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Mário Centeno também quis ter o seu momento Rangel. O putativo mestre das finanças do Partido Socialista congratula os portugueses pelos indicadores respeitantes ao desemprego - foram os trabalhadores e os empresários que melhoraram os indicadores, e não o governo. Podemos deduzir, por esta lógica da batata, que qualquer governo é dispensável, incluindo um eventual executivo de matriz socialista. Não fica bem a um pseudo-político não dar o braço a torcer. Vá lá, pelo menos o principezinho não afirmou que os números do Instituto Nacional de Estatística só foram possíveis porque a coligação PSD-CDS está no poder. E sabemos porque não o diz. Aquele instituto está carregado de camaradas socialistas, matemáticos caídos em desuso na disciplina de economia, ou que findaram as sabáticas no Instituto Superior de Economia e Gestão. Ah, já agora, passei por essa escola, mas apenas fiz uma cadeira antes de mudar de curso: estatística. O professor era simpático, mas fumava em cadeia. Na sala de aula.
Paulo Rangel é indiscutivelmente um dos políticos mais argutos da imensa feira de vaidades que dá pelo nome de Partido Social Democrata. Sabe o que diz, quando deve dizer, e, ainda que em muitas ocasiões esteja em total desacordo com o que defende a propósito das mais variadas matérias, não deixo de lhe reconhecer uma capacidade de síntese e de raciocínio bastante acima da dos seus pares partidários. Vem isto a propósito da recente conclamação a respeito de um "15 de Setembro" para defender os interesses do Norte. Entendo a reclamação, compreendo até a ira e o agastamento, tenho, porém, mais dificuldades em aceitar o modo, o porquê, e, acima de tudo, as razões de tamanha indignação. Que o Norte tem sido sistematicamente preterido na agenda governativa é um facto, empiricamente observável, que nem mesmo o adversário mais empedernido do Portugal-é-bem-mais-do-que-a-magnífica-paisagem-lisboeta seria capaz de negar. Falta de recursos financeiros, ruína do tecido produtivo e desemprego massivo, são realidades insofismáveis que qualquer observador minimamente atento pode confirmar com um mero relance de olhos. Agora, outra coisa bem diferente é apelar a uma espécie de levantamento popular para reclamar pressupostos de acção assentes no estatismo centralizador tão do agrado das elitezinhas da "Lesboa" nefanda e anafada. O Norte não precisa da bênção subsidiocrática costumeira, necessita, isso sim, do liberalismo autonomista de antanho. Do espírito das liberdades liberais dos seus antepassados e do autonomismo idiossincrático das suas gentes. Coisas que, como é óbvio, arrepiam os "lesboetas" da treta. Rangel, melhor que ninguém, sabe bem que a indústria da reclamação baseada na pedinchice ao Leviatã esgotou-se. Mais, o eurodeputado, inteligente como é, tem a obrigação de saber que se o Norte quiser de facto progredir terá forçosamente de abrir a sua economia e de aproveitar o potencial exportador de uma economia há muito adormecida. Basta querer e desejar.
Passos Coelho, há dias, afirmou que não fará uma coligação pré-eleitoral com o CDS. Agora, Paulo Rangel, assumindo a mesma orientação, aconselha "Paulo Portas a tomar um chá e ficar mais calmo".
Concordando com o que o Henrique Raposo escreveu há uns meses, não posso senão assistir com preocupação a esta escalada de posições tacticistas. Demonstra que o PSD está mais preocupado em obter uma maioria absoluta do que em gerar um consenso alargado que passe, obviamente, por uma coligação, que permita criar um movimento de fundo na sociedade portuguesa. Aliás, cheguei até a sugerir uma ampla coligação PSD-PS-CDS, claro que sem José Sócrates, mas as nossas personalidades à direita, a começar por Cavaco, foram demasiado medricas para isso, há uns meses. Não deixa, contudo, de ser uma possibilidade. Entretanto continuamos neste limbo que nos vai desgastando, enquanto José Sócrates nos leva para o abismo.
Separados, PSD e CDS correm o risco de entrar numa espiral eleitoralista que dividirá ainda mais a sociedade portuguesa. Aliás, o PSD de certeza que entrará nessa espiral. Juntos, podem obter uma legitimidade acrescida decorrente da respeitabilidade que lhes seria granjeada por uma postura de seriedade que apele à mudança, dando-lhes maior resiliência e autoridade para conduzir reformas estruturais no Estado. Mas, por agora, ninguém sabe sequer se teremos eleições legislativas este ano. O panorama é tão incerto que, como dizia há dias José Adelino Maltez, "nada é inevitável".
