Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Rui Tavares quer se sentar no meio da Esquerda, mas eu gostaria de saber onde fica esse lugar na plateia. Se é um lugar vago entre Marx e Slavoj Žižek, ou se fica na outra fila, entre Gramsci e Chomsky. Por aquilo que pudemos ler no manifesto inaugural, não é muito fácil perceber quais as referências de Esquerda do fundador do partido. O guião escrito não me parece a base para a constituição de um partido fundamentalista anti-Troika e anti-austeridade - o que discorre nas parcas páginas lembra outros guiões da praça - não acrescenta muito mais ao universo das ideias políticas. Parece-me, numa primeira análise, que o partido Livre irá assentar na figura de Rui Tavares, na sua voz europeia e no que profere na coluna de opinião que escreve regularmente na imprensa escrita. Justiça e igualdade queremos todos. Ecologia amamos muito. E solidária é a nossa condição no contexto do descalabro nacional. O que ele defende na declaração de princípios não é pertença exclusiva da esquerda. E é aí que reside uma parte da contradição. Se o partido Livre pretende incluir os cidadãos na acção política de um modo abrangente e profundo, não é apenas no meio da esquerda que isso acontece. Os objectivos a que se propõe o "libertador" são, de facto, um lugar comum das exigências dos cidadãos. Será que se justifica a criação de mais um partido? Ou será que o Rui Tavares não encontra poiso noutras plataformas? Novidade novidade (política) seria Tavares contribuir com soluções em território inimigo. Incluir-se na luta civil dos socialistas ou até de uma CGTP. Mas não. Rui Tavares deve ter algo muito melhor para oferecer que os coordenadores do Bloco de Esquerda. Será que os políticos ainda não perceberam que a titularidade de pouco vale nos dias que correm? Um partido, para ser verdadeiramente livre nem sequer seria partido, não teria personagens - seria uma ex-machina. Seria uma força sem assinatura, sem magnetismos típicos da idolatria que acompanha a liderança. Rui Tavares corre o risco de ser o António José Seguro desse território enigmático - o meio da esquerda, no meio de nada. Tavares é um activista sem obra carismática para oferecer ou noções que rompam os atavismos dos outros - anos de política na bagagem, soa-me a muito pouco para emitir cartões de membro do partido. Sinto que com a sua chegada (mais um imigrado!), haverá um fenómeno semelhante àquele gerado por Louçã e Rosas quando estes irromperam com uma meta-linguagem política diferente da que estavam habituados os convivas partidários ou parlamentares. Quanto à papoila - prima suave do cravo -, é um cliché relativamente fraco. Mais valia o designer ter aproveitado um malmequer - o cidadão sabe o que não quer, mas não necessariamente o que quer.