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Que azáfama que ali vai! É tempo de podar as árvores que nos acolheram no Verão à sombra das suas folhagens.
E um sentimento de tristeza: a catalpa amiga que vejo do meu quarto, onde me refugiava nesse tempo de canícula agora totalmente nua, agora despojada das folhas largas, magnânimos verdes leques ... No chão a roupagem outonal que trajou até há bem pouco tempo, amarela aqui e ali, mas verde ainda, num verde desbotado talvez...
Uma certeza porém, a consolar a visão castanha, de tronco ferido: mal o Inverno comece a despedir-se elas, as folhas verdes, muito tenrinhas no começo, muito delicadas ainda, voltarão e com elas a alegria da paisagem verde...
( Lagoa de Santiago - freguesia das Sete Cidades- S. Miguel )
Quando cheguei ao continente, mais do que uma pessoa me disse: - quando falávamos contigo por telemóvel estavas com uma outra voz, de felicidade; agora...; o que aconteceu? Encolhia os ombros, mas para mim pensava que isso só podia acontecer porque, aliado ao facto de estar rodeada de tanta beleza, por uns tempos esqueci o mal que vai corroendo este país, sem apelo nem agravo.
" E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles (os índios) se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado: e então tornaram-se a assentar como nós... e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção." - Carta de Caminha a El-Rei, 1º de maio de 1500
Um excerto da carta em que Pêro Vaz de Caminha informa D. Manuel que a armada sob o comando de Pedro Álvares Cabral chegara, a 22 de Abril, a terras que logo baptizaram de Vera Cruz. Nele se refere a primeira missa ali realizada . Foi no dia de Páscoa, que calhou a 26 do mesmo mês, faz hoje anos.
Dez anos antes, em 2000, a Páscoa foi no dia 23 de Abril. Fomos passá-la a Sousel. No dia anterior ficáramos em Ourém; o Sporting estava a um passo de ganhar o campeonato, e o jogo de Sábado com o Marítimo ( ? ) era decisivo Foi uma explosão de alegria quando ouvimos da vitória sportinguista.
Na manhã seguinte prosseguimos caminho ( iríamos passar lá a Segunda-feira, que por cá é dia feriado ), e, uma vez chegados à Pousada fomos
presenteados com uma reprodução daquela carta, que o EXPRESSO ( ? ) distribuira com o jornal.
Coisas do nosso dia-a-dia, em que coisas tão prosaicas, como um campeonato de futebol, são associadas a outras que marcaram indelevelmente a história de um país...
... nada melhor, para o descanso da guerreira, enquanto se relê « A Queda Dum Anjo », sorrindo, e rindo, com as venturas e desventuras do morgado de Agra de Freimas, e se saboreia um chocolate.
Ir a pé ao centro da cidade, a melhor maneira de aquecer.
0bjectivo: comprar um livro para cada um dos sobrinhos pequenos, para presenteá-los no Natal. Como sempre acontece num Sábado de céu azul, essa parte do burgo está animada. Decido entrar numa livraria que dantes frequentava, que me faz lembrar a saudosa livraria Pax: no atendimento, próprio das livrarias tradicionais, na familiaridade que o livreiro mantém com os livros.
Aviados os livros para os sobrinhos, por ele aconselhados depois de lhe dizer as idades, e aprovados após a leitura de alguns excertos, reparo num livro que logo me parece ser de memórias de Adriano Moreira: nascido em 1922, leio, penso que muito terá a contar sobre a nossa história mais recente, protagonista e testemunha privilegiada que foi de acontecimentos marcantes da vida de um país que é o nosso. Daí, a juntá-lo aos que estavam já no saco foi, pois, uma questão de segundos.
a máquina pronta a disparar; queria trazer comigo a recordação do que os meus olhos viam; mas o nevoeiro que o envolvia aconselhou a esperar pela Primavera, pela limpidez do ar...
