Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O Partido Socialista (PS) que foi o inventor da disciplina de bancada, da lei da rolha e mais recentemente do traçado das "linhas vermelhas" — as tais que não poderiam ser transpostas para acomodar o Chega, acaba por se coligar ao partido de André Ventura. O princípio subjacente a esta dinâmica destrutiva é simples: não deixar fazer. Ou seja, sem olhar a meios, fazer tudo ao seu alcance para fazer cair o governo de Luís Montenegro. Portugal que se lixe. Que se lixem os portugueses. A bandeira que os socialistas estão a hastear é uma farpa de terra queimada, como se já soubessem que as europeias não vão servir para grande coisa. Pedro Nuno Santos vai sofrer nova derrota eleitoral e, por isso, nada tem a perder. Embora o PS queira defender a tese da coincidência de posições com o Chega, não é líquido que assim seja. Não sabemos se o PS pertence ao Chega, ou chega de PS. A tal ética republicana que se desdobra na máxima temida por todos: "não recebemos lições de ninguém", afinal não é bem assim. Se o PS não tiver cuidado, ainda será infiltrado por agentes do Chega, ou, num cenário ainda mais excêntrico, ainda veremos alguém da Ericeira filiar-se no Chega. A conclusão a que devemos chegar — a ideologia já não é o que era. Nestes tempos de mercados políticos de ocasião, vale tudo. Aguardemos por domingo para assistir a uma ficção eleitoral que em nada abala decisões já tomadas no fórum da União Europeia. Podem estrabuchar à vontade, mas em última instância quem determina as expectativas da classe média será o Banco Central Europeu, que decide a cor e o preço do dinheiro — amor e ódio numa campanha perto de si.
Pedro Nuno Santos foi afastado da Champions League nas derradeiras legislativas. Depois dessa derrota estrondosa, aposta tudo na Liga Europa — o campeonato onde caem os coxos e os mancos. O Partido Socialista (PS) lança a extremo Marta Temido, como a grande surpresa da convocatória para encabeçar a lista partidária às eleições europeias. Ana Catarina Mendes, Fernando Medina, Francisco Assis, que não têm onde cair mortos, também devem seguir no mesmo tacho sem fundo. António Vitorino parece que não quer molhar o bico da sua estatura de alto-comissário no pântano da União Europeia, ou seja, nem se vislumbra sequer no banco de putativos titulares. Mas regressemos à Temido que, convém lembrar, também foi aliciada para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Esta réplica de candidatura, a repetição do mesmo prato, espelha algo sintomático: não há sangue novo que valha no PS. Mas o PS está de peito inchado e orgulho ferido — quer à força toda e com raiva revanchista ganhar as eleições europeias. Por outras palavras, para os socialistas, estas eleições são as mais importantes do mundo até deixarem de ser. Ou seja, até sofrerem outro percalço. E tomem nota, os partidos do bloco centrão, desconsideram outros players — o Chega ou a Iniciativa Liberal: mais uma gaffe. A nossa sorte é que essa viagem para a Europa é de ida apenas. Deixaremos de escutar as suas indagações aqui no burgo, para ter a garantia que as suas ideias têm poucas pernas para andar lá no Parlamento Europeu. Quanto a Costa, nem uma palavra. Parece um tabu. Mas não é. O homem está na pós-graduação até abrir o mercado de transferências dos comissários europeus. Acabo abruptamente este post como uma pergunta para um milhão de dólares — qual o escalão de IRS em que se inscrevem os parlamentares que forem eleitos nas europeias?
