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Esta história das cativações faz-me lembrar um carro cujo proprietário deixa de o levar às revisões, de mudar o óleo e os filtros, e efectivamente, as poupanças saltam à vista, são uma verdadeira maravilha - até o motor gripar. O governo encontrou um nicho contabilístico interessante. As cativações não são peixe nem carne. Não correspondem à função de reordenamento financeiro das contas do Estado, nem sugerem uma orientação programática da economia de um país. Pura e simplesmente congelam os dinheiros. Mas há mais. Se olharmos com atenção para as dimensões contaminadas pelas cativações, registamos o item Planeamento e Infraestruturas como aquele que merece especial apreço da parte da geringonça. E isto não é por acaso. Sabemos de gingeira que o sector das obras públicas e da construção é aquele em que os socialistas se sentem mais em casa. São os amigos empreiteiros que levarão o prémio quando, face ao abandono da manutenção de estradas e pontes, edifícios e paióis, forem requeridas intervenções de vulto, investimentos com montantes consideráveis para desentornar o leite derramado. As cativações são como voos atrasados. O avião não descola do aeroporto, mas os passageiros sabem que mais cedo ou mais tarde, custe o que custar, lá surgirá uma solução bem mais onerosa do que a inicialmente prevista. A Mariana Mortágua e o Jerónimo de Sousa sabem como isto funciona, mas continuam a conceder crédito ao patrão, ao mau pagador de promessas. E sabemos que este leasing político implica uma taxa de confiança que não corresponde às receitas económicas e sociais tão amplamente apregoadas para matar de vez a Austeridade. António Costa é felino e rato ao mesmo tempo.
Eu cria, ingenuamente, que os nossos socialistas eram os maiores adeptos em solo nacional do "capitalismo empreiteiro", com a excepção, vá, de Cavaco e de Ferreira do Amaral, mas afinal enganei-me. Vítor Gaspar aderiu, ao que parece, às virtudes desse ecossistema financista. Quem diria, não é? O mago das finanças convertido aos delíquios que tramaram Sócrates. O que se seguirá? Um novo aeroporto em Serpa ou em Trancoso? Uma autoestrada entre Cabeceiras de Basto e Carrazeda de Ansiães? Caros portugueses, bem-vindos ao mundo encantado das obras públicas troikadas, com a chancela do Gasparzinho. Há interesses que não desarmam. Cruzes credo.