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É impressão minha? Ou já vimos este filme antes? Começam a nascer por todo o lado os mesmos sintomas que conduziram ao dramático descalabro do glorioso mandato socratino. Basta ligar a caixa que mudou o mundo, e mesmo que apenas se colem aos canais do regime, já não passa em branco a azáfama e o caos do Serviço Nacional de Saúde - nada parece funcionar. Depois, um pouco em segundo plano, como se nada fosse, as taxas de juro da dívida que têm regressado ao olimpo da ruptura iminente, têm sido abafadas pela novela quixotesca que opõe Domingues ao governo da Caixa Geral de Depósitos. Mas como cereja em cima do bolo-podre de consternações, desprovido de má-lingua propagandista, lá aparece o raio dos números das pensões mais baixas, das gasolinas mais caras ou do IUC mais a doer. No entanto, estes ingredientes dizem respeito ao quintal cá de casa. Enquanto tiram teimas de geringonça, o Banco Central Europeu (BCE) prepara uma canelada que far-se-á sentir em Abril, mês dos cravas. O BCE iniciará então a redução do seu programa de compra de títulos de dívida de países em apuros da Zona Euro. Passará de 80 mil milhões de euros mensais para 60 mil milhões, pelo que Portugal sentirá efectivamente os efeitos da referida redução. Não sei que bode-expiatório têm programado para chocalhar as hostes, mas prevejo "medidas excepcionais" e "justificações governativas" para o reforço e ampliação do conceito de austeridade, que aliás, em abono da verdade, não se foi com o estalar de dedos demagógicos da geringonça. Entretanto, como as más crónicas superarão as favoráveis, Costa deve seguir o modelo turco com ainda mais afinidade e rigor, e realizar a purga de vozes dissonantes dos meios de comunicação social. Quanto aos bloggers chatos, como eu, mandar-nos calar é mais difícil.
Dois em cada três pensionistas dados como aptos para trabalhar. É quase o oposto da selecção nacional de futebol.
É por estas e por outras que este regime é um besteirol dificilmente reformável. Já agora, por que não aumentar os impostos desta ilustríssima senhora, atingindo, por exemplo, a fasquia dos 100%? Estou certo que, com o dinheiro que deste modo se granjearia, o segundo resgate ficaria, decerto, a léguas de distância do território português. Ademais, não tenho a menor dúvida de que Maria Rosário da Gama não ofereceria, num cenário de míngua de recursos financeiros, quaisquer entraves a uma taxação absoluta dos seus rendimentos, dado que, benemérita como é e sempre foi, seria, bem vistas as coisas, o paradigma máximo do contributo que todos os portugueses, amantes dos impostos como ela, deveriam dar à nobre causa da recuperação nacional. Em resumo, e deixando de lado a ironia, é triste, muito triste, um país chegar ao ponto em que uma representante dos "pensionistas" (que pensionistas, já agora?) defende os privilégios da sua "classe", exigindo, em troca, o confisco geral do povo português. Mais do que triste, é lamentável.
Se ajoelhou tem de rezar. O problema é que nem com rezas lá vai. Foi o fim de linha. És o elo mais fraco. Adeus.