Estava sol quando ontem saímos de Braga, a caminho de Lamego. E assim se manteve durante muito tempo. Ia, pensava eu, conhecer melhor uma cidade que quase só conheço de passagem. Mas por alturas do Marão tudo à nossa volta começou a ficar cinzento e ao longe, num nível mais baixo, o nevoeiro era tão denso que parecia uma imensidão de neve. Íamos visitar amigos, e por casa deles nos quedamos, de tão inóspito que estava o tempo fora dela.
Que voltaríamos com o regresso do sol...
E nessa altura, então, hei-de trazer um bocado do rio comigo.
dos poucos brasileiros que me são próximos: é mesmo muito raro ir à cabeleireira - só para cortar o cabelo ou quando vou a uma festa. E nessas poucas vezes, vou a um salão aqui ao lado, onde encontrei uma brasileira, casada com um português, que logo na segunda vez que lá fui me perguntou se gostava de música brasileira: que sim, gostava muito...; tanto bastou para que a Ritinha me dissesse ir gravar-me dois CDs que talvez não conhecesse, porque nunca os encontrara no mercado português. Não demorou muito para que mos trouxesse. Quando cheguei a casa, comprovei a veracidade da previsão: músicas de Vinicius e do Chico, lindíssimas, que nunca ouvira. Neste momento, é a Bethânia que dá voz a uma delas.
já o tinha dito. Mas não tinha confidenciado ainda que tenho, a morar no apartamento em frente, uns vizinhos do melhor que há. Brasileiros, são de uma simpatia inexcedível, sempre prontos a ajudar. Tento corresponder, claro, mas temo não conseguir acompanhá-los.
Pais de dois rapazes, um universitário já, o outro quase a sê-lo, só uma vez tive de tocar-lhes à porta: era o aniversário do mais novo, e depreendi que a casa ficara por sua conta e dos convidados. A música tocou até às tantas, e eu fiz ouvido grosso - afinal o dia seguinte era Domingo, poderia recuperar o sono perdido. E eles eram jovens...
Mas, por volta das cinco da manhã lá se foram as minhas boas intenções de aguentar estoicamente a barulheira, e fui pedir-lhes para baixarem o som. Educadíssimo, o aniversariante pediu desculpa, e o barulho acabou nesse instante.
Sei que há vizinhos chatos ( no prédio conheço dois, mas, felizmente vivem em andares bem longe do meu ), e por isso mais valorizo esta vizinhança. Além de que,quando se trata de música ligeira, estamos em sintonia- com a excepção da que ouvi naquele dia de aniversário, uma única vez, aliás - : a Bossa Nova é quem mais ordena.
E não teria sido, porque hoje esteve um dia cinzento, de chuva miudinha. Chata.
Pelo contrário, no Sábado anterior esteve um dia lindo de Outono, em que o sol começou a querer abandonar-nos já bem no entardecer.
Durante muito tempo, na adolescência, e primeiros anos de adulta, era lá, em Valença do Minho que passava as férias. Eu e os meus. Como companheiros, tínhamos, nós as raparigas, principalmente, porque as idades eram similares, os cinco filhos de uns velhos amigos dos pais. Depois, a vida encarregou-se de nos separar, quando uns foram para o Porto, outros para Lisboa; mas também porque os interesses se tornaram outros. Anos mais tarde, e porque a diferença de idades entre eles e os meus irmãos, mais velhos, deixara de ser uma barreira, voltámos a saber deles por via destes. Para esse dia planeáramos o reencontro; o grupo agora aumentado porque entretanto a maioria casou, e, além das mulheres, havia também crianças. Que só ontem conheci. Foi frente a este lago, com cisnes, e num restaurante que guardou o pitoresco da região, que a festa se fez. Estava frio já, quando os deixámos. Não antes de marcar a data, bem breve, em que virão eles visitar-nos.
