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Apareceram logo umas damas ofendidas com esta ideia do Partido Social Democrata (PSD): o Partido Socialista (PS) deve submeter à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) o seu "programa operativo" no sentido deste ser auditado. Não vejo mal algum. Se o PS quer ser governo, então o seu "esboço de programa de governo" deve ser fiscalizado preventivamente. Portugal não tem grande margem de manobra para se meter em aventuras. Os portugueses não estão em condições de passar cheques em branco. Esses tempos findaram. Em política, mas sobretudo em Democracias, todas as propostas devem ser consideradas. Mesmo que não haja enquadramento jurídico para o efeito, o princípio subjacente é válido. A partir do momento que qualquer força partidária apresenta ao público um documento com essa mesma finalidade de disseminação, então o mesmo pode e deve ser analisado de um modo exaustivo. Aliás, a ser a UTAO a apreciar as equações dos socialistas, e assumindo esse organismo enquanto instituto idóneo e imparcial, reforça-se o argumento que seja o mesmo a efectuá-la. Ou será que a UTAO também está minada, corrompida por forças ocultas? Em alternativa, e à falta de abertura de espírito, no mercado aberto, o PSD sempre pode enviar o paper do PS para uma empresa de consultoria do sector privado - sai caro. Mas o que podemos verdadeiramente lamentar no meio destas considerações, é que representantes da ala jovem e fresca do PS como João Galamba revelem uma mentalidade antiquada, conservadora, porventura oriunda de um outro regime mental, político.
António Costa evoca as glórias do Bloco Central (PS/PSD) liderado por Mário Soares nos anos 80, e esse facto deve servir de bitola para interpretar as suas intenções e a sua base ideológica. Deve pensar Costa que os portugueses são idiotas. Foram pactos de regime dessa natureza que promulgaram a falsa rotatividade do poder - ora mandas tu, ora mando eu. Foi esse arranjo que possibilitou a distribuição mais ou menos equitativa dos meios necessários para implementar verdadeiras redes de influência e a apropriação dos meios económicos para os membros dos respectivos partidos. Para além dessa evidência, o "regresso" ao conceito de bloco revela a incapacidade em pensar prospectivamente e de um modo inovador. Os blocos são coisas do passado. Houve um Bloco de Leste, e mais recentemente um segundo que conheceu a ruína, quase idêntico etimologicamente - o Bloco de Esquerda. Diz ainda o secretário-geral do Partido Socialista que foi Soares que salvou o país e hasteou a bandeira da recuperação. Mentira. Foi o FMI que também esteve cá nessa ocasião e que não deixou o afogamento nacional suceder. Não sei que tipo de dividendos Costa pretende extrair deste ângulo de abordagem ao poder, mas arrisco dizer que sente que não são favas contadas, que as legislativas não estão no papo absoluto, absurdo. Ao envolver o Partido Social Democrata na antecâmara das considerações, obriga esse mesmo partido a exercício semelhante. Ou seja, a uma declaração ténue de uma nota de intenções sobre constituições de sociedades gestoras de poder. Porque no fundo é disso que se trata. Uma empresa política repartida por quotas a que alguns dão o nome de bloco para soar a luta sindical, a levantamento de operários - demagogia central. Portugal, lamentavelmente, tornou-se refém do seu legado. Torna a encontrar as mesmíssimas sementes que a conduziram ao descalabro, à colheita rara de ideias caducas. A montanha pariu um bloco.