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Não tenho a certeza se este é o momento certo ou errado para colocar a hipótese em cima da mesa. Mas não resisti a arrastar para este espaço um conceito que começa a ganhar forma no país da inovação e dos sonhos - na terra do Uncle Sam. Os cortes nas pensões e outras tarifas contributivas que agora assolam Portugal, não correspondem aos desígnios traçados na seguinte proposta, por não serem opções voluntárias. Foram governos que decidiram o rumo a seguir, a bem ou a mal. O que eu trago a lume é algo distinto na sua acepção filosófica. Refiro-me aos "pobres intencionais" que começam a brotar em diferentes nichos do império americano que se encontra em inegável queda económica e social. Viver num buraco passou a ser um estilo de vida muito diferente daquele a que estamos habituados. Não há nada de degradante nesta forma de vida - segundo os próprios. Aliás, para os praticantes, significa viver com mais qualidade e liberdade do que ser escravo da próxima prestação da casa. O que está a acontecer, e que está bem patente nestes exemplos, relaciona-se com a tomada de consciência de que a precariedade material pode ser considerada uma vantagem. Em vez de adicionar encargos, estes cidadãos prescindem dos confortos da vida moderna, e realizam uma viagem profundamente filosófica - imaterial, mas terrena. Sei que o actual ambiente de grande consternação social mexe com a sensibilidade de tanta gente caída por terra, mas isto constitui um indício de uma nova ordem civilizacional alicerçada num conceito de realização e felicidade que colide com a extravagância esbanjadora dos nossos tempos. Aqui não se trata do cliché de "amor e uma cabana", a visão romantizada em ficção, a poesia conveniente plantada por um certo imaginário idílico. Nestes casos lida-se com a crueza elementar da natureza e o grau de suficiência que deve pautar as nossas vidas. Viver com pouco mais de três mil e quinhentos euros por ano parece ser um duro teste de sobrevivência - quando esta situação não resulta de uma escolha livre e idealista. Certamente que em Portugal existem centenas de milhar de cidadãos que vivem com esse rendimento anual, enquanto outros nem por isso. E é aqui que reside a injustiça - o confronto entre a filosofia de uns e as contas da electricidade de outros. No final da história, e apesar das palavras, ficaremos todos às escuras.
G. K. Chesterton, Disparates do Mundo:
«A família é necessária à humanidade; a família é (se o leitor assim o quiser) uma armadilha para a humanidade. Só se pode falar de «amor livre» - como se o amor fosse um episódio equivalente a acender um cigarro ou assobiar uma cançoneta – ignorando hipocritamente um facto gigantesco. Suponhamos que, sempre que um homem acendia um cigarro, se levantava dos anéis de fumo um gigante altíssimo, que o seguia por toda a parte qual enorme escravo. Suponhamos que, sempre que um homem assobiava uma cançoneta, chamava um anjo à Terra e depois tinha de andar com um serafim atrás de si por uma coleira. Estas imagens catastróficas são débeis paralelos das extraordinárias consequências que a Natureza anexou à actividade sexual; e é perfeitamente claro, logo desde o princípio, que um homem não pode praticar o amor livre; pois ou é um homem comprometido, ou é um traidor. O segundo elemento que gera a família é o facto de as suas consequências, embora colossais, serem graduais; o cigarro produz um bebé gigante, a canção apenas produz um pequeno serafim. Daí resulta a necessidade de um sistema prolongado de cooperação; e daí resulta a família em todo o seu sentido educativo.»
num gesto de agradecimento, e, egoisticamente, de preservação do bem estar que nela encontramos, mas se, para despertar consciências, foi necessário decretar o dia de hoje como o da sua Conservação, bom é que nele se fale; há sempre aquele a quem tem de se dizer para não deitar um papel ao chão: a lógica de pensamento é a mesma.
A propósito, li há tempos sobre a importância de promover a florestação autóctone de cada região, atendendo a que se uma espécie vegetal nasceu num território determinado, tal se deveu à sua melhor adaptação às condições climáticas desse mesmo território. É assim que o carvalho surge ( com o castanheiro e o sobreiro ) como a árvore predominante nesta zona, e, ainda que encontremos grandes extensões de carvalhal, como a Serra do Carvalho, que se estende de Braga à Póvoa de Lanhoso, ao lado de pedaços onde cresceu livremente, como no Bom Jesus e na Falperra, muitos foram os sacrificados, em prol dessa outra espécie que, num abrir e fechar de olhos, se transformou em praga, combustível privilegiado dos incêndios, que deixam, na melhor das hipóteses, um lamentável rasto de terra queimada.
Foi, assim, com orgulho que vi os meus pais desbastarem muitos desses " secantes-de-tudo-em-volta ", para, no lugar deles, plantarem carvalhos e castanheiros; o resultado é deleitarmos a vista com essas árvores tão da nossa terra.
