Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O que escrevo integrar-se-á também na categoria do efémero. Assistimos a um processo de extraordinarização do banal, mas com uma nuance curiosa. Não são os outros que convertem a entidades sagradas os afazeres de uns e de outros - são os próprios. Assistimos, num curto espaço de tempo, ao processo de transformação do quotidiano em sublime, como se houvesse valor acrescido na self-distinção, na auto-atribuição de um papel de relevo na transformação das nossas sociedades - como se a secretária de Estado fosse a guru dos oprimidos do género. Se a Graça Fonseca continuasse com a sua vidinha teria sido melhor. Todos somos discriminados e maltratados, por uma ou outra razão. Uns por serem baixos e gordos, outros por não fazerem parte do sistema de trânsito partidário e outros por serem lésbicas. Embora a secretária de Estado julgue que serve uma causa incontornável, acaba por praticar uma espécie de engenharia social de algibeira. E há mais. Aproveita o cargo, a visibilidade e o amiguismo da Câncio para definir, em nome de uma imensa comunidade de desconhecidos, a defesa de uma categoria identitária que não a reconhece como sendo lider. Se nada fizesse e continuasse a secretariar, a coisa seria normal e levava o seu caminho. No entanto, coloca-se outra possibilidade. Será que foi humilhada ou gozada por colegas de geringonça? Esta tese não me parece assim tão rebuscada. De outro modo, o salto que faz da cartola apenas cria ruído em relação a um não tema. Pelos vistos não tem a maturidade suficiente para se aceitar e continuar a ser quem é. E há mais. Será que pôs em risco a condição estável de muitos que se acomodaram ao armário? Por que razão tem de ser assim? Volto à tese inicial. Se foi assediada por algum membro ou membra do governo deve apresentar queixa à APAV. E pelos vistos Marcelo também anda a inventar passes de magia. O que é isto? Nada.
Não sei se o ajuntamento de estudantes reunido em torno da Escola Secundária Alberto Sampaio investiu ou não contra o dispositivo policial presente no local. Não sei e, como qualquer cidadão atento e cuidadoso, aguardo por ulteriores esclarecimentos, devidamente elaborados, investigados e diligenciados por quem de direito. O que não posso aceitar, e não me venham com argumentos dissimulados, é que se utilize gás pimenta para a dispersão de um grupo de menores que se manifestava, com razão ou sem ela, em frente de uma escola. Mais: afirmar que a utilização deste meio visou obstar ao "uso de formas mais musculadas de intervenção” é uma zombaria da pior espécie. Entendamo-nos, o uso da violência, sobretudo quando é comandado pelo expoente máximo da violência politicamente organizada que é, como se sabe, o Estado, demanda princípios, padrões e limites éticos bem delineados. Sem eles, e ao arrepio deles, a arbitrariedade domina e, nessas circunstâncias, nem velhos nem jovens, nem grandes nem pequenos escapam à fúria dos medíocres inchados pelo poder da bastonada. Em suma, investiguem, averiguem, busquem o porquê, mas saibam de antemão que usar gás pimenta contra menores é um acto moral e politicamente reprovável. Como disse o Samuel, vivemos, de facto, tempos muito perigosos. A liberdade joga-se também aqui.