethnic and other special interests, illustrates vividly the dangers of pluralist societies that only legalism holds together. It intimates the hard truth that a multiracial society, if it is to be peaceful and free, cannot also be radically multicultural. In particular, entry into civil society in Britain presupposes subscription to its norms, among which toleration, voluntary association and equality before the law are uppermost in importance. It must be made plain by any conservative government that cultural diversity cannot mean the subordination of women in state-funded schools, or (as in the Rushdie case) toleration of threats which in endanger freedom of expression. The common culture to which people aspire is that culture of liberty which animates a civil society. This common culture may be reinforced by laws and policies which resist pluralism when pluralism threatens the norms of civil society itself. A civil society such as in Britain is entitled to assert its identity against those - be they recent immigrants or long-established indigenous groups - who challenge its central, defining practices of toleration and compromise. It is, indeed, these practices that set the limit to pluralism in Britain today.
The pursuit of a delusive organic community distracts frm the humbler but indispensable task of filling out that thinner common culture of respect for civil society that presently enables people to coexist in peace. Building up that common culture, in turn, effectively enfranchises all people as active citizens in a polity to which everyone can profess allegiance. A conservative policy, rightly conceived, is not one which seeks to renew old traditions by deliberate contrivance; it is one which nurtures the common traditions that are currently shared, while respecting the variety of practices whereby they are held in common.