dizia José Luís Borges; mas o escritor argentino já tinha, quando assim falava, na sua conta corrente milhares e milhares de páginas lidas, pelo que podia dar-se a esse luxo. Não é, evidentemente, o meu caso, pelo que ainda há à minha espera muitos livros a serem folheados pela primeira vez. Não obstante, é uma das coisas de que gosto: reler. Voltar aos livros de que gostei, e que me garantem uma segunda leitura que me mostrará coisas passadas despercebidas, porque por elas passei quase como raposa por vinha vindimada. Pormenores ricos, que se escondem nas entrelinhas. Tenho feito isso com os dois grandes do século XIX - menos com Eça, é verdade -, mas, do mesmo modo, com escritores mais próximos de nós no tempo, com a balança a pesar mais para os seguidores da Escola Camiliana
Hoje, porém, os meus olhos pararam num outro livro, do sécu XIX também: voltar a acompanhar Almeida Garrett, nas viagens que fez pela nossa terra...
não sem antes banhar os pés em águas " calientes ", e ir saborear um robalo ao Ferragudo. Desperta em mim a memória de um outro sabor, também ele com cheiro a mar: o do robalo da Mariana, em Afife, e nunca a rubrica "...porque de Norte a Sul " fez tanto sentido.
Antes, uma visita, quase de médico, pelo que resta da vila piscatória, com pequenas casas brancas ao longo do Rio Arade,onde não faltavam as pequenas embarcações prontas para se fazerem ao mar, num crescendo que culmina na Igreja da Senhora da Conceição, cujo adro constitui um miradouro privilegiado sobre toda a região circundante..Só faltava mesmo uma luz acolhedora, que fomos encontrar nos belíssimos candeeiros de ferro forjado.
Claro que fora deste núcleo original uma nova Ferragudo vai surgindo, nem sempre assim pitoresca...
Peristilo do palácio do imperador Diocleciano - Split - Croácia
no veleiro de um esloveno, que fez o Erasmus com um amigo na Lituánia ( daí as várias nacionalidades dos marinheiros ), navegar por águas quentes do Mar Adriático, decido confiar ao Diário, três anos depois, algumas das impressões de uma das viagens que melhores recordações me deixou: Croácia, Montenegro e Eslovénia.
Comecei pelo Sul, por Dubrovnik, cidade que bem justifica a qualificação de Património da Unesco; a vista nocturna mais linda que até hoje vi, numa cidade de gente a abarrotar de simpatia - um único senão: tendo ido em meados de Agosto, era tanto o calor, que uma tarde, muito quente, tive de me refugiar no belíssimo e fresco mosteiro de S. Francisco, onde dei largas ao meu gosto por claustros, e ainda pude ver uma das mais antigas farmácias da Europa, activa ainda, mas com todos os utensílios e mobiliário originais.
Seguiu-se uma visita ao recém declarado independente Montenegro, e continuava o deslumbramento, em terras onde o encontro com a História acontecia a qualquer momento...
De volta à Croácia, a cidade de Split não desiludiu. Aí pude apreciar, detidamente, uma das coisa mais impressionantes que dos romanos vi, fora de Roma - o palácio do Imperador Diocleciano. Só visto!
Nesse mesmo dia, fui jantar a uma cidadezinha também Património da Unesco, e desse título merecedora também, de tão encantadora que é: Trogir. Ruas lindas, com esplanadas convidativas- aí comi uns mexilhões indescritíveis, que faziam jus a uma cerveja " do outro mundo "...; o mar cheio de iates milionários, a simpatia a rodos...
Subi, então, à Eslovénia, onde a beleza natural se agiganta.
Tinha lido, antes de ir, que os habitantes de Liubliana eram considerados os mais felizes da Europa, e entendi bem o que isso significava, quando andei pela cidade num Sábado, começava a entardecer...
e a professora de desenho, que era também a directora de turma, animou-nos a fazermos um " jornal " intitulado " 28 Num Balão". Para início do dito, sugeriu que cada um de nós procurasse em sua casa um texto, um poema ou um desenho de autores consagrados.