Um extraterrestre que aterrasse em Portugal, transportado pela recente poeirada subsariana, julgaria certamente que Pedro Nuno Santos (PNS) era o chefe incontestável da tribo lusitana, o manda-chuva, o chefão — o vencedor das eleições legislativas. A carta é curta, mas é grossa. Exige alguma transliteração. Requer tradução. Ou seja, para quem domine minimamente o idioma socialistês, e tenha um grau de proeficiência ideológico q.b., a coisa torna-se translúcida, fácil. Há abundância da forma condicional — o "se" e mais outro "se" e ainda outro "se". E soa tudo a charada — a chantagem dissimulada por floreados de facilitismos, a generosidade de espírito que encaixa bem na época festiva das liberdades, dos cravos e das revoluções. Pedro Nuno Santos instrumentaliza a Administração Pública como se a mesma fosse um cão amestrado para o circo das vontades socialistas. A negociação prévia é um oximoro-paradoxal — nada significa. As organizações dos trabalhadores há muito que foram organizadas pelos mesmos de sempre. E para demonstrar que o Partido Socialista soube acomodar-se à mudança horária, disponibiliza um cronómetro temporizado aos 60 dias, que quase rima com os 50 anos da invenção democrática, a solução congeminada em exclusivo pelos antepassados de Pedro Nuno Santos. Se o lider da oposição, com "enorme vontade de colaborar", já se manifestara publicamente, esta carta é perfeitamente dispensável. Sugere cabeça de cavalo numa cama ensanguentada da Aliança Democrática. Se eu fosse alguém, passava o tempo todo a olhar por cima do ombro. Se eu fosse o Montenegro, ou o Montecristo...
Ainda no rescaldo dos resultados das eleições fifty-fifty — 50 anos do 25 de abril, 50 deputados do Chega, o que vai suceder nos próximos tempos de governação será relativamente simples de prever. Montenegro, íntegro e fiel aos seus princípios, não cedeu à solução da coligação, ao dispositivo de governação galvanizado, imune a reações políticas adversas, ou seja, a neutralização da oposição por via de uma maioria forçada e conveniente. Pedro Nuno Santos, raposa política oportunista por natureza, apresenta-se como estadista moderado, homem aparentemente respeitador do escrutínio e da vontade do povo — simpático, não parece? À primeira vista lembra o monge trajado com o hábito pacífico, inofensivo. Mas mal abram o debate no parlamento, a coisa mudará de figura. A ambição dos socialistas e dos afilhados da esquerda é de tal modo intensa, de tal ordem ideológica e reaccionária, que arrestará o superior interesse de Portugal para proveito partidário, faccioso. Querem o poder (novamente) custe o que custar aos portugueses. Qualquer proposta da Aliança Democrática (AD) que esteja dependente do consenso e da convergência, de todos e de tão diferentes sabores políticos da esquerda, resultará em impasses e paralisias — pura e simplesmente na anulação de ideias que tenham no seu ADN o mais pequeno indício de genes da direita. Nem vale a pena escutar a Mariana Mortágua, a Sousa Real, o Paulo Raimundo ou o Rui Tavares — sabemos qual será o seu software: um virus igualmente demolidor, por mais adequadas que sejam as propostas emanadas de um governo minoritário, serão sempre consideradas infecciosas e fatais, por serem da direita. André Ventura e Rui Rocha saberão gerir as incertezas que irão pairar sobre o espectro da governação, sem que possam trair ao que prometeram vir — contribuir para a edificação de uma vida melhor para os portugueses. Montenegro está a ser inteligente e estratégico — não deixou escapar pela boca, por onde morrem os peixes, um nome sequer. Os comentadores andam comichosos a tentar adivinhar quem serão os senhores que se seguem, para naturalmente iniciarem o seu processo contraprodutivo, destrutivo. Não sentimos que Montenegro esteja a pensar à socialista, à jobs for the boys. Com alguma sorte, se Marcelo não estragar as coisas, pode ser que vejamos em Portugal algo diferente e eventualmente melhor. No entanto, sem surpresa, tudo isto cheira a caldeirada típica dos atavismos e empates de Portugal. A expressão de um país inimigo de si mesmo, que esbanja mundos e fundos. E assim termino, prestando homenagem à figura que melhor corporiza essa ideia de divisão e caos, de desprogresso — Augusto Santos Silva, com quem não contamos para nada. Nem antes contávamos, nem depois contaremos.
