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No tabuleiro internacional não existem vazios de poder. Os espaços disponíveis são prontamente abarbatados por actores com apetite global. Por outras palavras, o proteccionismo dos E.U.A., de trancas à porta, parece corresponder ao incremento do multilateralismo da República Popular da China (R.P.C.) em diversos sectores — uma espécie de (nova)chamada ao Ocidente, e ao mesmo tempo o desejo da sua ascensão à liderança de uma nova ordem global. E o campo da Inteligência Artificial (IA) não será excepção. Os chineses perceberam que uma organização internacional para a IA ser-lhe-ia proveitosa — mais uma forma de projeção de poder. Paradoxalmente, será difícil conter algo que pela sua natureza exploratória não é passível de ser trancado. A R.P.C. parece prometer o diálogo multilateral para com os parceiros estrangeiros, ao mesmo tempo que pratica o refrear de liberdades dos seus próprios cidadãos. No cerne da questão reside a dúvida existencial — a IA promove a democracia ou avança as causas do autoritarismo? E se a IA ganhar a sua própria consciência ideológica, será que não teremos de lidar com um novo actor político desprovido de território, cultura, que não serve nações ou estados, mas que condiciona tudo e todos? Em quem iremos confiar? E que novas modalidades de crenças serão geradas? Como se pode restringir o ADN mutante da tecnologia que nem sempre anda a par e passo com as aspirações da humanidade? E mais uma vez somos confontados com a noção de que a ética deve imperar, que a mesma deve procurar balançar o justo com o proveitoso. Enfrentamos neste momento da história, como em tantos outros, dilemas. Poderá existir IA que se autoregula? Como pode o homem aspirar a dominar o monstro que está a criar? Talvez possamos invocar as tormentas de 1984 ou afins, mas os arquétipos e os símbolos mais escuros já não servem à caracterização do mundo que se avizinha a passos largos. As amostras do maravilhoso mundo novo são parcas e inconsistentes. A prova parece ser cega.