é bem diferente desta, própria das bandas minhotas, mas acabo de, no meio de um zapping - nem sei o nome do programa - ouvir Nicolau Breyner dizer que odeia que não deixem a Natureza seguir o seu caminho livremente, que a aprisionem numa forma determinada pela mente humana. Falava de Serpa, de que gosto muito, e da paisagem alentejana. Compreendo-o tão bem...
os meus olhos com pedaços do Minho que têm - por quanto tempo?, não posso deixar de interrogar-me, tal tem sido o ritmo da destruição - escapado, miraculosamente, atrevo-me a dizer, à voragem criminosa. Dentre esses pedaços, que felizmente ainda são mais do que os dedos das duas mãos, alguns há que me deixam extasiada, de modo tal que a irmã que comigo faz essa curta viagem, me diz ao por eles passarmos " chegou a altura de dizeres: isto é tão lindo, mas receio que os homens só fiquem bem quando derem cabo de tudo ".
É que são mesmo pedaços paradisíacos!
Hoje, ao passar por essas pinturas feitas pelo maior dos Mestres, impôs-se-me uma evidência; a Natureza é que não vai em mudanças; continua a ser verdadeiro que em Abril, águas mil - a terra empapada, poças d'água a perder de vista, e o verde, tão verde, da erva, semeado de pontos brancos do granizo que àquela hora se não fazia rogado no cair...
fala o Nuno. Fui logo ver as de cá de casa, fotografá-las para trazer até aqui a Primavera que ainda não vem no calendário.
Primeiro floresce a lilás, depois a branca, antecedidas pelas ameixoeiras, também elas brancas.
Juntas, estas flores lembram a lenda da princesa, raptada pelo rei mouro, que tinha saudades da neve, e só se alegrou quando pensou vê-la nas flores brancas da amendoeira. Ir agora a Trás-os-Montes...
Mas, e numa variante da canção, por florirem as árvores não começa a Primavera, embora aqui e acolá ela se faça sentir,sem respeito pelos cânones ditados pela folhinha; sábia como é a Natureza, estará, talvez, a conjugar esforços para que as depressões se vão embora antes ainda do fim do Inverno.E o nosso contentamento desabrocha também.
Mas faltam as andorinhas.
com um livro, junto daquele ribeiro- do Carvalhal, disseram-; olhava à minha volta e via campos verdes, prontos para receberem as sementeiras que se aproximam, as vinhas recém enxertadas, os carvalhos que começam, muito lentamente, a adquirir nova folhagem, para substituir a que o Outono lhes levou, e toda esta frescura de paisagem, a fazer lembrar as gravuras antigas de um Minho Pitoresco, contrastando com o caos de construções que assola uma aldeia, que ainda lembro de ver sem as marcas da malfazeja intervenção humana, que parece só ficar satisfeita quando tudo estraga; mais crescia a revolta...
de carneiro ", diz-se.
O dia chuvoso faz pensar que o animal encurtou de pernas, razão porque o céu se encheu de azul violáceo, e ainda ontem esse azul era aberto, e àquela hora entrava por entre as árvores, friorentas, uma réstia de sol.
O carvalho, nascido entre dois penedos, mantém ainda as cores de Inverno, os ramos sem folhas erguem-se como uma sombra fantasmagórica, mas num fantástico com uma beleza
intensa e viva. " Uns meses mais ", cogito, " e as folhas, de um verde muito claro e impreciso, primeiro, mais definido depois, vão começar a cobri-lo. Nessa altura começarei a pensar na sombra que há-de dar a quem dela careça" ; é o renovar da Natureza que antecipo, ainda estamos em Janeiro.
As árvores têm a gravidade solene de velhas senhoras que viveram já muitos Invernos, a serra a solidez das coisas eternas, as aves e as águas cantam debaixo do céu sereno. Mais sábia de que os homens, a Natureza rege-se por leis antiquíssimas e imutáveis. As mudanças radicais são contrárias à Natureza»
( João Bigotte Chorão, in « Diário Quase Completo» )
Tenho para mim que na vida devemos esquecer algo e aprender outro tanto, moldando-nos ao passar do tempo, mas mantendo o essencial. Assim o faz, sabiamente, a Natureza, que acompanha o movimento do sol, adaptando-se à luz, mas se mantém firme no seu lugar, com " a solidez das coisa eternas"; claro que por vezes uma ventania mais forte arranca a árvore pela raiz , mas a sua sabedoria vai ao ponto de ter lançado à terra sementes que logo substituirão a que fora destruída por forças exteriores...
quando cheguei a casa. Muni-me da máquina fotográfica e fui fazer este postal para oJosé M. Barbosa; porque gostou da minha catalpa.
Mas quis que visse que ela já está diferente desde a semana passada, quando fiz a outra fotografia. É uma coisa que gosto de fazer: ir registando as transformações por que passa a Natureza- mudança de cor, crescimento das folhas...; e gosto de a fotografar em diferentes horas do dia, quando o pano de fundo, o céu, se transforma também.
Este Outono tem sido excepcionalmente benéfico para o antecipar da regeneração dessa nossa Aliada. Não tardará muito e ela já estará preparada para oferecer a sua sombra, quando dela precisarmos...
Enquanto nos campos , e debaixo deste céu muito azul, continuam as vindimas,
e começa a apanha do milho,cá por casa mexem-se as grandes panelas da marmelada e da geleia de marmelo, que hão-de adoçar os chás dos fins-de-semana de Inverno, a melhor das molduras das longas conversas, no aconchego que se há-de fazer.