Os comentadores da praxe podem dar a volta que quiserem à lábia. Estão em choque após a noite eleitoral de ontem. Estão a apanhar os cacos da sua arrogância e das suas certezas absolutas. O Chega é filho de uma família disfuncional. E chegou à idade adulta. Tem como pai o Partido Socialista que passou os últimos oito anos a ignorar as queixas existenciais dos Portugueses. Tem como madrinha os media que tentaram castigar o menino, trancando-o num quarto escuro, sem que tivesse direito a recreio. E ainda insistem em ostracizar aquele que apenas espelhou o estado de alma de um milhão de cidadãos. Ventura realizou o milagre da sua multiplicação, de 1 para 12, e agora para 48 deputados. Não é pouca coisa e já não pode ser encostado a um canto do Parlamento. Gostem ou não, cause-lhes comichão democrática ou não, os outros partidos, incluindo o vencedor númerico da noite de ontem, estão obrigados ao diálogo, à argumentação e à negociação. Se insistirem no cordão sanitário arriscam-se a ver um partido com uma maioria de facto nas próximas eleições, que alguns como o Pedro Nuno Santos anseiam para que sucedam (as eleições!), ainda antes do Natal, para abater de uma vez por todas (pensa ele...) o peru da direita. A Aliança Democrática (AD) atirou tinta ao Chega. Recusa ajuizar com uma força política que nunca antes governou. Mas faz mal. O Chega é um partido teórico, sem cadastro, a partir do qual não se podem extrair certezas sobre o que fará, se ainda não há nada que tenha feito digno desse nome. Se é um governo minoritário que Montenegro deseja validar, deve aproveitar essa vontade para demonstrar que o processo governativo deve estabelecer pontes com aqueles que são considerados infecciosos, anti-democráticos. Se é o Orçamento que Pedro Nuno Santos aguarda para que o governo da AD caia, não passa de uma jogada oportunista, igual a tantas outras a que nos habituaram os socialistas. Não é esse o caminho. Não há volta a dar. O Chega passou de canário na mina a elefante na sala. Agora resta ver se Portugal chegou à idade adulta democrática após 50 anos de crescimento. E com isto tudo esqueci-me de falar do padrinho do Chega — Marcelo Rebelo de Sousa. Mas teremos o aniversário da prima para discorrer sobre o presidente de república democrática portuguesa.
A poucas horas de fecharem a torneira temporal das campanhas, podemos tecer algumas considerações. Posso estar enganado ou ser zarolho, mas as dezenas de debates em formato contra-relógio a que assistimos não serviram para ir ao osso das questões. O mais grave é que esse formato de mini tira-teimas resultou de um acordo de todas as forças políticas — como se concordassem num toque e foge ao busílis dos problemas mais prementes que afectam a vida dos portugueses. Acresce ainda outra constatação. A esquerda, mais ou menos radicalizada, ocupou-se com as campanhas dos vizinhos, numa espécie de inveja de pénis, realizando a soma das partes baixas dos outros, especulando sobre cenários de cópula ideológica ou de namoro partidário para a formação do próximo governo. Este tipo de política de quintal denota falta de convicção nas próprias ideias, nos putativos argumentos caseiros, ou seja, corresponde ao assumir da derrota. O Partido Socialista tem sido o vizinho mais invejoso. Espreita por cima da sebe para o jardim da Aliança Democrática para controlar se o jardineiro já chegou para aparar o roseiral. Pedro Nuno Santos parece aquelas comadres (feliz dia da mulher, já agora!) que passam a vida a cochichar sobre os afazeres da vizinha a quem não admitem que lhe tire a fruta caída na via pública. Lembra aquelas disputas de província nas quais alguém mexeu nos marcos dos terrenos para ganhar escassos metros de terra infértil. As televisões, que têm de vender sabonetes com cheiro a cravo para garantir a próxima mesada, nem precisaram de escrever o guião. O Largo do Rato forneceu os chavões sobre o papão do passado que regressará para tornar a vida dos portugueses num inferno. Os idosos, já amedrontados e fragilizados pelo descalabro do serviço nacional de saúde e pelas reformas rachadas, são os principais visados pela vigarice. Domingo chegaremos a vias de facto. Os portugueses já não vão em cantigas. Não têm ódio, mas estão zangados com os compadres que lhes fizeram a folha. E sabem muito bem que os comentadores tudo fizeram para inclinar o plano do écran. Pedro Nuno Santos vai descobrir que não os tem. Não os tem e não os tem no sítio. Mas vai ficar com a voz ainda mais esganiçada quando sair a taluda das eleições a horas tardias de domingo ou na alvorada de segunda-feira.
