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Houve há uma semana um temporalzinho da treta. Uma perturbação que devia ter sido irrisória, se ao menos o país tivesse aproveitado bem as benesses que lhe foram concedidas. Aproveitado o clima plácido, aproveitado a geografia acolhedora, aproveitado a ausência de guerras e pestes, aproveitado o dinheiro que recebeu da Europa, aproveitado a abertura da Cidade e do Mundo ao progresso trazido pela globalização, aproveitado a sorte.
Como sabemos, nada disso foi aproveitado. Os portugueses continuam a não governar-se nem a deixarem-se governar. Ninguém lhes come as papas na cabeça, a não ser os chico-espertos dominantes, que entre uma promessa e um tacho lá vão comendo e deixando migalhas aos tansos.
Volvidos sete dias sobre a tempestade, há gente que ainda não tem água nem luz nas suas casas. Os monopólios vigentes, sendo por natureza impávidos às vicissitudes de quem lhes paga a existência, estão perfeitamente a lixar-se para a situação.
O Estado, afoito no controle fitossanitário das ostras e na certificação das rendas de bilros, afaga o lombo aos monopólios, onde tem a patorra aconchegada. Asinus asinum fricat.
Entretanto foi criada uma petição pública que me honra aqui referir. Subscrevê-la-ei e faço votos de que surta o efeito pretendido, para que seja dado mais um passo seguro no sentido de obliterar esta gente cujo carácter desafia qualquer descrição. Recomendo ainda a leitura do editorial do Jornal de Leiria, onde pode ser encontrado um retrato mais próximo da situação terceiro-mundista que aflige agora muitos dos nossos compatriotas.
E fica, de facto, no ar a pergunta para que todos e cada um de nós, os mais e os menos complacentes, deveríamos ter, na ponta da lingua, a resposta: e quando vier um temporal a sério, ou outra coisa qualquer daquelas "que só afectam os outros lá longe"?
Não digam nada, já estou a imaginar. Refila-se muito e não se muda nada, paga-se os impostos porque eles é que mandam e é melhor não criar muitas ondas porque senão ficamos malucos.