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Caríssimos leitores e amigos, é com grande prazer que anuncio a mais recente contratação do Estado Sentido, o Corcunda. Figura ímpar da blogosfera nacional que nos presenteou com as suas sublimes reflexões no Pasquim da Reacção, espaço que manteve desde 2004 até há cerca de um ano, o Corcunda dispensa longas apresentações. É para mim uma honra que tenha aceite o convite que em boa hora lhe enderecei. Tenho a certeza que a blogosfera se regozijará com o regresso de uma das suas mais eloquentes penas, que é também, sem dúvida, um dos melhores filósofos políticos portugueses. Bem-vindo, caríssimo!
Do facciosismo dogmático comunista com que Odete Santos presentou a comunidade ISCSPiana em duas sessões no espaço de meia dúzia de dias, um excelente texto, já de há alguns dias atrás, do caríssimo Corcunda:
"Uma das maiores demonstrações de impotência da Esquerda é a forma como vê os seus adversários. O “fáchismo” que descrevem nos seus oponentes é uma visão infantil do que foi o Fascismo na realidade, com toda a sua moral popular, estatista, restruturadora, centralizadora. Para a Esquerda, o “fáchista” é aquele que defende um conjunto de normas que não vêm da soberania popular, que não se submete ao papel instrumental da racionalidade como forma de elevar a Humanidade ao papel de realidade transcendente, que rejeita que o objectivo da vida humana seja a criação de uma sociedade em que se cumpre a panaceia do indivíduo (em que este ultrapassa a escassez e vive como Deus no seu universo particular). É evidente que os fascistas não partilhavam esse credo, mas a infantilidade mental que preside a esta dicotomia é apenas um reflexo de visões simples do mundo que reflectem a forma populista da esquerda de contemporânea.
A forma como Hitler é descrito como um inimigo da razão esclarecida (um contra-iluminista, portanto), um mero caso clínico de loucura ou um defensor do preconceito social populista (que a Esquerda veio destruir) é apenas uma forma de varrer para baixo do tapete os problemas levantados pelo paradigma moderno de que Hitler foi consequência lógica.
Afirmar que o problema de Hitler se encontra no seu desprezo pela Razão é apenas o primeiro acto da paródia. É verdade que Hitler foi um crítico da razão iluminista enquanto forma de ordenar a comunidade política. Mas também o foram Rousseau, Nietzsche ou Sartre. Não se consegue vislumbrar de que forma é que o anti-racionalismo de Nietzsche, que se encontra tão em voga nesta época pós-moderna, pode ser a causa de uma mal tão grande e de tantas bençãos (Foucault, Deleuze, etc.). E quem mais do que Hitler, transformou as ciências numa forma de religiosidade política, forçando nas descrições científicas as distinções que a necessidade política forçava? O segundo acto está montado. A diferença entre o mau e os bons está na forma como os segundos fazem uso dessa racionalidade. Os maus matam pela raça, os bons pela classe social. Sartre, santificado na Europa Ocidental, afirmava o seu pacifismo enquanto defendia os campos de concentração onde se empilhavam inimigos do povo. Estaline, o maior assassino da História, era um santo que fazia o mundo adequar-se ao sonho de Marx. A diferença entre o populismo de uns (do povo, com toda a fúria socialista) e o que é dirigido a outros (a pequena burguesia, com todo o seu ódio racial) é, para o Esquerdista, toda a diferença do mundo. Mas qual é a diferença real, ou o critério para avaliar a diferença entre os preconceitos de Robespierre ou Marx, a necessidade do Terror e da destruição física e social da burguesia ou da nobreza e ou de um outro qualquer povo?
É curioso que num mundo obcecado com os campos de concentração, a abertura ao Leste tenha vindo com a total incorporação da máquina estatal comunista. Sem culpados, sem crimes, sem dias da memória histórica...
Estão nos a preparar para o quê?"
Mais uma vez, um dos meus bloguistas favoritos, O Corcunda, que pela erudição, classe, elegância e clareza na escrita se nos apresenta como uma das penas de maior qualidade em Portugal:
Destaco o axioma da igualdade, que na prática nada mais é do que aquilo que o próprio Corcunda diz, a filosofia da inveja, post que, tal como referi em debate hoje na faculdade e como por diversas vezes escrevi (aqui por exemplo), o conceito de igualdade é uma falácia tal como o próprio Rousseau demonstrou ao estatuir que o conceito de sociedade implica necessariamente desigualdade e, aliás, que a desigualdade é o motor da sociedade. É de facto uma pena que a própria Teoria Política se deixe enredar pelo politicamente correcto. Ai de quem não diga que é pela igualdade, pela democracia, pela república. Mesmo que na prática a teoria seja outra e que os mesmos acérrimos promotores desses alegados ideais sejam os mesmos que mais agravam a desigualdade e a oligarquia dos interesses instalados e prejudiciais do bem comum e do interesse nacional.
O Corcunda, desta feita no Portugal Contemporâneo, sobre o erro do liberalismo: