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Pedro Mexia em entrevista ao ionline:
A palavra “intelectual” foi trivializada, às tantas qualquer pessoa que tenha lido uns livros passa por intelectual. Não me identifico com esse conceito, com a sua história e as posições tomadas por intelectuais no século xx. Porém, apesar disso, deve respeitar-se o termo, incluindo como intelectuais apenas os que reúnem duas condições: por um lado, terem um pensamento, e por outro terem um pensamento próprio. Ora poucas pessoas têm um pensamento e ainda menos o têm próprio. Nunca me ocorreria falar de mim na mesma categoria em que as pessoas falam do Eduardo Lourenço ou do José Gil. Esses são-no, têm uma obra e uma relação com o conceito de intelectual. Eu não. E não o quero ser, não tenho qualquer relação afectiva com a palavra.
"Mas, aos 40 anos, não compreendo esse medo de ficar sozinho, que me inquietava ainda aos 33. Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um preço que estou disposto a pagar. E há, digamos, dez pessoas de quem gosto, dez pessoas sobre quem não me enganei, e dez pessoas é um mundo."
Pedro Mexia, Atual nº 2092, Expresso
mas fui à A Ágora roubar-lhe este artigo do Pedro Mexia: é que era assim que via João Bénard da Costa.
O post do Nuno recordou-me outro muito semelhante, datando da altura da morte de Henrique Barrilaro Ruas, da autoria de Pedro Mexia. Também aí os "monárquicos de reposteiro" são sovados até mais não. Consegui encontrá-lo por sorte, pesquisando na net (o blogue original, Diccionário do Diabo, está já apagado), e por essas mesmas semelhanças achei pertinente relembrá-lo.
IN MEMORIAM: Sou, como talvez saibam, simpatizante da causa monárquica (com minúscula). Monárquico por tradição familiar e sensível ao argumentário em favor do regime (bem mais sólido do que a caricatura habitual), nunca consegui porém passar de «simpatizante» a «adepto»; e por uma razão: os monárquicos. Os monárquicos - os portugueses ao menos - são na sua maioria os maiores patetas com quem me foi dado conviver. Dez minutos a conversar com monárquicos e sinto-me pronto a depôr flores no António José de Almeida; um jantar com monárquicos e meto o barrete frígio. A snobeira, a indigência intelectual, o absentismo, a pura idiotice, eis as marcas dos monárquicos portugueses que tenho conhecido. É por isso que não queria deixar de assinalar a morte do monárquico mais decente que conheci até hoje: Henrique Barrilaro Ruas. Barrilaro Ruas era a prova (mas não a regra) de que os monárquicos podem ser cordatos, probos, intelectualmente sérios, preocupados com as questões que importam, humildes, eruditos, cavalheirescos. Infelizmente, não conheci muitos assim. Ainda recentemente me chegaram às mãos trabalhos de Barrilaro, sobre Camões e Maquiavel. Ainda há semanas estive num jantar onde Barrilaro também esteve presente, e uma vez mais o achei um habitante de um planeta dos nossos grunhíssimos monárquicos (mesmo em assuntos nos quais não estávamos de acordo, como a Europa). Foi o melhor exemplo de monárquico do último meio século, pelo menos o melhor dos que conheci. Agora, estamos reduzidos aos palermas de bigode retorcido.