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" The famous legend of William Tell embodies the essence of the Swiss national character. But no tyrannical regime in history has bullied Switzerland as much as the United States government has in recent years."
Ron Paul
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É quase uma superstição nacional. Quando se fala de ouro, prataria e pedrarias de ostentação institucional - o caso do estranho roubo na Holanda para sempre ficará na memória -, os portugueses arrebitam as orelhas e os canais auditivos não perdem palavra sussurrada.
Diz-se que uma parte das reservas de ouro do Banco de Portugal está guardada nos Estados Unidos da América. É bem conhecido o caudal ininterrupto que actualmente corre em direcção aos cofres-fortes da Índia e da China. Teóricos da conspiração garantem ser aquele ouro asiático, uma possível arma letal a utilizar em caso de necessidade, desorganizando o sistema financeiro. Tal hipótese não deveria ser considerada, pois países como a China detêm astronómicas quantidades de divisas ocidentais, nomeadamente dólares que não quererão reduzir à categoria de papel acendalha. Contudo, alguns países iniciaram o processo de retorno do seu ouro, talvez numa atitude de reafirmação da soberania. Em tempos conturbados, grandes medidas, mesmo aquelas eivadas de simbolismo que contenta a população.
Era compreensível o depósito destas reservas bem longe dos apontados perigos que espreitavam a Europa dos anos cinquenta, sessenta e setenta. Recuando a presença militar russa para os limites territoriais dos tempos da entronização de Sofia de Anhalt-Zerbst como Catarina II, o argumento há muito desapareceu. As opiniões públicas ocidentais, com razão desconfiam dos seus responsáveis políticos e execram as elites financeiras, instalando-se indefinidamente um insalubre clima de suspeição.
Chegou a hora do cabal esclarecimento acerca de parte da chamada Pesada Herança que se encontra fora das fronteiras portuguesas. A quem compete esse esclarecimento e a consequente acção? Ao governo? Ao Banco de Portugal? Ou a ambos?
Os portugueses deveriam estar atentos a este caso.
Na maior parte dos casos os problemas sistémicos revelam-se fora da caixa onde se encontram os decisores políticos que julgam poder encontrar as soluções adequadas. Muitas vezes, enquanto os olhos seguem com atenção determinados eventos, outros acontecimentos passam despercebidos. Todos sabemos que o sistema financeiro, tal e qual como o conhecemos, se encontra seriamente debilitado. A União Europeia procura, nesse sentido, implementar mecanismos por forma a garantir uma maior segurança no sistema bancário pan-europeu. Contudo, e independentemente da face visível das intenções dos ministros das finanças da zona Euro, outras dinâmicas que ocorrem, demonstram, de um modo inequívoco, que a confiança foi permanentemente afectada pela crise que se iniciou em 2008 e que comprometeu a retoma das economias europeias e a geração de emprego. Embora o futuro da divisa euro pareça estar salvaguardado por decreto político dos decisores em Bruxelas, a verdade é que um fenómeno de substituição de divisas está a ocorrer nos bastidores. A procura desenfreada de ouro prova que os aforristas não acreditam nas palavras optimistas dos governantes. Um pouco por todo o mundo o sentimento de pessimismo é semelhante, e as "casas de moeda" de muitos países estão a cunhar ouro a um ritmo desenfreado por forma a acompanhar a crescente procura. Se não o fizéssem, o preço da onça de ouro certamente se encontraria em níveis muito mais elevados (USD$2000-$2500?) e geraria um efeito de contágio dramático minando os esforços de escaparate dos políticos que afirmam que a esquina foi dobrada, que a retoma é uma realidade. São sinais desta natureza, que não ocupam as primeiras páginas de jornais, que devem ser interpretados. A ascensão do ouro é uma consequência natural, uma reacção à impressão realizada pela Reserva Federal e à compra de títulos de tesouro pelo BCE que procuram mitigar o fraco comportamento do mercado aberto. Um sistema financeiro assente na virtualidade e na capacidade de execução electrónica, encontra-se a milhas das dramáticas necessidades da economia real. O que está a acontecer com o ouro representa um "regresso" à ideia de sector primário da economia. A riqueza deve assentar em pressupostos materiais, em objectos e bens físicos. O conceito de crédito, que tantos danos causou às economias de muitos países, deve ser gradualmente substituído por divisas com valor efectivo. Nessa medida, o ouro, assim como a prata ou a platina serão escolhas naturais para aqueles que deixaram de acreditar no poder endeusado de dólares ou euros, na música harmoniosa que sai da boca de tantos políticos.
