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A Helena Sacadura Cabral recorda aqui um pormenor importantíssimo, que, pelos vistos, foi totalmente riscado do mapa por alguns dos protagonistas séniores da governação. De facto, eu, à semelhança da Helena, julgava que um ministro tem como função precípua definir políticas e acções na área de que foi investido das maiores e mais pesadas responsabilidades. Enganei-me. Nuno Crato, a título meramente exemplificativo, tem-se esforçado de todas as formas e feitios por demonstrar cabalmente aos portugueses que esta conceptualização do papel do ministro é um tremendo desatino. Crato, devido, talvez, à sua formação maoísta, entende o magistério governativo como uma negociação permanente sobre regalias e privilégios, em que o ministro faz a figura de urso, e os sindicatos colhem o aplauso dos prebostes corporativos. A coisa tem, em rigor, a sua lógica. No fundo, o que está em causa é apenas e tão-só o medo de governar, o receio incomensurável de arrostar os que mais podem. Num governante, como todos sabem, o medo é o início da derrocada, e Crato já teria, há muito, retornado às bancas da Universidade, se o primeiro-ministro fosse um político experimentado e prudente. O problema é que, nos dias que correm, Portugal é liderado por gente com medo, por políticos desaustinados e receosos, e, last but not the least por um partido cujo único sobressalto cívico foi o facto de um secretário de Estado ter sido apodado de alemão pelos periódicos gregos. É bom de ver que assim não iremos a lado algum. Porém, e como não há impossíveis, vamos esperar que o bom senso regresse ao cérebro dos estrategas passistas. Nunca é tarde para debelar o medo, Roosevelt que o diga.
Sobre a obrigatoriedade ou não da língua inglesa no programa curricular ou extra-curricular do sistema de ensino em Portugal, e sendo a língua inglesa a minha materna, procurei sempre analisar as razões do sucesso dos portugueses na aquisição de idiomas estrangeiros. Não tenho dúvidas que a aprendizagem em tenra idade será um dos factores. É na aurora cognitiva que os implantes sinápticos e linguísticos decorrem de um modo mais eficiente. Essa possibilidade não deve ser enjeitada, bem pelo contrário, deve ser integrada de um modo compulsivo e incontornável. Existem porém outros factores de familiariedade com a língua inglesa que devem ser tidos em conta - o papel dos media. Veja-se o exemplo do critério (acertado, na minha opinião) de não tocar nas versões originais dos filmes. A legendagem (quando bem feita) serve para ensinar uma língua estrangeira. Quem conhece a realidade alemã ou polaca, é confrontado com esse triste exercício de dobragem, para além da língua polaca não colar bem aos lábios de James Bond. Esta forma de entrega em casa da papinha feita, não obriga o tele-espectador a desenvolver capacidades simultâneas de entendimento das mensagens. A interpretação simultânea (designada erradamente por tradução simultânea) lida com esse processo cognitivo de um modo muito intenso. Sei do que falo - queimei os neurónios nessa actividade durante 15 anos. Qualquer neuro-cientista (perguntem ao António Damásio, que é da casa) ou cognitivista, pode descrever e confirmar, que a actividade de "tradução" in loco, exige às cabeças pensadoras a utilização de ambos os lóbulos cerebrais. Portanto, é disso que se trata e não de saber se o menino ou a menina se desenrascam numa troca de palavras com uns bifes numa qualquer praia algarvia. O que está em causa é retirar ou não um módulo de aprendizagem transversal que extravasa as competências da língua e da mensagem propriamente dita. Se a língua inglesa não era uma componente obrigatória no sistema de ensino deveria passar a sê-la. Neste caso, tenho de dar razão à Catarina Martins do Bloco de Esquerda - é um retrocesso civilizacional. Enquanto o resto do mundo está à rasca porque não entende Mandarim, os chineses percebendo a lógica inversa, estão a cavalgar as fases de aprendizagem da língua inglesa. O ministro da educação pode se servir de todos os eufemismos legais decorrentes deste ou daquele diploma, mas não pode comprometer o futuro da comunicação dos cidadãos nacionais. Quanto a esta matéria, acho justo que se bata o pé e não se diga: sim, senhor ministro.