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No nosso país, existe uma certa tendência para as re-inaugurações. Desde o Museu dos Coches em caricata espera de "inauguração" por um ministro D. Amélia de fatinho cinzento e gravata às riscas, até à "inauguração" do "novo Terreiro do Paço", já nos habituámos à moda.
A reabertura da Capela da Rainha D. Maria Pia, talvez possa ser considerada como o primeiro marco da passagem de José Alberto Ribeiro pela direcção do Palácio da Ajuda. O local de culto consiste num espaço austero e íntimo, tendo optado o arquitecto Ventura Terra por uma decoração sóbria e coincidente com as indicações dadas pela monarca. Belas pinturas - onde pontifica o El Greco que até à data poucos portugueses sabiam existir -, bons móveis, ricos objectos de culto e uma iluminação adequada. Sob os auspícios do mecenato do Millenium BCP, o restauro foi bem executado e o único aspecto a merecer uma reconsideração, será a sinalética de difícil leitura.
Os discursos foram proferidos na chamada "Sala D. Carlos", um espaço também desconhecido pela imensa maioria dos visitantes. O Palácio da Ajuda é em termos europeus uma construção modesta, embora a atracção que exerce se deva à colecção que é um testemunho do gosto de quem o decorou e naquele espaço viveu durante mais de quatro décadas. Pela sua dimensão, o Palácio da Ajuda é a par de S. Bento, o maior edifício da capital portuguesa, merecendo uma especial atenção quanto à sua valorização. Uma infindável série de salas fechadas, colecções que não são mostradas ao público, a fachada poente ignominiosamente arruinada e uma caótica envolvente urbana, eis alguns aspectos que urge atender. A articulação da Ajuda com outros núcleos museológicos da zona de Belém, não poderá deixar de ser considerada como a única opção para a necessária pedagogia da história do poder. Baixelas, as sobreviventes jóias da coroa, pinturas, trajes, carruagens, fotografias e livros, a necessária coordenação com as visitas às galeotas do Museu de Marinha, consistem naquele todo que possibilita uma imagem mais nítida daquilo que foram os dois últimos séculos de existência da Monarquia Portuguesa. Há uns anos, a exposição cedida pelo Hermitage pareceu prometer-nos a recuperação de um espaço há muito negligenciado pelo Estado, mas aos russos decerto se colocou a desagradável situação da inadequação deste edifício semi-arruinado, aos propósitos de divulgação das colecções vindas de S. Petersburgo. Não poderíamos esperar algo de diferente, pois são conhecidos os constantes trabalhos de restauro e constante manutenção dos antigos palácios imperiais, caso que é extensível ao resto da Europa. Portugal parece ser a excepção.
Conhecemos a vastidão de Versalhes - e a generosidade dos seus benfeitores internacionais -, a imponência de Schönbrunn, a elegância de Potsdam e a grandeza dos palácios russos, ingleses, italianos e franceses, não nos esquecendo do impecável estado do Palácio do Oriente, em Madrid. O Palácio da Ajuda precisa de uma urgente intervenção que não se limite à preservação das suas colecções e dos espaços interiores, urgindo encarar a obra como algo de essencial essencial à promoção de Lisboa
Apesar de todas as dificuldades e entraves fáceis de adivinharmos, oxalá José Alberto Ribeiro consiga paulatinamente recuperar o mais importante edifício da capital portuguesa, dando-nos a conhecer salas há muito ocultas, finalmente conseguindo o interesse do Estado e mercê de um ainda bastante incipiente mecenato nacional, devolver a dignidade à construção que foi sede de poder e ainda serve para as grandes recepções aos visitantes estrangeiros.
Estádios, centros comerciais, Mercedes, Audi e BMW de pouco nos servem. Façam esta obra, nem que seja para salvaguardarem as aparências.
Tal como S.A.R. o Duque de Bragança avisou, aconteceu. Parece incrível. Andaimes postos e facilitando a entrada de bandidos. Segurança? Aparentemente escassíssima, para não dizermos nula.
Estando ao quase abandono há gerações, o Palácio Real da Ajuda é uma das muitas vítimas do desleixo do Estado, embora governos e presidentes dele se sirvam para umas tantas cerimónias. Sem qualquer vergonha, apresentam aos visitantes estrangeiros um edifício semi-arruinado, de fachadas escalavradas pela incúria, quando não completamente destruídas. É este um caso emblemático do Estado que temos, chegando-se ao ponto de no ediifício instalar-se o departamento de Cultura do governo português.
Sabe-se o que por lá se passa. Colecções empacotadas e sem a menor possibilidade de exibição pública, as Jóias da Coroa - já desfalcadas por um ainda recente e absurdo roubo holandês de contornos misteriosos, aventando claras cumplicidades sem castigo -, salas deterioradas pelo passar dos anos, enfim, um aberrante contraste com aquilo que vemos noutras capitais europeias.
"Diz-se" que aquando da visita do casal presidencial a Portugal, a Senhora Reagan entusiasmou-se com a colecção que o Palácio alberga e concedeu uma avultada verba destinada ao início das obras na fachada poente, já naquela época no estado que ainda hoje se vê. Não tendo a ridícula república portuguesa qualquer tipo de limites à falta de vergonha e indecência, essas verbas não foram aplicadas segundo os desejos da Sra. Reagan. A ser verdade esta estória, onde foi parar o dinheiro?
O Palácio da Ajuda foi assaltado. Qual a segurança prevista durante a duração das obras num edifício que além de ser um Museu, é uma das sedes da representação do Estado? Como é possível a entrada nas salas, sem que de imediato soem alarmes? Estão as janelas totalmente desprotegidas, de portadas escancaradas? Quantos efectivos policiais foram colocados no local durante a execução das obras? Quem garante o fecho de todos os acessos após as horas de expediente?
Tal como aconteceu no caso das Jóias da Coroa, bem depressa será este assunto esquecido, varrido dos noticiários.
Tudo isto é típico, lamentável. Casa roubada, trancas à porta. Ou já nem sequer chegaremos a isso?
Adenda: segundo informação fidedigna, quem terá entrado no edifício tê-lo-á feito em áreas que não pertencem ao Museu e assim, nenhum roubo de peças aconteceu. A informação veiculada pela SIC é incorrecta, alarmista como é do seu timbre. Mea culpa, temos mesmo de aprender a desconfiar, não reagindo "a quente". A Ajuda, um símbolo para muita gente, merece toda a nossa atenção.
Abro o site do Palácio Nacional da Ajuda para consultar os horários do mesmo e sou prontamente informado que este está temporariamente encerrado para que possa ser montada uma exposição de Joana Vasconcelos. Diz que agradecem a compreensão. E eu agradeço a informação, dispensando visitar o Palácio enquanto lá estiver exposto esse lixo.