Porém, de um ponto de vista meramente tacticista, a avaliar pelas atitudes dos dirigentes do PSD, caro Paulo Portas, permita-me dar-lhe um conselho: deixe-se, como sugere Rangel, estar no seu cantinho. A haver eleições, sozinho o PSD não terá um discurso tão forte, especialmente porque terá que enfrentar PS, BE e PCP a explorar até à exaustão algo que por agora parece esquecido: a aprovação do Orçamento do Estado para 2011 com o aval do PSD. Será, com certeza, uma campanha extremamente violenta e intensa. Mantendo-se à parte desta contenda, o CDS terá espaço para se focar no PS, principal causador do descalabro que vivemos, e para mostrar aos portugueses o seu sentido de Estado e de responsabilidade. No fim, provavelmente obterá ainda mais lugares no parlamento. Nessa altura terá o PSD a bater-lhe à porta.
Quando vejo que as alternativas para a liderança do PSD são Aguiar-Branco, Passos Coelho e Paulo Rangel, apetece-me perguntar o evidente: mas qual dos senhores é que acha que tem realmente condições para ser primeiro-ministro?
Não é por nada, mas a vocação de poder do PSD, numa altura de crise política como a actual, obriga a pensar para lá do efémero cargo de presidente do partido. Qual dos senhores é que se acha na melhor condição para chegar a primeiro-ministro, e mais, em que é que julga que pode contribuir para minorar a terrível crise social, política e económica - para não falar da crise de valores, que não me parece venha a ser resolvida tão cedo com este regime e sistema político-partidário- que grassa desde há muito no país?
Porque se a ideia é apenas chegar à liderança do partido para depois continuarem em guerrinhas internas entre facções e sacos de gatos que se mordem uns aos outros sem qualquer sentido de estado e de serviço à causa pública - afinal, os catch all parties são mais centros de emprego do que outra coisa, e já se sabe que nas hostes laranjas, bem como nas rosas, a preocupação essencial para a maior parte dos militantes e apoiantes é garantir o tacho à conta dos contribuintes, já que não sabem fazer nada de jeito e produtivo da vida -, mais vale estarem quietos e irem pregar para outra freguesia.
Uma ideia para o futuro do país. É só isso que se pede. Um conceito estratégico nacional, como costuma lembrar o Professor Adriano Moreira, se tiverem competência para tal. É que o mais do mesmo na república das bananas já cansa e só dá vontade de dizer uma coisa: Fo...ram-se!!!
Já cá faltava a referência do candidato Vital Moreira. Pode alguém que se arrogue de ter combatido o fascismo que nunca existiu em Portugal arvorar-se de arauto da liberdade de expressão quando outros sentem que há uma claustrofobia intelectual que emprobrece o debate político? Aparentemente pode. Afinal, a coerência não é virtude que preocupe os portugueses, que não podem, por isso, queixar-se da classe política que têm. Como é bom poder ser tudo e o seu contrário quando nos dá jeito. Vital Moreira, Sá Fernandes e outros que tais que o digam.
Recupero algo que escrevi há tempos:
Já chateia sempre a mesma lengalenga em torno do 25 de Abril e da "ditadura fascista" e essa mania de que nós mais novos devemos tudo e mais alguma coisa aos que fizeram o 25 de Abril. É por isso que em 30 anos pouco avançámos, continuamos um povo inculto, com 9% de analfabetos, e um dos povos com menor consciência política na Europa. Basta que um partido comunista ainda tenha legitimidade neste país para termos a clara noção de que estamos desfasados da realidade. Se realmente soubessem o que é o comunismo esse seria tão ou mais abominado que o fascismo italiano ou o nacional-socialismo alemão. Há 30 anos que andamos num regime com uma clara ditadura intelectual e cultural de esquerda, felizmente que, como vai notando uma professora minha, as novas gerações estão cada vez mais à direita, a ver se acabamos com este sufoco intelectual que me corrói as entranhas de cada vez que oiço ou leio as maiores barbaridades em termos de teoria política.
E já agora, confirma-se o que tinha escrito assim que soube os nomes dos candidatos do CDS/PP às eleições Europeias. O meu voto vai direitinho para o CDS, especialmente a pensar em Nuno Melo.
A intervenção de Paulo Rangel que arrancou uma ovação de pé. Excelente orador, incisivo, sem insultos, sem insinuações, sem mascarar da verdade do estado da nação, analisando e expondo tanto os pontos negativos como positivos da governação socialista. É um outro tipo de oposição a que nem Sócrates nem o PS, apologistas das estatísticas, da propaganda e do insulto pessoal, estão habituados.