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O preço do carapau aumentou 24% em 2025. A imagem que acompanha esta notícia é pura desinformação. Os carapaus não se medem à reguada. Serve o mesmo, o peixe entenda-se, para demonstrar que a inflação ainda não foi domada. Não é por acaso que o carapau é colocado ao serviço da economia nacional, da estatística que a acompanha. Está na boca de toda a gente. Embora haja um pico sazonal no que respeita ao seu consumo, ou seja, o verão, também devemos sublinhar a sua utilidade comunicacional e literária a qualquer dia do ano. Faz parte do jargão tradicional, da gíria. Não soa a insulto na verdadeira acepção-ofensa da palavra, mas serve para desenhar a caricatura de alguém. Não chamamos sardinha de corrida a um indivíduo armado ao pingarelho ou a um pavão. Não. O carapau é uma modalidade própria de sarcasmo e ironia. Tem direitos inalienáveis. E ninguém sabe ao certo se o carapau é um peixe veloz, de corrida — de grande prémio. Confirmamos que existem desvios à norma local, como por exemplo, cara de pau, mais corrente no Brasil, mas igualmente eficaz no continente e ilhas. O carapau português também coloca em causa ventos e casamentos, quando guarnecido com molho à espanhola. Em suma, poucos serão aqueles que viram a cara a um bom carapau, acompanhado de uma bela salada, batata cozida. Mas coexiste também outra iguaria — o carapau alimado, mais dado ao sul, a roçar o norte de África. O carapau é também um peixe democrático, de mais fácil acesso. Uma espécie antítese, resistente ao caviar, sem ser de esquerda. Ideologicamente não se lhe conhece filiação exclusiva. Fica por explicar como foi pescado do latim macarellus que significa mácula, mancha — para carapau. São enigmas e mistérios desta natureza que aguçam o nosso intelecto, estimulam o paladar e fazem minguar a carteira. Há que saber fazer render o peixe.