Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Pode parecer um detalhe sem grande importância, um mero acessório de informação, mas antes de desvendar o enigma que se nos apresenta, lanço o repto aos observadores mais atentos. O que distingue as matrículas portuguesas das restantes que se apresentam na fotografia? Exactamente, é isso mesmo. As chapas de identificação de viatura em Portugal trazem a inscrição do ano e mês de registo. E esse facto obriga a uma leitura sociológica, a uma interpretação realizada num quadro comportamental, de estatuto e de ostentação. Por que razão devem as matrículas portuguesas fazer o show-off do ano e mês de aquisição da viatura? Será para fazer inveja ao vizinho? Ou será para fazer a distinção daqueles que juntam uns trocos para comprar uma viatura em segunda mão no standerd de ocasião? O fetiche do novo também foi responsável pela promoção da mania social. Os olhares que os outros nos dão quando confirmam no semáforo fechado que a viatura saiu há horas do concessionário, tem qualquer coisa de explosivo, qualquer coisa de sexual no local errado. É a ferra na bomba com as insígnias de um último grito - sou o maior, sou o melhor e acabei de chegar. São também estes detalhes de presunção e água destilada que têm de ser purgados do espectro de arrogância. Do motor a dois tempos, destes tempos próximos do seu fim, à espera da partida, do verde - de uma outra viagem, virgem.
Torna-se difícil, se não impossível, fixar um marcador para o início do declínio político, económico e social de Portugal, mas são diversas as provas de gestão danosa e ostentação que não trouxeram proveito a Portugal. Não havia necessidade de realizar um investimento tão disparatado para promover o poder do império. O mundo já havia sido dividido entre as duas potências Ibéricas, mas em 1515, D.Manuel I - Rei de Portugal -, aconselhado pelo Turismo de Portugal daquele tempo, decidiu presentear o Papa Leão X com uma prenda invulgar. Um rinoceronte capturado no oriente e que viveu na Torre de Belém até seguir viagem para Roma. Lamentavelmente o animal não chegou a conhecer o Vaticano, uma vez que a nau em que seguia afundou ao largo da costa de Itália em 1516. Volvidos quase 500 anos, uma importante gravura de Albrect Durer que retrata o referido rinoceronte, foi vendida por um valor recorde pela leiloeira Christie´s. Torna-se curioso como a História de Portugal vale muito dinheiro. Se não estivéssemos em crise, e houvesse fundos para dar e vender, talvez o Estado Português devesse licitar pela gravura. Uma imagem destas, com uma forte carga simbólica merecia estar em Portugal para lembrar outros elefantes brancos.