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Só faltava Passos Coelho oficializar o regresso de José Sócrates. Ao fazer comparações entre o seu reinado e o do outro (o "outro" é um termo politicamente incorrecto, eu sei), reconhece direitos adquiridos ao socialista-écrivain - concede-lhe a importância que ele merece. O actual primeiro-ministro demonstrou, porventura sem o desejar, que Sócrates não é apenas um problema do passado, mas poderá vir a ser um rival num futuro próximo. Depois de sucessivas tampas de Seguro, a propósito do guião da reforma do Estado e do orçamento de 2014, Passos Coelho vira-se para aquele que está ávido por desferir uns golpes, mas que ainda não tem as luvas da titularidade política calçadas. O primeiro-ministro quer mostrar ao lider da oposição Seguro que nem precisa dele para invocar as fracturas profundas que opõe os socialistas aos social-democratas. Sabemos muito bem que Seguro não é comparável a Sócrates (é igual a si), e deste modo Passos Coelho retira força aos socialistas ao se "picar" com um político ligeiramente civil - Sócrates é uma espécie de fantasma da Troika, regressado do mundo dos políticos mortos-vivos para distribuir a culpa pelos outros e eximir-se de responsabilidades. À medida que Sócrates se reintegra na vida política e social do Rato, vai reavivando a fraca memória dos portugueses - estes irão lentamente recordar que foi o mestre de Paris que assinou o memorando de entendimento, que foi ele que conduziu o país a esse estado de calamidade que infelizmente teve continuidade através das políticas de austeridade do actual governo. Afinal Sócrates tem uma missão importante a cumprir na tomada de consciência dos cidadãos portugueses. Sócrates regressa ao cenário de sismo económico e social para o qual contribuiu, impávido e sereno, mas os portugueses sabem o que a casa gastou. Quem negar as responsabilidades de um e de outro na actual crise, não estará a ser honesto e justo. A ruína não pertence em exclusivo aos sociais-democratas ou aos socialistas. Foi uma longa sociedade por quotas destes dois parceiros que ditou o rumo penoso de Portugal. O país vive o dilema do prisioneiro e não existe uma jogada que possa eximir as duas principais forças políticas das suas responsabilidades. Seria bom que soubessem, que nalguns casos, as laranjas e as rosas não se comparam - nem se cheiram.