Esqueci o assunto, e só me lembrei da incumbência na noite anterior à manhã da entrega do material seleccionado. Apanhei o primeiro livro à mão, que calhou ser a Selecta Literária que no Domingo fui reencontrar na Feira de Velharias e Antiguidades de Vila Verde, e copiei o primeiro poema que encontrei - na secção dedicada a Fernando Pessoa; « Todas as Cartas de Amor são Ridículas ».
É provável que tivesse já ouvido falar no poeta, mas nunca me tinha passado pela cabeça que uma pessoa escrevesse com vários nomes, e nem sequer atentei na informação adicional de que o poema fora escrito pelo heterónimo Álvaro de Campos ( hoje estou convencida de que se o tivesse feito ficaria muito confusa ).
Mais tarde, porém, soube que não era só eu a ignorar tal facto, porquanto, quando o entreguei à professora, ela atirou com " engraçado, não sabia que Fernando Pessoa tinha escrito este poema ".
no mercado de Portobello, Londres!
Hoje, de manhã, fui encontrar um em tudo semelhante ao inglês, mas aqui ao lado, em Vila Verde.
Uma vez por mês, encontramos aí,ao lado de velharias, de antigas alfaias agrícolas, velhos talheres com cabos de marfim, máquinas fotográficas de caixote ou grafonolas e discos de 38 rotações, relógios arte nova, e até carros dos anos quarenta...
Coisa para nos perdermos facilmente.
Com que alegria lá fui encontrar um daqueles cadernos escolares que usava na Escola Primária!
Uma Selecta Literária de 1966, e que serviu para o 3º ano dos Liceus de um irmão mais velho, mas que li também, e o tempo tratou de fazer desaparecer. Livros antigos, que me fizeram lembrar a sugestão do Nuno, de começar a frequentar alfarrabistas...
E a promessa de lá voltar, agora com mais tempo...
opto por recolher à sombra do carvalho, que, em boa hora, este ano achou por bem estender um pouco mais os ramos, de modo a agraciar-nos com uma protecção maior ainda. Comigo vai um livro, que não abro sequer, pois foi quase logo que os olhos se fecharam, e entrei no que, mal ou bem, chamamos de sono dos justos.
Acordo bem mais tarde, com o alvoroço dos cães, que vêm ao lago refrescar-se.
Noto que está mais fresco já, e preparo-me para a leitura que a sesta adiara. É nessa altura que oiço, vindo não sei donde, um ruído que não identifico. Ponho-me à coca, e vejo um pássaro preto, que depois me dizem ser um pica pica, subespécie da pega, a picar no pinheiro manso ao lado, outrora feudo de uma colónia de esquilos, entretanto desaparecida, fazendo buracos perfeitos, onde, dizem-me, é hábito esconder tesouros como pinhões ou pequenos insectos.
Não se assusta o pássaro com a nossa presença, antes continua, imperturbável, o trabalho minucioso de perfuração; a propósito desta sua faceta de sociabilidade, alguém diz ter um amigo domesticado um pica pica, que agora imita a voz humana...
durmo de dia e faço vigílias nocturnas, o lugar que mais me prende a atenção é a estante onde está parte dos meus livros; mas já há tempos, nomeadamente desde que lancei um olhar de cobiça a certos títulos de autores portugueses mais antigos, mas do século passado, dos primórdios, alguns deles, embora, como « Cartas de Londres », de Júlio Dantas, ou, ainda do mesmo autor, li este excerto de « Pátria Portuguesa », tenho vindo a alimentar a vontade, e a constatar a necessidade de encontrar esses nossos grandes nomes da literatura nas livrarias - claro que não me refiro aos nomes consagrados do século XIX, pois esses vão estando presentes. Não sei se é falta de reedições, ou, e então o problema seria menos grave, de Distribuição.
Poderíamos então, e como escreveu um grande autor mais próximo de nós, " castigar os clássicos ". Porque começa a ser um bocado deprimente entrar numa livraria e ver que a maioria dos livos que aí encontramos são traduções, ou então...; isto tudo depois de sabermos da riqueza da literatura portuguesa que nos é anterior no tempo.