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O vício do Poder

por João Pinto Bastos, em 30.12.12

Goya, Saturno devorando a su hijo, 1819-1823

A minha parca experiência tem-me feito ver que Kissinger estava parcialmente correcto quanto à natureza do Poder. Mais do que um afrodisíaco, o Poder é a arte da perversão, o vício que corrompe todos aqueles que nele se acoitam. Há quem recuse os prazeres voluptuosos da sensação de mando, alguns, bem poucos, fazem-no, mas a grande maioria sucumbe às delícias da possibilidade de mandar, triturando, amiúde, os próprios companheiros. Goya, para dar um pequenino exemplo, descreveu, com uma precisão inaudita, numa das suas Pinturas Negras ("Saturno devorando su hijo"), a cupidez do Poder, que devora, infalivelmente, os seus mais fiéis servidores. Mas foi Napoleão quem, de certo modo, resumiu bem a coisa ao dizer que "ser grande é ser limitado". O Homem não tem noção da sua pequenez, assim como da cupidez que anima os seus gestos, pelo que encara, comummente, o Poder como o campo por excelência do absolutismo das vontades. Perde ele e perdem todos. Com o Homem, o poder deve ser limitado porque a natureza humana é, naturalmente, cúpida e ambiciosa. O corso, para não variar, tinha razão.

publicado às 15:19

Um Cavaco napoleanizado

por João Pinto Bastos, em 21.11.12

Jacques-Louis David, O Imperador Napoleão 

 

De tudo o que Napoleão disse há uma frase que cai que nem uma luva ao nosso empertigado Presidente da República. Dizia o "Usurpador" que a História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo. Cavaco levou muito a peito esta máxima, pois só assim se compreende o porquê de o faustoso Presidente ter afirmado que é necessário ultrapassar o estigma que nos afastou do mar, da agricultura e da indústria. De certo modo, Cavaco entende que o povo português encara como um fait accompli a tese de que os seus zelosos Governos não tiveram rigorosamente nada a ver com o declínio da economia produtiva produzido no rescaldo da adesão à então CEE. Por outras palavras, Cavaco julga-nos a todos - sim, todos nós - uma cambada de tolos apoucados. Já sabíamos que Cavaco não tem, propriamente, uma propensão particular pela verdade factual, na verdade foi sempre apanágio do actual Presidente desta República bananeira a admiração, desusada e incomum, pela torção dos factos. O que não sabíamos, nem era sequer do domínio público, e aqui confesso a minha honesta surpresa, é que o mandarim de Boliqueime tem uma veia napoleónica. A sua vida política, trivialmente "napoleanizada", é uma ampla colecção de tesourinhos deprimentes, tristemente desdobrados num torpe abanico de mentiras e omissões. Mas já que o nosso Presidente gosta de seguir as máximas do "Corso", talvez não lhe fizesse nada mal copiar o melhor de Napoleão, designadamente, a audácia e a coragem políticas do grande chefe francês. Mas isto já é pedir muito, não é?

 

publicado às 16:27






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