Ao contrário do que vai suceder na Taça de Portugal (falo de futebol, obviamente!), as eleições legislativas de 10 de março não sucedem a dois tempos, com eliminatórias. A Aliança Democrática (AD) e o Partido Socialista (PS) assumem-se deste modo como finalistas, mas existe um terceiro jogador que poderá inclinar o terreno de jogo — o Chega. O Chega será uma espécie de árbitro, ou VAR, se quiserem. Os portugueses têm visto e revisto os lances da governação, nos últimos oito anos, e podem deixar a sua paixão clubística de lado neste campeonato por manifesta insatisfação em relação aos resultados. Podem dar alguma razão ao partido da arbitragem. A equipa inicial da Geringonça, com jogadores de outras cores que nunca saltaram do banco, foi substituída para além do tempo regulamentar pela seleção da maioria absoluta, recheada de craques e com grandes planos para a liga dos campeões políticos. Mas as coisas não correram de feição. Os avançados socialistas simularam faltas, mas falharam os penáltis inventados. Os extremos marcaram os cantos, mas a bandeira nem se mexeu. E os centrais do executivo não foram capazes de conter as jogadas de ataque dos rivais da semi-circular do parlamento. Estamos assim a poucos dias do fecho do mercado de incumbências com muitas incógnitas a pairar no boletim de voto. O novo treinador do PS não conseguiu galvanizar a sua massa adepta e gizar o seu esquema táctico. Não sabemos sequer que equipa organizará para dar continuidade a Mr. Costa que saiu do clube do Rato. A AD, uma equipa em construção, sente que chegou o seu momento na segunda volta do campeonato. Mas provavelmente terá de ir buscar o apoio de uma equipa que joga noutra liga ideológica, mesmo que alguns jogadores da divisão de honra possam ser contratados para certas alas. Aguardemos então pelo apito final. E com ainda maior entusiasmo pelo tempo extra que começa logo no dia 11 de março após a contagem dos pontos...
Pedro Nuno Santos, no primeiro dia oficial de campanha, já denota o enorme stress que o atormenta. O desespero é mais que evidente. Começa a sentir a grande probabilidade de sofrer várias derrotas em simultâneo na noite de 10 de março. O defraudar dos camaradas por ter sido uma aposta totalmente errada, o defraudar da esquerda por não reunir condições para a sua agregação, e a traição do povo português — por fazer promessas furadas e oferecer fantasias governativas. Mais uma vez, hoje, à falta de argumentos do presente, acena com o papão da austeridade, resgatando Passos Coelho do passado arqueológico, e omitindo que foram os socialistas que estenderam a passadeira rosa à Troika com o descalabro provocado pelo governo de José Sócrates. Resta saber quem no Partido Socialista o hipnotizou ao ponto de não perceber como vai ser sacrificado, como está a ser usado para fazer a limpeza da casa. Temos a certeza de que o cinismo reina no Largo do Rato. Porque enviar para a linha da frente um soldado raso que julga que um dia será general é tenebroso, não se faz. Veremos agora o nível de adrenalina dos socialistas aumentar e contaminar ainda mais os media. Porque a angústia crescente também infecta os comentadores avençados para darem o seu contributo para tentar inverter o rumo dos acontecimentos. Os portugueses, na sua maioria, a maioria que elege, já não é ferrenho ideologicamente como já fora no passado. Já não quer saber de sondagens ou orientações partidárias. Quer melhores condições de vida. Quer trabalhar e dormir sossegado. Quer dinheiro para pagar as contas e médicos para tratar da saúde. Os últimos oito anos falam por si. É deixá-los andar, a falar sozinho, os camaradas, que eles já caíram, mas ainda julgam o contrário. O balão não tarda nada rebenta. Porque cheio de basófia já ele está...
