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Sobre a pintura do mural numa escola do Porto e a detenção dos artistas há muitas questões que devem ser inscritas na parede. Em primeiro lugar, a arte produzida era assim tão má? O muro em questão é propriedade pública ou pertence a uma galeria de arte? Os pintores foram contratados, trabalhavam a recibos verdes ou realizavam um biscate? Os contornos ideológicos têm importância, mas não necessariamente por opôr a juventude comunista ao governo. Os murais produzidos pelo partido comunista português ao longo das últimas décadas, foram quase sempre dos mais criativos (ok, repetiam muitas vezes imagens do foice e do martelo), mas não é isso que está em causa. Se de facto o referido muro pertence a todos os portugueses, e se aceitarmos a violação desse espaço em nome da liberdade de expressão, então teríamos de aceitar graffiti em todos os domínios públicos. Mas há zonas cinzentas que não podem ser ignoradas. Uma mensagem de protesto inscrita na areia da praia com um pauzinho de um gelado Supermaxi constitui transgressão do domínio público?Uma avioneta que rasga os céus atrelando uma mensagem de propaganda não estará a fazer uso do espaço aéreo para fins específicos que não interessam ao menino Jesus? Ou seja, em princípio, a expressão geográfica do país é passível de ser entendida como uma gigante ardósia para mandar recados. Se o tal muro pertence à escola então deve obedecer ao princípio consagrado na constituição, à separação da escola da política, do dogma ou da religião. Se a escola autorizou a inscrição de arte comunista, deveria atribuir a outras minorias uma parte desse direito, um talhão dessa parede. Aos ciganos, aos deficientes, aos muçulmanos, aos hindus, aos lojistas chineses e aos clubes de futebol. É esse o princípio que está em causa e nunca o facto de ser uma mensagem de contestação política que por acaso opõe os comunistas ao governo. O espaço público, embora geneticamente seja uma amálgama de posições politicamente contrastantes, na minha opinião, não pode ser apropriado por uma qualquer hierarquia. Se a escola autorizou o uso do muro para fins ideológicos ou políticos, serão os membros do conselho directivo que devem ser interrogados pelas autoridades. Se alguém trespassasse a sua propriedade privada e escrevesse insultos no muro que divide o seu quintal do jardim do vizinho, aposto que ficaria chateado e que chamaria a polícia? E se apanhasse em flagrante os autores ainda mais contente ficava. Embora não tenha escutado o Mário Nogueira a esse propósito ou outro dirigente sindical, cuja matéria-prima com que lidam são escolas, parece que houve conluio da parte do estabelecimento de ensino. A escola alegadamente terá autorizado a primeira demão. Ou será que foi um trabalho nocturno, feito às escuras? O facto de terem sido muralistas da juventude comunista a serem apanhados é uma questão secundária. Sem dúvida que o filme é perfeito para fazer má figura do governo. Mas sejamos sinceros, o governo já estalou o verniz há muito tempo. Não precisava de algemar estes alunos de belas artes para estragar ainda mais a sua maquilhagem.