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"As iras do IRS" deveria ser o título do filme que decorre em sessão contínua na Assembleia da República. Os portugueses assistem sem surpresa ao diz que disse, ao diz que fez, ao faz o que não fez ou ao fez o que não disse que ia fazer. Mas tomem nota: o novo governo ainda nada fez. Mas há quem tenha feito. E está ali, à vista de todos, a estrebuchar — a Alexandra Leitão. Ou refundido, quase na galeria do público — Fernando Medina. A ira do Partido Socialista (PS) é de tal ordem expressiva que não consegue dissimular que não sabe viver sem (o) poder. Os camaradas foram mimados pelos portugueses em demasia e por um período excessivamente extenso. O PS deve aprender, de um modo célere, o desmame da governação. O governo agora em funções tem de lidar com um monstro bicéfalo. A realidade económica e social do país e, simultaneamente, com o PS. Por outras palavras, nunca terá a aprovação do PS, do BE, da CDU, do Livre ou do PAN. A descida de impostos sobre o trabalho, que tenha impacto efectivo na vida dos portugueses, não se atinge no mês inaugural do governo. Se a Aliança Democrática (AD) tivesse prometido gastar as balas todas num choque fiscal demolidor estaria a cumprir a ficção demagógica. Não o fez, como ficou patente. É plausível que se comece por um alívio maior no IRC — sem malha empregadora reinvigorada e geradora de riqueza não se fazem farturas. Mas o PS sempre fez tudo ao inverso. Procurou sempre comprar os portugueses por via do grosso da sua falange de apoiantes — os funcionários públicos. Mas nem isso foi capaz de realizar, deixando na beira da estrada, professores, polícias e profissionais do sector da saúde. O exercício de oposição que o PS realiza é uma campanha de demolição, de destruição, de bombardeamento de qualquer plantação do novo governo, sem que refira o legado que deixou a quem agora governa — um governo que não concebeu uma coligação conveniente, uma maioria absoluta com o Chega, que serviria para silenciar os socialistas. Mas não o fez. Montenegro manteve aberto o microfone dos adversários que não merecem sequer a designação de oposição.
A expressão "à política o que é da política, à justiça o que é da justiça", recorrentemente utilizada por António Costa, bem como a frequente recusa de julgamentos morais ou de carácter, não passam de habilidades retóricas a que um PS permeado por casos de corrupção e de duvidosa moralidade tem recorrido nos últimos anos com o objectivo de os afastar do debate político. Estas habilidades têm obtido bons resultados, talvez porque boa parte da oposição não tenha engenho para as denunciar e também porque o temor reverencial de grande parte da comunicação social se encarrega de fazer com que esta as reproduza acriticamente e acabe por criar na opinião pública a percepção de que serão válidas. Ora, na verdade não passam de habilidades retóricas que certas acções do PS, quando no governo, se têm encarregado de demonstrar serem falsas, quer pela interferência na justiça, quer pelos julgamentos de carácter que fazem dos adversários políticos, evidenciando à saciedade a hipocrisia de muitos militantes da agremiação do Largo do Rato.
De resto, nestas coisas, pese embora muitos não hesitem em salientar o duplo processo de judicialização da política e de politização da justiça, cujos contornos não conseguem precisar, a separação de poderes não implica que uma questão não tenha ambas as dimensões e possam ser retiradas consequências nos respectivos domínios. Veja-se, a este respeito, a forma como os poderes estão separados mas fundidos na Constituição dos EUA e como no caso do processo de impeachment de Donald Trump estão em causa consequências políticas para uma acção que poderá também ser alvo de julgamento pelo poder judicial.
Ademais, no que concerne aos julgamentos morais ou de carácter, estes fazem e sempre fizeram parte da política. São, aliás, parte essencial dela, ao contrário do que o Primeiro-ministro nos quer fazer crer, particularmente num país como o nosso, em que se discute muito mais politics, o jogo político-partidário quotidiano, do que policies, as políticas públicas. Dado que o jogo político-partidário é protagonizado por indivíduos, a avaliação do seu carácter é uma componente central da política, especialmente em momentos eleitorais, e é precisamente por o saber que António Costa declara publicamente a sua recusa. Ninguém gosta de tirar uma fotografia em que sabe logo à partida que ficará mal.
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Durante semanas, a geringonça e a oposição digladiaram-se ad nauseam sobre quem tinha culpas no cartório pela imposição de sanções por parte da União Europeia. Agora que as instâncias europeias decidiram não impor sanções a Portugal, põem-se em bicos de pés pretendendo arrogar-se uma suposta influência no desfecho desta contenda que nos vinha enfastiando. Que no meio desta feira de vaidades que se preocupa mais com interesses sectários do que com o interesse nacional ou a imagem internacional do país haja, pelo menos, espaço para a vergonha e, já agora, dêem esta novela por encerrada.
Está em curso um processo de branqueamento da rosa. O Partido Socialista (PS) sabe há demasiado tempo que as decisões políticas do governo anterior não resultam de preferências ideológicas, mas de circunstâncias incontornáveis respeitantes ao estado da nação. Nenhum governo escolhe o caminho da Austeridade por amor à camisola. Nenhum governo escolhe o caminho conducente à impopularidade e subsequente demissão pelo eleitorado (que até nem foi o caso). António Costa mal teve tempo para aquecer a cadeira de primeiro-ministro, para agora se dar conta de que o caminho traçado pelo governo anterior afinal não era o errado. Ou seja, o que tinha de ser feito foi feito, e pelos vistos deve ser continuado, se Portugal deseja evitar uma catástrofe de proporções gigantescas. É caricato que o mesmo homem que invocou a maioria parlamentar para formar governo, venha agora pedinchar ao PSD e ao CDS o seu apoio. Mais valia que o PS pedisse a abolição de partidos da oposição, que engendrasse um modelo de Estado novo alicerçado na apreciação monolítica dos desafios nacionais. António Costa está à rasca e joga esta cartada - passa a batata quente à oposição -, para se poder libertar do peso da responsabilidade. O casulo é uma metáfora curiosa, mal escolhida por António Costa para descrever o direito ao respouso que assiste ao anterior governo de coligação. O que está a acontecer é o seguinte. Passo a explicar. António Costa quer que a oposição subscreva as medidas de austeridade que vão ter de ser agrafadas ao Orçamento de Estado, mas do casulo brotam borboletas às cores e não flores de rosa. Quisesse Costa evitar transtornos e servir o país, teria, nessa mesma noite eleitoral, se aproximado de Passos Coelho e Paulo Portas para encarar de frente a verdade dos factos duros da vida económica, financeira e social do país. A oposição, chamada à liça pelos socialistas, decorre da possibilidade de Costa ter de substituir peças gastas da geringonça. O que ele quer eu sei bem. Substituir Jerónimo de Sousa por Passos Coelho e Catarina Martins por Assunção Cristas. O homem é esperto. E pouco mais.
Não domino a língua arménia, mas farei o meu melhor para traduzir a mensagem; " a CGTP sai à rua para exigir a derrota da política da Direita". O que Arménio Carlos quer dizer, como se não tivesse sido empossado um governo de Esquerda, é para os ouvidos do camarada António Costa. Por outras palavras: não é líquido que a coligação PS-PCP-BE defenda os interesses dos portugueses nos moldes desejados pela inter-sindical. E Arménio Carlos tem razões para estar desconfiado. O governo, de alegada inspiração socialista, está obrigado a continuar as medidas de Austeridade herdadas do governo anterior, ou, na melhor das hipóteses, afastar as contribuições fiscais mais visíveis e substituí-las por outras mais "silenciosas", mas igualmente penosas. Se Arménio Carlos nem sequer deu 48 horas ao governo de António Costa para que as suas reivindicações fossem acolhidas, significa que o representante de grande parte dos trabalhadores portugueses pensa que pode ter sido enganado. Em suma, o facto de haver um governo socialista ao leme dos destinos de Portugal, não implica necessariamente que haja um corte com as fórmulas do executivo anterior. Eu já sabia isto, mas não sou o único. Pelos vistos aqueles que mais sofrem na pele também o sabem. António Costa fica avisado. A oposição que vai conhecer, não reside apenas no Parlamento. É cá fora, na rua, que elas contam.
Hoje não é o primeiro dia do que resta da vida política do Partido Socialista. António Costa é o primeiro-ministro de Portugal. Fica demonstrado que ser perseverante e ardiloso produz resultados neste país. No entanto, resta saber qual será o preço a pagar no curto prazo. O cepticismo em relação à solidez dos acordos à Esquerda não é um exclusivo dos adversários da Direita. Esse facto transcende noções ideológicas ou partidárias. Tem a ver com dimensões formais e também com a substância que aproxima ou afasta as diferentes forças da Esquerda portuguesa. Mas é também aqui que reside uma boa parte da falha tectónica. O Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português enfrentam alguns dilemas existenciais, de identidade. Se o que esteve em causa neste processo foi derrubar o governo de coligação a todo o custo, e tendo sido alcançado esse objectivo, não vejo como possam manter a disciplina colectiva necessária à estabilidade governativa quando outras matérias de gestão política corrente venham a lume. Por essa razão estamos perante um governo a prazo. Mas existem outras razões. A não ser que um novo partido nasça a partir deste arranjo conveniente - o Partido Socialista Bloquista Comunista de Portugal (PSBCP). Contudo, para que tal aconteça, cada uma das partes da trapologia política teria de abandonar a sua missão individual e migrar para uma entidade ideologicamente amorfa. A "nova" oposição PSD-CDS tem capacidade para ler o mapa de fissuras do novo governo de António Costa, e certamente que saberá causar algum desconforto ao lançar propostas e temas geradores de hipersensibilidade ideológica. É natural que o faça e é expectável que o faça na qualidade de proponentes da oposição. António Costa, mestre na arte da decepção e aproveitamento políticos, deve iniciar a sua senda de iniciativas legislativas e de governação com matérias de fácil consenso com os seus colegas de extrema-esquerda. Um pouco mais tarde, quando os fundos de gestão corrente começarem a faltar, e a austeridade for apresentada como último recurso, teremos os primeiros indícios de desacatos sem que o PSD ou CDS tenham de mexer uma palha. Existe uma frase em inglês que serve na perfeição para relatar o que está para acontecer. No entanto, acrescento uma nuance à mesma: "it will be a self-fulfilling socialista prophecy". João Soares, que percebe que se farta de cultura, nem precisa de traduzir.
Entramos na época de saldos políticos. O período sórdido que antecede eleições, no qual todo o género de armas de arremesso é utilizado. Entre o ruído produzido por uns e o barulho oferecido por outros, encontraremos aquilo que efectivamente interessa ao país - o interesse nacional. Enquanto brincam ao jogo da dívida à Segurança Social ou aos dardos IMI, Portugal parece estar a consolidar a sua recuperação económica. Os bons indicadores económicos e sociais devem custar a engolir a certos detractores e pessimistas crónicos, mas os dados são incontornáveis. Por alguma razão um movimento à Syriza ou estilo paella Podemos não eclodiu em Portugal. A Esquerda sabe (embora não o admita) que a viragem está a acontecer. Não precisa de um campeão demagógico (e perigoso) como Tsipras, que a breve trecho terá de encarar a inevitabilidade de um terceiro resgate. No entanto, Portugal tem de lidar com uma outra maleita que diz respeito à sua identidade cultural, à sua natureza endémica - a tendência para se canibalizar e maldizer. Esse espírito resteliano parece ser de difícil cura - os tratamentos também não funcionam. Aqueles que me lêem sabem que já fui muito mais céptico em relação a Portugal, mas tenho de reconhecer que agora devo mudar a ficha, realizar um upgrade do software. Ainda ontem me chamaram de estafeta da Direita, mas enganaram-se no género - sou mais do tipo estafermo direito, mesmo sendo torto. Ou seja, não nutro preferências ideológicas por esta ou aquela escola. Sou a favor da cidadania, defensor da força colectiva das nossas sociedades e apologista da máxima expressão de individualismo. Capitalista? Sem dúvida? Crente no lucro? Sim. Se assim não fosse, ambicionaria ser apenas mediano, correndo o risco de atingir a mediocridade. Deste modo posso afirmar sem pudor que falhei. Mas que tentei, tentei.
António Costa está feliz e contente. Os camaradas socialistas estão felizes e contentes. Mas para continuarem a sorrir vão ter de mentir e muito. Vão ter de convencer os portugueses que a Troika não existe, que o memorando nunca foi assinado, que não existem compromissos financeiros incontornáveis, que a dívida será resolvida por si, que o desemprego baixará dramaticamente assim que formarem governo, que vai haver orçamentos sempre extremamente favoráveis, e, que quando chegarem ao poder vão resolver todos os problemas que Portugal enfrentar. António Costa bem pode anunciar o início de uma nova maioria de governo e acumular a pasta da presidência da câmara e da secretaria do partido socialista (PS), e exercer o magistério da superioridade política e intelectual que afirma deter - as tais condições que Seguro não reunia -, mas António José Seguro ficará na história política do partido socialista e do país por ter obrigado um partido a entrar em alvoroço, a colidir com a sua condição endémica, a revelar os seus vícios e a sua tendência arcaica para entronizar os mesmos de sempre. Os últimos meses serviram para confirmar os nossos piores receios - o poder é um fim em si. A política não pertence aos partidos, pertence a um concílio eterno, a um cartel disposto a regressar às lides. Vimos ontem os camaradas Ferro Rodrigues, Maria de Belém Roseira, assim como a darling Ana Catarina Mendes, efusivos com a "vitória da casa", a piscar o olho e a esfregar as mãos com a possibilidade de um retorno ao executivo ou, nalguns casos, com uma estreia auspiciosa. E o problema é esse. A deixa de Seguro não serviu de grande coisa. Não aproveitaram o quadro maior das suas intenções. Não o escutaram para além da sua voz. Os intentos do outsider esbarraram com os barões que nunca poderiam autorizar o seu próprio fim. A triste conclusão que podemos tirar deste processo, é que o PS não se renovou, nem se renovará. Mas o mais grave de tudo isto é a confirmação de que o povo português é tradicionalista, conservador. Não quer a mudança, embora se sirva da mobilização enquanto engodo, decepção. Porque mobilização nada tem a ver com mudança. Mobilização tem mais a ver com mobília. Cadeiras que se arrastam de um local para o outro, sem que se mexa no estilo, no design, nos amigos de sempre que se sentam à volta da mesma mesa. E mudança também tem a ver com móbilia, mas neste caso nem sequer foram urbanos na aplicação deste conceito. Ninguém saiu da sua zona de conforto, ninguém saiu de casa para se aventurar na genuína alteração das condições de exercício político em Portugal. Para já António Costa é o campeão absoluto do Largo do Rato. E pouco mais.
Sabemos muito bem que este tira-teimas entre António Costa e António José Seguro, a propósito dos debates e a duração dos mesmos, não passa de uma encenação para captar a atenção dos mais incautos. Faz parte da novela. Faz parte do esforço de atribuir importância ao próprio umbigo. Antes de mais, convém referir que alguns pressupostos intelectuais nem sequer serão observados. Ou seja, um debate implica discussão de ideias, mas como podemos observar, quer Costa quer Seguro apenas repetem chavões que foram coleccionando ao longo dos anos. Seja qual for a natureza das tertúlias inscritas no calendário, e no período de tempo acordado pelos concorrentes, em termos práticos nada se alterará no que diz respeito às grandes opções de Portugal. Como já havia dito por diversas vezes, não interessa qual o governo que sucede ao actual. Os elementos operativos financeiros serão os mesmos. A necessidade de gerar receitas será a mesma. Os impostos continuarão por anos vindouros e todas as facilidades que estes ou aqueles venham a prometer, não passam de falsas promessas, mentiras. Não sei quantos simpatizantes já se registaram no largo do Rato, mas mesmo que sejam 100 mil, o Benfica ou o Sporting (para mencionar apenas alguns) têm muitos mais adeptos. Em suma, mesmo que batam todos os recordes de Portugal, o número de simpatizantes arrebanhados para as primárias, não representam nem de perto nem de longe Portugal. Nessa medida, os debates televisivos entre Costa e Seguro deveriam acontecer num canal fechado com subscrição. Aliás, sugiro que se crie uma TV Primárias (TVP) para não esbanjar a paciência de tantos portugueses que não estão interessados nos arrufos das comadres. A TVP até pode combinar as perguntas e as respostas com os convidados por forma a que todos fiquem felizes e contentes. Portugal definitivamente não pode perder tempo com figuras de estilo e retórica, que uns apresentarão em detrimento de outros. Os minutos que separam Costa de Seguro pouco têm a ver com a hora de Portugal.
Para abreviar possíveis críticas, torno a dizer o que já disse noutras circunstâncias: este Orçamento é mau, mas, nas circunstâncias presentes, com todos os constrangimentos que são do domínio público, seria difícil fazer melhor. O ideal seria, de feito, termos um abaixamento da carga fiscal e um corte radical na despesa pública, mas do dever-ser ao ser há um caminho longo e cheio de escolhos. E o primeiro desses escolhos prende-se com a prata deste regime que, a despeito de todos os sacrifícios pretéritos, continua a não aceitar a porca da realidade. Que Deus tenha misericórdia deles, porque os credores não terão.
Uma vaga de imigração está a assolar Portugal. O primeiro a chegar à Portela foi Sócrates. Sabemos que Guterres já se instalou em território nacional e agora chega-nos a notícia que José Manuel Barroso provavelmente voltará a ser Durão Barroso. Observo que a casa portuguesa começa a ficar apertada, cheia de visitas políticas de última hora. Resta saber que profissões desejam exercer na Lusitânia. Como forma de acreditação junto dos esquecidos, Sócrates e Guterres já têm livros para contar versões integrais ou parciais dos seus percursos - falta Durão Barroso lançar um volume no seu regresso oficial. Um livro de capa dura à Diplomacia de Kissinger com o título: "Breves notas sobre o abandono de Portugal e o meu regresso". Para já, Sócrates está a agitar as hostes socialistas - António José Seguro e António Costa que se cuidem porque não me parece que o ex-lider se quede pelas noites de Domingo. Guterres ainda não deu muito nas vistas - está a cumprir um período de nojo antes de provavelmente iniciar um estado de graça. António Costa, Seguro ou Sócrates não se têm de preocupar com Guterres. Se este correr para algum lado, será quase de certeza para Belém. Durão Barroso, que ainda não sabemos ao que vem, vai ter de acertar agulhas com o PSD para saber se é o homem presidencial (ou se tem lugar no novo partido da esquerda de Rui Tavares, para revisitar as suas origens ideológicas). Marcelo Rebelo de Sousa fará aquele jogo que conhecemos - não irá colocar as cartas todas em cima da mesa. Vai deixar os outros tomar a iniciativa, como tem sido o seu estilo, e depois, dirá à Judite de Sousa o que irá fazer (e ela, comovida pela confidência oferecer-lhe-á um cabaz de Natal ou um ramalhete de flores). Ainda faltam uns quantos que não caem na categoria de regressados à pátria. Refiro-me a outros que andam por aí a bailar e à espera do momento propício. O que deve ser sublinhado nestes regressos auspiciosos, tem a ver com a noção que inunda os seus espíritos - a ideia de que ainda podem prestar serviços à nação. Eu disse serviços. Não disse bons serviços, nem lindo serviço. Os portugueses que decidam que destino dar a estes trabalhadores - que eu não tenho voto na matéria.
Quando um cidadão exerce o seu direito de voto, delega o seu discernimento e a sua orientação política num representante. É como se assinasse uma procuração que concede a um vizinho o poder de deliberar e votar em sede de assembleia de condóminos. Quando um grupo de cidadãos elege o seu lider partidário, faz precisamente a mesma coisa. Independentemente de ideologias ou partidos políticos, o eleitor, por ter outra profissão, por ser padeiro ou astronauta, e estar ocupado com outros afazeres, atribui a um delegado a responsabilidade de ajuizar e decidir sobre variadíssimas matérias. De um modo genérico é isso que um político de carreira deve fazer com um profundo sentido de abnegação (ainda antes de chegar ao poder). O político profissional que assina um código de honra é uma espécie cada vez mais rara. Esse defensor do princípio do justo e do contraditório não se pode deixar orientar pelo preconceito ou prejuízo. Deve agir de boa fé e procurar a solução que melhor sirva o interesse da comunidade, da sociedade e do país que deposita em si confiança. Quando um prospectivo chefe de Governo, um lider que pretende avançar as causas nacionais, assume preventivamente uma posição de negação, e afasta o benefício da dúvida de um modo irredutível, mata o bom-senso, o devir e o sentido da sua própria missão. Quando António José Seguro anuncia que votará contra o Orçamento de Estado (OE) de 2014, independentemente de conhecer o seu teor ou a sua substância, crava um ferro prematuro num embrião político, num ser que ainda não viu a luz do dia. O OE, abortado pelo PS deste modo grosseiro durante o seu período de gestação, revela a instransigência e a ortodoxia dos socialistas. O OE, sendo uma inevitabilidade, poderia receber o contributo dos socialistas. O documento poderia sofrer variações de acordo com propostas da oposição por forma a atenuar a natureza atroz que alegadamente decorre desse documento de gestão nacional. Os socialistas decidiram que não irão colaborar - ponto final. Quando Seguro diz que vai votar contra o OE, está a defraudar os condóminos do bairro socialista e arredores. Está a fazer gazeta ao trabalho penoso de análise na especialidade e na generalidade de um documento que emana de um orgão eleito de acordo com a Constituição da República Portuguesa. O que eu defendo é um princípio independente de quem está no poder ou de quem deseja lá chegar. O que sobressai neste exercício de "bate pé" é a arrogância intelectual de quem pouco tem para mostrar. Se Seguro acha que tem a receita para salvar o país, que mostre serviço e elabore um Orçamento de Estado Sombra. Um documento que materialize as grandes teorias socialistas. Um cão de palha não é o que o país precisa. O que Seguro faz, ainda antes de ter personalidade política e ocupar um posto executivo, é um mau sintoma, um prenúncio de alguém que não percebe que o momento histórico é outro. Por se negar à tarefa e fechar a porta à mera discussão do OE, Seguro obriga cada um dos condóminos a inteirar-se dos contornos da acta final. E se é esse o caso, nem sequer vale a pena passarem uma procuração ao chefe - chefe mas pouco - porque se demitiu ainda antes de ser contratado. O problema com a Democracia, e em certa medida da Constituição, não é um exclusivo do governo. Seguro também não passa com distinção neste exame.
Enquanto aqueles "seres dantescos" que dão pelo esquisito nome de mercados - os nossos credores e financiadores - dizem umas tantas coisas que seriam suficientes para a nossa classe política não dormir nem mais um segundo, por cá continua-se no vaudeville de sempre. O governo aponta as escabrosas culpas de Sócrates - como se fossem alguma novidade! -, enquanto a gente do Sr. Seguro berra crime!, ignomínia!
No fundo, o problema resume-se à pantagruélica ânsia de deitar a mão aos cofres alemães, tudo se sacrificando à agenda de cada um dos actores políticos. Andamos a dizer isto há anos, e infelizmente este blog tem sido um arauto da desgraça.
Com pessoal deste calibre aos comandos de meia dúzia de países-membro da UE, teremos uma hiper-Gross Deutschland garantida e sem o disparo de um tiro. É de tal modo evidente que até poderemos pensar na intencionalidade de todo este circo a que assistimos há demasiado tempo. Será para isto mesmo que Henrique Raposo muito bem alerta.
O vice-primeiro de Seguro - Carlos Zorrinho -, embora queira mostrar os dentes e defender o lider do seu partido, está efectivamente a salvar a sua pele. As falinhas mansas que refere são um modo de sacudir a água do capote. Quem é brandinho e inofensivo é Seguro. Quem tem falinhas que nem chegam a ser mansas é Seguro. E o facto de Zorrinho passar grande parte do seu tempo político na companhia do seu compincha de bancada parlamentar pode significar que sofreu efeitos de contágio. O perfil comprometedor de Seguro pode ser do tipo infeccioso que passa de parceiro para parceiro se estes não se protegerem adequadamente nas relações que estabelecem. Zorrinho, sem dar por isso, terá replicado um pouquinho de Seguro. Pode-se ter assegurado um bocadinho sem dar conta, e agora corre o risco de ser entendido pelos eleitores como um membro que se confunde com Seguro - um quase Seguro. Mesmo um chefe acarismático, como o secretário-geral, pode marcar o estilo dos seus seguidores. Sem o desejar ou sem o saber, os fiéis acabam por emular alguns tiques e figuras de estilo. Zorrinho tem consciência disso e porventura quererá demarcar-se da estrela cadente e marcar os limites da sua personalidade política. Se cai Seguro levará consigo a palette toda, os associados da empreitada e os resistentes às palavras inócuas. As frases perfeitas para um abstracto político, um esboço teórico de afirmação populista que dista das medidas concretas que o país necessita mas que estes trovadores desconhecem por não serem capazes (crescimento e emprego? Como?). As autárquicas podem rebentar com as guarnições vazias dos socialistas. Se de repente os camaradas ganham umas câmaras valentes, terão de lidar com a sua própria herança, com o regresso à ruína inacabada - o modo continuum socialista com todas as suas nuances, as fantásticas empresas municipais e os seus directores de águas e gases. Se mantiverem as câmaras que já detêm, serão obrigados a assumir por inteiro a responsabilidade dos descalabros financeiros, as contas desfalcadas de mandatos repetidos sem intromissão. De nada servirá atirar a culpa para os "dois anos de governação do governo de coligação". As catástrofes autárquicas terão apenas uma assinatura-rosa, terão apenas uma parte contratual e a batata quente não poderá ser devolvida a outros remetentes. A morada definitiva será essa e mais nenhuma. Os socialistas, num putativo regresso triunfal ao universo autárquico, retornam ao seu legado, ao seu passado, aos fantasmos e aos mortos-vivos da sua excelsa administração, a um Castelo-Branco-sujo em todo o seu esplendor. Os socialistas, toldados pela vontade de ganhar, levados na corrente da paixão, demonstram que não conseguem pensar uma para a caixa eleitoral. Não são capazes de ser racionais, metódicos e programáticos quanto baste para se organizarem a nível partidário, quanto mais para dirigir os destinos de um país. Os socialistas, que se acham capazes de congeminar um plano de salvação a solo, são politicamente narcisistas e egoístas, e reafirmam esse devaneio por não terem alinhado nas cantigas e acordes de Belém. Com este género de discurso pueril, sabemos que estamos a lidar com crianças queixinhas. A expressão "falinhas mansas" não demonstra maturidade política. É um balbuciar como tantos outros a que nos habituou Seguro. O punho rosa, hirto e firme, parece ser de outros Verões quentes, de outros protagonistas. Eu não disse que Seguro era contagioso?
Lentamente vamos percebendo o guião que nos conduzirá à próxima legislatura. Aos poucos, com a ajuda de colaboradores como Cavaco e Soares (sim, os mesmos de sempre), um certo alinhamento vai ganhando forma. O partido socialista parece ter dado entrada nas urgências políticas - vai ser sujeito a um bypass. O governo vai aos poucos estabelecendo uma relação de pré-amizade com os trabalhadores Portugueses. Não me quero esticar muito, dadas as parcas provas de estabilidade no convívio, mas o facto do governo ter encetado negociações com a UGT, significa que a oposição parlamentar é dispensável. O governo deu despacho a um novo transporte executivo que passa ao lado da oposição. O que Pedro Mota Soares andou a fazer sem se deslocar de vespa, é um primeiro sinal da construção de uma nova colmeia de consenso - uma abertura quanto baste para causar ainda mais enjôos àqueles que se julgam os donos do entendimento dos anseios nacionais, os únicos intérpretes de um conceito inexistente em política, a verdade. Os socialistas puderam ler a tabuleta afixada na porta de serviço, mas não quiserem entrar nessa zona de acesso restrito. Até parece que um porteiro lhes negou a entrada, mas foi mais um in-sai job. O que o governo está a fazer é remendar as calças cáidas pelos joelhos com o pano que tem à mão. Não se trata de uma declaração inequívoca de salvação nacional nem constitui uma união nacional, mas representa a abertura do estabelecimento a novos fornecedores, ávidos por promover as mais antigas técnicas laborais. O executivo de Passos Coelho entende que mais vale falar directamente com os visados do que com um representante de um conjunto de utopias de governação. Nem sequer era necessário que o histórico fundador do Rato desse umas bofetadas no afilhado Seguro. O joker desse frágil castelo de cartas iria cair por si. Era apenas uma questão de tempo, de tampas dadas pelos colegas ideológicos. Lá para as bandas socialistas o ambiente em torno da mesa de jantar não é dos mais simpáticos. Seguro entornou o caldo com a sua brandura dos cinquenta. Quando se levantou para discursar foi ao bolso errado da casaca e esqueceu-se do cravo na lapela - ficou-se mais por uma no cravo outra na ferradura. Seguro tem um cartão de cidadão com uma idade lixada para o conceito aguerrido de convicção. O líder do momento nasceu inter-geracionalmente. Não foi cultivado pelo dogma profundo nem pelo arado dos ventos revolucionários. Apareceu num apeadeiro entre duas estações centrais. E a pergunta que se coloca é a seguinte; se o governo (disposto a sobreviver a todo o custo), for aproveitando as propostas dos socialistas, e estas forem de facto acertadas e boas para o país, porque razão desejam os socialistas chegar ao poder? Não bastará que as suas soluções caminhem para os ministérios e os representem condignamente? Até podem ficar com os louros olímpicos, desde que o país consiga sobreviver à maratona. Se se trata de uma questão de poder pelo poder, então mais vale a pena ficarem quietinhos. Se as brilhantes e precoces ideias dos socialistas servirem o país e o governo as aproveitar, então o país ganhará e eles figurarão de um modo distinto aos olhos de tantos e tantos descrentes. Seguro pode até se tornar histórico por ter sido responsável pela renovação que terá de acontecer no PS. No mínimo deve ser acreditado com um emblema de arrumador involuntário da casa. Não vejo outra possibilidade se não essa. Não imagino o renascimento de um Fénix Seguro. Não consigo sequer imaginar uma mudança de indumentária que possa aliviar os nossos maiores receios. Já vi outros políticos o tentarem e falharam redondamente. De repente, face às contrariedades dos últimos tempos, lá aparece um novo Seguro com outro look, quiçá com umas patilhas farfalhudas, lentes de contacto, um bigode à Torres Couto (na sua primeira fase), e, mais importantemente, uma distinta colocação de voz - um timbre menos cavernoso acompanhado por tosse/escarro, algo mais gutural, menos político ou polido. E essa medida drástica seria porventura a mais surpreendente de todas na sua carreira. Realmente não sei mais o que fazer ao socialista que matou a oposição e que emprestou um cajado ao governo que lá vai caminhando. Que lá vai marchando, mesmo que manco e aos poucos.
A edição de um fascículo dedicado à crise nacional nunca seria suficiente. Para relatar de um modo fidedigno os episódios rocambolescos dos últimos tempos políticos seria necessário proceder à compilação de um dicionário idiotamático, uma enciclopédia de expectativas baixas e dissabores. Swaps, consensos, coligação, oposição, memorando, troika, assistência, títulos de tesouro, dívida, juros, banco privado, sociedade lusa de negócios, reforma do Estado, renegociação, remodelação, conselho de Estado, irrevogabilidade, entendimento, e, mais recentemente, salvação nacional. E depois há que acrescentar os bonecos desanimados, o elenco de um filme de mau gosto; Passos Coelho, Portas, Gaspar, Cavaco Silva, Maria Luis Albuquerque, Arménio Carlos, Ana Avoila, Catarina Martins, João Semedo, Jerónimo de Sousa, Alexandre Soares dos Santos, Angela Merkel, Christine Lagarde, Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa, Judite de Sousa, Marques Mendes, entre outros protagonistas que dão vida ao mistério da desgraça (a ordem obedece ao princípio do caos e portanto não é alfabética). A derradeira manchete que gira em torno da nomeação de Machete inscreve-se nesta lógica de mais um episódio de uma novela interminável. Os detalhes curriculares não fazem diferença alguma. Se esgravatarmos na mesma matéria porosa que envolve a política, encontraremos na árvore genealógica da contaminação as ramificações perigosas e os frutos colhidos indevidamente. A reforma do Estado não passará de uma utopia vendida ao desbarato. Na extensa fila de revoluções adiadas, que antecedem o redesenho do país, do governo e da administração pública, temos a reformulação do quadro mental. Entramos no domínio das psicoses comportamentais que fazem tombar a ideia de salvamento nacional. Como poderemos esperar que haja um consenso entre as diversas forças políticas em relação a um conceito difuso de salvamento nacional proferido por Belém, se os partidos políticos ainda não entenderam a urgência da situação nacional? Assistimos a uma tragédia na sua acepção mais pura. Os factores conducentes ao descalabro estão em campo e jogam de um modo leviano com a vida dos Portugueses. Por um lado, Seguro reclama que não troca boas ideias por eleições antecipadas e por outro lado o governo procede a enxertos e podas para dar a ilusão de dinâmica de reorientação de austeridade para outra coisa qualquer. A dissolução do governo e a elevação de outro não serve para resolver a questão. A farinha provém do mesmo saco. Algo mais profundo tem de emergir do pantanal. Um processo mais próximo da refundação dos valores dos partidos, uma espécie de dissolução ideológica. Os intervenientes políticos operam ao serviço do inferior interesse dos seus partidos. Os socialistas desejam o poder a qualquer custo, mas Cavaco trocou-lhes as voltas e o governo ganhou tempo para levar a mau porto os termos impostos pela austeridade. O governo deseja acertar posição com os socialistas para negociar com a Troika, mas enganou-se no parceiro. O governo deve acertar agulhas com a população Portuguesa. Com Machetes ou à machadada, o Governo tem a obrigação de concretizar de um modo objectivo os termos do tão desejado crescimento. Para continuar a ser governo (deixemo-nos de tretas), o executivo tem de tirar o tapete debaixo dos pés do Seguro e mostrar como se faz. Chamem o que quiserem à manchete nacional; um New Deal Lusitano ou coisa que o valha. Por outro lado, os cidadões, súbditos de Belém, também não podem esperar sentados. Os Portugueses têm de voltar a admitir o cooperativismo, as parcerias, a partilha de custos e benefícios. A iniciativa privada tem de sair do buraco em que se encontra. A população Portuguesa tem de colocar ao serviço das comunidades o seu génio e as suas respostas criativas. Da penúria à luz o caminho será árduo. Mas não se pense que o regime político vigente em Portugal trará as respostas que tantos anseiam. Esperemos que do marasmo em que nos encontramos possamos afixar um outro cabeçalho, outro que não seja póstumo. De algo que morreu e que jamais retorna.