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) em concertação com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) deveria criar o RGPA — o Regulamento Geral para a Proteção de Avós. Na sequência de um fact-check político e legislativo, sabemos que a avó da Mariana Mortágua não foi penalizada com a entrada em vigor da Lei das Rendas de 2012. À época a Senhora Avó tinha mais de 75 anos, o que a excluía de medidas arrendatárias de cariz draconiano ou de inspiração punitiva, ou seja, uma subida intensa da renda mensal. Devemos recordar que foi a neta Mariana que arrastou a Senhora Avó para o circo político e a transformou em boneca de arremesso em diversas disciplinas — no lançamento Livre da avó (filhos? só se forem do Tavares...) ou na modalidade de disparo de canhão ideológico. Miguel Pinheiro, comentador da CNN, e ex-director da revista Sábado por um período de nove anos, veio a antena declarar que não tem ideia de que o Chega (e para o mesmo efeito o Passos Coelho) fossem directores da revista com nome de metade de um fim de semana — Sábado, para que fosse dada guia de marcha ao artigo no qual a vida da Senhora Avó foi escrutinada ao cêntimo. Mas restringemo-nos aos factos. Sabemos que Senhora Avó paga 400 euros de renda mensal a uma IPSS, mas não sabemos se é um valor avultado ou um módico mínimo. Teríamos de saber qual o nível de rendimentos da Senhora Avó, mas um inquérito desta ordem seria de nível baixo, pouco civilizado. Podemos assumir, com a devida cautela, que neste caso não há cofres à mistura nem fotocópias (mas em política nunca se sabe!). Fica assim a lição de que os familiares não são para todas as ocasiões. Que as avós não são para arrendar ou alugar. É preferível que os políticos façam uso de figuras paternais que sirvam de inspiração, mas em relação às quais não haja relação de sangue. Penso no excelente exemplo do hábil Pedro Nuno Santos que respeita por completo a imunidade de José Sócrates. Nem uma vez sequer mencionou o mentor que pelos vistos não paga renda lá para os lados da Ericeira, onde dizem que os ares são bem melhores...
A TVI/CNN quer ajudar o Pedro Nuno Santos, e as emoções são um potente catalisador quando a razão e a inteligência são insuficientes. As lágrimas vertidas em directo são genuínas. Não foram provocadas pela cebola do medo associado à extrema-direita. São pingos da mercearia local. Confecionadas com recurso a aditivos mediáticos cedidos a título de empréstimo pela estação de televisão. Quando a cabeça não tem o juízo suficiente, há que sacar da manga truques para cativar os mais vulneráveis — eleitores e espectadores, e espectadores-eleitores. Pedro Nuno Santos, mais um produto da casa socialista, sabe quão poderoso pode ser o apelo à flor da pele da irracionalidade primária. Ainda faltam mais de duas semanas até ao período de nojo da campanha. Não havendo mais debates ao cronómetro, este é o momento para dar largas à choradeira. Quando desmoronam os putativos edifícios políticos, por assentarem em frágeis pilares de argumentação, nada melhor do que apelar aos instintos animais, ao espírito selvagem, o mesmo devaneio que alimenta a corrupção ("não vim para a política para enriquecer"). Porque sim; trata-se de uma corruptela de alguidar dos princípios essenciais que devem nortear a intelectualidade política — a força de axiomas racionais que sirvam para sustentar indivíduos, comunidades e sociedades. As lágrimas salgadas que escorrem pelo desnível facial de Pedro Nuno Santos desaguam no farto pasto da pilosidade onde tudo se mistura no engano. E são corrimentos incomparáveis ao verdadeiro luto dos portugueses, aqueles sem médico de família ou casa onde morar. Quando um pretenso gerente chora, quebra o contrato social, readmite o principe e sugere as mesmas lágrimas esguichadas por tantos lideres questionáveis ao longo da história — para défice de indivíduos e nações inteiras. As lágrimas confirmam a falência ética e moral da política. Estar mais longe de estadista e mais perto do estúdio da TVI não é possível.
