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Corte de pensões vitalícias de ex-políticos adiado? Porquê? A crise não é um evento estático respeitante a uma badalada de relógio. O descalabro a que assistimos é um conceito elástico com origem no passado mas que se projecta no futuro. Os ex-políticos são igualmente responsáveis pela catástrofe, e, mesmo que não se lembrem do que andaram a fazer enquanto se refastelavam nas cadeiras do poder, o resto da população aqui está para recordar as decisões tomadas ao abrigo de uma qualquer conveniência partidária, do poder político instalado na comarca. Dizem eles que "cortes que afectem os ex-políticos não cabem no estatuto da aposentação". Se é uma questão jurídica que está em causa, talvez seja boa ideia pedir ajuda ao Tribunal Constitucional para desengatar a desculpa esfarrapada. Se vivéssemos num reino de governantes (fora de prazo e longe de funções), mas com um mínimo de decência e sentido ético, a primeira iniciativa a tomar seria voluntariamente acompanharem as reduções nas reformas. Alguém já tentou viver com 400 euros? A falência a que assistimos é profundamente imoral, um quadro negro que envolve um sentido de nojo indescritível. O país terá de aguentar as asneiradas vitalícias provocadas por políticos de carreira, e ainda por cima, deve pagar pelos danos causados que ainda nem sequer foram integralmente avaliados - e nunca serão. O bom exemplo morreu e nem sequer assistimos ao seu funeral e agora lidamos com os intocáveis, os imortais da dívida que dispõe de mundos e fundos para toda a eternidade. A Troika anda a apregoar que a reforma do Estado tem de passar pela redução drástica da despesa, e não está enganada. Mas não precisamos de outsiders para explicar como uma associação quase criminosa de insiders tornou refém o seu país. A razia que tem de acontecer deveria acabar com as mordomias injustificáveis de uma Suiça utópica - um país das aparências, da roda da fortuna, da sorte, pouca sorte. A presunção de serviço prestado ao país é uma falsidade - só porque foi político é um argumento muito fraco. A questão das pensões vitalícias serve de mascote para a extravagância que tomou de assalto a equidade, o bom senso a sustentabilidade. O que está em causa no imaginário negativo tem a ver com a tentação nefasta, a provação acompanhada pela provocação daqueles que não querem largar a mama, enquanto o resto do país, pobre, doente e reformado nem sequer tem um osso para largar - passa fome enquanto os cães da caravana já não têm força para ladrar. Não acredito que uma comissão ética possa corrigir estas deturpações de sentido. Não creio que uma equipa forense queira regressar ao local dos crimes passados e atribuir culpas e responsabilidades àqueles que não ousam entrar em pensões. Àqueles que preferem hóteis, mesmo que as estrelas que iluminam os céus de Portugal estejam cadentes, a anos luz de distância da consciência, de objectores, de homens de Estado, detestados. Eles não merecem perdão, Senhor. Eles sabem o que fizeram.