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Ecos de um passado que tem futuro

por Nuno Castelo-Branco, em 28.05.12

"A Nova Monarquia foi caso único de um movimento de ideias, patriótico, nacional e democrático, não extremista e anti-totalitário, que poderia ter evoluído para partido político e, assim, antecipar o futuro. Ainda hoje, reencontrando muitos daqueles que connosco militaram nesse movimento patriótico, não deixo de pensar no que teria podido ser a NM se a nossa direita, sempre tão incapaz, sempre iletrada, nos tivesse dado o apoio de que necessitávamos. A NM pensava a CPLP dez anos antes da sua génese, promovia actos públicos de apoio à independência de Timor, quando todos se resignavam à colonização indonésia, pedia a atribuição da dupla cidadania a cabo-verdianos e a todos os ex-soldados negros que haviam lutado por Portugal, pedia uma câmara alta que pudesse minorar os efeitos do amadorismo da partidocracia, pedia o sistema uninominal, personalizado e responsável para a Assembleia da República, reclamava um poder local profissionalizado que evitasse a destruição da paisagem portuguesa e o apossamento da vida municipal por quadrilhas de malfeitores. Mais, pedia a adesão de Marrocos à então Comunidade Económica Europeia, defendia o Serviço Militar Obrigatório, a defesa da presença fiscalizadora do Estado em sectores vitais da vida colectiva - ensino, saúde, águas, energia, planeamento urbano - e optava, sem titubeios, por um plano nacional de desenvolvimento, opondo-se à terceirização (vulgo PPP's) e advogando a mudança de pele da estrutura económica produtiva mercê da fixação prioritária na agricultura e nas empresas produtivas. Ninguém nos quis ouvir. Portugal viveu, nos anos 80 e 90, sob o signo do dinheiro, dos "negócios" e do "empreendedorismo". A NM surgia aos dos entusiastas dos saltos em frente como a expressão do passado. Estavam enganados e o resultado está à vista !"

 

Miguel Castelo Branco, no Combustões

publicado às 22:00

Há 25 anos, um programa bem actual

por Nuno Castelo-Branco, em 29.12.10

Do arquivo de Pacheco Pereira, a campanha CDS-NM de 1987

 

Numa muito oportuna conversa com Mário Crespo, o Professor Adriano Moreira marcou o caminho  que Portugal desejavelmente deveria trilhar, nesta que é sem dúvida, uma das mais aflitivas situações que já conhecemos. Sem império, engolido numa aliança militar de contornos pouco nítidos e onde perdeu muita da importância estratégica a que durante séculos se habituou, o país viu agravar-se ainda mais a sua autonomia, com o desastre económico que uma apressada adesão política a uma aliança económica, implicou para o seu tradicional sector produtivo.

 

Adriano Moreira vem dizer aquilo que há um quarto de século e perante uma escandalizada imprensa alinhada com o sistema, o então movimento Nova Monarquia propunha. Foi por isso mesmo que a NM fez a campanha do CDS nas eleições de 1987.

 

Os arquivos dos jornais dos anos de 1983-92, decerto guardarão reportagens, comunicados e entrevistas  a alguns dirigentes da então N.M., comprovando - entre alguns erros tácticos de difusão da mensagem -, a perfeita coerência do projecto que sucintamente aqui vos deixamos.

 

"A urgente reforma do sistema eleitoral e a adopção de uma mais perfeita relação entre o eleitor e o eleito; a reforma do Parlamento, com a redução de deputados eleitos pelos Paridos para a Câmara Baixa e a criação de um Senado nomeado por academias e centros de investigação, sindicatos, confederações, etc, com direito de decisão final acerca da aplicação de vultuosos investimentos públicos; a urgente simplificação de um mapa autárquico que baseado na "idade da carruagem" e que tal como hoje acontece, servia então para dar emprego às camarilhas partidárias; total oposição ao esquema da regionalização proposto sob as mesmas bases dos arquipélagos atlânticos, simples pretexto para a extensão partidocrática; o necessário incentivo à modernização do aparelho produtivo industrial e uma urgente revisão da política agrária; a reconstrução da frota pesqueira, necessária também pela extensão da Zona Económica Exclusiva que ainda hoje se encontra ao abandono; a manutenção da Reserva Alimentar Nacional, não cedendo às exigências das quotas impostas pela CEE; o repensar de toda a política urbana e a severa limitação do crescimento em direcção às zonas envolventes das cidades, outrora terrenos agrícolas; o fim da falsa política de florestação baseada no ímpeto industrial do sector do papel/celulose; cuidadosa re-estruturação das Forças Armadas, concentrando esforços na Armada e numa reduzida força de intervenção eficiente, bem equipada e preparada para missões nas zonas de influência portuguesa; garantindo a defesa do património, o estabelecimento de legislação e de entidades supervisoras da demolição e construção, com a adopção de critérios correspondentes às especificidades regionais; no campo da política externa, o reconhecimento do fim do ciclo imperial e o forte investimento na reaproximação com o antigo Ultramar - Brasil incluído -, diplomacia em prol da libertação de Timor, cuidadosa negociação com a China a propósito da hipótese de cessão de Macau; no estertor da Guerra Fria, alargamento da zona de segurança da NATO a Marrocos, garantindo a segurança do regime Alauíta e o flanco sul da Aliança."

 

De uma forma bastante aleatória, estas são apenas algumas das muitas ideias propostas pela organização que era composta por gente cuja média etária, rondava os 25 anos. Chamaram-lhes de tudo, desde "neo-colonialistas", a "reaccionários do sector primário", "neo-fascistas e inconsequentes". Afinal, "os garotos" tinham razão e muitos dos temas acima enunciados, são hoje considerados "triviais", embora jamais encarados como uma real perspectiva de mudança. Hoje, com o dobro da idade, verificam que as sumidades que cavaram o fosso em que Portugal se encontra, apresentam este programa antigo, como um novo Paradigma. Não é apenas o Prof. Adriano Moreira que hoje surge a dar voz ao Programa da Nova Monarquia, pois o próprio Prof. Cavaco Silva o insinua, acompanhado até por uma boa parte da esquerda, onde o PC se inclui. De forma costumeira, apenas se esquecem da Monarquia, o fatal escolho em que a corrida pela manutenção do estado de coisas tropeça e urge afastar.

 

Não aprenderam nem mudaram nada.

publicado às 14:26






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