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos informa que as negociações relativas ao Orçamento de Estado de 2016 estão a correr bem. É quase a mesma coisa que dizer que José Rodrigues dos Santos é o melhor escritor português. E o que significa exactamente que "estão a correr bem"? Significa que o governo de António Costa tem de mentir ao seu eleitorado, e fingir que a missão em Bruxelas está a ser um sucesso, quando sabemos que já estão alinhados mais encargos contributivos para os portugueses. Mas este governo de Portugal ainda pode sacar da sua caixa de ferramentas algumas surpresas. Falta que o compadre do Banco de Portugal ponha em marcha outro modo de confisco de dinheiro dos aforristas, claro está, em conluio com os socialistas. Por exemplo, através da implementação de taxas de juro negativas, através das quais os depositantes pagam para que lhes guardem as quantias - e sim, esse é um belo modo da tesouraria lucrar à pala do cidadão comum. Mas há mais truques que os socialistas, à falta de verdade económica e visão prospectiva, sacarão do seu caderno ideológico para matar de uma vez por todas os rebentos de credibilidade plantados pelo governo precedente junto dos credores. O que julgam António Costa, Catarina Martins e a Marisa Matias? Que o dinheiro dos outros lhes pertence? Que primeiro estão os "seus" funcionários públicos, e que o sector privado que se lixe? Contudo, existe uma réstea de esperança de bom-senso, mas do lado de lá, da Comissão Europeia. Eles sabem que Portugal não pode merecer tratamento privilegiado à luz do que se exige a outros Estados-membro da União Europeia. Não estranham que Tsipras e o Syriza não sejam citados de cor por Centeno e Costa? Eu não. Os gregos tiveram de engolir a pastilha e mesmo assim continuam na corda bamba. O Partido Socialista, por seu turno, roubou o refrão a outra banda, mas canta desalinhado - pão, pão, paz e liberdade quando sabemos que a letra é outra.
O enviado especial do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, nascido em 1977, acaba de passar em directo na TVI um atestado de burrice aos eleitores portugueses. Segundo o mesmo, os cidadãos deste país nunca ouviram falar em democracias parlamentares e não sabem como se forma um governo. O jovem estafeta do Largo do Rato está disponível para dar explicações de ciência política e direito constitucional, mas infelizmente não tem habilitações para ensinar ética ou dissertar sobre as prerrogativas do interesse nacional. Na qualidade de aluno assíduo, mas certamente burro, eu ainda não consegui perceber como as partes dissonantes do PS, do Bloco de Esquerda (BE) e da Coligação Democrática Unitária (CDU) vão dirimir as suas distâncias e produzir uma textura política consistente e que não seja perfeitamente amorfa. Por outras palavras, e pegando no pregão socialista que sublinha a rejeição da maioria governativa e das suas orientações políticas, a haver um corte distintivo e inequívoco em relação aos últimos quatro anos, seria preferível que apenas uma força sebastiânica de esquerda fizesse o frete da revolução. Deste modo, a soma dos que ganharam com menoridade relativa não vai dar em nada porque irão fazer descontos nesta época de saldos políticos. Seria preferível, em vez deste associativismo, que houvesse um levantamento à capitães de ardil para desencravar este estado de alma. António Costa é muito mais do que um mero secretário-geral. Funciona em piloto automático. Empossa-se sem precisar de ajuda de quem quer que seja. O Simplex vive para além do espírito e da letra do seu criador. O governo na hora é o que está a dar. Informe-se.