Segundo dados do Banco de Portugal, a última venda de ouro português deu-se em 2006, quando Portugal colocou no mercado 20 toneladas deste metal precioso. Entre 2002 e 2006, Portugal pôs no mercado 225 toneladas, sendo que em 1974 Portugal possuía 865.936 toneladas, diminuindo em 2006 para 382.540 toneladas deste metal.
O Euro e o sistema financeiro europeu assentam em pilares políticos sem correspondência com a realidade económica, daí a crise que atravessamos. Durante cerca de 2 décadas, o sistema estimulou uma tragédia dos comuns, com os governos da Europa do Sul a endividarem-se insustentavelmente - Philipp Bagus explica detalhadamente o que aconteceu. Entretanto, «O World Gold Council sugere que Portugal tenha luz verde para emitir dívida com o ouro como garantia.» Vítor Gaspar, como bom tecnocrata obediente, vai atrás da voz do dono, e admite fazê-lo. Quando é cada vez mais evidente que vamos ter que renegociar a dívida, o que implica não pagar parte desta, e eventualmente sair do euro - embora concorde com Manuela Ferreira Leite quando diz que isto não faz sentido visto que ainda não foi colocada esta hipótese à Grécia - fica à vista de todos o que é que se pretende com esta matreirice. Há muito que os alemães querem o ouro português. Aguardemos para ver se, também nisto, o governo vai alinhar pela mera servidão ou se demonstra ter um pouco mais de sagacidade política que o que tem tido em geral. Paulo Portas tem o dever de fazer compreender a Passos Coelho e Vítor Gaspar o que está em causa.
Se as autoridades não se acautelam, o Alentejo em breve parecerá um queijo furado, de tantos os buracos que o Povo fará na terra à procura do metal amarelo.
Isto porque, hoje, a empresa Colt Resources divulgou que os resultados das perfurações na Boa-Fé, no concelho de Évora, evidenciam «graus impressionantes» de ouro perto da superfície. À TSF, o diretor-geral da empresa canadiana que desenvolve prospeções de ouro no Alentejo, afirmou que os resultados são muito melhores do que o esperado. A Colt Resources disse já ter recebido os resultados analíticos finais correspondentes a amostras das sete sondas de perfuração instaladas naquela zona alentejana, depois de ter assinado um acordo com o Governo português para a concessão experimental de ouro nas freguesias de Santiago do Escoural (Montemor-o-Novo) e de Nossa Senhora da Boa-Fé (Évora). No mês passado, o CEO da Colt Resources, Nikolas Perrault, tinha já revelado que as perfurações na Boa-Fé estavam a detetar «mineralizações de alto teor» de ouro, admitindo a possibildade de se iniciar em 2014 a extração industrial. Num comunicado hoje divulgado, citado pela TSF, Nikolas Perrault diz que as perfurações na Boa-Fé «continuam a fornecer graus de ouro impressionantes, perto da superfície». «Estes dados serão incluídos na estimativa inicial de recursos do projeto, que deverá ficar concluída até final do mês», afirmou, acrescentando que vão prosseguir perfurações mais profundas. Recorde-se que o acordo com o Governo português, para a concessão experimental de ouro nas duas freguesias alentejanas, foi assinado em novembro de 2011, num investimento previsto de três milhões de euros, durante três anos.
Já o havíamos avisado que este era o grande objectivo de Merkel y sus muchachos. Agora a coisa parece bastante mais séria e real. E, ao mesmo tempo, humilhante. Debaixo de um já de si humilhante Pacto de Redenção, e de acordo com o jornal i de hoje, "para vencer as actuais dificuldades, os países endividados do Sul da Europa, Portugal, Espanha, França e Itália, poderão ser convidados/obrigados a pôr as reservas de ouro e os tesouros nacionais como garantia de um plano de assistência e estabilização financeira de 3 mil milhões de euros que está a ganhar forma na Alemanha, em alternativa à criação de eurobonds.
A ideia de criar um “Pacto de Redenção” para a zona euro nasceu na Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz, e foi apresentada, pela primeira vez, em Dezembro de 2011, pela professora Beatrice di Mauro na reunião anual do Conselho Económico alemão que se realizou naquela instituição.
Aparentemente, a ideia fez o seu caminho e a chanceler Angela Merkel já prefere este pacto à criação de eurobonds, uma questão que levanta grandes dificuldades ao parlamento alemão, o Bundestag, impedido de o fazer constitucionalmente.