Não sei qual o Q.I. de António José Seguro, mas deve rondar um duodécimo daquele pertencente a Einstein. Um declamador desta natureza decididamente não se pode tornar o primeiro-ministro de Portugal. Como é que ele pode bater o pé e dizer que "se há dinheiro, paguem-se os subsídios". Caro Seguro, não há dinheiro, não há professores e definitivamente não existem lideres partidários à altura dos desafios. Entendeu? Népia. Nicles batatoides. Zero. O país está na bancarrota, será que ainda não percebeu? Foi precisamente este tipo de atitude de desleixo, de paga-se e logo se vê que levou o país ao estado em que se encontra. Há mais; "de certeza que esse dinheiro não é para os portugueses fazerem férias de luxo fora de Portugal". Será que o homem nunca foi a um parque de campismo na sua juventude socialista? E ele fala de serviços de processamento dos dinheiros como se fosse um vírus informático a causa do bloqueio (mental). Isto é que é um lindo serviço. No entender deste mestre de ilusões é tudo uma questão administrativa, porque o dinheiro existe mesmo que não se acreditem em bruxas. Poderemos ainda chegar a determinadas conclusões por via indutiva, aplicando uma simples regra de lógica política que Seguro parece ter afinado e co-adoptado. Ora bem, cá vai. Se há trabalho, criem-se empregos. Se há falta de crescimento, tomem-se vitaminas Centrum. Se estão de férias, não são trabalhadores. Se há desculpas, que sejam das boas. Se o país está a viver uma crise, que vá de férias. É notável como um candidato a chefe de um executivo é capaz de meter tanta coisa no mesmo saco de incongruências. Os trabalhadores estão a viver e a passar dificuldades? Vejam lá se estou a entender bem esta afirmação complexada quanto baste. Por um lado os trabalhadores estão a viver e por outro lado estão a passar dificuldades. Ou seja, é possível viver (por exemplo, da parte da manhã) e passar dificuldades da parte da tarde (a seguir ao almoço, depois do café). Quando Passos Coelho declara a sua vontade de se recandidatar em 2015, parece já contar com o apoio de António José Seguro. O rival do Rato ao dizer calinadas deste calibre ajuda Passos Coelho a marcar pontos no placard. Com estas histórias de espiões e agentes duplos que nos chegam todos os dias no correio internacional, chego a pensar que Seguro é uma toupeira, um actor plantado no seu partido para minar as bases de apoio. No meio destes pleonasmos e números absurdos, quem pagará será o cidadão, os Portugueses que nunca terão descanso. Quanto mais férias, de quinta do lago a Domingo.
Dizem eles que Seguro vai de partido em partido em busca do consenso e do crescimento. Cá para mim dá ares de outra graça que não tem piada nenhuma. Aliás, é tão caricato que nem chega a ser cómico, mas aparenta qualquer coisa de trágico. No meu entender, como a sua cabeça não é capaz de pensar uma para a cesta, resta-lhe ir bater à porta dos outros para ver se a sopa de pedra se compõe. Como afirma que vai quebrar o gelo, devemos concluir que as soluções de governação estão há muito tempo congeladas na arca frigorífica e que o brilhantismo de Seguro apenas se irá revelar quando o actual governo derreter por completo e ele chegar ao poder. Para além disso, penso que Seguro não quer apenas o governo de Portugal. Deseja um dois em um ou algo que ainda não tem um DNA definido. O consenso, ou a pretensão ecuménica que gira em torno de um abraço alargado aos diferentes actores políticos, parece uma versão B de um governo de salvação nacional. Pelos vistos, se falhar São Bento, poderá sempre se sugerir para Belém enquanto representante de todos os Portugueses (menos os laranjas). Sabemos que os pedidos para reunir com os prospectivos parceiros foram enviados por correio electrónico (já está a funcionar) e que provavelmente as receitas para o crescimento possam ser devolvidas pela mesma via. A pergunta que Seguro coloca aos outros nem precisa de palavras para se entender. O lider do partido socialista estende a mão para que lhe ofereçam umas ideias para o crescimento da economia, outras para o emprego, e se sobrarem algumas, para o próprio consenso que serve neste caso para levar e lavar as soluções pensadas por outros. Uma especie de plágio de amigo político ou compincha sindical, de Peniche. Se Seguro não é capaz de conceber um plano integrado de crescimento, como pode aspirar a ser chefe de governo? Seguro parece ter boa vontade, mas falta-lhe tanto para inspirar competência. Diz ele que o país fica e os políticos passam, mas eu não sei se é bem assim. No meu juízo os políticos não arredam pé e o país vai-se "passando" com a residência permanente de ex-governantes. Quando ele tiver esse consenso que tanto deseja o que fará? Será que leva esses partidos e sindicatos todos para o poder? Ou será que vai bater à porta dos que ele afirma terem vendido a alma à direita. Veremos o que irá acontecer a este quebra-cabeça. Quebra-gelo.