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Em Cristo, sou dispersão e unidade numa só errância peregrinante comum ao Género Humano. Como Poeta, sou uno e sou vário, porque sou eu mesmo e tudo quanto o meu próximo sofra e sinta, desdobrado nele. Como Profeta, qualquer um o é!, pulverizo-me no corpo e na alma da Palavra, luto pelos Valores da Vida e da Liberdade, pela Justiça Inacabada, pela Tradição e a Sabedoria Acumulada. Disperso no mundo novo em que emoções e volições se entrechocam virtualmente, todos os dias abro os lábios para existir e agir na Rede. Grátis.
Disperso, à procura de Gente Capaz de Amar e de Crer e à procura de mim mesmo calibrado na grande demanda interior pela Paz. Os meus caminhos de diáspora íntima vão cunhados em grego antigo, διασπορά: eu sou milhões de portugueses. Fui deslocado violentamente da hipótese de emprego pela Corrupção Endémica do meu País. Fui forçado, incentivado a emigrar e na verdade emigrei dentro de mim mesmo, passando a existir sobretudo enquanto activista cívico-político na Rede, suspenso, sem corpo, platonizado, intelectualizado e sensual, mas dessensorializado, vertido nas plataformas de opinião e confrontação agreste ou pacífica do mundo virtual, todos os dias.
Sou um só e ímpar no Cosmos. No entanto, pertenço a essa grande massa de portugueses espezinhados pelas elites político-económicas, essas que legislaram em seu próprio favor durante décadas; essas que durante décadas urdiram leis que os excepcionam da Justiça apesar de a proclamarem e proclamarem «Povo» e «Liberdade» e «Progresso», na sonolência dos colóquios; essas que se perpetuam nas rendas, na ordem mediática, e se cevam através da grosseira exploração da grande maioria de que faço parte; essas que prosperam mediante as lógicas de fechamento em torno de si mesmas e dos privilégios adquiridos e intocáveis que tomaram para si e só para si. Sou Diáspora, forjado no sofrimento e para o sofrimento. Por isso esbofeteio a saudade e o fado com um pontapé rijo no entrepernas.
O Conselho da Diáspora está talhado para mim, para a minha Diáspora no Âmago, igual à Diáspora Física e Emocional de milhões de portugueses que foram aportuguesar longe, lusificar, aculturar bairros, fábricas, escritórios, lojas, Bancos, e tão calados, cumpridores, obedientes e discretos que os povos de acolhimento os tomam por sub-espanhóis ou sul-americanos, gente cinza e inócua que cumpre exactamente o que deve. O Conselho da Diáspora exala sucesso, capacidade, contactos, trabalho, dinheiro. Ó coisa boa que Cavaco pariu! É bom que me represente, anónimo, perdido, esmagado, esquecido, traído, escavacado pelo PS Dissoluto-Dissipador, e bode-expiado por PSD e CDS-PP em modo SOS.
O Povo Hebreu, desde o exílio na Babilônia no século VI a. C. e, especialmente, depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C., experimentou a desterritorialização nacional, o expatriamento de milhares, mas não a excisão de uma Alma verdadeiramente comum e um sonho por que viver onde quer que esivesse e como quer que fosse perseguido em Pogrom-погром e outras sábias limpezas seculares europeias-médio-orientais. O Povo Português, desde o século de Camões, inventou uma Diáspora Colonizadora e Aventureira, forjada na dor e na ousadia, uma Diáspora Conquistadora, Militar, Evangelizadora, Pícara, feita de coragem e com o ar discreto evangélico do não saiba tua mão esquerda o que faz a direita.
Por isso, ainda hoje meio-mundo não imagina quem somos, o que fazemos e o que fizemos. E esse anonimato e esvaziamento identitário de Portugal num Mundo Globalizado é somente a outra metade desta tragédia processional de quatro décadas lentas, o nosso desgoverno cheio de Esquerda e boas intenções.
Sou Diáspora. E tu, Tuga, também és. Ou não és nada.
Relanceio o meu olhar pelo ano de escrita que está prestes a acabar. Derramei-me. Como sempre. Se agora um torpor alastra pela minha alma, espécie de fadiga por tanto ter lutado, não no meu reduto, mas no da mesma trincheira hostil da mais retinta incompreensão, insulto e oposição pessoal, meses consecutivos houve em que nada me deteve na fabricação da violência feita palavra reactiva a vestir a ideia filigrana contra o terror de ver resvalar o meu Portugal para a agitação estéril e o vazio.
Era necessária uma barragem de verve contra os que nos VídeoMedia berram mais alto e por mais tempo na defesa de mais do mesmo, toda a prosperidade e adaptabilidade globalista de que a velha Esquerda é incapaz. Contra a sedição dos soares, a malícia dos sócrates e a rebelião em pólvora seca das esquerdas, marchei, marchei.
Pausa, portanto.
Entre o meu corpo e a minha alma desenrola-se agora o justo armistício, apaziguamento momentâneo de que careço. As naus das minhas palavras seguiram, seguiram viagem, deram-se à trópica rota de contundir ou consolar. Reparo, no entanto, que não há ninguém. Vejo que estou morto. Cercado de silêncio e frieza. Morto. Pobre e morto. Na verdade, não tenho ganho absolutamente nada com a minha escrita apaixonada na defesa de causas, princípios e éticas fora do grande lastro esquerdejante nacional mentiroso. Não lucrei nada, a não ser experiência escrevente, prazer no acto escritor e a espessa solidão do eremitério da escrita, vantagem da liberdade sem venalidade de emitir o que penso.
Zeros. É tudo quanto me é dado contemplar. Nenhuma oportunidade. Nenhum convite. Nenhum apreço. Nenhum horizonte. Zero. Sina. Portugal. Um dia será diferente. O mais provável é que seja diferente, mas longe, lá, onde possa voltar à vida social e financeira que o Regime, na sua horrorosa corrosão moral e propensão para a falência, comprometeu no meu caso e no de milhares.
Entretanto, estendo a mão. Sou qualquer um que estende a mão pelas ruas, avenidas e ruelas de Lisboa e Porto e perante quem o cidadão desvia a face enfastiada pela viciosa recorrência rotineira, pela habitualidade viscosa das ciganas romenas. No meu caso, os cortes foram muitíssimo mais radicais e só há uma maneira de reagir em devida conformidade com eles: estendendo a mão e defendendo o Ajustamento contra os soares, contra alguma maçonaria, contra os fósseis-sindicalistas, contra os comunistas do PCP, contra os rendeiros e devoristas do Regime, contra a tal nomenclatura endogâmica, neocorporativista e partidocrata que explica eloquentemente a minha penúria, o meu desemprego, o meu naufrágio.
Continuação de um bom dia, se puderem.