O Pacto de Redenção combinaria as vantagens de taxas de juro semelhantes às da Alemanha e permitiria aos países endividados do Sul da Europa reduzir as respectivas dívidas.
O plano separaria as dívidas dos estados membros em duas componentes: soberana e não soberana. Tudo o que estiver acima do limite de endividamento de 60% imposto pelo Tratado de Maastricht seria considerado dívida soberana. A restante parcela de 40% ou mais seria gradualmente transferida para o “fundo de redenção” que seria suportado por obrigações europeias comuns.
Os britânicos acham a ideia interessante, mas admitem que a exigência de colocação das reservas de ouro e tesouros nacionais como garantia de empréstimos possa vir a inflamar as opiniões públicas em Itália e Portugal, segundo o “Daily Telegraph”. Portugal e Itália possuem grandes reservas de ouro. A Itália tem 540 toneladas e Portugal 382,5 toneladas, avaliadas pelo Banco de Portugal em 14,9 mil milhões de euros.
Na sua primeira grande entrevista após a eleição presidencial, na terça-feira, o chefe de Estado francês, François Hollande, disse que Angela Merkel admite o princípio do crescimento como ele próprio admite o princípio da “seriedade orçamental”.
Sobre a questão das eurobonds, a que a Alemanha se opõe, Hollande deu a entender que se poderá chegar a acordo a longo prazo, mas “não de imediato”.
O presidente francês pediu a semana passada na reunião informal da zona euro que a “perspectiva” dessas obrigações europeias, uma forma de mutualização das dívidas, fosse inscrita na ordem do dia da próxima cimeira de chefes de Estado e de governo da União Europeia em Junho.
No entanto, Merkel continua a opor-se firmemente a esta solução, que considera “não contribuir para o crescimento”.
A utilização de ouro para financiar operações financeiras pelos estados-membros “não é uma opção”, porque o ouro está ali apenas para proteger o euro, segundo Natalie Dempster, do Conselho Directivo do Ouro. Por agora, os tratados europeus proíbem formalmente que os estados-membros promovam operações de venda de ouro dos respectivos bancos centrais para financiamento corrente."
Mas, como bem sabemos, os Tratados hoje em dia alteram-se ao pequeno almoço. Daí ao desaparecimento do nosso último bem é apenas uma questão de dias. E vamos andando...
Manifeste o seu desagrado por esta possibilidade directamente junto das autoridades alemãs:
Embaixada da Alemanha em Lisboa - Contacto aqui
Chanceler Angela Merkel - Contacto aqui
Consulte o documento aqui.
"A redução das taxas de juro e o aumento do prazo de pagamento só se aplica às novas parcelas de empréstimo que chegarem a Lisboa. Foi falado mas não se concretizou. Na preparação da cimeira de europeia, países como a Holanda e a Finlândia, exigiram que alguns activos dos Estados resgatados fossem dados como colateral para futuras tranches de crédito e as ilhas gregas e as reservas de ouro português foram invocados como garantia de novos empréstimos. As parcelas de território grego chegaram mesmo a fazer parte de um documento de trabalho durante a cimeira, no quadro do segundo resgate, e as reservas de ouro português, que não podem ser usadas para abater no défice, foram dadas como exemplo de um activo que poderia ser dado como garantia. Ou seja, no caso destes países não poderem honrar as suas dívidas com a União Europeia (UE), estas dívidas seriam cobertas por activos nacionais, antes de activar as garantias dadas pelos países do euro. O assunto acabou, no entanto, por morrer, com as garantias a serem compensadas pelo aumento da participação do sector privado no resgate grego, indo ao encontro dos anseios precisamente da Holanda e da Finlândia, bem como da Eslováquia e da Alemanha. A penalização dos privados acabará, no entanto, segundo técnicos europeus contactados já na passada sexta-feira, por sair mais caro aos contribuintes europeus do que o modelo de socorro concedido a Portugal e Irlanda. O segundo programa para a Grécia inclui financiamento para operações de compra de dívida no mercado secundário e de troca de velhas obrigações por novas, o que contribui para aumentar a sustentabilidade da dívida grega. Para os países mais conservadores foi a moeda de troca para aceitar voltar a emprestar dinheiro à Grécia, ainda que sob forma de garantias, sempre na lógica - tão popular - de partilhar os custos com os privados. O problema é que isso terá um preço."
In: Diário Económico, 25.07.2011