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Pedro Arroja, Eles não:
«O Mises decidiu que tudo aquilo que o Estado faz é mau e, portanto, mesmo quando o Estado faz alguma coisa boa, ele tem ou de ficar calado ou de mentir, em qualquer caso não dizendo aquilo que pensa porque, caso contrário, está a dar trunfos ao inimigo - os socialistas. Ora, os socialistas agem exactamente da mesma forma mas em sentido contrário. Para eles, o Estado é que é bom e tudo o que o Estado faz é bom. De maneira que, quando o Estado faz alguma coisa mal, eles ou ficam calados ou têm de mentir dizendo que o Estado fez bem alguma coisa que eles sabem muito bem que fez mal. Também eles não são livres, não podem dizer sempre aquilo que pensam.
E tudo isto resulta de uns e outros terem passado a viver a vida de forma partidarizada, perdendo o sentido de comunidade e tornando-se inimigos uns dos outros. Admitir a verdade passou a ser, em muitos casos, dar trunfos ao inimigo, e isso eles não podem fazer. Nesses casos, eles têm de omitir a verdade ou distorcê-la até a tornar mentira.
Segue-se que, continuando a restringir-me exclusivamente à esfera da liberdade de expressão, os liberais clássicos (e os socialistas) são muito menos livres do que eu. Eu posso sempre dizer aquilo que penso. Eles não.»
Dados que fazem pensar:
Uruguai - carga fiscal de 18,1% do PIB; gasto público de 32,5% do PIB; dívida pública de 55% do PIB; a duração média da constituição de uma sociedade comercial é de 7 dias.
Chile - carga fiscal de 17,3% do PIB; gasto pública de 23,3% do PIB; dívida pública de 10% do PIB; a duração média da constituição de uma sociedade comercial é de 8 dias.
Portugal - carga fiscal de 31,3 do PIB; gasto público de 48,9% do PIB, dívida pública de 120% do PIB; a duração média da constituição de uma sociedade comercial é de 5 dias, com um pequeno senão: os passos subsequentes continuam a emperrar o procedimento.
Nota: sem retirar razão ao discurso do Pedro Arroja, a comparação acima mencionada ajuda a perceber que nem sempre o que luz corresponde à verdadeira realidade dos factos. Há similitudes culturais que ajudam, de feito, a compreender o porquê de estarmos neste maremoto económico e social, porém, seria bem mais avisado não extrair daí premissas tão simplistas. Ver aqui e aqui.
Retirado daqui
A blogosfera, no meio do muito esterco que a traga, tem preciosidades que um bom leitor jamais desdenhará. Deu-se o feliz acaso de ter deparado, com o devido aconselhamento do seu autor (Rui Albuquerque), com um blogue bastante interessante, que dispõe de um inesgotável manancial de informação acerca do liberalismo de origem francesa. Refiro-me ao blogue, "Revolução Francesa". Um blogue sobre as vicissitudes e contingências do percurso histórico de uma doutrina afogada, as mais das vezes, na incompreensão letal dos eternos perseguidores da liberdade. Uma leitura pelas muitas postas que o Rui Albuquerque publicou ajudará a perceber o que eu quis dizer neste pequeno texto. Há, em Portugal, um defeito congénito que infecta até o liberalismo mais purista. A luta pela hegemonia nas ideias que, vista assim de chofre até parece uma coisa gramsciana, exige a pré-compreensão de que a cultura política e intelectual portuguesa está incrustada até ao tutano por um snobismo elitista tipicamente francês. Estado, centralismo, Estado, centralismo. Não saísmo disto. A resposta de um liberalismo autêntico, apegado às suas raízes e, se quiserem, ecuménico, aberto e laico, terá de partir destes pressupostos de origem e de facto. Não se muda nada sem se entender que o liberalismo anglo-saxónico, com as suas idiossincrasias próprias, não é directamente transplantável para a nossa realidade. Reitero o que disse anteriormente, o empenho da intelligentsia liberal nacional deve e só pode estar no aprofundamento do diálogo entre as diversas tradições da família liberal, que, no fundo, bebem na mesma origem. O Pedro Arroja, que já tem bastante andança nestas matérias, acerta quando afirma que, num país como o nosso, com uma cultura de matriz católica, o liberalismo não pode prescindir do catolicismo. Não pode nem deve, acrescentaria eu. A hegemonia jacobino-socializante só se combate com um verdadeiro ecumenismo liberal-católico, que una e não divida. Que projecte e realize.